quinta-feira, 31 de março de 2016

"Espiritismo" e sua impotência ante a crise política

IMAGENS COMO ESTA, ENTRE O VICE-PRESIDENTE MICHEL TEMER E A PRESIDENTA DILMA ROUSSEFF SÃO COISA DO PASSADO.

O Brasil não vai se tornar o "coração do mundo" nem a "pátria do Evangelho". Nem se melhorar. Primeiro, porque é um grande equívoco atribuir a determinadas nações uma posição de domínio no planeta e, quando ocorreu, gerou perigos bastante lamentáveis. Segundo, porque, quando o Brasil melhorar, não será em função nem sob a necessidade de qualquer receituário religioso.

O que se observa hoje é uma grave crise. Sob todos os aspectos. Existe até mesmo a crise cultural, no qual a música sucumbe a expressões do grotesco, o teatro sucumbe a franquias norte-americanas e a literatura se subordina à fé religiosa de sempre ou a bobagens tipo Minecrafts, vampiros, zumbis etc.

Em muitos casos, a crise é superestimada, como a econômica. Afinal, se temos recessão é porque os ricos é que estão pegando o dinheiro para si e não distribuindo para os brasileiros. Em outros, a crise é subestimada, como a cultural, um fato preocupante diante da "felicidade" excessiva dos jovens no entretenimento, como se vivessem seus "melhores momentos". Só que não.

Há dois dias, mais um capítulo da crise do governo da presidenta Dilma Rousseff aconteceu, com a rápida reunião do PMDB, que, em menos de dez minutos, resolveu sair da base aliada do governo e assumir a oposição. Por razões estratégicas, o vice-presidente Michel Temer permanece no governo, até porque, em caso de impeachment, quem assume o Executivo é ele.

São tantas crises, principalmente no Estado do Rio de Janeiro, antes considerado referência para o país, hoje mergulhado numa decadência tão grande que os próprios fluminenses nem dão conta dessa existência. Pior: há aqueles que ainda insistem que a crise que atinge o Estado é só um "efeito natural da complexidade da vida urbana", o que é um contrassenso, pois a crise vai muito além.

O "espiritismo", que vive a sua mais grave crise, com a sua fase "dúbia" posta em xeque, há quatro anos apostava num grande otimismo. O Brasil viveria uma fase de muita paz em 2012, se tornaria vitorioso e próspero em 2014 e, em 2016, se prepararia para, em 2019, dar entrada ao processo de regeneração e transformação na nação-líder da fraternidade planetária.

Em vez disso acontecer, o que se viu foi a arbitrariedade política, os vandalismos sociais e digitais (trolagens), a corrupção, a prepotência, a ganância dos ricos e outros desastres. E o "espiritismo", tão metido a ter uma missão e um messianismo "impecáveis", foi o mais imprudente e impotente para oferecer respostas e soluções para a sociedade.

Abismados, os ídolos e palestrantes "espíritas" agora se "recolhem" em orações, mendigam "fraternidade" e, assustados, pedem apenas que "demos as mãos" e "não discutamos". Tudo em vão. As injustiças, as desigualdades, os conflitos de interesses são muito complexos para que a solução venha num simples ato de "dar as mãos".

Não há como conciliar se a ideia, neste caso, é deixar tudo para lá. Os privilegiados continuam abusando de seus direitos e os sofredores continuam suportando desgraças sem fim. Mesmo quando se pede, fraternalmente, para os privilegiados tomarem jeito e pensarem no "outro", estes fingem que concordam e só fazem coisas paliativas, sem que coisa alguma se resolva em definitivo.

Até agora, o "espiritismo" apenas buscou evitar que as desgraças vividas pelos sofredores atinjam níveis insustentáveis. Mas o que se viu foi apenas manter as desgraças em níveis suportáveis, o sofrimento continua até pleno, e as soluções nem sempre são as melhores.

Imagine uma pessoa implorando por um prato de comida e no entanto recebe pasto? Um homem que quer uma companheira com afinidade e o destino lhe oferece uma mulher sem afinidade, apenas "boazinha" e "encalhada"? Ou uma mulher que pede um companheiro com afinidade e o "destino" lhe dá um político corrupto que apenas é "bom provedor" e lhe permitirá fazer viagens por todo o mundo?

Tantas energias ruins trazem os tratamentos espirituais, e isso não é invenção, pois o "espiritismo" brasileiro é movido por contradições ideológicas, desonestidades doutrinárias e paranormalidade de faz-de-conta, que as pessoas que recorrem a essa seita religiosa acabam obtendo mais infortúnios, além de não poderem resolver os problemas que já lhes afligiam antes de apelar para esse "socorro".

Tudo no "espiritismo" parece ir no oposto a seu discurso. "Centros espíritas" se instalam em antros de crime, violência e materialismo mórbido, sob o pretexto de resolvê-los, mas acabam tragados por esse clima insano. As "boas energias" sempre trazem azar, e suas promessas sempre caem no cumprimento inverso de seus enunciados.

Por isso, o "espiritismo" brasileiro vive a mais aguda crise, e seus palestrantes mal conseguem resolvê-la. Há muita tristeza entre seus membros, enquanto há também a impotência dessa doutrina em resolver problemas e apresentar soluções. Uma crise que, pelo que tudo indica, é irreversível, para o desespero dos próprios "espíritas".

Isso é um efeito da própria trajetória do "espiritismo", com sua desonestidade doutrinária, suas mistificações, seu ocultismo, suas práticas e procedimentos duvidosos. O bom-mocismo que adotam como último recurso só serve para mascarar seus vícios, e a "caridade" que alegam fazer não trouxe até agora um único efeito concreto e definitivo.

Pelo contrário. O que se observa é a crise avançando cada vez mais. E não é por falta de religião ou desprezo a Francisco Cândido Xavier e Divaldo Franco. Muito pelo contrário, é por excesso de Chico Xavier e Divaldo Franco nos corações que faz com que as pessoas se afoguem nas águas profundas do deslumbramento religioso.

É com excesso de fé que ninguém mais raciocina para ver o que realmente está errado com o país. A simples fórmula de uma fraternidade complacente, que não desafia privilégios de poder, e uma caridade paliativa, que não compromete a estrutura de desigualdades propositalmente estabelecidas, fracassa diante de uma realidade complexa que exige a nós não a crença, mas o raciocínio.

quarta-feira, 30 de março de 2016

Fizeram peça sobre a "polêmica" de Parnaso de Além-Túmulo


Acreditem, a "polêmica" do livro Parnaso de Além-Túmulo, uma coletânea de pastiches literários de Francisco Cândido Xavier, foi tema de peça de teatro "espírita", e, é claro, com uma abordagem que, no fim, é favorável ao anti-médium, por mais que os pastiches sejam de fácil identificação.

A peça foi encenada pelo Grupo de Teatro Leopoldo Machado e se intitulou Chico Xavier, a Mão dos Imortais. Foi, evidentemente, para celebrar os cem anos de nascimento do anti-médium mineiro. A peça constituiu numa comédia dramática em que intelectuais dos anos 1940 debatem, num bar carioca, sobre o caso do Parnaso de Além-Túmulo.

Dirigida por Reginauro Sousa, com texto de Romário Fernandes e pesquisa de Edir Paixão, a peça pretendeu apresentar a polêmica, com momentos cômicos e desentendimentos entre os três personagens, atendidos por um garçom atrapalhado.

Mas, ao longo da trama, fatos "emocionantes" da vida de Chico Xavier chegam à tona no enredo, e o sofrimento interior do "médium" é narrado junto a outros fatos relacionados à sua "sensibilidade" e ao seu "trabalho".

A roupagem de peça "polêmica" serve para dar um verniz "intelectual" e "controverso" ao espetáculo, que, aparentemente, buscou interagir com a plateia, para envolvê-la e promover o coitadismo que serve para dar razão a Chico Xavier, como se ele tivesse sido maltratado pelos intelectuais que o acusaram de pastiche literário.

Sabe-se que o livro Parnaso de Além-Túmulo, lançado em 1932, tem uma trajetória muito estranha para um livro que se afirmava como uma "obra acabada dos benfeitores espirituais". Foi reeditada cinco vezes, com alguns textos eliminados e outros acrescidos, além de outros reparados, e foi divulgada uma carta de Chico Xavier a Antônio Wantuil que deixava claro que o livro era feito por editores da FEB.

Esta informação, apesar de divulgada por uma seguidora de Chico Xavier, Sueli Caldas Schubert, confirma o que o escritor católico Alceu Amoroso Lima (também conhecido pelo codinome Tristão de Ataíde) havia denunciado, que Parnaso de Além-Túmulo era uma obra de editores da FEB.

A observação cautelosa e desprovida de paixões religiosas seguramente leva a uma constatação contrária a dos "espíritas" e, evidentemente, da peça apresentada. Nota-se pastiches grosseiros em que os nomes de autores como Augusto dos Anjos, Casimiro de Abreu, Olavo Bilac e Auta de Souza nem de longe correspondem aos estilos originais.

O conteúdo do livro é apenas uma série de paródias estilísticas que reflete apenas um único estilo, o estilo correto mas mediano de Chico Xavier como poeta, ao lado também da colaboração dos editores da FEB e de Wantuil, que também escreveram poemas e tiveram a consultoria de especialistas literários para a reprodução, a nível de pastiche, dos estilos dos autores originais.

Daí que a conclusão é que o livro nunca foi uma psicografia de verdade. Os estilos dos poemas publicados em suas seis edições não reflete de forma alguma os estilos originais dos autores alegados. A qualidade também é bastante inferior. É como ironicamente disse o jornalista Léo Gilson Ribeiro, da revista Realidade, a respeito: "O espírito sobe, o talento desce".

terça-feira, 29 de março de 2016

A espetacularização do feminismo e a coisificação da mulher

SARA WINTER, EX-INTEGRANTE DO FEMEN BRASIL.

O que há em comum na "indignada" Sara Winter, ex-militante "feminista", com o "feminismo popular" da Mulher Melão e Solange Gomes e, em forma politicamente correta, da Valesca Popozuda? Muito, por mais que setores da sociedade tentem dizer que não.

Um Brasil que mal resolveu os problemas com o machismo - daí o grande medo da sociedade (e da mídia) em ver Pimenta Neves e Doca Street, que cometeram feminicídios conjugais, morrerem de repente - também não consegue compreender a complexidade das questões feministas.

É o reflexo de um país que apela para velhas soluções, como o velho golpe institucional que apenas trocou as Forças Armadas pelo Poder Judiciário, na figura do tendencioso Sérgio Moro, e cujo provincianismo cultural é capaz de soltar fogos quando um ídolo da música brega se apresenta em biroscas de quinta categoria em cidades da Europa e EUA e depois diz que essa precária turnê foi "sucesso mundial".

O Brasil é provinciano, atrasado, retardatário. É o último a saber sobre qualquer coisa, e não é a presença da Internet que vai resolver essa noção "matuta" das coisas. O Brasil adere com apetite dobrado às mídias sociais, transformando, há dez anos, o Orkut num portal quase brasileiro e ingressando em massa no WhatsApp, a última palavra em "rede social", e mesmo assim só consegue perceber as coisas com um atraso de compreensão de, no mínimo, uma década.

O feminismo, dentro desse cenário, reflete tanto a incompreensão quanto o atraso. Ele chega ao Brasil de forma deturpada, entre uma abordagem espetacularizada de um lado e uma liberdade condicionada pelo machismo, como sempre ocorre no Brasil, em que uma ideia ou ideologia nova sempre é filtrada pela velha ideologia que poderia ser combatida.

Como que num "acordo", o feminismo tenta minimizar a emancipação feminina das duas formas: a mulher que não se limita a ser um corpo sensual, eventualmente veste roupas discretas, tem bons referenciais culturais e têm o que dizer, precisa ter um vínculo conjugal com um marido com algum posto de poder, geralmente um empresário. Já a mulher que se sujeita a ser uma mercadoria erótica, seguindo estereótipos machistas, está dispensada até de ter um namorado.

