sexta-feira, 27 de novembro de 2015

Rede de TV confirma decadência do Rio de Janeiro


Enquanto a "boa sociedade" do Grande Rio boicota os próprios amigos que fizerem alguma crítica pesada contra o Estado do Rio de Janeiro e sua outrora imponente capital, fatos mostram que a decadência que transforma o Estado num dos mais atrasados e retrógrados do país e não dá mais para esconder.

Os problemas que acontecem no Estado do Rio de Janeiro, sobretudo na sua homônima capital, são muito maiores do que o que normalmente se aceitaria numa cidade considerada moderna e cosmopolita. São transtornos, prejuízos e retrocessos típicos de cidade provinciana comandada pelo coronelismo.

E o coronelismo existe, e ele se observa no PMDB carioca e seu autoritarismo crônico. É de onde surgiu o presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha, e suas propostas retrógradas que foram conhecidas como "pautas-bombas". Atualmente ele sofre uma decadência política depois que investigações indicaram uso do dinheiro público e de propinas de empresas para suas contas pessoais depositadas na Suíça.

Mas mesmo que Eduardo Cunha esteja "sozinho" na sua decadência no Congresso Nacional, seus pares cariocas não agem de forma diferente: Eduardo Paes, Luiz Fernando Pezão, Sérgio Cabral Filho, Carlos Roberto Osório, a família Picciani (Jorge e seus filhos Leonardo e Rafael), Pedro Paulo Carvalho, todos têm um pouco da prepotência e do apetite de rasgar leis do deputado Cunha.

Eles integram um esquema de corrupção cujas ramificações envolveram tanto o esquema de propinas da Petrobras, investigado pela Operação Lava-Jato, até a farra financeira que envolve uma rede diversificada de poderosos, para construir uma "cidade de mentira" feita para turista ver, uma espécie de paródia misturada de Barcelona, Miami e Los Angeles.

A "rede de relações" envolve desde o presidente do Comitê Olímpico Brasileiro, Carlos Arthur Nuzman, dirigentes esportivos cariocas, empresários de ônibus, donos de empreiteiras e barões da mídia locais, até empresários de grandes eventos musicais (caríssimos e pomposos), como Roberto Medina, cujo tráfico de influência envolve até mesmo uma "modesta" emissora de rádio, a Rádio Cidade, cujo dono, que não mostra as caras, seria também aliado do grupo de Eduardo Paes.

Até a decadência do sistema de ônibus carioca, com um modelo retrógrado adotado em 2010 - e equivocadamente copiado em cidades como Florianópolis e Recife, que já pagam o "preço caro" da iniciativa - , de redução de trajetos de linhas de ônibus, pintura padronizada nas empresas e dupla função de motorista-cobrador, se insere no contexto de favorecer o enriquecimento ilícito de empresários do setor.

Todos eles estão envolvidos com um processo de "transformação" da cidade do Rio de Janeiro feita para turista ver. É uma elite que está no poder há mais de cinco anos, e que tenta interferir até na cultura para "amenizar" focos de rebelião e revolta sociais.

Dessa maneira, tanto o "funk carioca" é feito para domesticar o povo das favelas, deixando-o inofensivo o suficiente para não interferir nos arbítrios dos governantes - que já expulsaram moradores de casas populares para a construção de complexos olímpicos e pistas de BRT - , quando a "programação rock" da Rádio Cidade é feita para domesticar os jovens e evitar surtos ativistas como os que se verificou em junho de 2013.

Dessa maneira, empresários do entretenimento "das periferias" e executivos de uma rádio FM estariam comprometidos a "suavizar" a rebeldia de jovens pobres e abastados, criando uma "paz social" que permita o enriquecimento ilícito e em doses estratosféricas de políticos locais e seu empresariado associado, inclusive empreiteiros.

Trabalha-se uma "cidade de mentira" na qual o único ponto positivo foi a demolição do Viaduto da Perimetral. Mas ela era uma reivindicação antiga e era considerada um erro desde sua construção, já que deixava a Zona Portuária às escuras e fazia a Av. Rodrigues Alves se tornar perigosa até durante o dia, com pessoas sendo obrigadas a andar em grupos para, pelo menos, diminuir o risco de serem assaltadas.

Os retrocessos refletem também nas atitudes sociais de elites juvenis, associadas a eventos grosseiros que vão da trolagem na Internet ao linchamento de trabalhadores, passando pelo confronto de torcidas organizadas num Estado em que o fanatismo pelo futebol carioca e pelos quatro times (Flamengo, Fluminense, Vasco e Botafogo) é visto como ferrenha obrigação social.

As trolagens que vitimam negros, homossexuais, feministas e pessoas que pensam diferente do que estabelece o mercado, a mídia e a política dominantes, com humilhações nas mídias sociais e, em certos casos, blogues ofensivos ou paródicos, têm a participação de boa parte de internautas que vivem no Rio de Janeiro.

