terça-feira, 26 de julho de 2016

O desespero do 'velho" em sobreviver ao "novo"

NO BRASIL, JOGA-SE FORA A FRUTA DA ESQUERDA, E LUTA-SE O TEMPO TODO PARA PRESERVAR E MANTER A DA DIREITA.

O grande problema do mundo, e, com maior intensidade no Brasil, é a revolta de setores ultraconservadores da sociedade com as transformações do tempo. Agora mandando às favas valores ligados à ética, bom senso, lógica, justiça social etc, diversos movimentos tentam agora puxar os ponteiros dos relógios para fazer a humanidade caminhar para trás.

Há, no plano internacional, a ação de grupos terroristas, mesmo através de ações individuais, revela esse saudosismo doentio e psicótico pelos "tempos áureos", trazidos por relatos fantásticos de épocas que podem variar de passagens bíblicas ou islâmicas e tempos medievais ou de privilégios capitalistas ao mesmo tempo abusivos e tolerados.

No Brasil, ele se manifesta de forma ainda mais constante e de maneira desesperada. Do machismo ao chamado "ultraliberalismo" (espécie de variação do neoliberalismo adotando princípios dos primórdios desumanos do capitalismo do século XVIII), há saudosismo doentio de todo lado: da Idade Média, da ascensão da burguesia, do jesuitismo do Brasil colônia, do "milagre brasileiro" da Era Médici.

Há um medo de que velhos "heróis" de um Brasil velho e obsoleto não caiam. Velhos totens, velhos dogmas, símbolos relacionados à tecnocracia, à supremacia religiosa, à grande mídia, ao mercado, ou até mesmo ao machismo. A sociedade brasileira está com muito medo e reage da forma mais esquizofrênica possível.

Uma catástrofe política está em andamento, através do governo de Michel Temer, que combina aspectos dos governos dos generais Emílio Médici e Castelo Branco com outros que lembram a República Velha e o Segundo Império, numa atitude desesperada de reverter os avanços sociais inúmeros dos últimos tempos.

Já não é mais uma simples campanha ultraconservadora de resgate aos valores "sagrados". Já não é mais um mero apelo para "respeitar as tradições da Família, do Livre Mercado, da Livre Propriedade e dos Valores Cristãos", mas um esforço, por vezes debiloide, por outras violento, de recuperar na marra estruturas e valores que já se comprovam obsoletos.

No Brasil, mais do que na França, EUA ou Alemanha, costuma-se jogar fora o novo em folha, e preservar, a todo custo, o que já está podre e inútil. Isso influi até no contexto de falecimento de brasileiros famosos e na reação da sociedade conservadora em relação a isso.

É um país cujos grandes intelectuais, artistas e ativistas, em boa parte, morreram cedo, sob a resignação da sociedade, mas também sob a ação violenta dos que protegem privilégios aqui e ali. Em contrapartida, é um país com medo de assumir a ideia de que assassinos também morrem, e, mesmo que vários deles contribuam para abreviar sua vida por descuidos à saúde, até a grande imprensa tem medo de pensar em um dia noticiar o obituário de algum homicida famoso.

Nesse cenário, a sociedade brasileira parece mais com medo de ver a presidenta Dilma Rousseff voltar ao poder do que o presidente interino Michel Temer causar, quando se tornar efetivo, uma administração desastrosa que deixará o Brasil vulnerável à hiperinflação.

As pessoas não se preocupam que o governo Temer foi instaurado através de um processo de corrupção parlamentar e jurídica, movida pela apreciação parcial e tendenciosa das leis, e cuja agenda política, econômica e social é das mais retrógradas e injustas para os brasileiros.

Todos ficam tranquilos e serenos, sem perceber a hipocrisia do presidente Temer, que, sob a desculpa de combater a inflação, corta gastos sociais, limita investimentos para Educação e Saúde, quer desvalorizar salários e eliminar os direitos trabalhistas, enquanto aumenta os gastos para servidores do Poder Judiciário, dá "generosas gorjetas" para a grande mídia e desviará o Minha Casa, Minha Vida para um projeto que assiste mais os ricos do que os pobres.