A coisificação da mulher é travestida de "feminismo popular" por conta de desculpas de "liberdade do corpo" e "direito à sensualidade", que servem como pretexto de afirmação pessoal de mulheres que nada têm a dizer, e mostram referenciais culturais considerados tenebrosos.

Elas servem como um exemplo da espetacularização do feminismo e, também, das causas LGBT. Uma "liberdade do corpo" que escraviza a alma, como um McDonald's da sensualidade feminina, em que a exploração humana e o culto à mercadoria se tornam dissimulados por "causas nobres" de uma visão caricatural de emancipação feminina pelo "corpo" e não pela personalidade.

Comparamos, por exemplo, o que fazem, nas fotos publicadas na Internet, uma subcelebridade como Solange Gomes, a "balzaca" que fez parte da Banheira do Gugu Liberato e hoje tenta ser "musa sexy" e todo custo, e uma atriz considerada desejadíssima como a estadunidense Jessica Alba.

Jessica Alba, a cada única exibição sensual, seja com trajes que realçam as formas físicas ou aparições de biquíni, aparece em cerca de dez outras imagens usando roupas discretas, calça folgada e com um olhar sóbrio como se não estivesse ligando para fotógrafos.

Já Solange Gomes só aparece em imagens apelativas, seja o que seja o contexto. Pode ser olhando a natureza, indo ao aniversário de alguém e comparecendo a um lançamento de livro, é a mesma apelação de roupas justas, decote "generoso" e glúteos avantajados. E olha que se trata de uma senhora de 42 anos.

Mesmo numa forma politicamente correta, Valesca Popozuda também apela nos palcos. Com o tempo, passou a adotar uma postura "sóbria" e um discurso "ativista", com trajes discretos e aparente modéstia, mas nas apresentações ao vivo a funqueira continua "sensualizando" como antes, até porque ela sempre se orgulhou de sua carreira.

Através desses apelos, até a imagem da mulher solteira é depreciada. A mulher solteira só pode ser a funqueira, a "moça da banheira", a ex-BBB, que só mostra o corpo ou se apega à curtição. Não é a mulher que estuda, que se veste discretamente, que tem bons referenciais culturais, que tem muito o que dizer. Esta é a "mulher do empresário", ou a "esposa de um profissional liberal".

A EX-FEMINISTA

Indo para um enfoque diferente, há o caso de Sara Winter, que havia sido integrante do Femen Brasil, um grupo que trabalhava o discurso feminista de maneira espetacularizada, usando topless e exibindo frases de efeito para provocar a sociedade e enfrentar policiais.

Arrependida dessa mobilização, Sara chegou a dizer que o Femen Brasil era financiado por investidores internacionais, e, com toda a certeza, o Femen Brasil é tão "provocativo" quanto o pseudo-engajamento da grife de roupas Reserva, de Luciano Huck, feitos mais para incomodar do que trazer alguma conscientização às pessoas.

Evidentemente, nem as esquerdas brasileiras conseguem entender essa versão espetacularizada do feminismo. Seja a "revolta de peito aberto" do Femen, sejam os glúteos e bustos siliconados das "musas que mostram demais". A ideia de que a mulher é mais do que um corpo ainda intriga muitos, mesmo uma parcela de mulheres intelectualizadas de uma elite acadêmica que sonha com um país brega.

As "mulheres-frutas" são feministas? É legal ser prostituta? A favela é tão bonita? "Mostrar demais" é valorização da auto-estima? As intelectuais da elite pró-bregalização não imaginam que o "direito ao corpo" das chamadas "musas populares" é uma armadilha contra elas mesmas, porque é uma grande ilusão elas acreditarem que, no Instagram, elas apenas exibem para si mesmas.

Elas se tornam mercadorias eróticas, de consumo de uma parcela grosseira e arrogante de machos, que ficam elogiando as fotos publicadas por Solange Gomes, Mulher Melão, Mulher Melancia e similares. A ostentação do corpo não é uma forma de liberdade, porque elas acabam sendo sujeitas à espetacularização de seus corpos diante de uma plateia virtual de machistas afoitos.

A confusão entre feminismo e femismo vem à tona. O feminismo é um movimento que defende a igualdade entre homens e mulheres e o fim das injustiças machistas contra elas. O femismo é apenas um, digamos, "machismo de saias", em que a mulher hostiliza o homem e expressa seu narcisismo feminino e uma certa arrogância intolerante.

A espetacularização do feminismo e dos movimentos LGBT - com gays "carnavalizados" pela estética drag queen e mulheres raivosas ostentando seus corpos - envolve muitas questões que fazem compreender o quanto Sara Winter passou a se incomodar com esse ativismo.

Sim, ela se tornou conservadora, passou a ser admirada pela direita festiva brasileira - como Jair Bolsonaro e Olavo de Carvalho - , e passou a se declarar anti-feminista, mas o "feminismo" que ela critica é justamente aquele feminismo caricato que intelectuais badalados tanto adoram.

Esse feminismo caricato não consegue enxergar questões como o aprimoramento cultural das mulheres, além de suas ilusões ignorarem que o mercado da prostituição inclui patrões machistas - como os cafetões - , da mesma forma que a favela é um lugar inseguro, perigoso e desconfortável, longe das fantasias que tratam prostíbulos e barracos como castelos de contos-de-fadas.

Da mesma forma, a hipersexualização que as mulheres siliconadas expressam, na obsessão de serem "gostosas" o tempo todo, as impele ao fenômeno da coisificação do corpo feminino, algo bastante brutal e que transforma as mulheres envolvidas em escravas de um imaginário machista voraz.

Daí que o círculo vicioso das ostentações de corpos siliconados traz o efeito inverso. Em vez de ser uma natural valorização da beleza feminina, ela se torna uma sórdida escravidão da imagem feminina a um sensualismo obsessivo que depois se torna opressivo, pois a mulher se torna coisa e acaba impedida de admitir que a verdadeira emancipação feminina se dá pela personalidade e não por um corpo "turbinado".

segunda-feira, 28 de março de 2016

Excesso de religião permite a ignorância que favorece a incompetência

SÉRGIO MORO, O "TODO-PODEROSO" JUIZ DA OPERAÇÃO LAVA-JATO.

A crise que vive o Brasil e o clima de ódio que atinge uma parcela reacionária de brasileiros - como os chamados "coxinhas" ou "revoltados" que adotam uma postura anti-PT - , acreditam os religiosos, sobretudo "espíritas", que é por falta de fé religiosa que essa situação não só permanece como está caminhando para um desfecho ainda mais dramático.

Não é isso que se nota. A verdade é que é o excesso de religião, e a forma religiosizada com que a sociedade encara certas coisas - uma grande gafe, por exemplo, é a divinização de logotipos de prefeituras estampados em ônibus, diante do endeusamento da pintura padronizada que esconde as empresas de ônibus dos passageiros e complica o direito de ir e vir - faz com que o país se encontre no desastre em que está.

A perspectiva religiosa faz com que as pessoas esperem de braços cruzados as coisas melhorarem e atribuem a uma parcela de políticos, tecnocratas, jornalistas, intelectuais etc o "poder divino" de resolver as coisas.

As pessoas acabam perdendo a noção de suas próprias necessidades e riscos. Se elas são capazes de aceitar pegar ônibus errado, sobretudo no Rio de Janeiro em que um ônibus para o Lins e outro para a Penha exibem rigorosamente a mesma pintura, com resignação bovina, então são capazes de tomar como "imparcial" uma cobertura rancorosa e irresponsável da grande mídia corporativa.

Os jornalistas, mais preocupados em ver Dilma Rousseff fora do poder, Luís Inácio Lula da Silva preso e o Partido dos Trabalhadores com registro cassado pelo Tribunal Superior Eleitoral, elegeram um juiz de médio nível hierárquico, Sérgio Moro, como "herói absoluto" e atribuíram a ele poderes que a lei não permite a ele exercer.

Sérgio Moro não é um homem acima do bem e do mal, e, ainda por cima, é casado com uma funcionária do PSDB, e sua atuação mostra falhas legais profundas, além de ameaçar quebra hierárquica se achando acima do Supremo Tribunal Federal.

O ministro do STF, Teori Zavascki, determinou que Moro terá que devolver à entidade a responsabilidade de investigação do suposto envolvimento de Lula no esquema de corrupção da Petrobras. A grande mídia reagiu espumando de ódio.

Diante desse clima de exaltação, em que a figura de Moro se transforma num "messias", num "salvador da humanidade", as pessoas ignoram deslizes das leis e não têm ideia do que são ou não são competências e seus respectivos limites.

Se Sérgio Moro investiga com pressa e de forma imprudente a suposta corrupção do PT, ouvindo apenas os acusadores e sem dar chance à defesa - sendo que o direito à defesa dos acusados é garantido pela Constituição - , as pessoas não ligam e até ignoram, e pensam que ele está cumprindo a missão com extremo rigor e absoluto respeito às leis.

O que esperar de um país desses? Pessoas que fazem algo meio certo, mas com muitos erros, gente que tenta enrolar para dizer que não é incompetente para tal coisa, são um fenômeno comum no Brasil. Desde o próprio "espiritismo", que adota ideias que contradizem o pensamento de Kardec, a um veículo de mídia como a FM carioca Rádio Cidade, que quer ser "rádio de rock" sem ter pessoal competente para isso, as pessoas pouco estão ligando se alguém sabe fazer algo ou não.

E isso cria uma crise imensa que vai desde a bagunça do Poder Judiciário até o mercado de trabalho, em que uma geração de patrões se desenvolveu nos últimos 40 anos através do compadrio e dos conchavos e, por isso, não aceita contratar pessoas inteligentes e de talento diferenciado, procurando outros critérios aberrantes, como o do "calouro-veterano" (pouca idade e muita experiência) e o do "funcionário-comediante" (que costuma brincar com os colegas).

Ninguém quer competência e todos acham que inteligência é fácil de obter como uma folha de capim. Daí que dizem que a inteligência é o "capim dos burros". Até o mercado literário foge da missão de transmitir conhecimento, sempre criando um modismo "água-com-açúcar" para anestesiar os leitores, evitando que "aqueles títulos incômodos" apareçam nas listas dos mais vendidos.

É por isso que as pessoas preferem não raciocinar criticamente, com medo de ameaçar suas zonas de conforto. As próprias religiões ficam temerosas com os conflitos e divergências, acreditando numa "fraternidade" criada do nada, que não combatem privilégios das elites e forçam algozes e vítimas a "se darem as mãos" para resolver uma crise cujas soluções são divergentes.

A vida é complexa e muitas vezes os problemas são resolvidos quando a necessidade é forçar que o privilegiado ceda de seus privilégios e, quando ele resiste a essa urgência, os conflitos surgem e frequentemente são muito violentos e tensos.

Querer a mera solução de "dar as mãos" é simplório, e parte de uma fé religiosa que nada resolve diante da complexidade da vida, uma "bondade" que é boa nas palavras e nos atos superficiais, mas que em nenhum momento resolve desigualdades nem injustiças. É por causa da overdose de fé que faz com que as pessoas estejam cegas para pensar melhor a crise e tentar buscar soluções fora dos "paraísos pessoais" de suas zonas de conforto.

domingo, 27 de março de 2016

Se humanidade evoluir daqui a 50 anos, nem assim Chico Xavier teria razão


Fala-se muito nas supostas profecias de Francisco Cândido Xavier relativas às transformações da humanidade na Terra. São pretensas previsões cuja legitimidade deveria ser posta em xeque - afirmamos até um xeque-mate - , porque mostram erros grosseiros de caráter geológico e sociológico, o que praticamente invalidam qualquer credibilidade de tais abordagens.

