quarta-feira, 18 de outubro de 2017

O encontro entre o Deturpador e o Prefake


Numa época em que o senador Aécio Neves é presenteado pela impunidade e que um engodo alimentar é lançado pelo prefeito de São Paulo, João Dória Jr., descobre-se mais provas de que o "espiritismo" brasileiro, que vende uma falsa imagem de "progressista", está alinhado com o atual cenário político do Brasil, de métodos fisiológicos e perfil ideológico conservador.

Mesmo na Bahia, onde há uma predominância de movimentos sociais e personalidades progressistas, o "espiritismo" brasileiro se revela bastante conservador. Os "médiuns" José Medrado e Divaldo Franco sinalizaram, sutilmente, apoio ao grupo político dos herdeiros de Antônio Carlos Magalhães. Consta-se que José Medrado seria um parente distante do político populista de direita, Marcos Medrado, conhecido por ser um dos representantes baianos da bancada ruralista do Legislativo.

É claro que eles tentam se passar por ecumênicos, mas o "espiritismo" brasileiro sempre se manifestou eminentemente conservador. O "médium" Francisco Cândido Xavier é conhecido por apoiar a ditadura militar, mesmo na sua pior fase, regida pelo terrível AI-5 e com ações de tortura comandadas pelo DOI-CODI, e logo quando parte da direita que apoiou o golpe militar de 1964 migrou para a oposição.

Parece chocante, mas o próprio Chico Xavier, em um programa de TV dirigido para milhões de telespectadores e hoje disponível no YouTube, disse com todas as palavras verdadeiros desaforos contra pessoas humildes, condenando os movimentos camponeses e operários, além de pedir para que oremos pelos generais (e, por conseguinte, pelos torturadores) que estavam construindo um "reino de amor" do Brasil futuro, um "reino" feito sob o banho de sangue de muitos brasileiros inocentes.

Chico Xavier, que setores das esquerdas ingenuamente lhe demonstram simpatia, também apoiou o candidato à Presidência da República, Fernando Collor, na disputa contra Luís Inácio Lula da Silva. Este, mais tarde vitorioso em duas eleições presidenciais, recebeu a pretensa solidariedade do "médium" e latifundiário João Teixeira de Faria, o João de Deus, que como "coronel" goiano tem preferência ideológica aos políticos do PSDB que dominam o Estado de Goiás.

João de Deus teria dado o "beijo da morte" na ex-primeira-dama Marisa Letícia da Silva. Antes do "médium" dizer que estava orando por ela, a esposa de Lula parecia ter consideráveis chances de se recuperar de um AVC, no começo deste ano. Foi João de Deus dizer que "orava por ela" para, pouco depois, ela falecer, com 67 anos incompletos.

José Medrado é contratado pela Rádio Metrópole FM, de Salvador, cujo dono foi um "filhote" da ditadura militar, o engenheiro e dublê de radiocomunicador, Mário Kertèsz. A origem da emissora se deu num esquema de corrupção quando Kertêsz era prefeito da capital baiana e uma grande verba pública destinada a obras importantes foi desviada para a aquisição de rádios e TVs.

Apadrinhado por Antônio Carlos Magalhães, Kertèsz foi filiado à ARENA e sua primeira gestão como prefeito de Salvador se deu como prefeito-biônico, nomeado pelos militares. Na segunda gestão onde ocorreu a corrupção que o fez adquirir rádios e TVs, ele era eleito pelo PMDB e foi designado pelo padrinho político, com quem se reconciliou após um breve rompimento, a destruir o Jornal da Bahia, antigo periódico de esquerda baiano, que Kertèsz reduziu a um tabloide policialesco.

Ultimamente, porém, Mário Kertèsz resolveu se apropriar das forças baianas de esquerda, de tal forma que exerceu sobre elas um monopólio de visibilidade. Por duas vezes este ano, o "filhote da ditadura" buscou promoção pessoal entre os movimentos esquerdistas de todo o Brasil ao entrevistar o ex-presidente Lula.

O "espiritismo" brasileiro, portanto, está associado a forças conservadoras de tal forma que as poucas pessoas de esquerda que se declaram "espíritas" - na orientação adotada pelo "movimento" brasileiro - parecem bastante deslocadas da realidade e tomadas de profunda ingenuidade diante da fachada "filantrópica" da doutrina brasileira.


DIVALDO FRANCO E A RAÇÃO HUMANA

A atitude conservadora ganhou novos ingredientes depois que o "movimento espírita", de forma sutil, manifestou defesa convicta ao governo Michel Temer e a grupos reacionários como o Movimento Brasil Livre e o Revoltados (!) On Line. Sabe-se que os textos sobre apologia ao sofrimento cresceram desde 2016, o que indica que os "espíritas" defendem medidas restritivas como a reforma trabalhista, a reforma previdenciária e a terceirização total no mercado de trabalho.

Sobre a reforma trabalhista, os "espíritas" defendem itens como o fim dos encargos salariais, sob a tese do "desapego material", e a prevalência do negociado sobre o legislado no acordo de patrões com empregados, que combina o espírito de servidão destes últimos com a utopia do "diálogo fraterno" que os "espíritas" atribuem a estes dois entes profissionais.

