quinta-feira, 31 de dezembro de 2015

Críticos da deturpação "espírita" e suas hesitações

OS CRÍTICOS DA DETURPAÇÃO "ESPÍRITA" COSTUMAM DEIXAR PASSAR FRAUDES COMO A FALSA PSICOGRAFIA ATRIBUÍDA A HUMBERTO DE CAMPOS.

Há uma espécie de mainstream (corrente principal) dos críticos da deturpação feita pelo "movimento espírita" que adota posturas bastante hesitantes a muitos problemas, mais graves e complexos, e isso contribui para o "espiritismo" brasileiro continuar na mesma pasmaceira de sempre.

Esses questionadores são corretos e consistentes quando apontam erros doutrinários em livros de Francisco Cândido Xavier e Divaldo Franco, numa comparação com os livros de Allan Kardec, e estabelecem pontos interessantes de análise e discussão de tais erros.

No entanto, eles não vão muito adiante e alguns chegam a dizer que a suposta mediunidade de Chico Xavier e Divaldo Franco são "confiáveis", que eles podem ser aproveitados pela Doutrina Espírita como "ícones de bondade" e que "não há como" questionar trabalhos atribuídos a espíritos do além.

Dessa maneira, eles deixam passar aberrações como a suposta obra "espiritual" atribuída a Humberto de Campos, uma fraude que a Justiça não teve a coragem de reconhecer e que está explícita na disparidade que o "espírito Humberto de Campos" escreveu nos livros e o que o verdadeiro autor maranhense escreveu em vida.

O Humberto de Campos que conviveu com os brasileiros escrevia com prosa fluente, culta mas acessível, constantemente descontraída, prazerosa de ler, e abordava temas laicos. O suposto espírito tinha outro estilo: prosa "muito pesada", forçadamente culta e cheia de vícios de linguagem, narrativa melancólica, difícil de ser lida e só tratava de temas religiosos.

O Humberto de Campos de carne e osso chegava a tratar de temas religiosos com os olhos de autor laico. Além do mais, ele era ateu. O "espírito Humberto de Campos" fazia o inverso, tratava os temas laicos, seja a viagem a Marte, seja uma "entrevista" com o espírito de Marilyn Monroe, sob o prisma religioso, abertamente igrejista.

Não há como ver legitimidade nisso, mas mesmo os contestadores menos vigilantes da deturpação "espírita" deixam isso passar e acham que Humberto de Campos iria mesmo voltar para escrever as bobagens igrejistas que tendenciosamente levaram o seu nome.

A "BONDADE" COMO ESCUDO

Mas a maior hesitação em torno dos contestadores menos vigilantes da deturpação "espírita" é a complacência que eles têm em relação à imagem de "bondosos" de Chico Xavier, Divaldo Franco e similares, quase um medo de questionar essa "qualidade admirável" dos dois ídolos religiosos.

"Temos que admitir que Chico e Divaldo são ligados à missão de muito amor e caridade". "Acho válido o 'Você e a Paz' porque é sempre lindo falar de paz e isso Divaldo tem de brilhante". "Pelo menos Chico Xavier ajudou muita gente, consolou muitos infelizes". Estas frases, de profundo deslumbramento, ignoram várias armadilhas e equívocos.

Pois até no âmbito da "bondade" os dois deixam dúvidas sérias. Divaldo Franco é considerado "um dos maiores filantropos do mundo" por nada. Cálculos foram feitos levando em conta os anos de existência da Mansão do Caminho, a população atual de Salvador e a média anual de atendidos, levando em conta o número total de 160.000 beneficiados oficialmente divulgado, e concluímos que a obra de Divaldo não merece sequer metade dessa festa toda.

Os cálculos deram uma porcentagem de 0,08% em relação à população de Salvador. Um índice inexpressivo, que não vale a reputação que se atribui a Divaldo Franco. Além disso, em termos mundiais, é sinônimo de nada. Como é que se faz um "maior filantropo do mundo" com ZERO POR CENTO de ajuda, em termos mundiais?

E a "caridade" de Chico Xavier? Se ele parecia "consolar as famílias que perderam entes queridos", ele no entanto cometeu duas crueldades: uma é a superexposição das famílias que poderiam chorar seus mortos na privacidade, prolongando muitas vezes os efeitos da tragédia, impedindo que as pessoas pudessem tocar a vida sossegadas diante de tanta exploração sensacionalista.