Entre outras coisas, por exemplo, Chico Xavier disse que o Chile seria poupado de catástrofes naturais que atingiriam áreas como a Califórnia, nos EUA, e o Japão. Isso é geologicamente impossível. Se a Califórnia for soterrada por lavas e maremotos, depois de tantas rachaduras causadas por terremotos, o Chile, por ser da mesma área do Círculo de Fogo do Pacífico, teria o mesmo destino.

Em aspectos sociológicos e geográficos, Chico Xavier também supôs que eslavos fossem migrar para o Nordeste brasileiro, considerado muito quente para esses povos. Chico se esqueceu que as primeiras migrações eslavas no Brasil, ocorridas quando o anti-médium nasceu, se deram em áreas como a Região Sul e o interior de São Paulo.

FALSOS PIONEIRISMOS

Chico Xavier nem de longe pode ser considerado profeta, se é que pode existir mesmo uma figura humana com dons de prever coisas a longo prazo. Allan Kardec já advertiu que tal prática é indício de mistificação, e isso está bastante claro nos livros e artigos do pedagogo francês.

O "movimento espírita" quis transformá-lo num misto de Jesus Cristo com Nostradamus brasileiro, quis fazer de Chico Xavier a síntese da espécie humana, uma coisa tão impossível e tão pretensiosa que se deu de forma inevitavelmente atrapalhada, pedante e frequentemente risível.

Por exemplo, Chico Xavier foi tido como "pioneiro" nas descobertas científicas sobre vestígios de vida em Marte, como canais fluviais artificiais, presença de humanos e civilizações adiantadas. O "pioneirismo" foi atribuído a obras de 1935 e 1939.

Só que isso soou uma grande gafe, pois o pioneirismo cabe a Percival Lowell, astrônomo estadunidense que, na virada dos séculos XIX e XX, portanto, pelo menos dez anos antes de Chico Xavier ter nascido, havia lançado três livros relatando os mesmos elementos: canais fluviais artificiais, presença de humanos e civilizações adiantadas.

Atribuiu-se a Chico Xavier também o suposto pioneirismo sobre a glândula pineal. O grupo de acadêmicos liderado por Alexander Moreira-Almeida, pesquisando apenas referências bibliográficas secundárias, dos anos 1970 em diante, várias relativamente recentes, que supuseram que a bibliografia sobre glândula pineal publicada nos anos 1940 era escassa.

Há vários erros nessa constatação. Primeiro, porque consultaram fontes de terceiros. Segundo, porque alegaram que a discussão do tema nos anos 1940 era "conflituosa" (isso é natural em qualquer debate). Terceiro, porque não verificaram se a bibliografia era mesmo escassa buscando as fontes originais. Quarto, ignoraram que mesmo descobertas recentes equivalem a teses longamente discutidas e elaboradas, com muitos anos de antecedência.

Um autor pouco conhecido, o biólogo alemão Wolfgang Bargmann, já analisava a glândula pineal nos anos 1940, mas ele não era conhecido fora do seu país de origem, e por isso praticamente menosprezado pelo resto do mundo. Daí a presunção dos acadêmicos de Juiz de Fora em supor que "quase nada" era discutido sobre glândula pineal naquela época.

Diante de tantos equívocos, já surgem piadas entre os críticos da deturpação da Doutrina Espírita como as indagações sobre se Chico Xavier previu a extinção dos dinossauros. Já se atribuiu a Chico Xavier, em suposta profecia de 1969, a confirmação de casos de visitas de extraterrestres ocorridos em 1964 e 1967 (?!?!?!?!), portanto, uma "previsão" que "confirmou" fatos antes ocorridos, o que nunca seria previsão, não é mesmo?

Os pontos patéticos da atribuição de falso pioneirismo ao anti-médium, que só encontram validade no Brasil, não encontram eco no exterior, que nunca viu nele um pioneiro em coisa alguma. Não há razão coerente que possa dizer que Chico Xavier confirmou coisa alguma, por mais que se façam relativismos aqui e ali.

E EM 2057?

Há dúvidas fortes sobre as promessas dos "espíritas" de grandes evoluções da humanidade. Há um quê de otimismo fantasioso próprio desses praticantes do igrejismo astral. de que um dia as pessoas irão dar as mãos e todo mundo cantar hinos de louvor a Jesus e, assim, a Terra se transformará num lento, gradual mas seguro de transformação num mar de rosas da humanidade futura.

Em certos casos, há um forte cheiro de oportunismo na atribuição de datas futuras para o progresso humano. Divaldo Franco atribui como 2052 a data da regeneração da Terra porque esta é a data dos cem anos da Mansão do Caminho. E ele corrobora uma segunda data, 2057, a suposta consolidação desse processo, como uma bajulação a O Livro dos Espíritos, de Allan Kardec, que completará 200 anos na ocasião.

É claro que haverá evolução da humanidade e existem pressões da sociedade para isso. As discussões se amplificam e muitos dilemas e questões surgem neste sentido. Suponhamos que muitos dos problemas se resolvam nestes 40 anos que restam até a "data da regeneração" e realmente a humanidade encontre um estágio mais avançado de evolução.

Se isso realmente ocorrer, Chico Xavier terá razão em sua "profecia"? Não. Seguramente, não. E, por uma questão de associação, Divaldo Franco estaria ainda muito menos certo. Eles não teriam razão nas suas "previsões" pelo mero fato de que elas simplesmente não têm muita importância e se guiaram por conveniências e usando critérios e abordagens bastante duvidosos.

Eles, neste caso, se comparam ao jogador da Mega-Sena que só acertou dois números. Até porque a humanidade irá se evoluir, mas nunca da forma como Chico e Divaldo esperam. Marcados por convicções igrejistas, eles estarão errados nas suas "previsões", até porque não serão eles que comandarão a caravana da evolução humana, só vieram de carona em algo que mal entenderam.

Além disso, eles simplesmente expressam aquilo que Allan Kardec reprovou de maneira explícita e firme. A pretensão de prever acontecimentos a longo prazo, que Kardec tão claramente definiu como "indício de mistificação".

Reprovados pelo Codificador, Chico e Divaldo simplesmente perderam o "trem da História" e tiveram anulada, de maneira definitiva, toda a chance de ficar com os louros da "previsão", porque a humanidade se evoluirá, sim, mas sem datas marcadas e de maneira completamente diferente da que supõem os anti-médiuns.

Desta maneira, enquanto os "espíritas" ladram, a caravana da humanidade segue seu rumo, com toda a sua problemática que os preconceitos e convicções da fé religiosa não conseguem avaliar.

sábado, 26 de março de 2016

A Via Crúcis, sob o ponto de vista histórico, existiu?


Há muitos pontos obscuros nos fatos da Antiguidade. Muitos dos registros bibliográficos se perderam, entre eles os textos originais da Bíblia, e há muitos mistérios que serão resolvidos não pela força da fé, mas pelas pesquisas geológicas, arqueológicas, históricas e sociológicas, entre outras áreas relacionadas ao Conhecimento.

Especialistas sérios da história do Império Romano procuram, diante dos livros historiográficos que sobreviveram aos nossos dias, traçar o perfil mais realista de suas autoridades, muito diferentes do que a mística religiosa tenta supor, quando nos fatos que envolvem o ativista Jesus de Nazaré.

As autoridades romanas eram curtas e grossas na condenação das pessoas e não davam tratamento diferenciado algum. Não havia julgamento, e os prisioneiros eram condenados à morte em rito sumário, de forma fria e rápida, sem o ritual que a cultura católica atribui ao martírio de Jesus.

Temos dúvidas se a chamada Via Crúcis existiu. Por um motivo bem simples. Se Jesus sofreu esse martírio, então o ritual teria sido bastante comum e muito demorado, o que contradiz ao desejo imediatista dos poderosos romanos de querer ver mortos aqueles que desobedecem suas ordens.

A Via Crúcis, como diz a tradição católica, soa como uma espécie de "desfile macabro" do condenado, exposto ao sadismo da vaia pública de uma parcela do povo e do lamento desesperado dos admiradores, familiares e amigos, algo que, para o padrão das autoridades romanas, seria uma perda de tempo, porque eles simplesmente queriam matar os condenados, não jogá-los num desfile.

CONTRADIÇÕES

Daí haver dúvidas de que a Via Crúcis tenha de fato existido. A narrativa é fabulosa, e parte do julgamento de Pôncio Pilatos que, na verdade, nunca existiu, porque não existe registro histórico algum que confirmasse esse processo, e, pelo contrário, este procedimento contraria a natureza dos políticos do Império Romano, muito cruéis, mas curtos e grossos, rápidos e rasteiros.

Para a humanidade ocidental de hoje, Jesus é considerado uma personalidade especial. Sim, Jesus está associado às qualidades mais evoluídas que se conhece de uma figura humana. Só que, para os políticos do Império Romano, ele era um "entulho social", uma criatura tão ameaçadora, mas também desprezível quanto todos os desobedientes da autoridade romana.

Por isso, é bem provável que julgamento e a dita "via sacra" não teriam existido. O que poderia ter ocorrido a Jesus foi que ele, tornado prisioneiro por ordem de Pôncio Pilatos, foi imediatamente levado para uma cruz já previamente montada, escoltado por centuriões e provavelmente no final da tarde.

E o céu não necessariamente ficaria tempestuoso diante de tamanha condenação. Há céus lindos e maravilhosos que, no entanto, ilustram ocorrências trágicas ou, pelo menos, infelizes. Da mesma forma, existem dias chuvosos e trovejantes que apresentam situações muito felizes, momentos de grande harmonia e descontração, ou, até mesmo, tranquilidade. Depende do contexto e da situação.

Negar a Via Crúcis não é desprezar o sofrimento de Jesus. É verificar que tanto o julgamento quanto o "desfile" em direção do calvário apresentam contradições sérias à natureza dos políticos romanos, extremamente cruéis, mas bastante imediatistas e apressados na hora de punir alguém.

Eles não iriam perder tempo com julgamentos. Jesus foi condenado em rito sumário, sem julgamento nem inquisição. E foi levado imediatamente a uma cruz já montada para ele. Sabemos que essa visão contraria a fé de muitos cristãos, mas ninguém pode inventar fatos contrários ao que já ocorreu, ninguém pode interpretar os fatos de forma diferente ao que muito provavelmente ocorreu.

Não são os cristãos de hoje que, com pouca noção da história do Império Romano, irão dizer, de acordo com suas convicções pessoais, o que as autoridades romanas fizeram ou quiseram fazer. São os registros históricos que mostram como era a conduta dos imperadores romanos, seus prefeitos, senadores e outros cargos, com seus procedimentos próprios, bons ou ruins.

A história do passado não pode ser interpretada ao bel prazer das pessoas, como se elas pudessem interferir sobre o que já ocorreu. Há muito o que ser descoberto sobre a história de Jesus. É preciso defender que historiadores, arqueólogos e geólogos para dizer o que realmente ocorreu.

Dos dados disponíveis, sabe-se que os imperadores romanos não iriam perder tempo julgando e expondo o condenado em praça pública para ser vaiado pelo povo. Não é de seu temperamento. Os políticos romanos eram rápidos na condenação. Extremamente cruéis, imprudentes, intransigentes. Mas rápidos e rasteiros.

Não somos nós que dissemos, são os registros históricos disponíveis que comprovam isso: as autoridades romanas sempre puniram seus condenados de forma apressada e imediata. Era da natureza grotesca de seus políticos, naqueles tempos.

sexta-feira, 25 de março de 2016

O "espiritismo" quer usar a "bondade" como diferencial. Isso não é bom


Não é só Luciano Huck que quer dar uma de bom moço. O "movimento espírita", como um todo, quer também promover o bom-mocismo, usando como pretexto a "bondade". E isso até que tem a ver, já que Huck é assumidamente admirador de Francisco Cândido Xavier.

