terça-feira, 31 de outubro de 2017

Depois de Divaldo Franco, João de Deus busca sintonia com plutocratas

AFINIDADE DE SINTONIA - MICHEL TEMER FOI VISITADO POR JOÃO DÓRIA JR., GILMAR MENDES E JOÃO DE DEUS.

O "espiritismo" prova que está sintonizado com a chamada plutocracia, da qual, no fundo, sempre fez parte. É uma religião de elite, um sub-Catolicismo de valores medievais e moralismo ultraconservador, que é tolerado até nos seus piores erros mas, mesmo assim, seus membros reclamam de "intolerância religiosa" pegando carona nos infortúnios que não sofre, mas que atinge religiões de origem afro-brasileira, como a umbanda, há muito confundida com "espiritismo".

Depois do apoio que Divaldo Franco deu à "farinata" do prefeito de São Paulo, João Dória Jr., ao consentir que este apresentasse o suspeito produto no evento Você e a Paz, fato que a imprensa brasileira fez que não viu - o que indica que os "médiuns" brasileiros superaram, em blindagem, os políticos do PSDB - , desta vez foi o goiano João Teixeira de Faria, o João de Deus, visitar o presidente Michel Temer.

Nota-se que o "espiritismo" brasileiro vende uma imagem de "progressista" e alega "ter muita consideração" com políticos de esquerda. Vide o próprio João de Deus e sua aparente gentileza com ex-presidente Lula e sua esposa Marisa Letícia. Só que, quando a ex-primeira dama sofreu um AVC e havia alguma chance de recuperação, foi João de Deus dizer que "rezava por ela" que Marisa faleceu.

Serão as tais "energias" que os "médiuns" trazem que, para certas pessoas, soam malignas? Francisco Cândido Xavier também transmitia energias tão sombrias quanto as de João de Deus. Chico Xavier, que teve uma foto de 1935 com semblante maligno publicada na capa de O Globo, exercia uma estranha maldição em boa parte de seus seguidores: estes perdiam algum filho prematuramente, depois que manifestavam apreço ao "médium" mineiro, espécie de Aécio Neves da religião.

Voltando à "consideração à esquerda", isso é apenas uma formalidade. João de Deus foi cordial com Lula da mesma forma, por exemplo, William Bonner foi. Uma questão de formalidade, apenas, o que não é um problema em si. O problema é que os "espíritas" sempre omitem sua inclinação conservadora, quando se sentem mais à vontade com políticos conservadores.

Daí a afinidade de sintonia de Divaldo Franco com ACM Neto, na Bahia, e com João Dória Jr. em São Paulo. Nota-se a diferença de tratamento. Com os esquerdistas, os "médiuns" são apenas diplomáticos, com aquela cordialidade formal, correta mas não muito à vontade. Já quando os políticos são de direita, a cordialidade é mais calorosa, a "afeição" vai além dos protocolos de formalidade, mesmo quando estes protocolos apelam para uma "afeição mais sincera".

João de Deus, latifundiário e "curandeiro", figura festejada do "espiritismo" mas que não teve coragem de fazer a autocirurgia que, em 1961, em circunstâncias piores e arriscadas, o médico Leonid Rogozov havia feito, se autopromove recebendo celebridades e políticos de "diversas correntes ideológicas", contrariando o ensinamento kardeciano de que um médium não poderia viver do culto à personalidade.

Só no Brasil os "médiuns" vivem do culto à personalidade. Isso é uma grande aberração, mas quase ninguém percebe isso porque os "médiuns" estão associados a apelos ideológicos comparáveis aos "mundos encantados" das fantasias infantis. Mas a verdade é que ser "médium", no Brasil, acaba sendo romper com a função intermediária dos médiuns autênticos dos tempos de Kardec, substituindo-a pela forma espetacularizada que se observa no nosso país.

Michel Temer foi visitado pelo próprio João Dória Jr. e pelo ministro do Supremo Tribunal Federal, Gilmar Mendes, figuras eminentes do Brasil reacionário que as elites defendem. A exemplo de João de Deus, são personalidades apoiadas pela mídia hegemônica e por setores conservadores da sociedade.

