segunda-feira, 15 de fevereiro de 2016

"Espiritismo" tenta dissimular Teologia do Sofrimento


"Seja feliz", "Viva o dia a dia", "Aproveite a vida pelo que ela tem de melhor", "Não se desespere no sofrimento", "Confie que você será feliz um dia", "Sorria e agradeça por estar vivo". Tantos apelos feitos nos eventos e publicações "espíritas" e nos relatos "otimistas" de seus oradores e escritores, o "movimento espírita" dá a impressão de que promove o bem estar e a prosperidade.

Mas isso é uma grande ilusão. As pessoas que se envolvem nessa religião acabam sofrendo alguma desgraça. É a mãe que se cura do câncer mas vê sua melhor filha morrer tão cedo, é o sujeito que compra uma casa num lugar valorizado e ela é arrombada, é o rapaz que faz tratamento espiritual para obter emprego e é vítima de trolagens na Internet por pouca coisa, é o jovem que, feliz, vai a um grupo jovem num "centro espírita" e depois é assaltado.

Que "boas energias" são essas, que prometem benefícios e trazem azar? A culpa é sempre das próprias pessoas que sofrem? Ou é a religião que, doutrinariamente confusa e contraditória, acaba desenvolvendo energias negativas pelas más sintonias que acaba exercendo com sua desonestidade doutrinária?

A segunda hipótese é bastante desagradável e produz lágrimas em muita gente, mas é mais realista. Afinal, os sofredores não podem ser os culpados sempre, como a pessoa que tem que andar sobre uma corda e não sobre uma ponte e deixa os objetos que segura caírem, por causa do malabarismo arriscado que até o vento faz derrubar de repente.

E, não bastasse a desonestidade doutrinária do "espiritismo" brasileiro, que alega "fidelidade absoluta" a Allan Kardec e "respeito rigoroso" ao seu pensamento, mas comete aberrantes traições doutrinárias, a doutrina brasileira professa a Teologia do Sofrimento, através de Francisco Cândido Xavier.

TEOLOGIA DO SOFRIMENTO

Para muitos, é chocante identificar em Chico Xavier ideias próprias da Teologia do Sofrimento, mas o conteúdo diz muito. Ele sempre falava do silêncio como a "voz dos sábios" e pedia para os sofredores aguentarem calados suas desgraças, não mostrando seus sofrimentos para os outros e orando quietos num canto sem chamar a atenção de outrem.

A desculpa é de que o sofrimento é uma forma de "expiação" e o sofredor que aguentar sozinho e calado suas desgraças será premiado com as "bênçãos futuras", uma visão bem semelhante à ideia católica de sofrer para "receber as graças da vida eterna".

Isso é Teologia do Sofrimento. Algo bem anti-cristo, porque, ao se inspirar no martírio de Jesus Cristo (alcunha que Jesus de Nazaré recebeu num ritual promovido pelo seu primo João Batista) como um acontecimento "positivo", os religiosos, embora se definam como "cristãos", acabam ficando do lado dos imperadores religiosos que condenaram o ativista judeu à crucificação.

É bem semelhante ao que Madre Teresa de Calcutá declarava. Ela dizia que o sofrimento era um "presente de Deus" e um "caminho para se chegar ao Céu". Chico Xavier comparava o sofrimento a uma "prova escolar" e o sofredor que aguentasse calado as piores desgraças era premiado com "bênçãos futuras" dentro da perspectiva de procrastinação religiosa.

Madre Teresa, cujas irregularidades foram investigadas pelo falecido jornalista Christopher Hitchens, havia deixado os doentes e infelizes à mercê das próprias desgraças porque se baseava na Teologia do Sofrimento, o "holocausto do bem", como forma de "purificar as almas faltosas". Ela foi definida como "anjo do inferno" por isso.

Já num Brasil estranho que virou "palco" para um falso milagre de Madre Teresa, já que um outro milagre, envolvendo uma indiana, revelou-se uma farsa, Chico Xavier é visto como "ativista" e "progressista" quando dizia para os desgraçados sofrerem em silêncio, fingirem que estão felizes e acreditarem que um dia serão "salvos", nem que seja postumamente.

Dá para perceber que a invenção de Nosso Lar, uma espécie de grande complexo habitacional e hospitalar que lembra os condomínios de hoje, cercados de comércio, ambientes de entretenimento e hospital, foi uma forma de fantasiar o mundo espiritual - que Kardec alertou ser um enigma muito difícil de se desvendar - para que as pessoas sofram felizes acreditando num "paraíso" após a morte.