A outra é que as mensagens "mediúnicas" se revelaram uma fraude. Pouco importa se acadêmicos tentem enrolar dizendo que as mensagens eram "verídicas" porque começavam com "Querida mamãe" ou citavam o nome da vovó, em monografias corretas na forma mas irregulares em conteúdo. A fraude se observa pelo próprio conteúdo das cartas.

Elas apresentam o mesmo apelo igrejista de Chico Xavier. O mesmo estilo de mensagem, o mesmo apelo de "fraternidade cristã". Além disso, denúncias de "leitura fria", em que colaboradores do "médium" colhiam informações sutis em entrevistas ou até em conversas informais (como no final de doutrinárias) que seriam trabalhadas em supostas mensagens espirituais, se revelam verídicas.

Isso é fácil porque se analisa o conteúdo, a linguagem, a forma como são escritas as palavras. Se vemos fraude na suposta psicografia atribuída a Humberto de Campos ou a Jair Presente, citando dois exemplos, um de livros e outro de cartas, não é porque ficamos com raiva porque Chico Xavier era "bonzinho", mas porque analisamos conteúdo de texto, linguagem e situações associadas.

Vemos o nosso saudoso Humberto de Campos de deliciosa prosa escrever de uma forma e o suposto espírito do escritor escrever de outra completamente diferente e não podemos aceitar isso, mesmo que as questões do contato dos espíritos sejam mal resolvidas e Chico Xavier é considerado "bondoso".

Quando temos condições de questionar, derrubamos uma questão, como alguém que pode enxergar uma barreira sob o nevoeiro e evitá-la ou derrubá-la com algum trator. Praticamente está fechado o caso de fraude sob o nome de Humberto de Campos, só falta a Justiça dos homens declarar oficialmente que os livros de Chico Xavier que levam o nome do saudoso autor são FALSOS.

Isso não é arrogância. O questionamento e a análise pode ir distante pelo caminho natural da lógica. Não é calúnia, presunção, inveja, perseguição ou coisa parecida. É apenas análise, estudo, averiguação. E isso muitos contestadores da deturpação "espírita" não conseguem ter, hesitantes que estão em relação a certos problemas.

Eles se esquecem que, mesmo quando ainda é um mistério o contato com espíritos, podemos ter condições de identificar fraudes e armadilhas. Não vamos ficar complacentes e fingir que Humberto "mudou seu estilo" quando foi para o além, e achar que o "bondoso" Chico Xavier nunca iria enganar com livros de "mensagens positivas" sob o nome do autor maranhense.

Devemos ser firmes neste caso e perceber que os estilos do Humberto real e do suposto espírito são diferentes. O fato de escrever mensagens "edificantes" não é garantia contra a fraude, e o próprio espírito de Erasto, nos tempos de Kardec, sempre nos alertava para tomar cuidado justamente com as mensagens que transmitissem "coisas boas", por elas esconderem mistificações e outros equívocos.

A análise comparativa dos livros que Humberto deixou em vida e as "obras espirituais" que usaram seu nome é suficiente para identificar as fraudes. Apenas uma leitura. É por isso que Chico Xavier preferiu não usar o nome de Machado de Assis mas o de Humberto, porque este, embora popular, era bem menos badalado e conhecido que o falecido autor carioca. Usar o nome de Machado, portanto, seria escancarar demais e expôr com mais facilidade às identificações de fraude.

Não analisar problemas delicados da deturpação "espírita" e nos acanharmos diante da imagem de "bondosos" de Chico Xavier, Divaldo Franco e similares só faz os contestadores da deturpação menos corajosos e menos vigilantes. E acabam permitindo que os deturpadores continuem fortes, porque eles são poupados de questões bem mais severas.

É por isso que o "movimento espírita" consegue reagir, prometendo "ler melhor Allan Kardec" e bajulando figuras autênticas como José Herculano Pires e Carlos Imbassahy, em muitos casos tratados sob a mesma medida de "admiração" que Emmanuel e André Luiz.

Os deturpadores tentam se fazer de "espíritas autênticos" porque, num dado caminho, os contestadores, hesitantes, se afrouxam. O problema da deturpação é bem mais complexo do que simplesmente "entender errado" a obra de Allan Kardec.

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