quarta-feira, 2 de março de 2016
Críticos da deturpação são complacentes à mediunidade irregular
A deturpação da Doutrina Espírita cresceu de tal forma que mesmo seus críticos, em sua maioria, se acostumaram a ela. Como a deturpação "não faz mal" e, com todas as irregularidades, o "espiritismo" brasileiro pelo menos virou a "religião da bondade" (como se bondade pudesse se limitar a uma religião), todos vão dormir tranquilos e felizes.
Como aparentemente soam "superados" os esforços de Milton Barbosa (advogado dos herdeiros de Humberto de Campos), Attila Paes Barreto, Osório Borba ou mesmo o sobrinho de Francisco Cândido Xavier, Amauri Xavier Pena, misteriosamente falecido há 55 anos (queima de arquivo?), todas as irregularidades do "movimento espírita" são aceitas confortavelmente, sem a menor chance de uma investigação séria.
O próprio mercado da visibilidade filtra possíveis investigadores. Um Christopher Hitchens brasileiro existe, realmente, mas ele é barrado na entrada dos primeiros cursos de pós-graduação, não pode lançar livros em editoras famosas - que, no âmbito do Conhecimento, só aceitam, quando muito, publicar livros sobre Segunda Guerra Mundial - e, na Internet, mal conseguem fazer blogues para serem lidos por uma dezena e meia de pessoas (e nem sempre concordando).
Documentário, então, nem pensar. Ninguém vai patrocinar filme que investiga as irregularidades de Chico Xavier. Ninguém. "Não vou vincular minha empresa a um trabalho desses contra um homem de bem", diria cada um dos patrocinadores. Até a Igreja Universal do Reino de Deus pensaria duas vezes se quiser financiar um documentário desses.
Sem respaldo, o repórter ou o cineasta investigativo fica perdido no caminho. O Brasil é um dos piores lugares para se investigar qualquer coisa. O pessoal sai babando com os trabalhos do juiz Sérgio Moro mas ele não passa de um "caçador de bruxas", duro demais com os políticos do PT, omisso com os políticos do PSDB, investigando um barquinho de Lula que pensa ser iate, ignorando o propinoduto que Aécio Neves combinava a preços extorsivos com diretores da Petrobras.
Se vemos essa atitude desigual do "herói da pátria" Sérgio Moro, imagine então, num contexto ainda mais atrasado, em que o termo "falsidade ideológica" ainda era desconhecido no meio jurídico, e por isso permitiu-se que Chico Xavier desse continuidade com sua usurpação do nome de Humberto de Campos, mesmo quando depois ele foi mal disfarçado pelo codinome Irmão X.
Embora o termo jurídico de "falsidade ideológica" corresponda à declarações falsas ou alterações fraudulentas em documentos legais, este crime poderia muito bem ser atribuído a Chico Xavier e à FEB pelo aproveitamento leviano do prestígio de Humberto de Campos e forjar uma falsa literatura do além que levava o nome do escritor maranhense.
Está mais do que claro, mais do que explícito e rigorosamente evidente, que Humberto de Campos nunca escreveu nem escreveria os livros que alegam sua "autoria espiritual". Humberto nem de longe virou parceiro de Chico Xavier e, se tivéssemos a oportunidade de entrar em contato com o verdadeiro espírito do autor maranhense, este teria dito, com a mais absoluta certeza:
- Não. Nunca conheci pessoalmente Chico Xavier, nunca me envolvi com ele e nem escrevi esses livros que dizem terem sido de minha autoria. De forma nenhuma. Sobre Chico Xavier, tudo que eu fiz foi fazer aquelas resenhas no Diário Carioca. Nada mais do que isso. Eu nunca seria capaz de escrever essas linhas, não vejo meu estilo nestas obras do Chico. Sinto muito.
ATITUDE HESITANTE
O grande problema está na maioria dos atuais críticos da deturpação da Doutrina Espírita, que se expressam sobretudo nas mídias sociais. Embora eles sejam muito bem intencionados nas críticas, chega um ponto em que eles emperram na hesitação e na complacência.
Seduzidos pelo status que pessoas como Chico Xavier e Divaldo Franco exercem sobre as pessoas, com o sedutor e traiçoeiro estereótipo de "bondade" e "humildade" que os dois transmitem através de suas imagens de ídolos religiosos, os críticos da deturpação mais comuns pecam por não levar adiante os questionamentos, seduzidos pela condescendência e até pelo medo.
Houve um que disse que a "psicografia" de Chico e Divaldo é "100% confiável". Como assim? Na dúvida, muitos imaginam que o incerto é sempre certo até prova o contrário. O duvidoso é autêntico até que venham provas investigativas vindas não necessariamente de quem tem argumentos e provas fartas e fartamente consistentes, mas de quem tenha, simplesmente, maior visibilidade.
