quinta-feira, 22 de outubro de 2015

A influência do ilusionismo circense no "espiritismo" brasileiro

PHINEAS TAYLOR BARNUM, OU P. T. BARNUM, ARTISTA E EMPRESÁRIO DE CIRCO DOS EUA.

"Nasce um otário por minuto" é a famosa frase atribuída, embora para muitas fontes por erro, ao empresário e artista circense que viveu no século XIX, o estadunidense Phineas Taylor Barnum, ou P. T. Barnum, lembrado por promover suas brincadeiras (hoaxes) em seus museus. Teria sido um dos artífices do ilusionismo circense e foi sócio do circo que deu origem ao famoso Ringling Bros. Circus.

O ilusionismo, que explorava de forma sensacionalista aspectos pitorescos ou mágicos, tornou-se um dos maiores atrativos do espetáculo circense. E, a reboque disso, havia também o hipnotismo e a "leitura fria", recurso da Psicologia em que um entrevistador faz uma conversa "intimista" para envolver uma outra pessoa e fazê-la dar informações mais detalhadas e diversas.

Infelizmente, o "espiritismo" que se faz no Brasil nada tem da doutrina de Allan Kardec, por mais que seus líderes bajulem o professor lionês, em suas declarações chorosas, sobretudo na Internet. O "espiritismo" que se faz no Brasil é uma combinação de três práticas:

1) Valores ideológicos e crenças originários do Catolicismo português, introduzido no Brasil desde o período colonial e que, como a matriz, mantinha abordagens medievais até mesmo no decorrer do Segundo Império brasileiro;

2) Práticas hereges clandestinas, como práticas de feitiçaria e curandeirismo ocultistas, que se tornaram base nas atividades supostamente mediúnicas, na homeopatia e nas terapias adotadas pelo "espiritismo" brasileiro;

3) Técnicas de ilusionismo tardiamente adotadas para reforçar os arremedos de mediunidade praticados pelos "espíritas" brasileiros, inspirados em práticas circenses e em atividades como a Hipnose, as "tábuas Ouija" e as "mesas girantes", num passo para trás em relação às pesquisas de mediunidade trazidas por Allan Kardec.

Quanto ao ilusionismo, é necessário enfatizarmos isso, sobretudo pelo fato do "espiritismo" brasileiro ter feito o caminho inverso de Allan Kardec. O pedagogo, a partir da observação de fenômenos como as "mesas girantes" e as "tábuas Ouija", estabeleceu questionamentos e pesquisas que resultaram nos estudos sobre mediunidade.

Já os "espíritas" brasileiros fizeram o oposto. A partir da teoria mediúnica de Allan Kardec, eles regrediram para práticas pouco confiáveis que se nivelam justamente às "mesas girantes" e às "tábuas Ouija". Até mesmo os contatos com parentes mortos, através de Francisco Cândido Xavier e similares, se nivelaram às perguntas que os curiosos faziam às "tábuas Ouija", pela ansiedade mórbida e pelo sensacionalismo paranormal.

OTÍLIA DIOGO DEU SUA PISTA

O ilusionismo circense se complementou ao ocultismo sombrio, das práticas hereges clandestinas, que estabeleciam previsões e curas através de métodos misteriosos e duvidosos, sempre se valendo do sobrenatural e do pitoresco para a sua realização.

Os "espíritas" não gostam de serem associados à ideia do sobrenatural, mas mesmo as mensagens mediúnicas são feitas da mesma forma que o esoterismo ocultista, às escondidas, para que assim o "preparo" de supostas mensagens "espirituais" - ainda que seja uma suposta Cássia Eller falando de dragões cuspindo fogo nos umbrais - se elabore às escondidas do público.

Afinal, mediunidade é algo que quase ninguém sabe no Brasil. 99% dos que se dizem médiuns são incompetentes e quase não exercem esse dom. Criam mensagens da própria imaginação e atribuem aos entes mortos, ante técnicas discursivas que enfatizam o apelo religioso até para minimizar as suspeitas de fraude.

