sexta-feira, 29 de janeiro de 2016
Empregadores têm medo de contratar pessoas inteligentes
O mercado de trabalho é cruel. Se existe desemprego em grande quantidade, não é porque há escassez de ofertas. É possível, mesmo em tempos de crises, melhorar as ofertas de empregos e flexibilizar os critérios, mas a desigualdade econômica com a má distribuição de renda e a corrupção dos critérios de admissão para emprego impedem ou dificultam tais soluções.
Numa época em que o mercado de trabalho, a pretexto de permitir um trabalho "mais humano", passou a contratar piadistas para os postos de trabalho, temos que repensar a situação. É o contexto de um país marcado pela mediocridade e viciado em paradigmas que, muitas vezes, vêm desde a ditadura militar, em que as pessoas pensam que retomar o "milagre brasileiro" é a solução para resolver a crise.
O próprio fato de buscarmos velhas fórmulas para novos problemas é um vício, num país que tem medo de verem se romper paradigmas que faziam mais sentido na Era Geisel. Até agora não conseguimos nos desvencilhar das eras Médici e Geisel. Ainda pensamos o Brasil como se estivéssemos em 1970 ou 1974. Até muitos dos heróis e anti-heróis são dessa época ou efeito daqueles tempos.
O mercado de trabalho passou por uma sucessão de contratações marcadas pela incompetência, favorecidos pelo jogo de interesses e pela troca de favores. Talento é o que pouco importa. A rotina de trabalho virou algo "qualquer nota", qualquer idiota aprende o básico de um procedimento de trabalho e fim de papo. São os chamados "macetes".
Infelizmente, já estamos nas terceiras ou quartas gerações de empregados incompetentes, que, como numa doença contagiosa, espalharam o mal para os ambientes de trabalho. Daí que o padrão de trabalho acabou sendo o da mediocridade dissimulada, um "talento" que supostamente é "facilmente adquirido", porque saber fazer, de verdade, não importa, bastando aprender uns "macetes" e estabelecer relações de alianças e conchavos aqui e ali.
E aí, modismos de "profissionais ideais" são criados para evitar que pessoas inteligentes entrem no mercado de trabalho, pelo menos com a frequência e a normalidade que havia antes. Durante muito tempo houve o mito do "experiente de pouca idade", um profissional com idade de estagiário e carreira de veterano, uma insólita ruptura das relações temporais entre atividade e formação biológica.
Como esse mito pegou mal e os noticiários passaram a denunciar os preconceitos do mercado de trabalho às pessoas com mais idade, o mito, sem ser totalmente extinto, reduziu sua frequência de exigência. Mas agora outro mito ridículo começa a surgir, que é a do "profissional piadista".
É aquele profissional que geralmente apenas cumpre corretamente suas funções. Profissionalmente, é um profissional que não fede nem cheira. Mas, no cotidiano do trabalho, é aquele indivíduo que tem sempre uma piada ou brincadeira pronta. "E aí, minha tia? Seu filho está crescido, daqui a pouco vou olhar pra cima para falar com ele", diz o funcionário-comediante para a freguesa. "Você passou por mim e não sorriu, minha gata", tenta dizer o funcionário-comediante para a colega que nem agiu com indiferença, mas estava quieta na sua.
Só quando o patrão canastrão é mais ambicioso e tendencioso é que os critérios de contratar pessoas inteligentes se tornam mais "justos". Na Rádio Metrópole FM, de Salvador, o corrupto ex-prefeito de Salvador, Mário Kertèsz, convertido a um dublê de radiojornalista sem ter formação para tal, faz questão de ter jornalistas autênticos, com diploma de preferência na UFBA, para trabalharem para ele.
É uma manobra que está longe de ser generosa, num mercado jornalístico em que veículos como a Folha e a Abril claramente não aceitam jornalistas autênticos. Afinal, a Rádio Metrópole é tão tendenciosa quanto a revista Veja, e os surtos reacionários do pseudo-progressista Kertèsz, como um Dr. Jekyll do rádio baiano, são de fazer Reinaldo Azevedo cair da cadeira de tanto pasmo.
A diferença é que, como Mário Kertèsz é um incompetente radiojornalista (escreve mal e, não raro, tenta opinar sobre o que não entende), ele precisa se apropriar da inteligência de profissionais competentes e usá-la em causa própria, vinculando o talento de seus subordinados à vaidade pessoal do patrão. Isso é o que está em jogo na emissora, que tem o "espírita" José Medrado como um de seus contratados.
Isso é ruim, porque os profissionais competentes, se encontram alguma oportunidade no mercado de trabalho, é sempre em lugares errados. E como é o Brasil da Teologia do Sofrimento de católicos e "espíritas", os mais talentosos têm que trabalhar em empresas medíocres, enquanto os medíocres exercem funções e cargos que deveriam ser mais exigentes em talento. O "lindo sofrimento" consiste nos melhores talentos se servirem a patrões estúpidos.
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