sexta-feira, 4 de dezembro de 2015

Por que o machismo lúdico ainda persiste?

A SUBCELEBRIDADE FERNANDA LACERDA, A "MENDIGATA", UM DOS ÍCONES DA HIPERSEXUALIZAÇÃO MIDIÁTICA.

O Brasil ainda é um país muito conservador, mesmo quando tenta se passar por moderno. Na pressa em se tornar potência mundial, coração do mundo, nação-guia ou modelo a ser seguido pelos estrangeiros, o país maquia valores retrógrados com o verniz da "novidade", seja apelando para a "cidadania" ou para a "provocatividade".

O machismo brasileiro ainda persiste de todas as formas, tanto pela violência conjugal pelo erotismo compulsivo das chamadas "boazudas", musas pretensamente populares. Elas se travestem de "feministas" pela aparente condição de "solteiras", com toda a exibição corporal que se torna compulsiva, obsessiva e fora do contexto.

Há uma grande diferença entre mulheres com talento e inteligência que se sensualizam de vez em quando e as "boazudas" que não medem situação para "mostrar demais". As primeiras são capazes de, conforme a situação, usarem roupas folgadas e não precisar bancar as "gostosas" o tempo todo. As últimas, porém, querem ser "gostosas" até sob um frio de 10°C.

Existe, portanto, uma grande diferença de quando mulheres como Giovanna Antonelli, Letícia Spiller e, no exterior, Jessica Alba, fazem fotos sensuais, e as "peladonas" da vida que só ficam mostrando seus corpos. As segundas veem a sensualidade como um fim em si mesmo, o que perde a graça.

Supostamente tidas como "feministas" até por mulheres intelectuais associadas ao trabalho ativista ou acadêmico, as "boazudas", no entanto, simbolizam uma das últimas resistências do machismo conservador no Brasil.

Embora elas não estejam associadas à influência amorosa ou conjugal de um homem - a maioria delas alega "não conseguir namorado" porque os homens "fogem de medo" - , elas são empresariadas por agentes que as controlam e as fazem verdadeiras mercadorias eróticas.

O que mulheres como Renata Frisson (Mulher Melão), Andressa Soares (Mulher Melancia), Yami Filé (ex-Mulher Filé), Solange Gomes, Fernanda Lacerda (Mendigata), Jéssica Lopes (Peladona de Congonhas) e tantas outras subcelebridades femininas fazem é machismo e não feminismo, e isso é fácil de se comprovar.

Afinal, elas exploram uma imagem coisificada da mulher. Trabalham o corpo como se fosse uma mercadoria erótica, exibida sem verificar contextos ou quando se deve ou não sensualizar. Se elas puderem, "sensualizam" até em dia de frio ou durante cerimônias de enterro. Uma delas chegou a usar uma blusa curta sob um frio de apenas dez graus.

Por que elas continuam na mídia? Por que elas se mantém em evidência e por que se investe numa quantidade tão grande de "musas" do gênero, que fazem a mesma apelação mostrando o mesmo tipo de corpo siliconado?

Simples. Embora as "feministas de ocasião" que surgem de redutos intelectuais e acadêmicos considerados "badalados", definam as "boazudas" como um tipo de "feminismo popular" voltado para a "provocatividade sexual", o "direito à sensualidade" e a "liberdade do corpo", o que se vê na prática é uma demonstração do mais puro anti-feminismo.

Na medida em que essas musas não dão uma "pausa" nas suas exibições corporais, "sensualizando" na praia, na boate e até em feiras de automóvel ou eventos literários, elas transformam seus corpos em mercadoria. Não há como definir como "liberdade do corpo" a transformação do corpo feminino numa mercadoria, com a mulher sendo escravizada pela sua própria imagem "sensual".

Essas "musas" exploram uma imagem ao mesmo tempo caricatural e coisificada da sensualidade feminina. São mulheres-objeto e, por isso, não há como atribuir qualquer pretexto feminista para elas, mesmo considerando o aparente celibato dessas moças.

O problema não é a exibição corporal em si, mas a forma exagerada, obsessiva e ininterrupta de exibição, um exibicionismo que pode ser definido através do fenômeno da hipersexualização da mulher, um processo que segue princípios machistas e não feministas, como queriam as intelectuais da "provocatividade cultural do mau gosto".

As mulheres de perfil mais substancial e dotadas de talento para alguma coisa sabem ser sensuais conforme a ocasião. No entanto, não ficam mostrando o corpo de forma aleatória, obsessiva e até viciada. Não ficam se "vendendo" no Instagram e se autoproclamando "desejáveis". Não ficam dizendo bobagens como "Sei que você me odeia, mas com esta foto eu mostro que você no fundo me deseja".

As mulheres de verdade, portanto, mostram que existe momento para exibir suas formas físicas e momento para não exibir. A verdadeira liberdade do corpo também requer protegê-lo da superexposição. Se a mulher ama seu corpo, que interesse tem ela de ostentá-lo a qualquer preço?

As "boazudas" não têm a "liberdade do corpo" que alegam. Pelo contrário, o que elas têm é a escravidão pelo corpo, é a subordinação de suas pessoas à exploração obsessiva de uma sensualidade forçada, exagerada, que nada seduz, a não ser para aqueles dotados de impulsos sexuais desenfreados e intensos.

Se as "boazudas" continuam em evidência, é porque o Brasil é machista. As "musas" que "mostram demais" são voltadas a um público machista, que fica feliz por haver mulheres que se sujeitam à condição de meros objetos sexuais. Nas mídias sociais, já houve rapazes que afirmaram que "mulher não precisa ser inteligente, basta ser gostosa". E eles ainda riem quando são chamados de machistas!

É até sintomático que uma considerável quantidade de internautas ainda esteja apegada a valores ultraconservadores, mesmo aqueles considerados "provocativos" e "polêmicos". Dissimulam seu reacionarismo, de assustar até os generais de pijama que outrora serviram à ditadura militar, com linguagens arrojadas, visual antenado, gírias e palavrões.

Daí que não cola o discurso ativista, intelectual e acadêmico que define essas "musas" como "feministas". Discursos "etnográficos", "sociológicos" para justificar o falso feminismo também são inúteis.

O machismo é claro, quando o corpo se torna uma mercadoria. Não fosse assim, essas "musas" também teriam seus momentos em que não exibiriam seus corpões e mostrariam alguma qualidade mais intelectual ou coisa parecida.

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