A ideia de que os "espíritas" são maus seguidores da doutrina de Allan Kardec, mas "pelo menos" são "bondosos" e "ajudam muita gente" é bastante hipócrita. Eles insistem que "bondade, amor e caridade" são diferenciais do "movimento espírita", como se quisessem pôr debaixo do tapete as deturpações doutrinárias que cometem.

Isso é muito falso. Afinal, bondade, amor e caridade não podem estar vinculados a uma instituição específica. Se ela usa essas qualidades como diferencial, é porque esconde sua incompetência, com esse desvio de foco que só serve para deslumbrar os incautos.

A atual fase do "movimento espírita", que segue a tendência dúbia de bajular Allan Kardec e praticar a deturpação de seu pensamento tenta a todo custo manter o malabarismo discursivo em pé, já que se começa a ver as contradições e equívocos diversos por trás da doutrina brasileira.

Até pouco tempo atrás, ficava fácil manobrar o discurso de maneira tendenciosa, selecionando os trechos agradáveis ou mesmo oportunistas (como a apropriação pelos "espíritas" das mensagens do espírito Erasto) na bibliografia kardeciana, exaltar o igrejismo de Chico Xavier e Divaldo Franco e usar a "bondade" como elo entre um e outro.

Num dado momento, valia até o desfile de citações de nomes científicos, como Isaac Newton e Albert Einstein, enquanto menciona passagens da Bíblia católica, numa mesma publicação "espírita", em que a Idade Média é criticada mas suas ideias eram dissolvidas num falso cientificismo moderno.

Diante dessa dissimulação, usa-se a "bondade" como se fosse um adoçante a essa mistura indigesta entre um pretenso cientificismo carregado de muito pedantismo e um igrejismo entusiasmado e exaltado, como se o "movimento espírita" usasse um tripé diferente dos três princípios da doutrina de Allan Kardec.

Se a doutrina kardeciana se fundamenta no tripé Filosofia, Ciência e Moral, o "espiritismo" brasileiro se fundamenta no tripé Misticismo, Pseudo-Ciência e Religião, uma teia de contradições diversas na qual os "espíritas", uns por boa-fé, outros por má-fé mesmo, acreditam poderem ser ligadas pelo suposto equilíbrio do pretexto da "bondade" e "caridade".

É como se, entre o igrejismo entusiasmado e o falso cientificismo pudessem ser ligados pela "ponte" do bom-mocismo, como se tais contradições pudessem ser "equilibradas" pela aparente filantropia, como se, embora "a bondade seja um dom de todos", os "espíritas" se acharem os "melhores" nesse âmbito.

Isso não é bom. Afinal, se, por exemplo, uma instituição de serviço público comete um mau trabalho e seus servidores tentam argumentar que "pelo menos são bondosos", ninguém iria acreditar. "Bondade" não tem instituição, não traz diferencial a coisa alguma, e se ela é usada como pretexto para um mau espiritismo, isso nem de longe pode ser uma qualidade admirável.

Muito pelo contrário, isso piora ainda mais a situação dos "espíritas". Pois seu desfile de palavras amorosas e sua pálida filantropia só servem para acobertar seus erros, e nunca podem ser considerados acertos que estão acima de qualquer deslize.

O propósito do Espiritismo não é ser bonzinho. Não existe "religião da bondade". Se o "movimento espírita" pratica um mau Espiritismo, com todos os deslizes e deturpações que se observa hoje, não é a "bondade" que irá constituir um atenuante, mas, sim, um agravante, porque é um recurso dos hipócritas usar o bom-mocismo para disfarçar a incompetência doutrinária.

quinta-feira, 24 de março de 2016

Ideias equivocadas de mediunidade


O emburrecimento é uma constante no Brasil. O rol de desinformações que envolve o "espiritismo" feito no Brasil, uma doutrina que, em tese, valoriza a busca pelo conhecimento, é tanto que os "espíritas" são os que menos estão esclarecidos sobre qualquer coisa, deixando que a doutrina originalmente codificada por Allan Kardec vire um engodo na sua "adaptação" brasileira.

A mediunidade é um exemplo de como existem ideias equivocadas e muito mal interpretadas. Essa má interpretação permite que sejam considerados "médiuns" pessoas que deixam de ser intermediárias, como Francisco Cândido Xavier e Divaldo Pereira Franco, que passam a ser o centro das atenções, traindo o sentido etimológico da palavra "médium".

A palavra "médium" tem origem latina, medium, que quer dizer "canal de intermediação" ou alguma coisa relacionada ao que é intermediário. A partir desta palavra, formou-se a expressão em português "meio". Há também o termo "médio", que obviamente é bem conhecido.

A deturpação do termo "médium" é, portanto, notória, e corrompe até mesmo o processo de contato espiritual de acordo com os conceitos de Comunicação. O processo de transmissão de mensagem pelo emissor (espírito), canal (médium) e receptor (pessoas vivas) é distorcido, praticamente trocando alguns papéis.

Independente de fraude (quando o "médium" inventa uma mensagem da própria mente e diz que foi um morto que transmitiu) ou não, a figura do "médium" deixa de ser intermediária. Ele passa a ser o centro das atenções, a atração principal, o dublê de pensador e de conselheiro moral, deixando de lado a função intermediária, ou seja, de "médium", sendo portanto um anti-médium.

Deste modo, no processo de "mensagens mediúnicas", o espírito falecido deixa de ser o emissor, mas o "canal" que é usado pelo "médium" para emitir sua propaganda religiosa. Ou seja, o "médium" é o emissor de mensagens de apelo religioso e o falecido (independente de fraude ou não) se reduz a um garoto-propaganda dessa propaganda igrejeira, muitas vezes subliminar.

Alguns esclarecimentos devem ser feitos sobre o sentido de "médium", para que assim se desfaçam os diversos equívocos que fazem da mediunidade feita no Brasil uma grande bagunça, se distanciando das recomendações originais de Allan Kardec.

1) MÉDIUM NÃO É AQUELE QUE, POR SI SÓ, FALA COM MORTOS

O médium verdadeiro fala com espíritos, mas o sentido da palavra se refere àquele que se torna um instrumento de contato entre um falecido e as pessoas vivas. O indivíduo que, podendo se comunicar com mortos, não exerce essa intermediação, se limitando apenas a ser um amigo do espírito falecido, não é médium, é paranormal.

2) MÉDIUM NÃO É UM PROPAGANDISTA ESPIRITUALIZADO DE APELOS IGREJISTAS

O deslumbramento religioso faz com que o sentido de "médium" se perca como um cego numa floresta, e há quem pense que "médium" é aquela figura espiritualizada que lança mensagens de apelo igrejista. Lançando mão de um suposto espírito do além, o "médium" então se torna um "publicitário" do igrejismo e o espírito do além, agindo ou não agindo, torna-se seu garoto propaganda. Isso não é mediunidade, é propagandismo religioso.

3) MÉDIUM NÃO É UM FILÓSOFO DA BOA PALAVRA

Num país de pouco hábito de leitura e que, agora, com um hábito estranho de pessoas se limitarem a ler frases de efeito de qualquer famoso ou então ler livros "água com açúcar", que trazem tudo, menos Conhecimento, Chico Xavier e Divaldo Franco são considerados "filósofos" por uma boa parcela de incautos. Se eles não podem ser considerados médiuns no sentido original do termo, também não podem ser vistos como "filósofos da boa palavra".

Afinal, a coisa que eles não fazem é trazer filosofia. Primeiro, porque as obras de Chico e Divaldo contrariam frontalmente muitos dos ensinamentos de Allan Kardec e, com isso, vão contra o tripé Ciência-Filosofia-Moral do pensamento kardeciano original, já que os dois "médiuns", ou melhor, anti-médiuns, investem no mais gosmento igrejismo ideológico.

4) MÉDIUM NÃO É A ESTRELA DO PROCESSO MEDIÚNICO

Na época de Allan Kardec, os médiuns de que o pedagogo se servia para obter mensagens do além eram pessoas tão discretas que nada faziam senão transmitir esses recados, e não faziam muito alarde para isso, nem ousavam bancar os dublês de pensadores e falsos filósofos. Eram pessoas que só faziam a tarefa que lhes cumpria fazer e ficava nisso.

O problema é que, com a ideia de transformar Chico Xavier num astro pop, o sentido de intermediação foi derrubado. "Médium", no Brasil, passou a ser a grife, o centro das atenções, o pretenso pensador, o consultor espiritual, o conselheiro moral etc. Virou estrela, e, com isso, foi para as favas o discreto papel intermediário do verdadeiro médium, que praticamente inexiste no Brasil.

Com isso, a mediunidade é distorcida e corrompida e, portanto, não dá conta do recado. E, como a prática dita "mediúnica" é, em tese, muito comum, a atividade fica desmoralizada, até pela facilidade extrema de surgirem supostos médiuns. E as fraudes são tantas que a propaganda religiosa se torna um artifício para evitar revoltas. Enquanto isso, os mortos quase não se comunicam com o Brasil.

quarta-feira, 23 de março de 2016

A origem da fase "dúbia" do "movimento espírita"


Qual a origem da fase "dúbia" do "movimento espírita", na qual os membros alegam "fidelidade absoluta" e "respeito rigoroso" a Allan Kardec, mas continuam praticando a deturpação de raiz roustanguista?

A origem teria sido um livro que o dirigente Luciano dos Anjos, originalmente um roustanguista entusiasmado, publicou, intitulado A Anti-História das Mensagens Co-Piadas. baseado nas primeiras denúncias, em abril de 1962, de plágios cometidos por Divaldo Franco sobre obras de Francisco Cândido Xavier, que já são os pastiches que conhecemos.

A partir de divulgação de panfletos e outras denúncias, levando-se em conta que Divaldo Franco lançou o primeiro livro "mediúnico" em 1959, mesmo os espíritas autênticos, como Herculano Pires e Deolindo Amorim, estavam preocupados com a situação que comprometeria a reputação dos dois "médiuns".

Em uma atitude complacente, os dois espíritas autênticos não conseguiram evitar a crise, que depois foi relatada no livro de Luciano dos Anjos, um dos que divulgaram as mensagens. O escândalo partiu de cartas de Chico Xavier que dizia que Divaldo estava agindo sob influência de "espíritos inferiores" para realizar tais plágios e "atacar o movimento espírita pela retaguarda".

Maiores detalhes podem ser obtidos aqui. A certeza é que, juntando as várias crises e confusões no "movimento espírita" - naquela década de 1960, marcada pela estranha morte do sobrinho de Chico Xavier, Amauri e do referido plágio de Divaldo, haveria depois o escândalo de Otília Diogo - , abalaram a cúpula do "movimento espírita".

Chico Xavier, na referida carta, se mostra bastante perplexo com a atitude de Divaldo Franco e escreve que ele não pode ser inocentado pelo que fez, porque conforme a mensagem, o baiano teria feito isso várias vezes. É claro que Chico vem com sua falsa modéstia, no final deste parágrafo, e faz um vínculo tendencioso pessoal à Doutrina Espírita:

"Por que razão esse propósito deliberado de arrasar com as mensagens dos nossos Benfeitores Espirituais, recebidas por meu intermédio, desfigurando-as, descaracterizando-as, ferindo-as, transfigurando-as? Não posso inocentá-lo, porque isso acontece há muito tempo e ele possui bastante auto-crítica para reconhecer que as entidades que se valem dele para isso estão entrando numa atitude, francamente abusiva por desrespeitosa ao Espiritismo e à Mediunidade, a ponto de sacerdotes católicos-romanos já estarem se manifestando pela imprensa indagando se sou eu ou ele o mistificador. De mim mesmo nada valho e estou pronto a receber por bençãos quaisquer injúrias que seja assacadas contra a minha pessoa, entretanto, no assunto, é a Doutrina Espírita que está sendo desprestigiada e dilapidada".