Isso significa que teria que haver um popstar jurídico, como um Sérgio Moro, para investigar as fraudes de Chico Xavier e Divaldo Franco. Mas os dois são protegidos da Rede Globo, assim como dos barões da mídia em geral. Como é que um astro do Poder Judiciário, de atuação festejada, mas altamente discutível, iria investigar dois ídolos religiosos do establishment midiático?
O "espírita" bem intencionado, mas hesitante, que com seu medo provavelmente originário de temores religiosos de infância, disse que Chico e Divaldo são "absolutamente confiáveis" como "médiuns", reflete essa atitude surreal e aberrante que existe na sociedade brasileira.
Afinal, os espertalhões da Federação "Espírita" Brasileira sempre promoveram como "legitimação" a abstenção de escritores e intelectuais quanto à hipótese de Chico Xavier ser ou não um farsante. Monteiro Lobato, Apparício Torelly (Barão de Itararé), Agripino Grieco e outros apenas se abstiveram. não negando, mas também NÃO CONFIRMANDO a suposta mediunidade do mineiro.
É SUFICIENTE LER AS TRADUÇÕES DE HERCULANO PIRES?
O grande problema é que mesmo os críticos da deturpação do Espiritismo desconhecem o processo irregular de suposta mediunidade no Brasil. Há uma série de irregularidades que fazem a atividade mediúnica se reduzir a um faz-de-conta, um fingimento, pela falta de estudos sérios e práticas rigorosas no "movimento espírita".
Os críticos da deturpação se limitam a defender que os "espíritas" passem a ler as traduções de José Herculano Pires dos livros de Allan Kardec e ponto final. De resto, pode-se continuar até fazendo a pseudo-psicografia de apelos igrejistas, sem refletir nuances pessoais dos supostos autores do além.
É essa atitude hesitante dos críticos da deturpação que faz com que o "movimento espírita" se beneficie com sua postura "dúbia". Em tese, todos são "rigorosamente fiéis" a Allan Kardec, aceitam ler as traduções de José Herculano Pires e expressam "profundo respeito e admiração" até a personalidades polêmicas como Afonso Angeli Torteroli, defensor do cientificismo kardeciano.
Assim fica fácil. Os deturpadores da Doutrina Espírita, dos quais podemos incluir até mesmo o "bom kardecista" Divaldo Franco, podem se passar por "fiéis seguidores de Kardec", mesmo cometendo seus habituais desvios de caminho. E é aí que os críticos não conseguem ter uma postura firmemente contrária, por achar que eles são maus espíritas, mas também são "bonzinhos".
Não é suficiente ler as traduções de José Herculano Pires dos livros de Kardec. É uma medida essencial, fundamental, importantíssima, um compromisso obrigatório com a ética, a lógica e o bom senso. Mas é apenas a primeira lição, que não pode parar por aí.
Analisar esses livros é apenas um ponto de partida para outros questionamentos. É tão somente um começo. Se o crítico da deturpação espírita lê as traduções de Herculano Pires mas aceita essa "mediunidade" de faz-de-conta, com pessoas sacudindo mãos e dizendo que é "passe" - que já é uma prática duvidosa porque, em si, ela distorce os conceitos de Magnetismo nunca devidamente estudados no Brasil - e "psicografias" que não passam de propaganda religiosa, tudo ficou em vão.
O aprendizado se perdeu. Porque a boa teoria que não questiona a má prática é como um aprendizado que morreu nas palavras. E numa época em que se precisa redescobrir até antigos contestadores da deturpação, estes realmente enérgicos e rigorosos, como Attila Paes Barreto e Osório Borba, é preciso questionar não só a teoria, mas também a prática dos deturpadores.
As pessoas se apegam a estereótipos diversos, garantidos pela sedução fácil da aparência. O juiz Sérgio Moro, com sua aparência de xerife urbano dos tribunais fictícios de Hollywood, ou o arremedo de bondade e humildade de Divaldo Franco, com seu ar de "professor dos anos 1940", e Chico Xavier, com sua imagem de "caipira humilde" ou "velhinho frágil".
As pessoas se deixam levar pela aparência, e isso revela seus preconceitos, suas complacências, suas hesitações e omissões. E é tudo isso que trava o progresso do país, que não se livra de certos entulhos ideológicos, mesmo aqueles que se apoiam na suposta bondade da fé religiosa, e como consequência vemos um país confuso, em crise, causando má fama no mundo inteiro por conta de tantas irregularidades, complicações e injustiças, muitas delas extremamente graves e danosas.
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