sábado, 20 de maio de 2017

Quando o sofredor torna-se escravo das ilusões dos outros


Em muitos casos, o problema, no sofrimento humano, não é a desilusão nem a desgraça em si. Se ocorrerem na dose moderada, como um remédio tarja preta para uma doença grave, a pessoa pode até aprender certos impasses e armadilhas e conhecer seus próprios limites.

O grande problema é que, além das desilusões e desgraças serem excessivas e, em muitos casos, há mais prejuízos do que desafios - como a pessoa que, querendo promover um debate na Internet, é vítima de cyberbullying e ganha até blogue de difamação de um desafeto mais afoito - , os sofredores ainda têm que ser escravos das ilusões dos outros.

Isso cria um enorme quadro de injustiças. Afinal, existem pessoas que sofrem demais, acumulando sobressaltos, traumas, decepções pesadas e estresses que mais as desanimam do que revigoram, e outras que naufragam no mar da ilusão sem fim.

E como a realidade não é tão simples como se imagina, vemos o quanto pessoas que se dizem ter jogo de cintura e capacidade de darem a volta por cima são impotentes. Há até casos, nas famílias, muito comuns, de pais quererem que seus filhos fossem não somente obedientes e servis a eles, mas também representassem as ilusões juvenis que os pais já não têm mais condições de viver.

Sim, os filhos se transformam em instrumentos dos desejos frustrados dos pais, vivendo a "juventude" que os pais não viveram! E isso é apenas um aspecto, num contexto em que o mercado de trabalho acolhe mais humoristas do que pessoas capazes de algum ofício, com patrões se gabando porque torcem por um time de futebol enquanto seus melhores empregados torcem por outro.

Como a Teologia do Sofrimento representa muita ilusão para seus detentores. Quantos pregadores da apologia ao sofrimento alheio, adeptos da frase "quanto pior, melhor", que pouco se importam em ver os desafortunados não apenas aguentarem suas limitações, sua perda de controle sobre o próprio destino, mas também se sujeitarem à se servirem das ilusões dos outros.

É o rapaz que quer namorar uma mulher de caráter, mas atrai para si uma mulher fútil e sexualmente impulsiva. Ou a mulher que quer namorar um homem de caráter, mas atrai para si um homem fútil que só pensa em dinheiro. Mas isso é apenas o que há de manjado na subordinação à ilusão alheia.

Quantas ilusões as pessoas dotadas de maior status quo, que se acham resolvidas na vida, contraem para si. E o fato do sofredor "ter jogo de cintura" para "vencer na vida", não só aguentando desgraças, perdendo o controle de seu próprio destino, mas também se sujeitando a servir à ilusão alheia, nem de longe traz alguma evolução ou proveito, antes criando apenas um tipo de "escravo social".

ESCRAVIDÃO SOCIAL

Certa vez, no programa Encontro com Fátima Bernardes, o surfista Adriano de Souza, o Mineirinho, havia descrito uma ideia bem típica das que compõem a Teologia do Sofrimento: "se você encarar as dificuldades, você vence fácil".

Descontando a asneira da frase - é claro que, se alguém encara uma dificuldade, nunca irá vencer fácil, porque, mesmo que a vitória seja garantida, ela é sempre difícil - , o que se observa é que o fato de "vencer na vida" oculta situações de conveniências, jogos de interesses, abandono até de vocações, que mais mutilam o aprendizado humano do que realmente o aprimoram.

Que "vitória na vida" não pode esconder jogos de interesses, que reduzem o sofredor a uma "mentira humana", pegando a primeira oportunidade que obtém, nem sempre a mais proveitosa, nem sempre a mais vantajosa? Que acordos podem ser feitos diante da desgraça alheia, "amputando" talentos, "decapitando" vocações, para a pessoa apenas obter dinheiro e algum prestígio social?

Muitos brasileiros ainda se apegam às ilusões do sofrimento extremo do outro ou da caridade paliativa. No caso da "caridade", muitos se esquecem do quanto de propaganda há, que promove demais o "benfeitor" diante do pouquíssimo benefício que traz. Ou o quanto de lavagem de dinheiro, de desvios de verbas públicas, de superfaturamentos que estão por trás de ações "filantrópicas".

E com que dinheiro Divaldo Franco usou para viajar tanto para o exterior espalhar a deturpação do Espiritismo? Ou será que ele viaja carregado pela luz que parte de sua mente serena e seu balé de palavras dóceis?

E o sofrimento humano? Ele apenas cria gênios e figuras humanistas? Não. Em muitos casos, o sofrimento além da conta cria suicidas, tiranos, assassinos, corruptos, ladrões, porque a falta de controle do próprio destino esmaga muitas almas, semeando não o amor e a perseverança, mas o ódio, a depressão, o medo, a vingança, a malícia e a cupidez.

E a escravidão social, que faz da pessoa que tanto necessita de uma evolução moral e humana, se reduzir a uma mentira de si mesmo, servindo às ilusões de outrem, não garante o progresso espiritual, antes sendo apenas uma forma de sobrevivência "dentro do possível" que desperdiça um prazo estimado em 80 anos com uma vida "qualquer nota". Tantos sorrisos fingidos por nada, apenas para agradar aos outros, auxiliar arrivistas e agradar privilegiados.

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