segunda-feira, 9 de novembro de 2015

Trolagem e as consequências de seus envolvidos


O vandalismo digital que toma conta das mídias sociais gera problemas até para seus envolvidos. E isso ocorre não apenas para seus líderes, mas também para seus cúmplices, e, para estes, as consequências se tornam ainda piores, pois a "diversão" acaba lhes custando caro demais.

Geralmente uma trolagem é realizada por dois ou três membros. Eles, em seus perfis sociais, estão ligados também a certas comunidades e, nestas, combinam com outros internautas sobre um "evento" a ser realizado num horário específico.

Nem todos que aderem a uma trolagem são necessariamente valentões de carteirinha. Pessoas que parecem direitas surpreendem quando também participam de rituais de humilhação, mais porque acham o valentão "divertido". Nem sentem ódio da vítima, mas não tem a menor ideia da "brincadeira" que participam contra esta.

A trolagem, no entanto, em um e outro momento gera consequências negativas. Seja pelas traições pessoais que seus próprios envolvidos fazem entre si, seja pelas gafes - como o fato de alguém que "zoa demais" da solteirice de outros rapazes ser revelado que "brochou" num ato sexual da noite anterior - , seja pelos efeitos criminais que possam representar em certos casos.

Os líderes, evidentemente, são os primeiros que levam a pior. Eles é que são os mentores da empreitada, e, se alguma encrenca ocorre, eles são os primeiros a serem considerados culpados. "Ah, foi ele que me convidou para a 'zoeira'", entrega um cúmplice, quando este é pressionado, de alguma forma, a apontar os mandantes do crime.

Mas isso não significa que os cúmplices deixem de levar a pior. Em muitos casos, eles ficam com a parte pior do "bolo" punitivo. Os líderes da trolagem simplesmente podem fugir da rede, desfazer suas contas e "desaparecer" ou, quando são pegos e punidos, saem de cena de outro modo.

Os cúmplices é que acabam sofrendo os efeitos mais prolongados. É aquele cara direito que, num dado momento, pegou carona na trolagem por "inocente diversão", que sofre a humilhação de ter participado de uma "zoada". Achava que o motivo da trolagem era tolo, ou que o que a vítima representava era "ridículo demais", mas com o tempo ele percebe a armadilha onde caiu.

Há também as moças, que viam no líder da trolagem um rapaz interessante, animado, descontraído, e que também engrossaram o coro das zoadas. Há também outros rapazes, de perfis mais variados, que participam da bagunça pela aparente descontração que isso significa. Acham que a vítima represente perfis e pontos de vista considerados "ridículos" e acham que isso motiva a zoada digital.

Mas aí, quando isso gera um escândalo e é denunciado à polícia, o grupo é enquadrado pelo crime de "formação de quadrilha", o que dá a essas pessoas um certo status de bandidos, por mais ameno que isso possa parecer. Os crimes de injúria preveem oito anos de detenção e cumprimento de penas alternativas, mas isso é suficiente para baixar a reputação dessa "galera irada".

Com o tempo, humilhar alguém deixa o cúmplice da trolagem marcado negativamente. Em certos casos, um amigo lhe adverte dizendo que o cara "foi longe demais" e "não esperava que fosse se envolver com ataques desse tipo".

O cúmplice tenta argumentar que "eu pensei que fosse brincadeira", "foi mal, eu entrei no clima do pessoal e peguei pesado demais", mas o problema é que ele acaba contraindo um peso na consciência e acaba mudando seus hábitos na Internet para atividades mais discretas e controladas possíveis.

Entre os líderes da trolagem, além da reputação mudar drasticamente de admiráveis para problemáticos, há também eventuais desentendimentos, traições e tudo o mais, e, quando são denunciados, ninguém quer ser punido e põe a culpa no outro.

Em todo caso, a "animada" campanha de trolagem, de grupos de internautas forjando bate-papos nos fóruns ou páginas de recados de suas vítimas que expressam de ironias a ameaças, sempre traz uma consequência drástica para seus autores, sejam eles mentores ou cúmplices. Com o agravante que suas marcas digitais acabam sendo de uma forma ou de outra divulgadas.

UM CASO FICTÍCIO

Uma jovem negra publicou, no Facebook, uma selfie em que ela aparece sorridente em seu quarto, com seu cabelo cacheado e preso por um adereço. Ela, positivamente, escreve na legenda: "Esta foto é para dar um bom dia a vocês. Um brinde à alegria de viver".

No entanto, a saudável mensagem gera comentários ofensivos, só porque a moça é uma negra, Os comentários surgem em série, de uma só vez, e apresentam as conhecidas ofensas e ironias que os troleiros escrevem na ocasião.

O incidente gerou denúncia policial, os internautas identificados, e as punições por injúria racial deram aos mentores oito anos de detenção e aos cúmplices a pena de cumprir trabalhos comunitários. A moça Y, de 25 anos, esteve nesse caso. Ela alegou que participou dos ataques "de carona", por achar o líder da trolagem uma "pessoa muito divertida".

Suponhamos que a moça, depois do incidente, ligou seu smartphone para entrar no WhatsApp e soube que suas antigas amigas de escola estavam combinando um encontro com todos os colegas de uma turma do curso de segundo grau (atual ensino médio). Y deixou sua mensagem com as seguintes palavras: "Estou dentro".

No entanto, diante da repercussão da trolagem, as amigas escrevem comentários com as seguintes palavras:

"Me desculpe, esse é um evento do século XXI. Não está aberto a uma sinhazinha da Casa Grande do século XIX".

"Esse não é um evento de zoada. É um encontro de amigos, não uma campanha de ofensas a alguém".

"Melhor você se inscrever para um torneio de UFC. Agredir os outros é sua especialidade".

"Depois que você fez na Internet, você não é digna de se reunir com a gente. Nem vamos dizer o local do nosso encontro para você não ir, OK?"

"Até o último baile do Segundo Império é futurista demais para alguém que parece viver no tempo dos senhores de engenho. Nos esqueça e fique na sua!"

Esse caso é fictício, mas poderia muito bem acontecer contra quem aderiu a uma trolagem por "pura diversão".

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