segunda-feira, 2 de janeiro de 2017

Revista insiste em abordagem confusa do "espiritismo" da fase dúbia


O Brasil vive marcado tanto na incompreensão das pessoas sobre tudo quanto ao apego a paradigmas velhos e duvidosos de "superioridade social". As pessoas endeusam juízes, empresários de mídia, ídolos religiosos, tecnocratas achando que eles detém "responsabilidades maiores" e, contraditoriamente, minimizam e sentem complacência quando eles cometem erros muito graves.

O "espiritismo" é beneficiado por essa complacência que garante a mais absoluta blindagem. E, é claro, a grande mídia comercial, que adora romover os ícones "espíritas" como "símbolos de bondade", faz com que o "movimento espírita" tente prevalecer sempre, como se fosse a doutrina dos "donos da verdade", sempre preocupados em ficar com a palavra final para tudo.

A própria mídia diz a que vem quando prefere exaltar supostos médiuns que cultivam o "culto à personalidade" mas dissimulam com aparente filantropia. É uma "caridade" que ajuda muito pouco, beneficiando antes o benfeitor do que o necessitado, mas que por isso mesmo a mídia exalta porque é uma "bondade" que não ameaça os privilégios das elites. A Rede Globo, por exemplo, tem como donos um trio de irmãos que sonegam impostos e acumulam fortunas exorbitantes e crescentes.

A Rede Globo, aliás, reinventou o "movimento espírita" que, depois do roustanguismo da FEB, se propagou sob o apoio da TV Tupi. Até o desfecho do caso Otília Diogo, havia uma coisa gozada nos Diários Associados: geralmente o "médium" Francisco Cândido Xavier "levava surra" da revista O Cruzeiro e era "consolado" pela TV Tupi.

Chico Xavier foi um mito que, até os anos 1970, era trabalhado de maneira confusa, à mercê de escândalos. Foi preciso o inglês Malcolm Muggeridge criar um modelo "limpo" de marketing da filantropia, que moldou uma imagem "agradável" de Madre Teresa de Calcutá, para a FEB e a Globo fazerem as pazes e relançar Chico Xavier como um pretenso filantropo, copiando os elementos lançados pelo documentário britânico Algo Bonito para Deus (Something Beautiful for God).

Era o começo da fase dúbia no "movimento espírita" brasileiro, um suposto equilíbrio entre as correntes "mística" e "científica", uma "união de cima", decidida pelos "místicos", através de uma parcela que fingiu renegar o roustanguismo e passou a bajular os "científicos", atrapalhando os esforços de recuperação das bases doutrinárias kardecianas.

REVISTA "GRANDES MÉDIUNS"

A fase dúbia do "movimento espírita" está em declínio, mas não irá desaparecer. Ela talvez cumpra um papel menor, quando o "espiritismo" brasileiro assumir de vez o neo-roustanguismo, embora sem citar um pingo de "i" do nome de Jean-Baptiste Roustaing.

Mesmo assim, a fase dúbia é, certamente a mais popular do "movimento espírita", por causa de seu apelo quase popularesco de romances "espíritas" que parecem novelas da TV, além dos naturais apelos igrejistas herdados da Igreja Católica e um sensacionalismo esotérico que permite evocar tendenciosamente personalidades científicas e forjar até profetismo.

Só que as contradições se tornam cada vez mais evidentes e mais um veículo apresenta tais deslizes. A revista Grandes Médiuns, da Editora Escala, que tem o "médium" João de Deus na capa, mas apresenta também uma foto de Chico Xavier e uma contraditória citação de nomes, já que José Herculano Pires, um dos poucos espíritas autênticos no Brasil, aparece ao lado dos grandes deturpadores, como Divaldo Franco.

Evidentemente, um mercado editorial assim é muito pouco confiável. São revistas que vivem mais de sensacionalismo do que de transmissão de conhecimento. Informam alguma coisa, mas misturam teses sensacionalistas e não são feitos por gente especializada. E, quando o Brasil vive o próprio problema do status quo, quando os "especialistas" da tecnocracia, do meio jurídico, da grande imprensa etc, mostram seus graves deslizes, isso se complica mais ainda.

A revista sinaliza o último apelo de "mediunidade espírita" dentro do marketing que mistura igrejismo, suposta filantropia e "culto à personalidade" ("virtude" muito comum nos "médiuns" brasileiros), envolvendo agora João de Deus, que, embora idoso, é a "última aposta" do "movimento espírita" com Chico Xavier já morto e Divaldo Franco beirando os 90 anos de idade.

Só que João de Deus, na verdade João Teixeira de Faria, o "médium" de Abadiânia, Goiás, é latifundiário, foi capa da revista Veja (que reprova tudo que é ativismo social, se a publicação exalta "filantropos" é porque tem alguma coisa estranha aí), é latifundiário e, "médium cirúrgico", se recusou a fazer auto-cirurgia quando estava sofrendo de câncer. Nem para receber o espírito do dr. Leonid Rogozov, que havia feito uma auto-cirurgia gravíssima há 55 anos?

A revista não deixará marca alguma e é apenas mais um apelo desesperado para salvar o "movimento espírita", cuja crise se agrava cada vez mais, sobretudo pelo caso da pediatra de Rondonópolis. Foi o crime dela, de usar a "moral espírita" para recusar atendimento a uma criança, que mostrou a péssima escola moral do "espiritismo" brasileiro e expôs as sérias contradições da doutrina que só evoca Allan Kardec no nome, mas se afasta dele no conteúdo.

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