quinta-feira, 7 de janeiro de 2016

O quadro de Antônio Parreiras e as energias "espíritas"


Que a má sorte e as más energias podem existir, isso é verdade. Mas, na complexidade da vida, não é fácil discernir o que realmente trás mau agouro ou não, e é preciso recorrermos à lógica para definir o que traz ou não más energias.

É como nos casos de aparições de espíritos. Nem todas as impressões de aparição de espíritos do além são verdadeiras, e há casos que realmente são de ilusão de ótica, quando, por exemplo, combinações de objetos ou formação de galhos de árvores sugerem supostos espectros, que no entanto não podem ser considerados aparições de espíritos.

A lógica e o bom senso é que podem averiguar se tais fenômenos ocorrem ou não. No que se diz às más energias do "espiritismo" brasileiro, em que pessoas chegam a fazer tratamentos espirituais para resolver problemas e, quando saem, sofrem infortúnios piores do que aqueles que lutavam para resolver (e geralmente não resolvem), só acumulando mais encrencas, motivos não faltam para tal constatação.

Afinal, o "espiritismo" é marcado pela desonestidade doutrinária e pela mediunidade fingida. Durante anos construíram sua base ideológica no igrejismo obscurantista de Jean-Baptiste Roustaing e só nos últimos anos maquiam essa postura com uma falsa fidelidade a Allan Kardec.

Já na mediunidade, o que se nota são práticas duvidosas e, não obstante fingidas, culpa da falta de concentração mental de supostos médiuns - vício que existiu até nos "renomados" Francisco Cândido Xavier e Divaldo Franco - , que os fazem geralmente escrever mensagens da própria mente e forjar apelos "fraternos" para disfarçar a fraude. Sem falar das supostas psicopictografias e psicofonias, que não passam de pinturas falsificadas e falsetes acobertados por "intenções de caridade".

Há também o caso de "cirurgias espirituais" que podem até serem mediúnicas, mas são má mediunidade, atraindo espíritos traiçoeiros de médicos geralmente colaboradores do nazismo, e feitas à revelia da Ciência, o que mostra o quanto a "doutrina da bondade" é tão "bondosa" e "generosa" com o mundo científico.

Enquanto os verdadeiros cientistas esperam por verbas e reconhecimento social para sobreviverem e são obrigados a sair do Brasil para poderem trabalhar, a grande mídia e a opinião pública comemoram quando um "médium" realiza uma "cirurgia espiritual" com uma tesoura suja e enferrujada perfurando um abdome de alguém e retirando um carocinho, sob critérios científicos e hospitalares duvidosos.

E é isso que influi nas más energias que reflete o apego dos brasileiros num engodo de valores sociais, culturais e morais que estão entre o moralista e o libertino, entre o acadêmico-burocrático e o sobrenatural, entre o endeusamento material de diplomas, da fama, do poder e do dinheiro e a idolatria a estereótipos de bondade e humildade. Isso reflete na confusão de energias em que o Brasil sucumbe viciado.

E aí vem o quadro de Antônio Parreiras, Alegoria da Morte de Estácio de Sá, referente ao assassinato de um dos ilustres cariocas no Brasil colonial, primeiro governador do Estado do Rio de Janeiro, que Luiz Fernando Pezão, atual titular do cargo, mandou retirar de seu gabinete. Ele alegava que o quadro "trouxe más energias" que provocaram a grave crise financeira que atinge o Estado.

Segundo o jornal Extra, que esnobou a declaração de Pezão, um histórico de corrupção e favorecimentos pessoais foi o causador da grave crise que atingiu o Rio de Janeiro, desde a época do governador Chagas Freitas, nos anos 1970.

Portanto, durante quatro décadas o Rio de Janeiro mergulhou em retrocessos que não resolveram o impacto da perda do posto de capital do Brasil e também não colaboraram para minimizar a sobrecarga que a outrora Cidade Maravilhosa assumiu com a desastrosa fusão - denominada por muitos como "con-fusão" - dos antigos Estados do Rio de Janeiro e da Guanabara.

A decadência do Rio de Janeiro - cujas denúncias, em primeira instância, irritaram a classe média, tida como "formadora de opinião" - , a poucos meses das Olimpíadas de 2016 (que podem agravar a crise fluminense como a Copa de 2014 causou para o Brasil em geral), é uma realidade que pode apavorar muitos, mas é confirmada com dados dos mais diversos tipos, em toda a tragicomédia que atinge a cidade do Rio de Janeiro e o resto do Estado.

A mistura de religião e política, e religião e vida - em que até times de futebol, BRTs, funqueiros e FMs comerciais ditas "roqueiras" são alvo de endeusamento - , misturado com a promiscuidade entre políticos, neopentecostais e o crime organizado (jogo-do-bicho, tráfico e milícias), confirmada pelos noticiários de diversos níveis ideológicos, criaram esse cenário de tantos desastres.

O dado grave é que o Rio de Janeiro continua sendo, em muitos aspectos, tido como "referência" para o país, e ver que medidas decadentes como a pintura padronizada ou "pintura única" nos ônibus (medida que decai até em Curitiba e São Paulo, apesar da resistência das autoridades) foram adotadas em Recife e Florianópolis, sucateando seus respectivos sistemas de ônibus, é um horror.

Ou então os "proibidões" que se multiplicaram no "pagodão" pós-Psirico na Bahia, na carona dos efeitos do "funk carioca"? E o endeusamento de neo-nazistas pernambucanos ao receberem Jair Bolsonaro na sua visita a Recife? E a multiplicação em território nacional da gíria paulista "balada" criada por Luciano Huck junto à Rede Globo e a ultrarreacionária Jovem Pan FM?

As más energias existem, mas o contexto é que pode definir de onde elas vêm. No "espiritismo", observa-se que as suas contradições internas, seus escândalos e falsidades, que não podem ser vistas como "casos isolados" porque são muito frequentes, muito graves e muito intensos, geram as más energias. Elas são produto dos erros gravíssimos que o "movimento espírita" tanto cometeu e comete até hoje.

Já as más energias sofridas pelos governantes do Rio de Janeiro são fruto dos erros de uma geração política que simplesmente fez um dos principais Estados do Sudeste brasileiro sofrer uma decadência vertiginosa, espalhando como um vírus a decadência para o resto do país, pela mania de ver a cidade do Rio de Janeiro ainda como uma "cidade-modelo" para o Brasil.

Mas uma coisa existe de comum, indiferente a sobrenaturalidades. São erros humanos que permitem que, construindo privilégios aqui e ali de maneira desonesta, atraem energias pesadas, negativas, e daí Pezão e os "espíritas" se unem na produção de maus agouros. Enquanto isso, o espírito de Antônio Parreiras está bem longe de nós, tranquilo em outros mundos...

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