João de Deus, dono de uma área equivalente a 18 Parques do Ibirapuera - ironicamente, foi neste parque que ocorreu o "histórico" Você e a Paz que lançou oficialmente a indigesta "farinata" - , encontra afinidades de sintonia com Temer, que, apesar de ter declarado "nunca ter frequentado um centro espírita", foi o mais "espírita" dos presidentes do país.

O "médium" de Abadiânia é investigado por duas mortes ocorridas por causa de seu método duvidoso de "curas mediúnicas", desprovido de higiene e feitos ao arrepio da ciência médica. Ele é acusado de exercício ilegal da Medicina, de lesão corporal por objetos cortantes e sujos e por charlatanismo. Apesar disso, João de Deus goza da mais alta popularidade, devido à blindagem da grande mídia e do mundo das celebridades das quais o "médium" se promove para obter visibilidade e prestígio.

"ESPIRITISMO" RENDEU MAU AGOURO A JUSCELINO KUBITSCHEK

Isso porque a sintonia "espírita" não beneficia necessariamente seus simpatizantes, mas aqueles que se afinam com ideais conservadores defendidos pela doutrina igrejeira. Juscelino Kubitschek tratou o "espiritismo" com muita consideração em 1960 e, depois disso, só sofreu uma maré de azar que culminou no estranho acidente de carro em 1976, que nunca foi devidamente investigado ou reconhecido como um atentado. Os "espíritos de luz" protegem os assassinos de JK?

A "urucubaca" contra JK foi tanta que vários relacionados a ele sofreram infortúnios. João Goulart foi presidente, mas sofreu um golpe militar e teria sido envenenado num hospital, durante o exílio. O marechal Henrique Lott não conseguiu ser eleito sucessor de JK e teve uma filha assassinada por um ex-amigo. Márcia Kubitschek, filha biológica de JK, morreu prematuramente (56 anos). O azar chegou até José Wilker, que interpretou JK numa minissérie da Globo, e morreu de infarto justamente quando começava a fazer consultas num "centro espírita".

Já Fernando Collor de Mello nunca foi um grande fã de Chico Xavier e, do contrário de JK, nada tinha de progressista. Mesmo assim, Collor, ao ser apoiado pelo "médium", não só ganhou as eleições mas, embora tenha enfrentado um escândalo de corrupção e um impeachment, voltou "inteiro" à vida política nacional, sendo hoje senador. Aqueles que o poderiam dar detalhes sobre o envolvimento de Collor na corrupção, como o irmão Pedro e o rival deste e ex-tesoureiro do outro, Paulo César Farias, morreram.

JOÃO DE DEUS E MICHEL TEMER - "ALMAS GÊMEAS"?

Michel Temer, que deixou o hospital ontem depois de se recuperar de uma cirurgia na próstata, não é propriamente um adepto do "espiritismo", mas seu programa de governo sempre foi apoiado com gosto, mas de maneira nunca oficialmente assumida, pelos "espíritas".

As ditas reformas do governo Temer estão de acordo com o moralismo retrógrado do "espiritismo" brasileiro, que se fundamenta na Teologia do Sofrimento. A perda de direitos sociais pela reforma trabalhista é vista pelos "espíritas" como uma oportunidade de exercer o "desapego material", na ótica conservadora deles.

Por sua vez, a reforma previdenciária é defendida pelos "espíritas" para "testar a paciência e a perseverança do trabalhador" e a proposta de terceirização total para atividades-fim é vista como um modo de "estimular a humildade humana". A prevalência do negociado sobre o legislado nas relações de trabalho é vista pelos "espíritas" como uma "oportunidade de promover o diálogo fraternal" entre patrões e empregados.

Daí que a sintonia espiritual dos "espíritas" com Michel Temer é bastante afinada. E a visita de João de Deus a Michel Temer mostra o quanto os "médiuns espíritas" podem parecer "grandes amigos" para políticos progressistas, mas a amizade se torna mais sincera e profunda com os políticos mais conservadores. Porque aí não é questão apenas de cordialidade, mas de cumplicidade e afinidade de ideias e interesses.

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