Quanto à violência, o aspecto estarrecedor ocorreu dias atrás. Um vendedor de gelo discutiu com duas mulheres e um homem por causa de um incidente. As mulheres e o homem participaram de um luau no Arpoador, praia que fica entre Copacabana e Ipanema. Depois da discussão, as mulheres e o homem se retiraram e voltaram com um grupo de pessoas que perseguiu o vendedor e o agrediu até a morte.

Sim, um linchamento digno de cidades atrasadíssimas do interior do país, dessas rurais e com alto índice de analfabetismo, ocorreu na ensolarada Zona Sul carioca, cenário paradisíaco e único "consolo" para cariocas que não aceitam ser desiludidos viverem seus sonhos dourados de uma Cidade Maravilhosa que não existe mais e que eles insistem em acreditar que ainda existe.

E o irônico disso tudo é que a violência foi cometida por pessoas abastadas, contra um trabalhador acusado de assédio e discussão, que pode até ter se alterado com a situação, mas não merecia essa violência covarde. Enquanto isso, inocentes e simpáticos rapazes negros, trabalhadores e estudantes, que moram no Jacarezinho, eram detidos por policiais na Zona Sul só porque estavam sem documentos de identidade.

JORNALISTAS SÉRIOS

O baronato midiático local reagiu a uma série de reportagens da afiliada carioca da Rede Record, intitulada "O Rio de Janeiro na Lama", que mostra os contrastes entre o Rio de Janeiro "pomposo" para as Olimpíadas de 2016 e a corrupção política que oprime a população e enriquece autoridades e empresários associados.

No último dia 25, o jornal O Dia, aliado do grupo político de Eduardo Paes - o periódico costuma noticiar com cautela as irregularidades políticas das autoridades cariocas - , publicou uma notícia contestando a validade das denúncias do Jornal da Record, produzido em São Paulo em rede nacional.

Intitulada "Record denuncia família Picciani, que acusa emissora de fazer campanha", a notícia, só no título, demonstra o seu tendenciosismo, com a posição sutilmente favorável à família Picciani, ou seja, o presidente da Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro (ALERJ), Jorge Picciani, o deputado federal Leonardo Picciani, protegido de Eduardo Cunha, e o atual secretário de Transportes da Prefeitura do Rio de Janeiro, Rafael Picciani.

As acusações também envolvem Carlos Roberto Osório, secretário estadual de Transportes do Estado, e que havia sido titular da mesma pasta municipal que é conhecida pela sigla pomposa de SMTR.

Osório é ligado tanto a Carlos Arthur Nuzman e à família Picciani. Consta-se que Carlos Roberto Osório também tem relações com Eduardo Cunha e com dirigentes de futebol, e, juntamente com Rafael Picciani e Alexandre Sansão (também ex-secretário municipal), é responsável pela decadência do sistema de ônibus carioca, em que até empresas de ônibus antes conceituadas, como Real e Matias, estão com frotas sucateadas.

O jornal O Dia se comportou como um jornaleco de latifúndio de cidade do interior ao corroborar as réplicas dos Picciani acusando a Rede Record de "fazer propaganda" do "bispo" Marcelo Crivella, um dos "braços-direitos" do também "bispo" Edir Macedo, da Igreja Universal do Reino de Deus, dono da rede de televisão.

Todavia, as reportagens são feitas por jornalistas sérios, de visão independente, que, embora trabalhem para não contrariar os interesses de Edir Macedo, têm autonomia e honestidade suficientes para cobrir fatos com o máximo de transparência possível.

O Jornal da Record faz parte de um setor de jornalismo que envolvem jornalistas como Paulo Henrique Amorim, Rodrigo Vianna, Luiz Carlos Azenha e outros, conhecidos por denúncias pertinentes sobre a corrupção política e a concentração do poder de oligarquias midiáticas ultraconservadoras (Globo, Folha, Abril e Estadão).

Luiz Carlos Azenha foi autor, juntamente com Amaury Ribeiro Jr. - que denunciou um esquema de corrupção do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, seus colegas do PSDB e seus respectivos familiares - , de um livro, O Lado Sujo do Futebol, sobre os bastidores da corrupção do futebol brasileiro, focalizando as atividades ilícitas de João Havelange e Ricardo Teixeira e do suíço aliado deles, Joseph Blatter.

O livro antecipou os escândalos de futebol que mesmo a imprensa reacionária foi obrigada a cobrir. E alertam para a indústria de "manipulação de resultados" que faz os quatro principais times do Rio de Janeiro terem quase sempre resultados favoráveis no Campeonato Brasileiro, apesar de seus desempenhos bastante desastrosos ou medíocres.

A "ascensão", fácil demais, do Vasco da Gama, é um exemplo disso. Com péssimo desempenho na Série B do Brasileirão de 2014, o time "mudou" da noite para o dia depois que o dirigente esportivo Eurico Miranda, com fama de corrupto, voltou à presidência do clube. Das derrotas irrecuperáveis, vieram vitórias fáceis demais ou, quando muito, empates tendenciosos, sem que houvesse uma mudança de qualidade no time, o que pode sugerir vitórias "compradas".

