sábado, 6 de janeiro de 2018

"Correio Espírita" investe na homofobia


"'Ideologia de gênero' baseia-se no materialismo. Deus errou quando permitiu nossa encarnação com o sexo necessário à nossa evolução?", é o texto de uma das manchetes de primeira página de "Correio Espírita", na edição do corrente mês de janeiro deste 2018 que ora começa.

Seguindo a tendência de conservadorismo aberto depois que, em 2016, apoiaram a Operação Lava Jato e as passeatas do "Fora Dilma", e, em 2017, "médiuns" apareceram ao lado de figurões do conservadorismo político como João Dória Jr. e Michel Temer, desta vez os "espíritas" adotam como pauta a "ideologia de gênero", uma das causas combatidas pela Escola Sem Partido, cujo projeto pedagógico, reacionário, é acolhido com sutil simpatia pelo "movimento espírita".

Aparentemente, a homofobia não é um consenso no "movimento espírita". Mas a tendência predominante segue a orientação um tanto envergonhada de Francisco Cândido Xavier, "médium" conhecido pelo seu conservadorismo convicto.

Segundo Chico Xavier, o homossexual (hoje referimos a qualquer pessoa do grupo LGBTT, sigla para lésbicas, gays, bissexuais, travestis e transgêneros) sofre uma espécie de "confusão mental", atribuindo a pessoas assim como atormentadas e indecisas quanto à sua sexualidade.

O "MÉDIUM" BAIANO JOSÉ MEDRADO, AO LADO DO VOVÔ DO ILÊ (ILÊ AYIÊ), DURANTE A 14ª PARADA DO ORGULHO GAY, EM SALVADOR.

No entanto, há correntes no "movimento espírita" que dizem combater a pedofilia, embora várias delas usem isso como jogo de cena, dizendo "acolher a comunidade LGBTT como 'verdadeiros irmãos'" mas promovem a "cura gay" (processo de "deshomossexualização" com aparato psicológico e apelo religioso) nos bastidores.

Um dos poucos que parecem sair até dessa tendência é o baiano José Medrado que, num aceno populista, parece "sinceramente identificado" com a causa LBGTT. Recentemente, ele compareceu a um evento de lançamento da 14ª Parada do Orgulho Gay, realizada no ano passado em Salvador.

Alinhado à chamada esquerda fashion - setores das classes média e média alta que adotam o esquerdismo como conveniência social - , representada sobretudo pela Rádio Metrópole FM, do ex-prefeito de Salvador Mário Kertèsz (este um notório usurpador dos movimentos sociais e de esquerda baianos), Medrado, que é contratado por esta emissora, destoa apenas de alguns aspectos "espíritas" típicos.

Enquanto o "espiritismo" brasileiro, no conjunto de sua obra, professa a Teologia do Sofrimento, corrente medieval do Catolicismo, José Medrado prega a Teologia da Prosperidade, que é uma corrente difundida pelos movimentos neopentecostais - note-se que a "Cidade da Luz", instituição mantida por Medrado, é vizinha de uma filial da Igreja Universal do Reino de Deus - , e que se baseia no mérito material dos que professam a "fé cristã".

Medrado é um "médium" que destoa das orientações dominantes comandadas pela FEB, mas possui uma projeção correspondente aos "médiuns" ligados à federação. Com 57 anos a serem completos em fevereiro, Medrado é amigo do conterrâneo Divaldo Franco, este mais abertamente conservador, embora não tão explícito nessa postura quanto foi Chico Xavier.

Divaldo Franco, aparentemente, condena a homofobia, apostando nos seus clichês ideológicos de livre-arbítrio "espírita" e dos conceitos igrejistas de "fraternidade". Mas subentende-se que Divaldo faça parte de uma tendência sutil no "movimento espírita", na qual seus partidários dizem que a comunidade LGBTT é "bem-vinda", mas que dentro das instituições "espíritas" se pregam trabalhos de "assistência psicológica e terapêutica" que se assemelham à "cura gay" evangélica.

Em outras palavras, a ideia é essa: os "espíritas", em boa parte, aceitam os homossexuais, mas não o homossexualismo. Quando não há jeito, deixam para lá, mas quando há oportunidade, os "espíritas" assistem os "confusos da sexualidade" para fazerem "reforma íntima" e voltarem ao que esta doutrina igrejeira define como "normalidade sexual", com base nos conceitos moralistas religiosos, que veem o sexo como um processo meramente biológico e sócio-estrutural (instituição familiar).

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