quinta-feira, 9 de novembro de 2017

Imprensa progressista deveria investigar "movimento espírita"

AS SEITAS "NEOPENTECOSTAIS" SÃO FARTAMENTE INVESTIGADAS PELO JORNALISMO PROGRESSISTA. NA FOTO, PASTOR MARCO FELICIANO APOIANDO O IMPEACHMENT CONTRA A ENTÃO PRESIDENTA DILMA ROUSSEFF.

A imprensa progressista geralmente prima pelo jornalismo investigativo, pela averiguação de pontos sombrios contra totens consagrados pela sociedade em geral, servindo de contraponto à chamada mídia hegemônica, geralmente complacente e até cúmplice de muitos privilegiados da sorte.

No entanto, a mídia progressista tem suas omissões graves, quase imperdoáveis. Perde oportunidades mil de amplitude de seu raio investigativo. O "funk", ritmo comercial vinculado ao poder midiático, patrocinado por multinacionais e querido pelos executivos da mídia hegemônica, nunca foi alvo de investigação pela mídia progressista. Pelo contrário, era sempre cortejado por textos apologistas, mesmo sob o verniz de "grandes reportagens".

Ninguém observa, por exemplo, por que, entre 2003 e 2005, as Organizações Globo se empenharam tanto em divulgar o "funk". Era tudo quanto era programa e veículo, num processo de divulgação que não pode ser visto como "apropriação do movimento", pois a forma com que o "funk" era difundido indicava cumplicidade entre o "movimento funk" e a família Marinho, dona da poderosa corporação.

Ninguém, da mesma forma, investiga as associações do "funk" com a CIA - praticamente confirmada com o patrocínio de dois órgãos vinculados ao governo dos EUA, a Fundação Ford e a Soros Management Fund, a ONGs que investem e patrocinam o "funk" - , nem as parcerias com Luciano Huck, com o PMDB carioca, com o PSDB, com Aécio Neves, com Eduardo Cunha.

Ninguém percebeu sequer que o "baile funk" que aconteceu em Copacabana, aparentemente em solidariedade à presidenta Dilma Rousseff, no dia 17 de abril de 2016, data de votação da Câmara dos Deputados da abertura do processo de impeachment, foi uma forma de abafar o teor das manifestações pró-Dilma, reduzindo o teor político, na medida em que a "festa" se sobrepunha à manifestação política.

Ninguém sequer perguntou por que o empresário e DJ Rômulo Costa, da Furacão 2000 - que havia elegido o apresentador Luciano Huck "embaixador oficial do funk" - , embora manifestasse aparente repúdio ao deputado Eduardo Cunha, tem representantes defendendo o "funk" filiados ao PMDB carioca e ligados à "bancada da Bíblia" (Costa é evangélico), a mesma do então presidente da Câmara dos Deputados.

São muitos e muitos pontos sombrios que cercam o "funk" que a mídia progressista se dispõe de um farto material de investigação. Em vez disso, seus membros se deixam levar pela embalagem "humilde" do "funk". Esse é um vício que mancha as esquerdas, que se deixam levar por qualquer um que se promova sob o apelo publicitário de "pobres sorridentes".

"MÉDIUNS" OU "SACERDOTES DA REDE GLOBO"?

Outro problema é quanto à religião. A mídia progressista tem um empenho exemplar em investigar personalidades direta ou indiretamente ligadas a seitas "neopentecostais", comprometidas com pautas sociais obscurantistas e retrógradas, seja de ordem trabalhista, sexual, familiar ou de outra natureza, e que comandam a "bancada da Bíblia" do poder Legislativo nas esferas municipais, estaduais e federal.

No entanto, não há uma investigação a respeito do "espiritismo" brasileiro, que é beneficiado pela má informação generalizada que se prega do legado de Allan Kardec, difundida pela grande mídia como se fosse um conto de fadas.

Enquanto o legado original da Doutrina Espírita é desfigurado pela supremacia dos "místicos" no "movimento espírita" brasileiro - a supremacia é tal que os deturpadores já se posicionam acima do próprio Kardec - , a visão oficial que se tem é que o Espiritismo que se tem no Brasil é "autêntico" e "inocentemente adaptado" às "tradições da religiosidade brasileira".

Cria-se uma narrativa simplória que parece sinopse de novela da Rede Globo: um pedagogo conhece fenômenos sobrenaturais, estabelece conceitos a partir disso e, depois, brasileiros adaptam todo esse sistema de conhecimentos às crenças da fé e fundam uma religião espiritualista. Seria muito simples se isso fosse realmente assim.