Infere-se que, pelo fato de Luciano dos Anjos ter feito repercutir o escândalo quando ele, com um certo trabalho, seria abafado dentro de seus bastidores, o "movimento espírita" passou por um impasse que significou uma retomada de posição, não necessariamente favorável às bases doutrinárias originais.

Desse modo, com a vida do presidente Antônio Wantuil de Freitas se encerrando - ele se aposentou em 1970 e morreu em 1974 - , sucessores como Francisco Thiesen e Luciano dos Anjos reforçaram a centralização do poder da Federação "Espírita" Brasileira, em detrimento das federações regionais.

Diante disso, é provável que a origem da atual fase do "movimento espírita" esteja no esgotamento da postura abertamente roustanguista que prevaleceu durante anos, diante do poder férreo da FEB e de Antônio Wantuil.

Contraditoriamente, sem a esperteza de Wantuil, o "movimento espírita" se dividiu entre o roustanguismo mais aberto e outro mais dissimulado. Esta segunda tendência deu origem à atual fase do "movimento espírita", em tese mais "conciliadora e equilibrada", em que supostamente se obtém o "meio-termo" entre o cientificismo kardeciano e o igrejismo da FEB.

A ideia da fase "dúbia" foi romper com o centralismo da FEB com a autonomia dos membros "espíritas", independente de vínculo ou desvínculo com a federação. E o uso do nome de Allan Kardec em detrimento de Jean-Baptiste Roustaing, longe de ser uma apreciação real da obra do professor francês, era apenas uma postura política para se contrapor ao autor de Os Quatro Evangelhos.

No entanto, agora a fase "dúbia" está em crise, porque o igrejismo apaixonado e o cientificismo frouxo e postiço não conseguem se manter em equilíbrio e, cada vez mais, os "espíritas" se contradizem dizendo uma coisa e fazendo ou dizendo outra bem diferente.

terça-feira, 22 de março de 2016

Comparando o Eça de Queiroz com o falso espírito do escritor


A cada tempo estamos identificando fraudes em supostas psicografias "espíritas", pelo simples fato de que os estilos dos "autores espirituais" não corresponderem aos estilos deixados em vida. Uma simples leitura é fácil de constatar as fraudes, o que causa choque nos "espíritas", ainda mais que as supostas psicografias são, em tese, destinadas ao "pão dos pobres".

escrevemos a respeito do livro Getúlio Vargas em Dois Mundos, tendencioso livro escrito pela suposta médium Wanda A. Canutti, já falecida, e cabe praticamente comparar um trecho do livro com uma obra do escritor português Eça de Queiroz, um dos maiores da língua portuguesa.

A comparação mostra que nada do estilo ágil e bem escrito do autor português, tendenciosamente enquadrado numa suposta psicografia que ainda usa o nome de Getúlio Vargas como personagem de sua narrativa, como se a obra pudesse se promover com dois nomes ilustres (o escritor e o ex-presidente), e segue aquela linha das "cidades espirituais" tipo Nosso Lar, algo bastante duvidoso.

Observando bem os textos, nota-se que a narrativa do "espírito Eça de Queiroz" é muito pachorrenta, cheia de delongas, cansativa e entediante, e a obra se perde em divagações "teóricas" e apelos igrejistas, sem a natural movimentação das obras do autor português. Portanto, constata-se que realmente Eça não escreveu esse livro.

Além do mais, o "Getúlio Vargas" do livro nem de longe apresenta um sotaque gaúcho - assim como Eça nem parece lusitano - , mais parecendo um personagem à semelhança do "André Luiz" de Nosso Lar, um agonizante qualquer nota que, como espírito, vira um interno de uma "colônia espiritual", cuja concepção não seria bem vista por Allan Kardec.

Convidamos as pessoas a ler com atenção as duas passagens, uma do livro "espiritual", que aqui aparece primeiro, e depois um trecho da obra O Primo Basílio, de 1878, um dos clássicos da literatura portuguesa e da língua portuguesa em geral.

A disparidade é chocante e, com certeza, não é a desculpa do "pão dos pobres" e das "mensagens de amor" que as aberrantes diferenças serão ignoradas. Convém ler com atenção sem se prender a paixões religiosas.

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DEPARTAMENTO DOS RECUPERADOS

Wanda A. Canutti - Do livro Getúlio Vargas em Dois Mundos - atribuído ao "espírito Eça de Queiroz"

Ao deixar Getúlio, só, no parque, Irmão Fulgêncio dirigiu-se à sala do Mentor Maior daquela instituição — Irmão Fabrício. Localizava-se numa parte da Colônia, por onde não haviam passado, quando da visita. Era um lugar mais privativo, e passeios, por ali, não eram permitidos.
Ao entrar, Irmão Fabrício, muito solícito, querendo informações, perguntou-lhe:
— Então, como está Getúlio? Como se saiu em sua visita, hoje?
—Muito bem!
—Atingiu o objetivo primeiro que desejávamos?
—Sim! Ao levá-lo à sala onde programou a sua reencarnação, induzi-o a que fosse se recordando de que lá já estivera e trabalhara no seu plano.
—Isto é ótimo! Apoiado em suas próprias reminiscências, poderá trabalhar a análise de seus atos e chegar às conclusões necessárias.
—Compreendo o seu objetivo, irmão!
—Sei que o compreende, pois estando conosco há tanto tempo, sabe do que necessitamos!
—É verdade! Se lhe disséssemos, mesmo que visse através da aparelhagem, o plano realizado, não acreditaria ter sido preparado por ele. Mas, como o fizemos, terá toda a capacidade de se analisar, partindo do que reconhece, elaborado por si próprio! E agora? Disse-lhe que talvez hoje mesmo pudesse ser transferido. Como faremos?
—Diante do que me revelou, não há mais necessidade de que permaneça na enfermaria! Pode transferi-lo para o Departamento de Recuperados! Lá estará mais ativo e trabalhará em si mesmo.
—Compreendo!
—Pode ir agora, e levar-lhe a notícia! Chame o irmão auxiliar daquele departamento para lhe preparar o local, e, em seguida, que ele mesmo vá encontrá-lo e levá-lo!
—Está bem! Havia me afeiçoado a ele, após tanto tempo de convivência, e vou sentir a sua falta.
—É muito natural que isso ocorra, mas aqui não estamos isolados um do outro! Separam-se os departamentos, mas o irmão pode transitar por todos, e visitá-lo, ou até encontrá-lo no parque, desde que não atrapalhe o seu trabalho, nem a atividade que ele terá que realizar!
—Sei disso... e nada faria para prejudicar o meu trabalho, nem o dele, pois não é para isso que aqui estamos!
—É isto mesmo que eu quero ouvir! Pode ir e leve-lhe a notícia, porém, ele deve aguardar o irmão que irá buscá-lo!
Irmão Fulgêncio cumpriu as recomendações e, em seguida, foi ao encontro de Getúlio, encontrando-o ainda no parque, caminhando, cabisbaixo, as mãos unidas às costas.
—Que bom vê-lo novamente! E então? — perguntou-lhe Getúlio.
—Já terminei a entrevista que mantive com Irmão Fabrício, o nosso Mentor, e a sua mudança já está autorizada!
—O senhor continuará comigo?
—Não, a minha atividade continua a ser na enfermaria e o irmão passa para o Departamento dos Recuperados! Outro chefe o auxiliará, assim como também os irmãos auxiliares que lá trabalham.
Estará bem amparado, e a orientação necessária lhe será dada agora, por outro dirigente.
—Vou sentir a sua falta!
—Eu também sentirei, que me acostumei à sua presença, mas se permanecer sempre na enfermaria, não fará a recuperação total, como tem que ser agora! No departamento para onde irá, estão aqueles que se refizeram do muito que trouxeram da Terra, impregnado nos seus perispíritos, para poderem, agora, partir para as atividades necessárias à plenitude do Espírito, compreende?
—Quando lá estiver em atividade, tentarei compreender melhor! Quando irei?
—Hoje mesmo! Pode voltar ao leito, que um irmão auxiliar daquele departamento, irá buscá-lo!
— E eu não o verei mais?
— Sim, nos veremos quando for permitido, até poderemos nos encontrar fortuitamente no parque!
—Se isso é uma despedida, irmão...
—...não é uma despedida!
—É uma despedida, sim, pois vou sair da enfermaria e de seus cuidados, embora ainda continuemos aqui! Quero agradecer tudo o que foi feito por mim, até agora, as palavras de compreensão e carinho que sempre me dispensaram, a par de todo o tratamento que realizaram. O irmão sabe em que condições cheguei, e ainda nem sei há quanto tempo! Agora estou recuperado e bem melhor, com a consciência de quem fui, e isso devo a todos da enfermaria, e, principalmente ao senhor!
—Não nos agradeça! Aqui estamos para realizar o nosso trabalho, aliviando um pouco do sofrimento que os irmãos trazem, mas trabalhamos com amor e com grande dedicação. É o nosso dever!
Agradeça, sim, e sempre, a Jesus, que permitiu, fosse trazido! Agradeça ainda pelo que recebeu, pelo seu equilíbrio! É só a Ele que deve o seu agradecimento!
—Eu o faço em minhas orações, que agora oro sempre, como recomendou-me, Darci! Lembra-se? —Então o irmão está no caminho certo! Procure sempre manter a sua ligação mental com Jesus, pois é Ele que nos transmite a força, a coragem, e as possibilidades de que necessitamos! Pois bem, agora devemos entrar e aguardar o auxiliar que o levará!
—Vamos, então!
Logo após, o irmão auxiliar do departamento para o qual Getúlio seria transferido chegou, e ele foi levado.
No novo departamento, entraram num imenso salão, onde cada interno tinha um compartimento separado, à semelhança de box, reservando-se, assim, a privacidade de cada um, mas, ao mesmo tempo, todos congregados num só ideal — o de completar, de outra forma, o que lhes restava, a fim de que, não só a recuperação espiritual e perispiritual se fizesse, mas também que tivesse consciência para poder avaliar a encarnação passada na Terra.
De nada adianta ao Espírito passar pelo orbe terrestre e retornar, se não analisar a sua existência. Da análise é que vamos concluir onde erramos, o que fizemos indevidamente, para nos corrigirmos numa próxima oportunidade, ou sentirmo-nos estimulados, quando da realização de atos nobres, 
para novamente praticá-los, e, até com mais freqüência, fazendo deles o objetivo primeiro e único da nossa passagem pela Terra.
Quando todos compreenderem que essa passagem é a oportunidade maior que um Espírito tem de ressarcir passados vivenciados de forma negativa, a Terra terá cumprido a sua missão diante do Pai.
Estará transformada, porque os atos escusos foram substituídos por outros nobres, e será um local de felicidade. Mas para que isso ocorra, deverá haver o esforço de cada um, em aprimorar-se cada vez mais! — É do conhecimento que vem a convicção de que a reforma íntima é necessária, como também, a vontade de viver de modo o mais nobre e correto possível, não só para si, mas ajudando o reerguimento dos outros.
Tudo isso, naquele departamento se faria! A conscientização dos atos passados, com a oportunidade de reconhecer as próprias faltas. Contudo, para atingir esse fim, era necessário, em primeiro lugar, que tivessem ciência do que eles próprios organizaram para si, em planificação de objetivos, nessa mesma Colônia, ou em outras, pois teriam condições de visualizá-los, através de aparelhagem adequada.
No primeiro momento em que chegou, tudo lhe era desconhecido! Alguns irmãos repousavam, outros estudavam, e alguns compartimentos achavam-se vazios. Não sabia se seus ocupantes se encontravam em atividade fora dali, ou se estavam vagos. Nada perguntou, apenas obedecia!
Indicaram-lhe o seu local, no qual ele penetrou e pôde ver um leito, com uma pequena mesinha de cabeceira e, ao lado, uma cadeira. Nada mais! Tudo muito simples, tudo muito em ordem, exalando um aroma agradável, suave, mas desconhecido.
Ali ficou, sem saber o que fazer, de início, mas logo chegou uma senhora, de aspecto sereno e bondoso, de meia-idade, que lhe disse:
— Seja bem-vindo a este departamento! É o irmão Getúlio, não?
— Sim, sou eu!
— Já o aguardava! Fui avisada de que hoje seria transferido para cá. Quero que se sinta à vontade!
Terá a oportunidade de fazer muitas amizades! O salão está repleto! Há muitos companheiros com quem poderá conversar, trocar idéias! Pode agora consultar a nossa Biblioteca, já sabe onde fica, não?
— Sim, irmã! Mas quando em visita à Colônia, não chegamos até esta parte, e, talvez não acerte!
— É muito fácil, porém, quando quiser ir, um irmão auxiliar o levará! Quero lhe dizer que supervisiono este departamento, e o irmão terá em mim uma amiga à disposição, para o que desejar!
Se necessidade tiver, não se acanhe e fale comigo, sempre terá uma orientação, um esclarecimento, sobre o que nos for permitido dizer. Por hoje não terá atividade alguma, pode fazer o que desejar, mas amanhã cedo, iniciará a outra parte de seu tratamento, aquela que já sabe, irá realizar. Amanhã, um irmão o levará até onde deverá começar essa nova atividade!
—O que farei, irmã?
—Começará a tomar conhecimento do plano que realizou para a sua última encarnação; isto já lhe foi explicado, não se lembra?
—Lembro-me, sim!
—Terá acesso a tudo o que preparou, para, a partir daí, começar a analisar os dois planos — objetivos e realizações — conjuntamente!
—Eu estarei sozinho? Sinto-me um tanto assustado!
—Não tenha receios, não estará sozinho! Todos aqui são amigos solícitos e bondosos, e o tratarão com muito amor, como o que lhe dispensaram até agora.
—Obrigado, irmã! Aguardarei até amanhã, não sei se ansioso ou temeroso!
—Ore a Deus que Ele o tranqüilizará, e, até amanhã! Se sentir qualquer necessidade, pode procurar-me!
Chamo-me Cíntia!
—Mais uma vez, muito obrigado, Irmã Cíntia!

