sábado, 17 de outubro de 2015

A obsessão do Brasil pelo consumismo


Dinheiro não traz felicidade? Muitos acreditam que traz, e, o que é mais incrível, acham que a "chuva de dinheiro" é o único fator decisivo para trazer o progresso do país. Os brasileiros passaram a acreditar que a evolução do país é uma mera questão de ter mais dinheiro no bolso.

Mesmo quando o Partido dos Trabalhadores, de perfil reformista, chegou ao poder, a Economia virou a medida de todas as coisas. Mesmo quando projetos sociais eram levados em conta, a ideia de "maiores investimentos" era muito mais enfatizada do que qualquer preocupação com a qualidade de vida e a justiça social, como se tais coisas fossem garantidas pelos cofres cheios.

A ideia de que a Economia tornou-se base para todas as coisas faz com que a mediocrização sócio-cultural não seja vista como um problema real, mas como um "acidente de percurso", como se os ídolos medíocres, os músicos canastrões, as subcelebridades e outros cujo grande sucesso e visibilidade são inversos ao talento e competência, melhorassem com mais dinheiro.

O que poucos imaginam é que o medíocre não tende a aprimorar seus conhecimentos ou desenvolver um aprendizado melhor só porque tem mais dinheiro no bolso. Impressionado com o sucesso sem esforço, ele usará o dinheiro para obter luxo, curtir a vida e nem mesmo as cobranças e demandas que surgem o fará mudar, a não ser de forma tendenciosa, forçada ou oportunista.

Os maiores canastrões até criam um faz-de-conta que se aprimoraram e ficaram mais talentosos. Demoram para forjar alguma coisa "diferente" do que faziam, e sua vaidade é muito maior do que o quase nenhum aprendizado que obtiveram. A genialidade é só pose, e o resultado desse aprimoramento é abaixo do sofrível.

O Brasil passa por retrocessos profundos e a sociedade parece indiferente, porque acha que é falta de investimentos financeiros. Não há uma consciência da crise de valores e, quando alguém começa a expressar essa consciência, ainda é discriminada pelas mídias sociais, perdendo amigos e ganhando a fama equivocada de "pessoa chata e irresponsável".

Mesmo as pessoas cultas se isolam na "maçonização" ou "maçonificação". Se isolam felizes porque têm seus poucos espaços de expressão, pouco importando se são só eles que se comunicam entre si e se a cultura que apreciam é, no "céu aberto" do establishment, seja empastelado e deturpado por estereótipos trabalhados pelo mercado.

Se poucas pessoas pensam sobre desenvolvimento social e aprimoramento cultural e se contentam em falar para si mesmas, de forma quase privativa e, quando divulgada ao grande público, é como se jogasse alguma coisa ao vento, a se perder por aí.

É preocupante. O Brasil acumula problemas, tragédias, dramas, e as pessoas vendo isso como se fossem casos isolados ou fruto da natural complexidade da vida urbana pós-moderna. E vão todos depois tomar cerveja e bebidas requintadas nos bares e boates, ou ver coisas engraçadas no WhatsApp, ou aderir à moda da "leitura" de livros para colorir.

Ninguém reage ao processo de mediocrização generalizada que atinge o país. Pelo contrário, cria-se uma cota de mediocrização até em quem, em tese, se opõe a ela. Daí a presença de pelo menos três livros para colorir no mercado dos mais vendidos, o mesmo que discrimina autores sérios que no entanto não participam do banquete da alta visibilidade.

O fato de que, na vida, não é necessário levar as coisas a sério o tempo todo, não é desculpa para que se permita toda essa farra de mediocrização, imbecilização e absurdos, até porque a ideia de "não se levar muito a sério" acaba sendo levada a sério demais, e isso é sintomático.

As pessoas que acusam os outros de "gente chata" só por questionar o "estabelecido" são as mesmas que se tornam chatas de tanto ver bichinhos fazendo gracinhas em vídeocassetadas. São pessoas que se revoltam demais do que os "chatos" tidos como "de mal com a vida". Ou seja, se incomodam com a sujeira dos outros quando ela é reflexo de suas próprias sujeiras.

E a "chuva de dinheiro", que cala as pessoas até diante dos mais graves problemas, irá resolver as coisas? O que se investiu no Rio de Janeiro para Copa do Mundo e Olimpíadas foi algo faraônico e nem por isso representou aumento de qualidade de vida, diversificação cultural e justiça social.

Pelo contrário, a "chuva de dinheiro" trouxe uma sociedade desigual, injusta, provinciana, isolada do mundo, retrógrada e com o pouco que se tinha de melhor "morrendo" aos poucos, enquanto a gente culta, mas resignada, fica feliz com o pouco de "mundo" que lhes resta, para falar entre si de sonhos e esperanças que não passam de um saudosismo mal disfarçado.

Enquanto isso, há mais consumismo e menos qualidade de vida. Essa é a verdadeira face da "chuva de dinheiro" para o qual todos apostam em tudo: felicidade, justiça social, progresso urbano, solidariedade e prosperidade. Como se o dinheiro fosse mais humano que a humanidade.

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