De repente, os pontos de vista elitistas, com seus preconceitos diversos, são defendidos até por setores da classe média ou mesmo da juventude, da qual se esperaria alguma modernidade. Mas, depois que houve, nos últimos 15 anos, surtos de trolagem e cyberbullying na Internet, em defesa de valores retrógrados ou fenômenos da mídia e do mercado retrógrados, imagina-se até surfistas e skatistas levantando bandeiras medievais das mais obscuras.

A sociedade enlouqueceu, os surtos atingem desde simples estruturas familiares até os escritórios das filiais brasileiras de multinacionais, passando pelos corpos discentes e docentes das universidades privadas e pelas redações dos chamados jornalões ou das redes de televisão.

Todos querendo uma volta impossível ao passado. O "velho" querendo sobreviver ao "novo", na marra, atropelando a lógica, o bom senso e a justiça. Pessoas se entregando a movimentos absurdos, sejam seitas delirantes ou grupos terroristas, para forçar o retrocesso dos relógios a qualquer preço, nem que a sociedade tenha que se tornar mais estúpida e egoísta para tanto.

Movimentos assim que representam a momentânea catarse que hipnotiza as pessoas e traz reações de apoio unânime nas mídias sociais revelam isso. Por ironia, as mídias sociais, como Orkut (já extinto), Facebook, YouTube e WhatsApp (o Twitter, na ironia de seus textos curtos, permite o debate e a contestação de caráter progressista), tornaram-se redutos do mais saudoso e paranoico obscurantismo ideológico.

Até mesmo o "espiritismo" brasileiro, que agora se revelou não passar de uma reciclagem do apodrecido Catolicismo medieval português, que vigorou no Brasil-colônia, também comprova esse curto neo-reacionário que atinge o Brasil e o mundo.

A herança do Catolicismo medieval não é invencionice de detratores. A história do "movimento espírita" confirma, com fatos, este legado, o que faz uma doutrina supostamente inspirada em Allan Kardec se aproximar muito mais do imperador romano Constantino do que do pedagogo de Lyon.

É só observar a evocação de espíritos de padres jesuítas, que "voaram" para o "espiritismo" brasileiro como pombos sobre o milho. E, em vez dos "espíritas" tentarem explicar esta postura dignamente, eles se contradizem numa postura dúbia que distorceu até mesmo os alertas de Erasto, que seria o último espírito a aceitar essa baboseira igrejista que se faz no Brasil.

Recentemente, os palestrantes "espíritas" não conseguem mais esconder que professam até mesmo a Teologia do Sofrimento, corrente do Catolicismo medieval que faz apologia às desgraças como caminho para a "purificação da alma".

Os artigos que mais se publicam em nome do "espiritismo" brasileiro, mesmo por derivados estrangeiros, como em Portugal e até na França, enfatizam o princípio moralista de que o sofredor deve aceitar as desgraças e os obstáculos extremamente difíceis, sem reclamar, em troca do prêmio místico das "graças" e "bênçãos" futuras.

Sob o pretexto de combater "paixões materialistas de toda espécie", os "espíritas" condenam até mesmo a individualidade e as vocações pessoais, aconselhando o sofredor a se conformar com seus infortúnios ou enfrentar dificuldades acima de qualquer capacidade para obter alguma vitória na vida.

Aqui os "espíritas" dão um tiro no pé, tratando, ainda que implicitamente, a individualidade humana como um atributo material, o que permite essa visão desumana que tanto expressa indiferença ao sofrimento alheio quanto permite a pretensa legitimação de fraudes psicográficas, que não refletem o estilo nem o caráter pessoal do morto alegado.

Com isso, o "espiritismo" brasileiro segue o "espírito do tempo" de um Brasil velho que insiste em prevalecer. Os "espíritas" nunca caíram em contradições como hoje, já que em outros tempos o roustanguismo era mais assumido. E depois os "espíritas" não gostam quando falamos que eles estão cada vez mais longe de Allan Kardec, considerado a personificação do bom senso.

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