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CAPÍTULO IV (Fragmento)

Eça de Queiroz - O Primo Brasílio

Pelas três horas da tarde, Juliana entrou na cozinha e atirou-se para uma cadeira, derreada. Não se tinha nas pernas de debilidade! Desde as duas horas que andava a arrumar a sala! Estava um chiqueiro. O peralta na véspera até deixara cinza de tabaco por cima das mesas! A negra é que as pagava. E que calor! Era de derreter! Uf!
— O caldinho há de estar pronto, hem! — disse, adocicando a voz. — Tira-mo, Sra. Joana, faz favor?
— Vossemecê hoje está com outra cara — notou a cozinheira.
— Ai! Sinto-me outra, Sra. Joana! Pois olhe que adormeci com dia, já luzia o dia!
— E eu! — Tinha tido cada sonho! Credo! Uma avantesma cor de fogo a passear-lhe por cima do corpo, e cada pancada na boca do estômago, como quem pisava uvas num lagar!
— Enfartamento — disse sentenciosamente Juliana, e repetiu:
— Pois eu sinto-me outra. Há meses que me não sinto tão bem!
Sorri com os seus dentes amarelados. O caldo que Joana deitava na malga branca com um vapor cheiroso, cheio de hortaliça dava-lhe uma alegria gulosa. Estendeu os pés, recostou-se, feliz, na boa sensação da tarde quente e luminosa, entrando largamente pelas duas janelas abertas.
O sol retirara-se da varanda, e sobre a pedra, em vasos de barro, plantas pobres encolhiam a sua folhagem chupada do calor; sobre uma tábua a um canto, numa velha panela bojuda, verdejava um pé de salsa muito tratado; o gato dormia sobre um esteirão; esfregões secavam numa corda; e para além alargava-se o azul vivo como um metal candente, as árvores dos quintais tinham tons ardentes do sol, os telhados pardos com as suas vegetações esguias coziam no calor e pedaços de paredes caiadas despediam uma rebrilhação dura.
— Está de apetite, Sra. Joana, está de apetite! — dizia Juliana, remexendo o caldo devagarinho, com gula. A cozinheira de pé, com os braços cruzados sobre o seu peito abundante, regozijava-se:
— O que se quer é que esteja a gosto.
— Está a preceito.
Sorriam, contentes da intimidade, das boas palavras. — E a campainha da porta que já tinha tocado, tornou a tilintar discretamente. 

Juliana não se mexeu. Bafos de aragem quente entravam; ouvia-se ferver a panela no fogão, e fora o martelar incessante da forja; às vezes o arrulhar triste de duas rolas que viviam na varanda, numa gaiola de vime, punha na tarde abrasada uma sensação de suavidade.
A campainha retilintou, sacudida com impaciência.
— Com a cabeça, burro! — disse Juliana.
Riram. Joana fora sentar-se à janela, numa cadeira baixa; estendia os seus grossos pés, calçados de chinelas de ourelo; coçava-se devagarinho, no sovaco, toda repousada.
A campainha retiniu violentamente.
— Fora, besta! — rosnou Juliana, muito tranqüila.
Mas a voz irritada de Luísa chamou debaixo:
— Juliana!
— Que nem uma pessoa pode tomar a sustância sossegada! Raio de casa! Irra!
— Juliana! — gritou Luísa.
A cozinheira voltou-se, já assustada:
— A senhora zanga-se, Sra. Juliana.
— Que a leve o diabo!
Limpou os beiços gordurosos ao avental, desceu furiosa.
— Você não ouve, mulher? Estão a bater há uma hora!
Juliana arregalou os olhos espantada; Luísa tinha vestido um roupão novo de fular cor de castanho, com pintinhas amarelas!
— "Temos novidade! Temo-la grossa!" — pensou Juliana pelo corredor.
A campainha repicava. E no patamar, vestido de claro, com uma rosa ao peito, um embrulho debaixo do braço, estava o "sujeito do negócio das minas!"
— Aquele sujeito de ontem! — veio dizer, toda pasmada.
— Mande entrar...
— "Viva!" — pensou.
Galgou a escada da cozinha, disse logo da porta, com a voz aguda de júbilo:
— Está cá o peralta de ontem! Está cá outra vez! Traz um embrulho! Que lhe parece, Sra. Joana? Que lhe parece?
— Visitas... — disse a cozinheira.
Juliana teve um risinho seco. Sentou-se, acabou o seu caldo, à pressa. 
Joana indiferente cantarolava pela cozinha, o arrulhar das rolas continuava langoroso e débil.
— Pois, senhores, isto vai rico! — disse Juliana.
Esteve um momento a limpar os dentes com a língua, o olhar fixo, refletindo. Sacudiu o avental, e desceu ao quarto de Luísa; o seu olhar esquadrinhador avistou logo sobre o toucador as chaves esquecidas da despensa; podia subir, beber um trago de bom vinho, engolir dois ladrilhos de marmelada... Mas possuía-a uma curiosidade urgente, e, em bicos de pés, foi agachar-se à porta que dava para a sala, espreitou. O reposteiro estava corrido por dentro; podia apenas sentir a voz grossa e jovial do sujeito. Foi de volta, pelo corredor, à outra porta, ao pé da escada; pôs o olho à fechadura, colou o ouvido à frincha. O reposteiro dentro estava também cerrado.
— "Os diabos calafetaram-se!" — pensou.
Pareceu-lhe que se arrastava uma cadeira, depois que se fechava uma vidraça. Os olhos faiscavam-lhe. Uma risada de Luísa sobressaiu; em seguida um silêncio; e as vozes
recomeçaram num tom sereno e contínuo. De repente o sujeito ergueu a fala, e entre as palavras que dizia, de pé decerto, passeando, Juliana ouviu claramente: "Tu, foste tu!"
— Oh, que bêbeda!
Um tilintlim tímido da campainha, ao lado, assustou-a. Foi abrir. Era Sebastião muito vermelho do sol, com as botas cheias de pó.
— Está? — perguntou, limpando a testa suada.
— Está com uma visita, Sr. Sebastião!
E cerrando a porta sobre si, mas baixo:
— Um rapaz novo que já cá esteve ontem, um janota! Quer que vá dizer?
— Não, não, obrigado, adeus.
Desceu discretamente. Juliana voltou logo a encostar-se à porta, a orelha contra a madeira, as mãos atrás das costas; mas a conversação, sem saliência de vozes; tinha um rumor tranqüilo e indistinto. Subiu à cozinha.
— Tratam-se por tu! — exclamou. — Tratam-se por tu, Sra. Joana! E muito excitada:
— Isto vai à vela! Cáspite! Assim é que eu gosto delas!
O sujeito saiu às cinco horas. Juliana, apenas sentiu abrir-se a porta, veio a correr; viu Luísa no patamar, debruçada no corrimão, dizendo para baixo, com muita intimidade:
— Bem, não falto. Adeus.
Ficou então tomada de uma curiosidade que a alterava como uma febre. Toda a tarde, na sala de jantar, no quarto, esquadrinhou Luísa com olhares de lado. Mas Luísa, com um roupão de linho mais velho, parecia serena, muito indiferente. 
— "Que sonsa!"
Aquela naturalidade despertava a sua bisbilhotice.
— "Eu hei de te apanhar, desavergonhada!" — calculava.

segunda-feira, 21 de março de 2016

O esquema do "pagou, publicou" e o fator de impacto de periódicos científicos


Sabe-se que o meio acadêmico não é, no seu todo, a perfeição do planeta. É verdade que os meios acadêmicos e científicos contam com muitos professores, pesquisadores e outros profissionais dotados da mais admirável competência e da mais digna transparência.

Mas existem casos em que acadêmicos, professores e profissionais da Ciência são manipulados aqui e ali. Na Alemanha nazista, cientistas trabalhavam para forjar "provas científicas" para os preconceitos sociais do governo e permitir sua crueldade sanguinária.

No Brasil, intelectuais da cultura viviam seus momentos de executivos de rádio, quando recebiam jabaculê de empresas de entretenimento para exaltar a bregalização social numa roupagem travestida de monografias, documentários cinematográficos, análises etnográficas e reportagens.

Se existem publicações conceituadas que estabelecem critérios rigorosos de expressão do Conhecimento - há a liberdade temática e de abordagem, desde que buscando o desenvolvimento da lógica - , outras que exercem parcialmente essa função mas aceitam o "jabá" acadêmico de vez em quando, e outras publicações de categorias inferiores que vivem no esquema do "pagou, publicou".

Foi denunciado que o periódico Plos One, revista científica considerada de "acesso livre", havia publicado um artigo de pesquisadores de uma universidade chinesa, sobre mãos humanas, que faziam alusão ao Criacionismo, teoria que atribui a Deus a criação da Terra a partir do nada e da alma humana a partir do nascimento. Em seguida, o Plos One publicou uma retratação, alegando problemas na tradução do artigo.

A Plos One é considerada de fator de impacto pouco expressivo. Fator de impacto é o critério usado para medir a credibilidade de periódicos científicos através da repercussão dos artigos publicados.

No "espiritismo", é conhecido o episódio em que um grupo de acadêmicos da Universidade Federal de Juiz de Fora tenta provar o suposto pioneirismo do "espírito André Luiz", que constatamos ser fictício, nas descobertas referentes à glândula pineal, em 2008.

Eles publicaram um texto em inglês no periódico Neuroendocrinology Letters no qual atribuíram ao livro Missionários da Luz, de 1945, a citação de informações que em tese só seriam conhecidas posteriormente num espaço entre 13 e 63 anos.

A tese possui um discurso monográfico convincente, mas aponta uma falha metodológica. Os cientistas, comandados por Alexander Moreira-Almeida, declararam que os estudos sobre a glândula pineal na década de 1940 eram bastante escassos.

