segunda-feira, 11 de abril de 2016

As estranhezas em torno da mediunidade


Supostas psicografias e pinturas mediúnicas. Cirurgias mediúnicas feitas sem higiene e com métodos misteriosos. Passes espirituais feitos num simples sacudir de mãos. Essas práticas as pessoas estão acostumadas a acreditar como autênticas, verídicas e eficazes, mas revelam uma porção de estranhezas em torno do que se entende por mediunidade no Brasil.

Para começar, mediunidade não é o ato de receber espírito falecido em si. Isso é paranormalidade. A mediunidade consiste em transmitir o recado do espírito falecido para as pessoas vivas, por intermédio de um responsável.

A mediunidade inclui o processo de receber espíritos, mas não se limita a isso. Se o indivíduo recebe um espírito do além apenas para conversar com ele, como numa relação de amizade, ele não está desempenhando função de médium, está apenas praticando paranormalidade.

O que chama a atenção para a estranheza das atividades "mediúnicas" é o rápido crescimento de pessoas que supostamente possuem esse dom. Como toda prática complexa, é natural que ela seja praticada por um número muitíssimo raro e muito restrito de pessoas, que exercem o ofício sem muito alarde.

No entanto, desde que foi divulgado o fenômeno da mediunidade no Brasil, houve um número de supostos médiuns considerado muito alto para uma prática que começava a ser difundida para o grande público.

Não bastasse isso, chamava a atenção o estrelismo e a atribuição de falsos sábios, transformados em "oráculos humanos", de figuras como Francisco Cândido Xavier e Divaldo Pereira Franco, que além de deixarem a função intermediária, por virarem "grifes mediúnicas", bancavam os dublês de filósofos num país sem muito esclarecimento como o Brasil.

É tudo muito estranho. De repente, a mediunidade se banalizou de maneira rápida, o que não é típico de acontecer em práticas complexas. Afinal, embora, em tese, toda pessoa pode exercer a mediunidade, ela requer habilidades e responsabilidades que raros indivíduos conseguem desenvolver.

Para piorar, os dirigentes da FEB jogaram Chico Xavier para empastelar a prática da mediunidade, que virou uma "feira de Acari". Aparentemente, a prática se popularizou, mas o que se vê são atividades fingidas, irresponsáveis, clandestinas, de valor científico duvidoso (como nas cirurgias "espirituais"), criando um cenário que não exprime qualquer confiabilidade.

Tudo virou um caos, um engodo de mãos sacudindo, tesouras sujas perfurando barrigas, psicografias iguais umas às outras com a mesma propaganda igrejeira, pinturas que não refletem os estilos originais dos falecidos pintores. E se as pessoas acabam confiando cegamente em tudo isso, a coisa fica mais grave.

Por isso o fenômeno da mediunidade, no Brasil, está completamente desmoralizado. Nunca se fez um estudo sério e tudo se transformou numa grande brincadeira. E tomou o caminho inverso de Allan Kardec, que desenvolveu a Ciência Espírita a partir do recreio das "mesas girantes", pois o "espiritismo" brasileiro desenvolveu uma brincadeira "mediúnica" a partir da Ciência Espírita. Isso é lamentável.

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