Mas tudo isso faz parte da "cidade de mentira" que a "boa sociedade" que se diz formadora de opinião no Rio de Janeiro, quer fazer prevalecer. A irritação que ela sente dos questionadores, e que alimenta a fúria zombeteira dos trolls, revela o quanto o "mar de lama" da corrupção carioca, revela que a corrupção política tem respaldo em setores reacionários da socidade do Rio de Janeiro.

Paliativos como a pequena Praia de Rocha Miranda, no Parque Madureira, não conseguem resolver o problema do acesso às praias. A extensão do "laguinho" cercado de areia é insuficiente para as populações das grandes regiões de Madureira e Méier que agora precisam pegar dois ônibus para ir para a Zona Sul, torrando dinheiro de passagens.

O lado sombrio de tudo isso se mostra evidente. Os trolls fazem toda a sua violência moral, com ataques em série junto a outros internautas, e até criam blogues ofensivos parodiando suas vítimas, felizes da vida sem saber que suas páginas caluniosas estão sendo lidas por investigadores da Polícia Federal.

Por outro lado, a indignação das classes populares, diferentes dos "bons cariocas" que publicam selfies felizes com os amigos tomando vinho em adegas de Petrópolis, ou indo à praia e aos pontos turísticos, de uma forma ou de outra se mostra evidente.

Moradores são expulsos de suas casas nos subúrbios para que elas sejam demolidas, dando lugar a complexos olímpicos e corredores de ônibus BRT. Recebem baixa indenização e são jogadas a áreas distantes, isso quando não são deixados à míngua, forçados a sair da cidade ou a morar na rua, com o risco de serem queimados por milicianos ou vândalos.

Para piorar, a política habitacional dos políticos cariocas é desastrosa. Enquanto as propagandas enganosas apontam um "grande projeto" de "novas moradias", não há um projeto de substituir favelas por bairros populares dignos, e as casas, construídas dentro do programa "Minha Casa, Minha Vida", só servem para "mostrar serviço" das empreiteiras (em provável "lavagem de dinheiro") e, não raro, as novas casas são invadidas por traficantes e milicianos, para agravar a situação.

MAIS DECADÊNCIA

A insegurança faz com que cresça a criminalidade nos subúrbios, com cidadãos inocentes e policiais perdendo a batalha contra os bandidos, sendo diariamente assassinados em tiroteios de uma forma ou de outra. Mesmo áreas "pacificadas" pelas UPPs mostram sua farsa: nelas é que mais estão ocorrendo tiroteios e ações criminosas, e os bandidos quase sempre levam a melhor.

Mas a decadência do Rio de Janeiro não para por aí. O setor de cultura está cada vez mais ingrato contra orquestras e projetos teatrais. Livrarias históricas ameaçam fechar as portas. A cultura se reduz a projetos em que a finalidade econômica, o lucro, estão acima de qualquer propósito social, e o rico patrimônio cultural dos cariocas se reduz aos poucos e míseros espaços que restam.

Enquanto isso, o "funk carioca" estabelece parcerias com empresas multinacionais, a grande mídia e até mesmo com dirigentes esportivos e de escolas de samba. São as escolas que se tornam vitrines das "funqueiras" que mostram seus corpos siliconados em desfiles.

E o "rock da Rádio Cidade", com sua programação ruim na qual quase nada do seu "Rock de Verdade" é tocado, senão os greatest hits - , só serve para alimentar a indústria dos grandes shows, que cobram ingressos muito caros e oferecem alimentação ruim a preços exorbitantes.

O Estado do Rio de Janeiro está tão falido que até na Economia o desastre acontece, com produtos faltando nas prateleiras, apesar do Estado ser centro de distribuição de muitos produtos. A sensação que se tem é que se está num mercado do interior do Acre, em que o que só tem são alguns dos produtos "básicos" dos grandes distribuidores nacionais ou multinacionais, geralmente caros.

Essa decadência se acumula em problemas, escãndalos, desastres. O potencial sucessor de Eduardo Paes para a Prefeitura do Rio, Pedro Paulo Carvalho, foi acusado de violentar a ex-mulher. Tantas coisas ruins se acumulam e a "boa sociedade" diz que são apenas "problemas corriqueiros" de uma "complexa metrópole", como se a cidade não perdesse o glamour com sua própria tragédia.

O Rio de Janeiro está falido, em todos os sentidos, e temos que colocar a falência debaixo do tapete. Para todo efeito, vamos para as mídias sociais forjarmos falsa felicidade, fazendo selfies em boates da Zona Sul, em excursões fora do Grande Rio, curtir vídeos engraçados e torcer pelos quatro times de futebol carioca. Caso contrário, seremos tratados como "chatos insuportáveis" por aqueles que não admitem a própria decadência do local onde vivem.

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