O erro está no fato dos cientistas, conforme a bibliografia mencionada, só terem pesquisado fontes de terceiros, publicadas a partir de 1977, sendo apenas o livro de Francisco Cândido Xavier o único item da década de 1940 presente.

Além disso, um autor alemão, pouco conhecido fora do seu país, o biólogo Wolfgang Bargmann, era um dos principais estudiosos da glândula pineal dos anos 1940. E há dúvidas sobre se a bibliografia sobre o tema era escassa.

Outro dado a ressaltar é que uma descoberta científica é apenas comprovação de um conjunto de hipóteses que havia sido longamente analisado, o que significa que, no caso da glândula pineal, as teses descobertas em 2008 eram muito antigas e sua discussão não só era significativa nos anos 1940, nos bastidores da ciência, como era bem anterior a essa década.

Usando um outro exemplo, que é a possibilidade de existência de água na Lua, embora a tese só ganhasse confirmação ou probabilidade a partir dos anos 1960, ela já era discutida, ainda que fosse considerada improvável. Mesmo assim, o fato dessa hipótese ser descrita numa obra de Jules Verne de 1869, À Volta da Lua (também conhecida como Viagem ao Redor da Lua), pressupõe que o tema já era discutido por cientistas no século XIX.

Quanto a Neuroendocrinology Letters, o periódico indica ser de baixo fator de impacto. A própria repercussão do "pioneirismo" de André Luiz e, por conseguinte, de Chico Xavier - promovido "de graça" a pretenso cientista - , só se deu nos meios "espíritas", incluindo uma reação eufórica de Marlene Nobre e seus amigos, durante troca de e-mails, comemorando o "feito" como se fosse um milagre religioso.

Eles atribuíram o Neuroendrocrinology Letters a um "conceituado periódico científico", mas a verdade é que seu fator de impacto foi baixo. Não conseguimos obter os dados precisos, mas a forma como repercutiu a tese de Alexander Moreira-Almeida e sua equipe demonstra que o periódico não é considerado de grande credibilidade.

Pelo contrário, como um periódico de "publicação aberta", o Neuroendocrinology Letters deve fazer parte do esquema "pagou, publicou", havendo apenas critérios superficiais de envolvimento científico ou acadêmico dos autores. Leva-se mais em conta o status de quem escreve do que a qualidade e a pertinência das ideias.

É muito provável que o artigo dos acadêmicos sobre Chico Xavier tenha sido publicado sob pagamento. Não se sabe se os próprios autores publicaram o texto em inglês ou se o periódico tinha um tradutor que publicou o texto enviado em língua portuguesa. Sabe-se, contudo, que o periódico tem baixo fator de impacto, pois é pouco expressivo na transmissão e repercussão de atividades acadêmicas e científicas.

domingo, 20 de março de 2016

Altamente religiosa, cidade de São Gonçalo tem alto índice de homicídios


Cidade conhecida pelo alto índice de religiosos - sobretudo os evangélicos da tendência neopentecostal - , com templos religiosos de diversas seitas, a cidade de São Gonçalo, da região metropolitana do Rio de Janeiro e vizinha de Niterói, teve o índice de homicídios triplicado, segundo dados de fevereiro passado.

Há um sério clima de insegurança entre os moradores gonçalenses, e nos últimos meses houve homicídios praticados até mesmo à luz do dia e em ruas movimentadas do Rodo de São Gonçalo, região conhecida por reunir alguns bairros centrais, como Mutondo, Zé Garoto e Porto da Pedra.

A cidade, então um excelente polo de mercado, sofre o fechamento constante de casas comerciais e a fuga de empresários, devido aos preocupantes índices de violência. Assaltos e homicídios são muito constantes, causando apreensão às pessoas, principalmente durante a noite.

Neste mês, duas crianças foram mortas por balas perdidas. Em situações diferentes, João Vítor da Costa Pereira, de 12 anos, e Ana Beatriz Duarte de Sá, de cinco anos, foram baleados durante tiroteios, e chegaram a ser socorridas ainda com vida, mas não resistiram aos ferimentos.

É bastante controverso, para muitos, a associação entre religião e violência. Mas analistas da Bíblia identificam passagens que soam como apologia à violência, sobretudo no Velho Testamento. As seitas neopentecostais se baseiam neste livro da Bíblia, mas quase todo o "movimento espírita" e alguns setores da Igreja Católica professam a Teologia do Sofrimento.

Na Teologia do Sofrimento, prega-se que os sofredores têm que suportar o seu sofrimento para chegar aos céus, enquanto que os algozes devem ser tolerados mesmo nos seus mais cruéis abusos contra o ser humano. Esse sistema moralista não resolve as angústias morais e acaba criando um sentimento confuso de conformação e ódio que, em mentes mais rudes, pode levar ao crime.

Isso mostra que a religião não oferece respostas para os problemas humanos. São Gonçalo é superabastecida de templos que se amontoam em suas ruas. Há também vários "centros espíritas". No entanto, eles não conseguem orientar nem proteger moralmente a população no sentido de prevenir a violência. Até porque muitos dos homicidas e assaltantes são também fanáticos religiosos.

sábado, 19 de março de 2016

Madre Teresa de Calcutá será santificada "na marra"


O Vaticano anunciou que a beata Madre Teresa de Calcutá será mesmo santificada. A canonização já tem data marcada, o próximo dia 04 de setembro, dia em que a freira, nascida na Albânia e que atuava na cidade indiana de Calcutá, será considerada oficialmente "santa".

O pretexto para a santificação está relacionado a dois supostos milagres. Um relacionado a um suposto cisto no ovário de uma jovem da Índia cuja cura é atribuída a orações feitas à imagem da freira em uma medalha. Outra se refere a um brasileiro que supostamente sofreu um coágulo cerebral gravíssimo, mas que teria se curado no dia seguinte porque a mulher rezava muito usando outra medalha com a imagem de Madre Teresa.

Os dois casos são bastante duvidosos. Monica Besra, a moça que supostamente tinha um tumor diagnosticado em 2002, se curou seguindo rigorosamente as recomendações médicas e tomando os remédios receitados na dose exata. Não foi pelas preces que ela se curou.

Da mesma forma, o engenheiro paulista Marcílio Haddad Andrino, que supostamente sofreu um tumor cerebral considerado irreversível, teria provavelmente sofrido, sim, uma grave dor de cabeça e alguma fraqueza, e se internou em um hospital católico que, vendo a mulher do engenheiro - com quem passava a lua-de-mel, no momento da "doença" - rezando para a medalha de Madre Teresa, pode ter diagnosticado como "tumor gravíssimo" para forçar o milagre.

Afinal, o homem parecia "agonizante" quando estava internado e havia sido marcada uma suposta cirurgia para a retirada do tumor. No dia seguinte, o engenheiro, de 35 anos em 2008, acordou sozinho, foi andar e tomou o café sem depender de outra pessoa. Os médicos alegaram "não terem" explicações científicas para a cura e consideraram "um milagre de Madre Teresa".

Neste caso, o Hospital São Lucas de Santos, por ser católico, muito provavelmente pode ter dado um laudo médico falso. Um lobby de quinze pessoas foi montado para "legitimar o milagre". que é do interesse de quem professa a crença católica, sobretudo diante de uma celebridade como Madre Teresa de Calcutá.

INTERESSES POLÍTICO-ECONÔMICOS

O fato da Igreja Católica nomear santos através do processo burocrático de canonização não quer dizer que o santo em questão seja um espírito dotado de indiscutível elevação moral. O padre jesuíta José de Anchieta que, junto com o colega Manuel da Nóbrega - que os "espíritas" conhecem como o espírito Emmanuel, "mentor" de Francisco Cândido Xavier - , assassinaram um herege, é também considerado um "santo" católico.

Há casos de santos que são tão lendários quanto Papai Noel e, talvez, até mais lendários - já que, dizem, o Papai Noel que conhecemos é uma invenção da Coca-Cola a partir da deturpação de um mito finlandês - , que nunca existiram e que só servem para adoração religiosa. Há quem diga, por exemplo, que São Valentino, do Dia dos Namorados estadunidense (14 de fevereiro), nunca teria existido.

No "movimento espírita", o equivalente à santificação não inclui esse processo, valendo apenas por declaração. Assim, ídolos "espíritas" como Chico Xavier e Adolfo Bezerra de Menezes são considerados "espíritos de luz" por uma mera declaração dos membros mais destacados do "movimento espírita", sem que houvesse burocracia nem rituais para tanto.

A santificação "na marra" de Madre Teresa de Calcutá, mesmo com esses dois milagres duvidosos, forçadamente "comprovados" pelos sacerdotes do Vaticano, seria, portanto, um modo de atender aos interesses políticos e econômicos da Igreja Católica.

Foi revelado que Madre Teresa de Calcutá não tratava bem os doentes e necessitados. Eles eram alojados uns ao lado dos outros, favorecendo o contágio por doenças graves, como a hanseníase, e só eram atendidos com paracetamol ou aspirina, eram mal alimentados e as seringas utilizadas eram apenas lavadas com água de torneira (que não é considerada potável) e reutilizadas.

Esse descuido com a higiene das seringas, que nunca deveriam ser reutilizadas, nivela Madre Teresa e seus assistentes aos usuários de drogas injetáveis que também reutilizam seringas e, com isso, tornam-se altamente sujeitos a morrerem de doenças graves e contagiosas.

E por que tais denúncias, trazidas pelo hoje falecido jornalista Christopher Hitchens e comprovada por pesquisadores universitários sérios, não foram suficientes para impedir a santificação de Madre Teresa, assim como as dúvidas quanto aos dois supostos milagres?

Simples. Porque é do interesse estratégico da Igreja Católica que Madre Teresa de Calcutá seja "santa" de qualquer maneira. Isso fará com que se façam eventos religiosos em seu nome, se comercializem produtos relacionados e estabeleçam até mesmo festejos e excursões turísticas em prol da "santa".

Essas atividades seriam uma forma da Igreja Católica estabelecer parcerias com políticos e autoridades, de forma a atrair verbas que, certamente, irão para os bolsos dos seus sacerdotes. O que mostra que a fé religiosa pode ser, também, um grande mercado de alto rendimento financeiro. "Bondade" também é uma mercadoria.

sexta-feira, 18 de março de 2016

Erasto veria com desconfiança a "bondade" espírita

DIVALDO FRANCO APRESENTA VÁRIOS ASPECTOS CLARAMENTE REPROVADOS POR ALLAN KARDEC E ATÉ PELO ESPÍRITO ERASTO.

Diante da crise que sofre o "movimento espírita", com as amplas denúncias de suas irregularidades, seus fanáticos seguidores se desesperam, embora uns reagindo com aparente calma, e lançam mão do último recurso usado para tentar salvar seus ídolos.

Como eles não podem desmentir irregularidades relacionadas às atividades ditas "mediúnicas", que se revelam um grande faz-de-conta - afinal, não dá para dissimular falsas mensagens espirituais com propaganda religiosa - , e como não podem desmentir a mistificação catolicizada da Doutrina Espírita pelos brasileiros, eles usam a "bondade" como último argumento.

Em primeiro momento, os adeptos de Francisco Cândido Xavier reagiam neuroticamente com declarações tipo "deixe ele mentir à vontade, ele ajudou muita gente", "ele plagiou livros, mas é bondoso", vendo que "carteiradas" como uma chiquista escrevendo, contra uma contestadora, "quem é você para falar sobre Chico Xavier?", não estavam dando certo.

Depois, em segunda instância, a histeria aparentemente diminuía, e as pessoas reagiam se limitando a dizer que "pelo menos Chico Xavier ajudou muita gente", "ele fazia caridade" ou coisa parecida.

Agora, em terceira instância, quando se revela que a "bondade" de Chico Xavier não foi tão boa assim - ele expôs demais as tragédias familiares, as "psicografias" se revelavam falsas e, entre outras crueldades, ele se irritou com amigos do falecido Jair Presente - , começam a admitir que os anéis chiquistas ficaram muito apertados em seus dedos.

