quarta-feira, 13 de dezembro de 2017

Atenção, esquerdistas! Fundador de Caros Amigos, Léo Gilson Ribeiro reprovou Chico Xavier


Não há como entender por que setores das chamadas esquerdas sentem alguma complacência com o "médium" Francisco Cândido Xavier. Ele sempre foi um católico ortodoxo, bastante conservador, apoiou o golpe de 1964, defendeu a ditadura civil-militar, apoiou Fernando Collor de Mello para presidente da República em 1989 e era defensor da Teologia do Sofrimento, corrente mais retrógrada do Catolicismo.

Não bastasse isso, Chico Xavier foi definido como "progressista" de graça, sem qualquer motivo que tenha um pingo de consistência ou verossimilhança. Ele sempre condenava o questionamento, a crítica, em sua maior divergência com Allan Kardec, que sempre estimulou o debate a ponto de, no desenvolvimento das ideias, o pedagogo francês preferir a prevalência da Ciência sobre o Espiritismo.

Quantos apelos para a aceitação do sofrimento em silêncio, à submissão aos algozes, à resignação com os infortúnios da vida! Isso é progressista? Pois enquanto as esquerdas mais cordeirinhas - que caem facilmente em armadilhas com apelos emocionais de pessoas pobres sorridentes (o "funk", subproduto da mídia hegemônica, é exemplo disso) - aceitam o retrógrado Chico Xavier, lembremos de um dos grandes intelectuais brasileiros.

Léo Gilson Ribeiro, falecido há dez anos, havia feito, na revista Realidade, em 1971, uma crítica severa às supostas psicografias do anti-médium mineiro, em referência sobretudo a obras que causaram indignação nos meios literários, como o livro Parnaso de Além-Túmulo - estranhamente reparado cinco vezes - e as obras que levam o nome de Humberto de Campos ou Irmão X.

"Era doutor em literatura pelas universidades de Hamburgo e Heidelberg e amigo pessoal do escritor Guimarães Rosa e da poeta Hilda Hilst; com toda essa bagagem, tornou-se um dos críticos literários mais influentes e mais respeitados do país. Foi premiado com o Jabuti em 1968 e com o Esso (de reportagem) em 1969", diz um texto de Caros Amigos, a respeito da morte de Léo.

Léo era um renomado intelectual que atuou como repórter e redator na revista Realidade, nos anos 1960 e 1970, e foi um dos fundadores no fim dos anos 1990, da revista Caros Amigos, um dos principais periódicos da mídia alternativa.

"Durante toda a sua vida Leo Gilson foi um batalhador pela cultura das letras no Brasil. Atacava ferinamente as traduções malfeitas, as edições improvisadas – procurava impor o respeito ao leitor. Combateu incansavelmente a incultura nacional, procurando difundir a boa literatura por todos os meios a seu alcance", diz outro texto da nota fúnebre de Caros Amigos.

A mesma nota acrescenta: "Profundo conhecedor da literatura universal, não se conformava com o fato de os brasileiros não terem maior consideração pela sua própria leitura; achava, por exemplo, perfeitamente cabível que o poeta Carlos Drummond de Andrade fosse considerado como sendo de estatura mundial e merecedor do Nobel".

"Além dos muitos ensaios publicados, escreveu livros de crítica literária entre os quais se destacam “Cronistas do Absurdo” (ed. José Álvaro, 1964) e “O Continente Submerso” (Editora Best-Seller,1988). No teatro escreveu a peça “Balada de Manhattan” que recebeu o Prêmio Governador do Estado em 1971 e traduziu textos de Tennessee Williams e Steven Berkoff", finaliza a nota sobre o escritor feita pela Caros Amigos.

Léo também foi defensor dos movimentos sociais e reprovava o totalitarismo do comunismo soviético, pois seu esquerdismo era democrático e ele fazia essa defesa no seu trabalho jornalístico, sendo um dos grandes batalhadores da mídia alternativa no Brasil.

O comentário de Léo Gilson Ribeiro sobre Chico Xavier é bastante contundente e traz uma análise, desagradável para muitos, sobre as irregularidades das supostas psicografias literárias, nas quais se observa claramente que estas fogem dos estilos originais dos mortos alegados.

Portanto, não é um intolerante religioso que fala contra o "bondoso trabalho" de um suposto médium, mas um crítico literário que é profundo conhecedor dos escritores brasileiros e não faz o tipo do especialista complacente que vê semelhanças onde não existem, tal como aqueles que confundem A com H. Léo tornou-se famoso por essa frase que encerra esta postagem, que podemos usar como recado aos esquerdistas que ainda sentem alguma complacência com os "médiuns espíritas":

"Uma coisa é clara: Quando o ‘espírito’ sobe, sua qualidade desce. É inconcebível que grandes criadores de nossa língua, depois da morte, fiquem por aí gargarejando o tatibitate espírita". 

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