É uma visão cruel, supor uma "cidade espiritual" diante da incerteza do além-túmulo. É certo que há vida no além-túmulo, mas somos incapazes de supor o que é a vida espiritual, e é muito perigoso acreditar num lugar esplendoroso como Nosso Lar se, no dia em que cada pessoa morrer, é pouco provável que ela encontre a beleza narrada sobre a suposta colônia.

A Teologia do Sofrimento "espírita", não bastasse essa fantasia que não passa de conversa para boi e pessoa sofredora dormirem, ainda faz julgamento de valor que soa muito hipócrita para uma doutrina que, ignorando as recomendações de Kardec, não estuda devidamente a natureza das reencarnações e da vida espiritual: atribuir uma "reencarnação romana" para justificar o sofrimento de alguém.

A ideia é "explicar" as desgraças pesadas e quase sempre irresolúveis vividas por alguém com uma suposta encarnação passada, geralmente na Idade Média ou no auge do Império Romano, em que a vítima dos infortúnios de hoje teria sido um sanguinário dessas épocas, como se a raiz do sofrimento fosse uma atrocidade que o atual sofredor havia cometido na referida encarnação.

"NÃO MERECEMOS SOFRER, MAS SOFREMOS O QUE MERECEMOS"

Pensando assim, refletimos o que é o "espiritismo", que diz que as pessoas "não merecem sofrer", mas de vez em quando julgam que as mesmas pessoas "sofrem o que merecem", pode nos mostrar a respeito das reputações de quem diz que "ninguém nasceu para sofrer", se comparadas com a "iluminada" reputação de Chico Xavier.

Os palestrantes, escritores e oradores "espíritas" costumam dizer que as pessoas "não vieram para a vida para aguentar desgraças", mas "para serem felizes e viver o que a vida lhes traz de melhor". Pregam a todo momento esse "otimismo" e não hesitam em ilustrar textos com paisagens de céu brilhando e silhuetas de pessoas felizes de braços abertos louvando o céu e o sol.

Chico Xavier já acreditava que as pessoas, embora "mereçam ser felizes", deveriam aguentar o sofrimento em silêncio, porque "tudo passa" e depois virão as "graças da vida futura", ou seja, benefícios geralmente tardios ou póstumos.

Ai fazemos o jogo das reputações, do status quo, já que, infelizmente, no Brasil prevalece quem tem maior status, ou seja, mais poder de influência garantido pelo dinheiro, pelo poder político, pela visibilidade, pela formação acadêmica, pelo cargo de liderança, pelo carisma simbólico trazido sobretudo por algum lobby social, mercadológico ou midiático.

Com isso, perguntamos quem tem maior status. Palestrantes quase anônimos que dizem que "não viemos para sofrer" ou Chico Xavier que disse para "aguentarmos as desgraças em silêncio" e conformarmos com o sofrimento em prol de "bênçãos futuras", mesmo que póstumas?

Chico Xavier costuma ter maior status. Afinal, ele é considerado um "mestre" entre os "espíritas", através de um mito que foi construído engenhosamente por Antônio Wantuil de Freitas, presidente da Federação "Espírita" Brasileira, que primeiro desenhou o "carisma" do "médium" mineiro, mas depois, com a morte do dirigente, seus sucessores apelaram para a Rede Globo (e esta, indiretamente, para Malcolm Muggeridge), para reforçar e renovar o mito do caipira de Pedro Leopoldo.

Portanto, embora o "espiritismo" tente dissimular a Teologia do Sofrimento - é ilustrativo, por exemplo, que o Correio Espírita, periódico fluminense, mostre tantos textos sobre "busca da felicidade" e "esperança na vida", a "palavra final" sempre fica com quem tem maior status social, e, com isso, "ficamos" com Chico Xavier defendendo o sofrimento como se fosse "dádiva divina".

Isso é mais uma das tantas e tantas contradições que se observa no "movimento espírita", uma doutrina que diz uma coisa e faz outra e, às vezes, diz uma coisa e depois diz outra completamente diferente, jurando "fidelidade absoluta" e "respeito rigoroso" a Allan Kardec mas o traindo abertamente com o mais explícito igrejismo. Realmente isso não pode dar em boas energias.

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