Com isso, eles deixam um pouco de lado a defesa do mito de Chico Xavier e passam a defender o de Divaldo Franco, bem mais verossímil e travestido de uma roupagem, de um discurso e de procedimentos mais sutis do que o do anti-médium mineiro.

A blindagem em torno de Divaldo Franco, que o define como "maior filantropo do país", possui pretextos aparentemente fortes: um ídolo religioso elegante, culto, de fala envolvente, discurso sofisticado, conduta tranquila e ações sociais aparentemente concretas.

Com isso, Divaldo parece ser o último pilar para salvar a deturpação espírita de sua decadência final, ainda que seja para reduzir o "espiritismo" brasileiro a uma reles "doutrina do bom-mocismo".

MITO DE DIVALDO FRANCO É MAIS VEROSSÍMIL QUE CHICO XAVIER

Divaldo Franco, como Chico Xavier, é um mistificador. Publicou obras e realiza palestras e depoimentos que apresentam ideias contrárias ao pensamento kardeciano, já que se observa explicitamente o igrejismo e o misticismo que não condizem com o pensamento racional de Allan Kardec.

É evidente que o mito de Divaldo Franco é construído com tamanha habilidade que desmontá-lo requer um esforço muito grande de observação. A aparente afabilidade, a pretensa erudição, a suposta caridade, tudo isso é feito de forma que a verossimilhança seja bastante engenhosa.

Os adeptos de Divaldo Franco chegaram mesmo a dizer que ele era "melhor seguidor de Allan Kardec" do que Chico Xavier. De um tímido coadjuvante da mítica "espírita", nos tempos do roustanguismo assumido, o baiano passou a ser um dos protagonistas quando, em 1975, começou a prevalecer a postura "dúbia" (bajular Kardec e praticar a deturpação de forma dissimulada).

Afinal, Chico Xavier não conseguia esconder que era um católico fervoroso e extremado. Divaldo Franco também é católico fervoroso, mas ele é dotado de esperteza suficiente para adotar uma roupagem falsamente científica e pretensamente intelectual, o que estereótipos bastante populares acabam ajudando a fortalecer seu mito.

Divaldo personifica a imagem daquele velho professor dos anos 1940, dotado de "bons modos", discurso empolado e aparente calma e benevolência. Diferente do caipira beato que durante muito tempo se atrapalhou no seu papel de ser "espírita", diante de muitos escândalos.

Aparentemente, Divaldo Franco não se envolveu em escândalos. Aparentemente, porque num episódio de 1962, em que Divaldo Franco lançou, usando o nome de Vianna de Carvalho, a mensagem "Um Dia", que se revelou um plágio de outra mensagem exatamente do mesmo nome, ou seja, "Um Dia", que Chico Xavier lançou usando o nome de Isabel de Castro.

O episódio quase custou a amizade dos dois e se revelou como o maior escândalo de Divaldo, contra o qual também se pesam outras acusações de plágio contra Chico Xavier, analisadas por Luciano dos Anjos no livro A Anti-História das Mensagens Co-Piadas. Luciano era um roustanguista, mas nos últimos tempos passou a denunciar, também, algumas atividades respaldadas pela Federação "Espírita" Brasileira.

NEM ERASTO APROVARIA DIVALDO FRANCO

Allan Kardec já descreveu vários avisos, alertando sobre deslizes que, sabemos, se encaixam perfeitamente em Chico Xavier e Divaldo Franco. O discurso empolado, que me Divaldo se torna ainda mais acentuado, as "palavras boas" que escondem a mistificação, as ideias contrárias ao pensamento kardeciano respaldadas por todo um aparato de "amor e bondade".

Observam-se vários aspectos sombrios. Um exemplo é o item 267 do capítulo 24, Da Identidade dos Espíritos, de O Livro dos Médiuns, em que o pedagogo
estabelece critérios e cautelas para quem quiser observar a qualidade dos espíritos (o que, por conseguinte, pode ser usado para avaliar a dos supostos médiuns).

O item 4, lido de forma apressada, poderia até favorecer Divaldo: "A linguagem dos Espíritos superiores é sempre digna, elevada, nobre, sem qualquer mistura de trivialidade". No entanto, a frase seguinte desmascara o anti-médium, porque Divaldo não diz as coisas com "simplicidade e modéstia", a roupagem "humilde" de seu discurso apenas é um verniz para validar sua retórica tomada de frases prolixas, palavras rebuscadas e ideias mistificadoras.

Mais grave. Ainda no item 4, Kardec condena a "autossuficiência", entre os defeitos que expressam a qualidade inferior dos espíritos. No caso de Divaldo, a "autossuficiência" se manifesta na presunção de Divaldo de ter sempre respostas para tudo, algo que nunca se vê nos verdadeiros sábios, sendo um recurso de manipulação e domínio de pessoas que, no Brasil, são marcadas pela ignorância em muitas ideias e situações.

No item 5, Kardec não recomenda aceitar as mensagens só porque elas parecem corretas em linguagem e estilo, mas antes fazer um exame cuidadoso, para ver se não existe algum aspecto que vai contra a lógica e o bom senso.

No item 7, outro ponto contra Divaldo Franco. Neste item, Kardec fala que os espíritos bons só dizem o que sabem, mas se calam ou admitem sua ignorância sobre o que não sabem. Os maus é que falam de tudo com segurança, sem se importar com a verdade.

E aí que se vê Divaldo, que em muitas de suas "respostas prontas", despeja mistificações e ideias insensatas. Como na corroboração de uma declaração do papa Francisco que descreveu a imagem de Deus como a de um homem. "Ele está absolutamente certo", disse Divaldo sobre a antropomorfização de Deus, que vai contra a ideia dessa entidade por Kardec, que admite seu caráter enigmático e se limita e defini-lo como "causa primária de todas as coisas".

No item 8, Kardec desqualifica a postura, tão conhecida de Divaldo, de presumir acontecimentos certos em datas futuras determinadas. Kardec descreve isso, com toda a clareza, como indício de mistificação.

Já no item 9, Kardec desqualifica a prática de mensagens prolixas,
a linguagem pretensiosa que esconde o vazio de ideias, o artifício de fazer com que mensagens obscuras pareçam profundas, algo que se observa explicitamente nos discursos e textos de Divaldo Franco.

No item 10, sobra para a sua "orientadora", o espírito Joana de Angelis (codinome do Máscara-de-Ferro, antigo obsessor de Divaldo, ou alguma colaboradora desse espírito traiçoeiro?), pois Allan Kardec define, de forma firme e explícita, o autoritarismo desse espírito como aspecto de inferioridade.

Kardec é bem claro: espíritos maus são autoritários, dão ordens e querem ser obedecidos. Joana de Angelis (que NÃO teria sido Joana Angélica, vale lembrar) já demonstrou que não tolerava ver Divaldo Franco doente e cansado, explorando-o e ordenando-o a trabalhar mesmo nestas condições.

No item 11, outro dado contra Divaldo: a lisonja, elemento muito comum em discursos empolados que se servem de exaltações solenes, pois o enfeite das palavras requer também a cobertura dos elogios exaltados. E é aí que Divaldo falha, sobretudo quando, diante dos políticos, em vez de cobrar deles soluções para a sociedade, se limita a bajulá-los e, com base no que escreveu Kardec, exaltar a importância das autoridades de quem Divaldo quer colher apoio.

Ainda sobre este item, é bom deixar claro que, com as diferenças de contexto, Madre Teresa de Calcutá foi duramente criticada quando, à sua maneira, cortejava os políticos e os magnatas sob o intuito de obter apoio, de maneira bastante leviana.

Mesmo quando a roupagem da "caridade", em Divaldo Franco, se mostra mais verossímil - embora sabemos que ele nunca seria "maior filantropo do país" se a Mansão do Caminho só ajuda 0,08% da população de Salvador (índice mais inferiorizado se comparado à população de todo o Brasil) e não consegue resolver sequer o quadro de miséria e violência em Pau da Lima, onde se situa a instituição - , o cortejo às autoridades se revela igualmente leviano e meramente adulador.

Quanto à mensagem do espírito Erasto, difundida no item 230, do capítulo 20, Influência Moral dos Espíritos, deixa-se claro que as "coisas boas" de que espíritos ou mesmo "médiuns" divulgam exigem cautela, pois podem ser um gancho para a mistificação e a deturpação:

"Os médiuns levianos, pouco sérios, chamam, pois, os Espíritos da mesma natureza. É por isso que as suas comunicações se caracterizam pela banalidade,a frivolidade, as idéias truncadas e quase sempre muito heterodoxas, falando-se espiritualmente. Certamente eles podem dizer e dizem às vezes boas coisas, mas é precisamente nesse caso que é preciso submetê-las a um exame severo e escrupuloso. Porque, no meio das boas coisas, certos Espíritos hipócritas insinuam com habilidade e calculada perfídia fatos imaginados, asserções mentirosas, como fim de enganar os ouvintes de boa fé".

Quanto a dizer, Divaldo Franco já cometeu invencionices, como criando estórias fantasiosas de Adolfo Bezerra de Menezes, quando precisamos de dados biográficos objetivos e verdadeiros sobre sua vida. Em uma delas, dr. Bezerra, já desencarnado, teria se materializado e, não se sabe como, pego um caminhão para dirigir e atender aos apelos de Chico Xavier para levar mantimentos para uma casa de caridade.

Esse é um exemplo de como "coisas boas" podem trazer mistificação, forçar o endeusamento de mitos, usando o pretexto da "bondade". E inferimos que o "dizer" pode ser aplicado ao "fazer", e é aí que a "vitoriosa caridade" de Divaldo encontraria repúdio por parte de Erasto.

Afinal, por trás da "brilhante generosidade" da Mansão do Caminho, existe a mistificação religiosa. É claro que seu projeto educativo não irá forçar as pessoas a serem "espíritas", mas seu conteúdo ideológico irá sempre promover a mistificação através de seus "ensinamentos".

Se seu método educativo não "empurra" o "espiritismo", mesmo assim ele estabelece limites de crença religiosa, envolta nos ídolos "espíritas" e na submissão à Bíblia católica, pelo menos, sobretudo em relação ao Novo Testamento.

O projeto educativo da Mansão do Caminho não transforma pessoas. Apenas cria resignados profissionais que sabem ler e escrever mas que, diante das complicações da vida, vão orar em silêncio sem a garantia que isso irá mudar ou resolver alguma coisa. São pessoas mais conformadas que se apagarão na multidão como insignificantes "cordeirinhos" do "sistema".

Além do mais, o próprio fato de Divaldo Franco ser um dos piores mistificadores da Doutrina Espírita, um deturpador perigoso que espalhou a mentira igrejista para outros países - só o "movimento espírita" de Portugal mais parece uma sucursal da FEB, a antiga metrópole que manteve o Catolicismo medieval em pleno Século das Luzes (século XIX) recebeu de sua antiga colônia o "espiritismo" herdeiro de sua religião romana - , não poderia ser levado a sério como filantropo.

Afinal, ele, como Chico Xavier, ao serem exaltados como "bondosos", acabam sendo legitimados como mistificadores. O discurso de seus fanáticos seguidores de que "eles erraram, mas fazem o bem" acaba sendo uma complacência a seus erros, uma apologia velada a seus trabalhos traiçoeiros de mistificadores do Espiritismo.

Dessa forma, hoje Chico e Divaldo são os "bondosos" que "fizeram bem ao próximo". Amanhã, serão considerados "sábios" pela "missão do bem". Depois, seus livros voltam a ser lidos, suas frases voltam a ser apreciadas. Daí, a mistificação volta a estar em alta, deturpando violentamente a doutrina de Kardec. A "bondade" de Chico e Divaldo são ovos lindos, mas escondem serpentes maléficas que reabilitarão e deturpação espírita, ameaçando a lógica e o bom senso.