Só a ideia de temperar mensagens "espirituais" sempre com apelo religioso, sobretudo citando supostas conversões de quem foi ateu na Terra e "conheceu Jesus" nas esferas astrais do além-túmulo, já é em si uma prática de ilusionismo, feita para comover as pessoas e desviá-las de qualquer desconfiança de fraude.

Algumas técnicas de ilusionismo são feitas sob o rótulo de "mediunidade" e o caso Otília Diogo, que usou técnicas circenses como foi constatado pelos jornalistas de O Cruzeiro (que viram fantasias e instrumentos relacionados aos "personagens" que ela "encarnava", como a "irmã Josefa"), só trouxe pistas que levam a essa constatação.

Se nas chamadas psicografias existe a "colcha de retalhos" de forjar textos anti-doutrinários - Allan Kardec se envergonharia se lesse os livros de Chico Xavier - misturando plágios daqui e dali com criações do próprio "médium" e algum colaborador associado, invertendo o sentido de ghost writer com uma pessoa viva escrevendo por si mesma e botando o crédito de autoria a um morto, em outras práticas recursos circenses e até teatrais são utilizados.

Um exemplo disso foram as supostas materializações, em que se apela até mesmo para a alegoria infantil de representar um fantasma com um lençol ou vestido brancos é utilizada, enquanto se opta em colar fotos mimeografadas ou fotocopiadas de personalidades mortas que são coladas na parte do rosto dos modelos que os representam. Literalmente, umas cabeças-de-papel.

No caso de Otília Diogo, ela dispensou a "cabeça-de-papel" e alegou que cobriu o rosto porque a face da freira estava "desfigurada" e mostrá-la causaria horror aos espectadores. No entanto, ela usou outros recursos ilusionistas, se inspirando em práticas circenses para forjar a travessia pelas grades de uma jaula, depois de acorrentada e se desvencilhar "milagrosamente" das correntes.

A fraude foi denunciada, não sem a reação rancorosa dos "espíritas", que chegaram a fazer ameaças contra os repórteres investigativos de O Cruzeiro, depois que eles localizaram uma mala com as fantasias, em 1970. Ela estava sendo investigada por suas fraudes e, desmascarada, sumiu imediatamente.

Curiosamente, Chico Xavier, que assinava embaixo, literalmente, as fraudes de materialização, acompanhou Otília Diogo nos preparativos das fraudes e apoiou todo o processo. Ele aparece sorridente nos bastidores do espetáculo, e é risível que os chiquistas aleguem que "cúmplice não é culpado" para inocentar Chico de participação dessa fraude.

Mas há também a prática de "leitura fria", um dos recursos utilizados pela hipnose, prática usada em alguns espetáculos circenses. A "leitura fria" é uma manobra psicológica bastante sutil, que faz o interrogador colher o máximo de informações do interrogado, através de uma conversa "intimista".

CHICO XAVIER TINHA COLABORADORES QUE FAZIAM "LEITURA FRIA"

Na "leitura fria", cria-se uma conversa em que o tom afetivo dos comentários e perguntas, por parte do entrevistador, é feito para dar uma impressão de confiabilidade e intimidade para o entrevistado. Este, envolvido por esse clima forjado, passa a dar informações bem mais sutis sobre o tema ou a pessoa abordado, trazendo detalhes e, estando emocionalmente mais à vontade, reações psicológicas que servem para o entrevistador inferir novas informações a partir da emoção do entrevistado.

Chico Xavier muitas vezes entrevistava as pessoas e fazia "leitura fria" para colher dados mais complexos. Mas contava também com uma equipe de colaboradores, que pesquisavam desde fontes bibliográficas até os chamados "auxílios fraternos", nos quais a "leitura fria" era bastante utilizada. É muito comum tais entrevistadores adotarem um tom fraternal e intimista com seus atendidos.

