terça-feira, 24 de outubro de 2017

O silêncio da imprensa que revela a complacência aos "médiuns espíritas"

JOÃO DÓRIA JR. DIVULGOU A "FARINATA" MOSTRANDO O TEMPO TODO A CAMISETA DO ENCONTRO VOCÊ E A PAZ, DE DIVALDO FRANCO.

Uma grande pauta escapou dos jornalistas, mesmo os da mídia de esquerda, quando o prefeito de São Paulo, João Dória Jr., divulgou seu duvidoso projeto alimentar, o "Programa Alimento para Todos", apresentando um pote com bolinhas granuladas feitas a partir de restos de alimentos de procedência e valor nutricional duvidosos.

Ele passou o tempo todo exibindo a camiseta da edição paulista evento Você e a Paz, o encontro idealizado pelo "médium" Divaldo Franco, de forma bastante ostensiva. Isso foi registrado por inúmeras fotos e, em várias delas, se vê claramente o nome de Divaldo Franco creditado no evento. Muitos, ingenuamente, viam na camiseta como mera coincidência, mas evidentemente não é.

João Dória Jr. não estava mostrando a camiseta como, por exemplo, moradores pobres circulam pelos subúrbios e favelas vestindo a camiseta do Iron Maiden, banda que dificilmente sequer ouviram falar. O prefeito de São Paulo estava divulgando um evento e vinculando sua imagem ao evento Você e a Paz e à figura pessoal de Divaldo Franco, sob o consentimento deste, afinal o prefake foi homenageado pelo encontro e não foi sequer notificado pelo uso ostensivo da camiseta.

Foi um grande furo jornalístico que não houve. O silêncio da grande mídia, que chegou a fazer coberturas elogiosas à "farinata" - nome dado ao granulado - , é até compreensível, porque o status dos "médiuns espíritas" se equipara a "sacerdotes sem batina" blindados pela Rede Globo de Televisão, que deles difunde paradigmas religiosos e filantrópicos que mais parecem enredo de novela de tão fantasiosos e conservadores (a "caridade" defendida é claramente paternalista).

O problema surge quando o silêncio também existe na mídia de esquerda, que geralmente faz contraponto às concepções ideológicas da mídia hegemônica e não tem medo de enfrentar totens consagrados da sociedade conservadora. A mídia de esquerda foi, por exemplo, a primeira a apontar os malefícios do governo Michel Temer, quando oficialmente a sociedade apostava alguma esperança ao então presidente interino.

A mídia de esquerda se limitou, nas críticas religiosas, a apenas citar o apoio do arcebispo de São Paulo, dom Odilo Scherer, à "ração humana". No entanto, o apoio de Divaldo Franco foi decisivo, porque ele organizou o Você e a Paz que serviu para o lançamento oficial da "farinata" de João Dória Jr.. Foi como um anfitrião que abriu espaço para um convidado divulgar seu produto, mesmo diante dos riscos que este representa.

Imagine se, no Rock In Rio, fosse escalada uma banda de rock que havia lançado uma canção que faz apologia ao fascismo. Isso não vai acontecer, acreditamos, mas digamos que isso ocorreu. Por mais que a banda tenha responsabilidade pessoal pela iniciativa, o organizador Roberto Medina teria que se responsabilizar pela organização, por ter deixado o "incômodo convidado" entrar.

Divaldo não pode estar isento de culpa pela "farinata" que depois se revelou nociva. Divaldo tem reputação de "sábio", "vidente" e "líder ativista", e poderia ter cancelado a homenagem se realmente tivesse sido avisado pelos "benfeitores espirituais". Poderia ter entrado em conflito com a Arquidiocese de São Paulo, se fosse realmente um "líder ativista" e se houvesse sentido no seu status de "humanista".

O consentimento dele era para ser alvo de investigação da imprensa de esquerda. Que a Globo, a Folha, a Abril, o Estadão e a Isto É atuem em silêncio, embora até alguns de seus veículos tivessem publicado notícias polêmicas sobre o "movimento espírita". Mas que a mídia de esquerda adotasse o mesmo silêncio é algo bastante duvidoso.

O silêncio acaba se tornando bastante cúmplice e motivado com a mitologia que os "médiuns espíritas", associados a imagens dóceis como paisagens floridas, céus azuis e crianças sorrindo, como se fossem fadas madrinhas dos contos infantis, não podem responder por seus erros. O "médium espírita" faz o que quer, sobretudo reduzindo o legado de Allan Kardec a um sub-Catolicismo de moldes medievais, mas não são responsabilizados por essa traição escancarada.

Que oficialmente o que se conhece como "espiritismo" mais parece um conto infantil, com o professor Kardec descobrindo fenômenos espirituais e os brasileiros temperando a sua doutrina com ideias católicas, isso é verdade. As pessoas conhecem mal o Espiritismo e ele é tão mal ensinado que a deturpação idealizada por J. B. Roustaing e desenvolvida pela FEB se espalhou pelo mundo a ponto de haver deturpação espírita em Portugal, Espanha e até na França!

Ninguém investiga e o que se observa é que o "espiritismo" brasileiro é mais blindado que o PSDB. Numa época em que ídolos de diversos setores, do rock aos esportes olímpicos, das novelas da Globo ao Poder Judiciário, estão sendo desmascarados, há um medo enorme de sequer apontar um questionamento sequer a um "médium espírita". Mesmo os piores escândalos, se são noticiados, são claramente abafados.

Pelo menos a imprensa de esquerda deveria investigar as relações de Divaldo Franco com a "farinata" de João Dória Jr.. O prefeito de São Paulo não usou a camiseta do Você e a Paz como um moleque de dez anos que aprende skate usa a camiseta do Pearl Jam.

Houve um grande propósito daquilo tudo e é função da imprensa como um todo informar as coisas, mesmo que seja sob o preço de caírem ídolos religiosos, pondo em xeque suas imagens "divinizadas". O "médium espírita" não pode estar acima da lógica, do bom senso, da ética, de coisa alguma!

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