sábado, 2 de setembro de 2017
No Brasil das 'fake news', querem reabilitar o falso Humberto de Campos
O Brasil é hoje marcado pelas páginas de fake news, portais reacionários da imprensa de segundo escalão que, na prática, soam como "satélites" da grande imprensa, que também cada vez mais está desinformando e manipulando as pessoas.
Páginas como "Imprensa Livre", "Jornalivre", "Diário do Brasil", ""Folha da Pátria" e o que vier com nomes igualmente pomposos, difundem notícias de valor verídico bastante duvidoso, em muitos casos transmitindo juízos de valor sem provas, visando sobretudo proteger os interesses das classes dominantes, que sustentam essas páginas mentirosas financiando espaços na Internet.
No "espiritismo", a habitual falta de concentração típica dos brasileiros impede a real comunicação com os mortos. Se ela faz os brasileiros não terem paciência sequer para ouvir música ou ler um livro, quanto mais para se comunicar com o povo do além-túmulo?
Daí que os ditos "médiuns", aberrações que são idolatradas e recebem culto à personalidade, recorrem a obras fake, caprichando nas mensagens religiosas para desencorajar qualquer denúncia. Ninguém iria apontar fraude em "mensagens de amor".
O "espiritismo", no seu desespero paranoico de tentar reabilitar o mito de Francisco Cândido Xavier, agora tenta partir para todos os lados. Algumas concessões têm que ser feitas, como o periódico "Correio Espírita" admitir que Chico Xavier não foi reencarnação de Allan Kardec, mas esta concessão foi feita mais para destacar o anti-médium mineiro e reforçar a "peculiaridade" do "espiritismo" que é feito no Brasil.
A reabilitação de Chico Xavier - algo comparável ao que se fez com Aécio Neves na política - envolve até mesmo a duvidosa e farsante obra que usa o nome de Humberto de Campos. O volume da série "Grandes Temas do Espiritismo", da revista Espiritismo & Ciência (sic), insiste em tentar dar alguma validade à farsa que usurpou o falecido autor maranhense.
A capa da edição destaca o pseudônimo que Chico Xavier e o presidente da Federação "Espírita" Brasileira, Antônio Wantuil de Freitas, deu para o pseudo-Humberto, "Irmão X", uma paródia do Conselheiro XX, apesar da pronúncia ser "irmão xis" diante do "conselheiro vinte". Conselheiro XX foi um pseudônimo usado por Humberto para escrever crônicas satíricas sobre personalidades históricas ou de seu tempo.
A revista, que, como muitas outras, ensina e informa mal a Doutrina Espírita, define como "fundamental" a obra do suposto Humberto de Campos para a divulgação do Espiritismo, algo que vemos ter sido bastante duvidoso e de muito mau gosto, por ter sido uma usurpação de um nome ilustre para vender livros, promover sensacionalismo em torno do "médium" e assim seduzir e enganar a opinião pública, aliciada por apelos igrejeiros das "mensagens fraternais".
O QUE REALMENTE ACONTECEU
A farsa do "espírito Humberto de Campos", que causava, com muita razão, indignação nos meios intelectuais, foi o maior escândalo causado por Chico Xavier, uma das confusões deploráveis que o anti-médium causou mas das quais se serviu do vitimismo para sair ileso de qualquer enrascada. O caso jogou Chico e Wantuil para os tribunais, e os dois, espertos, chegaram mesmo a veicular uma carta fake atribuída a Humberto na qual há apelos muito estranhos. Entre eles:
"(...)Exigem meus filhos a minha patente literária e, para isso, recorrem à petição judicial. Não precisavam, todavia, movimentar o exército dos parágrafos e atormentar o cérebro dos juízes. Que é semelhante reclamação para quem já lhes deu a vida da sua vida? Que é um nome, simples ajuntamento de sílabas, sem maior significação? Ninguém conhece, na Terra, os nomes dos elevados cooperadores de Deus, que sustentam as leis universais; entretanto são elas executadas sem esquecimento de um til".
Essa declaração Humberto nunca daria, porque se trata de uma ideia um tanto estranha. Um autor defendendo a omissão de sua identidade, como se autorizasse a usurpação de seu nome ao bel prazer, sob a desculpa da "elevada cooperação para Deus". A frase é muito estranha e traz um forte indício do estilo pessoal de Chico Xavier.
Algumas verdades devem ser expostas, esclarecendo os incautos que, com a memória curta e com a percepção equivocada da "bondade" trazida pelas novelas da Rede Globo e pelo Criança Esperança - lembremos que Chico é um protegido da Globo - , veem as coisas como se fossem um conto de fadas, e por isso se recusam a perceber o que está por trás do caso Humberto de Campos. Vejamos:
1) Chico Xavier teria feito uma revanche, por não ter gostado da resenha que Humberto, em vida, fez do livro Parnaso de Além-Túmulo. Embora, aparentemente, Humberto tenha visto semelhanças de estilo nos poemas "psicografados" em relação aos autores originais, o que não indica que Humberto teria legitimado o livro, ele reprovou a "psicografia" sob a alegação de que "autores mortos não podiam concorrer com autores vivos". Ao morrer, pouco depois, Humberto teve o nome usurpado por Chico Xavier, que teria inventado um sonho para justificar a "parceria".