Se Chico Xavier "não sabia" de informações complexas sobre pessoas falecidas, elas foram colhidas por seus colaboradores, e se aproveitava até mesmo dos gestos de entrevistados quando falavam de certas lembranças do ente falecido, e informações extras eram obtidas até quando os parentes dos mortos se dirigiam à mesa depois do fim de uma doutrinária.

Várias pessoas, dentro dos "centros espíritas", se envolveram em colher informações sobre os mortos. A atitude era vista como "inocente" e verossímil, os "espíritas" não escondiam que faziam isso, até para "conhecer melhor" aquele que faleceu.

Em princípio, parece salutar o amplo interesse dos membros desses "centros" em obter informações dos entes falecidos, mas o que está por trás disso é a necessidade de camuflar o despreparo para a prática mediúnica - quase nenhum "médium", no Brasil, tem concentração suficiente para evocar espíritos falecidos com honestidade - com um amplo repertório de informações.

Isso porque, quanto mais informações forem colhidas, mais fácil será forjar, com um máximo de verossimilhança possível, uma suposta mensagem espiritual, partindo de supostos médiuns que, em verdade, não possuem a concentração necessária para trazer mensagens espirituais autênticas.

Chico Xavier lia muito, e, quando fez Parnaso de Além-Túmulo, preferiu realizar pastiches literários diversos. A polêmica provocada na época era se ele era capaz de parodiar de uma só vez diversos estilos literários. Só que poucos percebem que, por trás dessa fraude editorial, remendada em cinco edições durante cerca de duas décadas, havia a colaboração de editores da FEB e de consultores literários.

Xavier mandou uma carta para Antônio Wantuil que indica essa hipótese, e Suely Caldas Schubert, mesmo com as intenções de divulgar as cartas do "médium" (sem, no entanto, apresentar as missivas em resposta), sem querer acabou "dedurando" esse lado sombrio das "psicografias" do mineiro, ao divulgar uma carta datada de 03 de maio de 1947:

"Faltam-me competência e possibilidade para cooperar numa revisão meticulosa, motivo pelo qual o teu propósito de fazer esse trabalho com a colaboração do nosso estimado Dr. Porto Carreiro é uma iniciativa feliz. Na ocasião em que o serviço estiver pronto, se puderes me proporcionar a “vista ligeira” de um volume corrigido, ficarei muito contente (...)". (In: SCHUBERT, Suely Caldas. Testemunhos de Chico Xavier. Rio de Janeiro: Editora da FEB, 2010).

Chico Xavier cita o membro da equipe editorial da Federação "Espírita" Brasileira, Luiz Carlos Porto Carreiro Neto, e descreve o trabalho que ele fez para a quinta edição do livro Parnaso de Além-Túmulo, de evidente revisão dos textos. Em claras palavras, Chico dá a entender que o trabalho tinha a participação de editores da FEB, e podemos inferir que eles ainda contavam com a ajuda de consultores literários.

Isso comprovou as acusações de católicos como Alceu Amoroso Lima, que apontaram a "infundada" tese de que Parnaso de Além-Túmulo era feita por editores da FEB. E é uma carta de Chico Xavier, com palavras dele e divulgada desde 1986 por uma "médium" admiradora do mineiro, que comprova isso. Os "espíritas" deram um tiro no próprio pé.

Com isso, mostramos que, no Brasil, quase ninguém entende de mediunidade espírita. Os "espíritas" até leem O Livro dos Médiuns e fingem concordar e compreender com tudo que está escrito nesse volume. Mas, na hora de praticar, sempre "dá um branco" e aí o ilusionismo e outras práticas são feitas para obter informações para forjar uma falsa mediunidade em mensagens verossímeis.

Como se vê, a mediunidade feita no Brasil é quase sempre uma ilusão.

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