Enquanto isso, nos bastidores do "espiritismo" há verdadeiras torres de Babel na qual os próprios deturpadores não se entendem, disputando para ver quem catoliciza mais o Espiritismo. Conceitos que constrangeriam Allan Kardec são vendidos como se fossem "espiritismo autêntico" e abordagens entram em conflito a partir de nulidades como imaginar quem é ou foi  reencarnação de Kardec e se o Brasil entrará em regeneração em 2019 ou 2057.

O que chama a atenção é a blindagem que os chamados "médiuns espíritas" - que romperam com a função intermediária do médium original para se tornarem os "sacerdotes" do "espiritismo" igrejista - recebem da grande mídia, sobretudo a Rede Globo, que os trata como seus protegidos oficiais, usando-os como meios de concorrer com os "pastores eletrônicos" das "neopentecostais" que atuam na Rede Record ou em horários arrendados pelas concorrentes.

Nenhuma alma viva da mídia progressista consegue perguntar a respeito dessa associação. Recentemente, "médiuns" como Divaldo Franco e João Teixeira de Faria, o João de Deus, apareceram ao lado de políticos decadentes como João Dória Jr. e Michel Temer, respectivamente, e não se averiguou por quê de tanta afinidade. Se Dória e Temer estivessem ao lado de Silas Malafaia e Marco Feliciano, haveria burburinho na mídia progressista.

No caso de João Dória Jr., o agravante foi que a divulgação oficial da "farinata", um alimento que, por suas irregularidades, causou má repercussão ao ser condenado pelos movimentos sociais e por entidades sérias de saúde pública e nutrição, com o prefeito Dória usando a camiseta do Você e a Paz com o nome de Divaldo Franco descrito. Isso é vínculo de imagem. Como é que a mídia progressista não se atentou a averiguar isso?

Imagine se o alimento fosse lançado oficialmente e, de repente, uma escola sofre uma série de intoxicações alimentares dos alunos que comeram a "farinata". Como fica Divaldo Franco, oficialmente considerado "humanista", ao apoiar e permitir o uso da imagem de seu evento e do seu nome pessoal para um político divulgar um alimento que é considerado uma "ofensa à dignidade humana"?

E como a imprensa progressista não se deu conta disso? Complacência? Desinformação? Ou imagina que o Você e a Paz foi promovido pela Arquidiocese de São Paulo? A idealização do evento, como se observa em Salvador, é de Divaldo Franco e até muitos católicos e evangélicos sabem disso. Diante disso, é urgente verificar as razões do vínculo de imagem de João Dória Jr. e seu duvidoso alimento ao evento e ao nome pessoal de um "médium espírita".

O silêncio da mídia progressista, que se limitou a criticar o arcebispo de São Paulo, dom Odilo Scherer, como religioso apoiador da "farinata" ou "ração humana", deve ter sido movido mais uma vez pelo apelo de "pobres sorridentes" que se associa aos "médiuns espíritas", tidos oficialmente como "pessoas puras" mediante apelos produzidos pela grande mídia, que é capaz de fabricar consenso para impor seus valores, sobretudo religiosos.

A própria imagem de Francisco Cândido Xavier como um "filantropo" que hoje prevalece foi um discurso produzido pela Rede Globo, reciclando o mito produzido pela FEB na pessoa de Antônio Wantuil de Freitas, mas eliminando os exageros pitorescos promovidos por este último.

Tomando emprestado o mesmo roteiro discursivo que o católico inglês Malcolm Muggeridge fez sobre Madre Teresa de Calcutá, que simboliza um paradigma de "caridade" que mais promove o "benfeitor" e muito menos traz progressos à sociedade, a Rede Globo relançou o mito de Chico Xavier com uma retórica que lembra sinopse de novela. A ideia é criar um ídolo religioso "ecumênico" para neutralizar a ascensão dos "pastores eletrônicos" das seitas "neopentecostais".

A mídia progressista não percebeu isso e houve até blogueira comunista que se dizia fã de Chico Xavier - deveria ela conhecer o anticomunismo ferrenho do "médium", expresso para milhares de pessoas no Pinga Fogo, em 1971 - cometendo a gafe de reclamar que As Mães de Chico Xavier, produção da Globo Filmes, era "boicotada pela grande mídia". Ora, a Globo Filmes é da mesma empresa da Rede Globo, as Organizações Globo!

Fica então a missão da imprensa progressista analisar os problemas que envolvem o "espiritismo" brasileiro, que já revela seu conservadorismo ao trocar o cientificismo progressista de Kardec pelo igrejismo ultraconservador do Catolicismo jesuíta, na prática a base dos postulados "espíritas" vigentes no Brasil.

Seria bom que a imprensa progressista perguntasse e averiguasse sobre o que está por trás de fenômenos que se divulgam sob a imagem publicitária de pobres sorridentes, em vez de se deixar seduzir por tão comovente figura.

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