Agora é a vez de Divaldo Franco, que não escondeu seu apoio ao prefeito de Salvador, Antônio Carlos Magalhães Neto, o ACM Neto, cortejar logo um dos políticos mais desmoralizados do Brasil, o prefeito de São Paulo João Dória Jr., apelidado de prefake e eleito em 2016 por causa do modismo da anti-política que contaminou setores conservadores da sociedade brasileira.



João Dória Jr., que outrora era apresentador de programas que entrevistavam pessoas ricas, está associado a medidas deploráveis como o "Acelera São Paulo", que aumentou o padrão mínimo de velocidades de veículos, causando várias mortes nas avenidas marginas da capital paulista.

Outra medida deplorável foi a de mandar acordar os moradores de rua com jatos d'água, uma atitude imoral, assustadora e, pelo choque térmico que pode causar, nociva à saúde. Dória também reprimiu uma cracolândia, atrapalhando a ação de psicólogos para educar os viciados a largar o consumo, e fez com que o ponto de venda e consumo de crack se mudasse para uma área residencial, ameaçando a segurança e o conforto dos moradores.

Pois João Dória Jr. foi o homenageado, no último dia 08, do evento do Movimento Você e a Paz, comandado por Divaldo Franco, na etapa realizada em São Paulo, no Parque do Ibirapuera. Habitualmente inclinado a atacar desafetos, João Dória Jr. "desejou paz" a Alberto Goldman, veterano político que trocou farpas com o prefeito paulistano.

No evento, João Dória Jr. lançou o programa "Alimento para Todos", no qual apresentou o "granulado nutricional", um pote cheio de bolinhas granuladas que seria composto de restos de comida processados sob uma técnica industrial que não foi divulgada. Também não foram divulgados os critérios nutricionais, a forma como se faz o processamento e a procedência dos alimentos a serem aproveitados. O granulado é pejorativamente apelidado de "ração humana".

Enquanto Divaldo Franco, que muitos acreditam como "sábio" e "filantropo" e mesmo muitos contestadores da deturpação espírita têm muito medo de questionar sua trajetória com profundidade e firmeza, apoia o granulado, que Dória pretende destinar para a população pobre, os movimentos sociais e entidades sérias de diversos setores condenam a iniciativa.

O Conselho Federal de Nutricionistas, por exemplo, já afirmou que o granulado, a ser distribuído sob o codinome "Allimento" (com "l" duplo), definiu a iniciativa como "danosa à dignidade humana". Outros movimentos sociais apontam outros aspectos prejudiciais à iniciativa do prefake.

Entre tais aspectos, enumera-se o fato do desprezo de Dória por iniciativas que emancipassem de verdade o povo pobre e os moradores de rua, numa cidade como São Paulo, em que favelas são dizimadas total ou parcialmente por constantes incêndios. Além disso, criar uma ração humana em vez de melhorar o acesso da população às cestas básicas é um ato comparável ao de oferecer uma ração animal para cachorros domésticos, o que indica um profundo e cruel preconceito social.

Pela ótica dos "espíritas", a "ração humana" seria uma "maneira alternativa" de "trazer benefícios alimentares aos necessitados". "Qualquer iniciativa é bem vinda, se for para matar a fome dos famintos", é o que se resume esta tese, ignorando aspectos diversos da iniciativa do prefeito paulistano, que contrariam os princípios de dignidade e respeito humanos.

Sobre o apoio de Divaldo Franco à iniciativa e ao prefake, isso não surpreende, apesar da complacência que o "médium" baiano recebe até mesmo daqueles que contestam a deturpação espírita, mas recuam no meio do caminho.

O "médium" baiano é conhecido por ser, depois de Chico Xavier, o maior deturpador da Doutrina Espírita, tendo sido ambos antigos católicos e discípulos de Jean-Baptiste Roustaing. Divaldo foi denominado, pelo jornalista José Herculano Pires, com o incômodo título de "impostor", pela forma com que o baiano expressava conceitos do Espiritismo.

Quanto a Divaldo e Dória, digamos que a sintonia de vibrações os uniu, e muito. Ambos adoram deixar os assistidos à própria sorte e saírem viajando em busca de prêmios e condecorações. O bairro de Pau da Lima, de Salvador, é um dos mais perigosos da capital baiana. Já São Paulo aumentou seus índices de violência quando Dória seguia viagem pelo resto do país, querendo se promover para uma possível candidatura à Presidência da República. Esta atitude desagradou até seu partido, o PSDB.

A ração humana pode render muitos episódios e desgastar a imagem de João Dória Jr.. E se ele recebe as bênçãos de Divaldo Franco, isso significa que o "espiritismo" brasileiro também se encontra numa retumbante decadência, o que deveria causar uma grande vergonha naqueles que ainda acreditam que o próprio Divaldo irá recuperar as bases kardecianas originais. Sonhem, amigos...

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