sexta-feira, 17 de março de 2017

Texto "espírita" faz apologia ao sofrimento e contradiz ensinamentos de Jesus


O "espiritismo" brasileiro deturpou tanto o legado de Allan Kardec que, tentando alcançar, na marcha-a-ré religiosa, as tradições do Catolicismo jesuíta brasileiro, retrocedeu para os padrões medievais do Catolicismo Apostólico Romano.

Se afastando, na prática, dos postulados originais de Kardec, apesar de seu nome ser muito bajulado pelos palestrantes "espíritas", a doutrina brasileira optou por ser uma "lixeira" da Igreja Católica. O "espiritismo" acolheu em seus postulados desenvolvidos no Brasil valores já considerados obsoletos pelos católicos, como a apologia ao sofrimento, na qual existe até uma ideologia, a Teologia do Sofrimento.

Essa ideologia não era compartilhada por todos os católicos, mas tem origem na Idade Média, através das pregações dos sacerdotes da época. Nos últimos tempos, a Teologia do Sofrimento foi difundida, no século XIX, por Teresa de Lisieux e, mundialmente, por Madre Teresa de Calcutá, no século XX.

No Brasil, ocorre uma coisa gozada. Há defensores católicos da Teologia do Sofrimento, como o padre João Mohana, já falecido, autor do livro Sofrer e Amar, mas a ideologia, sem que seu nome fosse assumido um só momento, foi popularizada não entre os católicos, mas entre os "espíritas", através de Francisco Cândido Xavier. Sim, isso mesmo, Chico Xavier, em suas obras, pregava a Teologia do Sofrimento, com suas próprias palavras.

E uma comprovação de que a Teologia do Sofrimento domina mais o movimento "espírita" do que mesmo as interpretações distorcidas das ideias de Allan Kardec é o texto que o jornalista e escritor "espírita" de Muriaé, Rogério Coelho, publicou e que, em parte, foi reproduzido na página de outro escritor, Orson Peter Carrara. Como Rogério, Carrara também expressou ideias próprias da Teologia do Sofrimento em outras oportunidades.

O texto em questão foi publicado nesta página. São argumentos próprios da Teologia do Sofrimento, já defendidos pelos católicos, que se resumem assim: "Ninguém nasceu para sofrer, mas é necessário amar o sofrimento como meio de encurtar o caminho para Deus e merecer a obtenção de bênçãos futuras". Muito bonito no discurso, mas falar é fácil.

Um trecho que chama muita a atenção no texto de Rogério é um parágrafo que, em si, é de uma preocupante gravidade. Além de confirmar a identificação com as ideias da Teologia do Sofrimento - algo que não pode ser desmentido pelos "espíritas", porque aí seria negar o que fazem - , o trecho revela uma perversidade que contradiz os ensinamentos de Jesus. Vejamos:

"Utiliza-te da sua metodologia para o mais breve triunfo que te cumpre alcançar.
Aquele que se arrepende de um mal, está aflito; aquele que se encoleriza, sofre aflição; quem persegue, padece agonia; quem inveja extremunha-se e chora; quem odeia, galvaniza-se sob o açodar da fúria e combure-se nos altos fornos do desequilíbrio que gera. Estes não serão, por enquanto, consolados.  Somente quando a consciência da dor os faça amar, submetendo-os à Divina Vontade, encontrarão na aflição a felicidade por que anelam".

Rogério caiu em contradição. Principalmente em relação ao arrependimento de um mal. No decorrer do parágrafo, o escritor contradiz a própria frase de Jesus: "Bem aventurados os que choram (aflitos), porque serão consolados", ao afirmar que "aquele que se arrepende de um mal, está aflito", e, por isso, "não será consolado", a não ser que encontre na aflição "a felicidade".

O próprio apelo de "amar o sofrimento" vai contra o Pai Nosso, oração que se atribui autoria a Jesus de Nazaré, que pede a Deus "não deixar alguém cair em tentação, mas a livre do mal". Se Jesus falava em "livrar do mal", por que se tem que "amar a desgraça" usando os próprios infortúnios como trampolim para a premiação celestial?

É muita contradição. E isso vai contra os próprios ritos católicos, expressando o quando o "espiritismo" brasileiro, na sua busca desesperada pela palavra final e pela presunção de coerência, cai em contradição o tempo todo, a partir de sua própria catolicização que o fez afastar dos ensinamentos do mesmo Allan Kardec bajulado o tempo todo.

Isso porque o próprio Catolicismo enfatiza o arrependimento pelo mal, e, fora das abordagens medievais da Teologia do Sofrimento, não há uma apologia ao masoquismo religioso do amor às desgraças. A glamourização da desgraça humana acaba indo contra os ensinamentos de Jesus, até porque a ênfase na aceitação do sofrimento se aproxima mais do moralismo severo daqueles que o condenaram ao martírio da cruz.

Evidentemente "espíritas" como Rogério e Orson vão tentando desfazer mal-entendidos aqui e ali e até renegar, se possível, a Teologia do Sofrimento, ou considerar "cruel" associar esta ideologia a Chico Xavier.

Mas o que está feito, está feito, em palavras das mais explícitas, e se observa claramente que o "espiritismo" brasileiro está mais preocupado em ser um receituário medieval de ideias moralistas católicas. Difícil desmentir isso com seu malabarismo de palavras bonitas, mas desprovidas de lógica e consistência.

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