2) Os parentes de Humberto de Campos moveram, contra Chico Xavier e a FEB, um processo judicial que foi um tanto ingènuo na petição: pedia à Justiça analisar as "psicografias" para ver se eram autênticas ou não. Se caso positivo, os herdeiros participariam dos lucros dos livros, mediante direitos autorais. Se caso negativo, Chico e a FEB teriam que indenizar os familiares. Faltou firmeza para apontar que a "psicografia" era uma demonstração de falsidade ideológica, facilmente identificável numa leitura analítica.
3) A "seletividade" da Justiça, famosa por inocentar criminosos ricos - "condenados" à liberdade condicional - e, recentemente, por poupar políticos do PSDB e até do PMDB, em 1944 inocentou Chico Xavier pela desculpa de achar o processo "improcedente", ou seja, a Justiça ignorou a verdadeira natureza da questão, pegando mais no problema secundário de direitos autorais, quando se vê que o caso era claramente de falsidade ideológica, pois o "espírito Humberto de Campos" comprovadamente era diferente, em estilo, do que o autor maranhense demonstrou em vida.
4) O escritor Agrippino Grieco, apontado pelos "espíritas" como "comprovador" da "autenticidade" do "espírito Humberto de Campos", por ver, em princípio, algumas semelhanças entre a obra deixada em vida e a "psicografia", mudou seu ponto de vista e se desiludiu ao saber das revelações dadas aos que questionaram a "obra mediúnica". Com isso, Grieco se envergonhou de ter acreditado na "autenticidade", ao ver que havia irregularidades no estilo do Humberto original e do "espírito".
5) Visando abafar futuros processos judiciais, o esperto Chico Xavier tentou fazer agrados aos familiares de Humberto. O filho homônimo, que virou produtor de TV, foi seduzido pela "doce emboscada" de assistir a um culto liderado por Chico Xavier, em 1957. Esperto, Chico pediu à casa espírita (o Grupo Espírita da Prece, em Uberaba), para organizar atividades de Assistencialismo (caridade meramente paliativa), enquanto ele se valia de um recurso considerado falacioso, chamado "bombardeio de amor" (um tipo perigoso de apelo emocional). Assim, Chico "encheu de afeições" o produtor Humberto de Campos Filho, que foi levado a chorar copiosamente, e depois o produtor era levado pelo "médium" a acompanhar uma caravana ostensiva demais para uma finalidade meramente paliativa: a doação de mantimentos e roupas. Portanto, uma "caridade" que serve mais para propaganda do "benfeitor" do que para realizar uma profunda transformação social.
ESTILOS DIFERENTES
Para quem acha que o "espírito Humberto de Campos" tem "semelhanças" com o Humberto de Campos original, impressão que se dá numa leitura meramente superficial e apressada, identificamos as diferenças de estilos entre o autor original e o "espírito", que devem ser levadas em conta.
1) O estilo de narrativa do Humberto de Campos original era ágil, quase cinematográfica e gostosa de se ler. O do "espírito Humberto" era mais pachorrenta, prolixa, cansativa e inspirava uma leitura "pesada" e entediante, que só agrada a quem for beato religioso.
2) O texto de Humberto de Campos original era culto e correto, porém bastante acessível e coloquial. O do "espírito" era prolixo, rebuscado, pretensamente erudito, porém com sérios vícios de linguagem, como escrever "que cada" (trocadilho com "quicada").
3) A escrita de Humberto de Campos original era descontraída, com uma linguagem parnasiana quase modernista. A do "espírito" tem um forte acento igrejista, era melancólica e deprimente, soando mais como um velho folhetim medieval.
4) Os temas de Humberto de Campos original eram diversos, relacionados à realidade política e cultural, e quase sempre laicos. Mesmo um conto sobre Jesus, no livro O Monstro e Outros Contos, falava mais sobre infância e não de religião. Já o "espírito" era monotemático, escrevendo episódios bíblicos ou usando situações cotidianas para veicular mensagens religiosas, não raro correspondendo ao pensamento pessoal de Chico Xavier.
CONCLUSÃO
As observações acima foram constatadas mediante leitura minuciosa e cuidadosa das duas biblografias, a original de Humberto de Campos e a suposta obra espiritual. As semelhanças de estilo entre os dois repertórios não é muita, e quando há, revela um grande pastiche literário.
A verdade é que a atribuição da "obra espiritual" a Humberto de Campos se conclui falsa, porque as diferenças estilísticas são extremas. Daí que a revista "Espiritismo & Ciência", no volume "Grandes Temas do Espiritismo" dedicados ao suposto Irmão X, cometeu uma grande perda de tempo e se junta à onda das "informações fake" que, em certos casos, cria exércitos de jovens fascistas. Os adeptos de Jair Bolsonaro, tido pelas fake news como "o homem mais honesto do Brasil", que o digam.
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