quinta-feira, 22 de fevereiro de 2018

Excesso de sofrimento torna as pessoas rancorosas e vingativas


Há um gravíssimo erro da Teologia do Sofrimento, a corrente medieval do Catolicismo que se tornou, mais do que o próprio pensamento de Allan Kardec, a base do "espiritismo" brasileiro. Esse erro consiste em dizer que o sofrimento extremo faz as pessoas se tornarem mais evoluídas, felizes, prósperas e abençoadas.

Isso é um gigantesco engano. Em primeiro lugar, não é o sofrimento que enobrece e dignifica as pessoas, mas a forma da pessoa buscar superar ou romper com o motivo desse sofrimento. Sabemos que os pregadores da Teologia do Sofrimento são pessoas de conversa mole, malabaristas das palavras que nunca tiveram um pingo do sofrimento que recomendam a outros. Pimenta nos olhos dos outros é refresco.

Em segundo lugar, quando o sofrimento é extremo e o sofredor se sente acuado e impotente até nos seus mais extremos esforços e na sua mais perseverante fé para sair de uma limitação extrema, a pessoa passa a sentir ódio e esboçar planos de vingança e outros crimes.

É engano que o "espiritismo" brasileiro acredita, a tese de que o sofredor extremo só sofre a desgraça que tem condições de suportar. Se, para a Teologia do Sofrimento, a desgraça é um "remédio" para a pessoa, ele é dado em doses excessivas, como que numa overdose. E aí chegam os efeitos colaterais: a irritação, a depressão, o ódio, o rancor, a vingança, o mau humor.

Isso é um instinto não só animal, mas também presente na espécie humana. Os cães se tornam mais raivosos quando presos no cativeiro das casas. Gatos considerados fofos podem se tornar raivosos quando acuados. Ratinhos simpáticos podem significar um perigo quando acuados e podem reagir mordendo alguém que estiver à sua frente.

Na espécie humana, o sofrimento extremo não produz necessariamente gênios, altruístas, artistas e pessoas admiráveis. Produz tiranos, corruptos, assaltantes, estupradores, pessoas vingativas ou corruptas em geral. Em muitos casos, produz estelionatários e pessoas capazes de furtar qualquer coisa que estiver em sua frente.

DÍVIDAS MORAIS DE QUEM PREGA O SOFRIMENTO ALHEIO

Além disso, pregar o sofrimento do outro a níveis extremos faz do pregador dessa causa infeliz uma pessoa desumana e insensível. É completamente perverso alguém viver de livros fazendo apologia ao sofrimento humano, ainda que se sirva de todo um malabarismo das palavras para dar a falsa impressão de que se preocupa com o bem das pessoas.

No "espiritismo" brasileiro, é famoso o apelo de Francisco Cândido Xavier para as pessoas sofrerem caladas. Isso é muito cruel. Com isso, Chico Xavier estava se preocupando mais com o sossego dos remediados do que com a angústia dos sofredores e queria, com isso, criar um clima de felicidade forçada, como se um simulacro de felicidade fosse trazer a felicidade verdadeira. E não traz.

Para piorar, os "espíritas" que seguem essa linha de pensamento contraem muitas dívidas morais. Afinal, quem prega aos outros a aceitação do sofrimento extremo é porque nunca sofreu. É muito fácil dizer que sofrer é ótimo, que a pessoa deveria amar o sofrimento como se fosse alguém muito querido, que o sofrimento dignifica e que, quando a angústia atinge e ultrapassa os limites do insuportável, é porque a pessoa se prepara para receber as bênçãos divinas.

Quem pensa assim vive no maior conforto. O próprio Chico Xavier não tocava em dinheiro e era tratado como um rei. Os palestrantes da Teologia do Sofrimento viajam de avião primeira classe, se hospedam em hotéis confortáveis, alguns até de cinco estrelas e se tornam celebridades com seus livros. Conseguem a fortuna, os tesouros e os aplausos da Terra, e ainda têm o descaramento de se passar por "humildes, espiritualizados e modestos".

Ah, quanto são desgraçados os que lucram com o sofrimento alheio! Mil vezes desgraçados, porque vivem de recompensas, enquanto outros sofrem. Pode até ser que os sofredores possam superar suas desgraças, mas, uma vez superadas, isso faz com que os sofredores fossem mais dignos do que aqueles que lhes pedem para aceitar desgraças.

Mesmo quando um sofredor supera uma desgraça extrema, o pregador da aceitação do sofrimento nem por isso ganha a razão. Pelo contrário, a propaganda do sofrimento alheio alimenta a vaidade do pregador, que acaba se vangloriando com isso, como se o sofredor, ao superar uma desgraça, estivesse doando um troféu ao pregador do sofrimento.

O pregador, sim, acaba contraindo dívidas morais intensas e, além disso, não costuma ser honesto sequer com suas ideias. Nos primeiros livros, ele é firme e inflexível na defesa da aceitação do sofrimento por outrem. Depois, ele tenta desmentir a si mesmo, tentando dar a impressão de que ele "não fazia apologia alguma ao sofrimento" e tenta uma acrobacia de argumentos para dizer que o que ele estava pregando era a busca da felicidade.

Isso se torna deplorável, e faz o pregador da Teologia do Sofrimento ser desmascarado, quando seus primeiros livros têm o sabor amargo da postura taxativa, que vai diminuindo com o decorrer das obras. Isso não é sabedoria, porque sabemos que as posturas só mudam conforme as circunstâncias, como a má repercussão das primeiras ideias.

O que se conclui, portanto, é que pregadores assim nem de longe podem ser considerados sábios, vide o moralismo severo e impiedoso e as dissimulações que são feitas ao longo das obras para disfarçar aquilo que, em outros momentos, era explícito em suas ideias: a defesa do sofrimento do outro.

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