sábado, 19 de setembro de 2015
Fizeram de um prefeito da ditadura um "Deus" e ele trouxe o "inferno" sobre rodas
Isso é o que dá religiosizar as coisas e qualquer pessoa. A mania dos brasileiros, sobretudo cariocas, de divinizar as coisas e endeusar tudo que vem de cima, de cocô de andorinha a astro pop decadente que vem se apresentar no Brasil, cria sérios problemas, não bastasse o atraso grosseiro que isso representa para a humanidade.
No Rio de Janeiro, o processo de separatismo entre ricos e pobres começa a ser bolado, transformando a Cidade Maravilhosa num equivalente tardio da África do Sul, que nos seus tempos de racismo padronizou as áreas reservadas para cada etnia. Uma forma de deixar as áreas nobres da Cidade Maravilhosa "longe" do alcance das periferias.
O projeto é "maravilhoso" - para quem que deseja ir de carro para Copacabana e pouco se importa com o congestionamento "monstro", desde que, ao chegar à praia, se sinta como se estivesse no Còte d'Azur francês - e é planejado por tecnocratas como Alexandre Sansão e o paranaense Jaime Lerner.
Lerner é considerado um "Deus" do urbanismo, da mobilidade urbana e do transporte coletivo. No entanto, sua origem é bastante sombria. Graduou-se em Arquitetura da Universidade Federal do Paraná (UFPR) nos tempos do reitor Flávio Suplicy de Lacerda, o mesmo que, como ministro da Educação do general Castelo Branco quis destruir o movimento estudantil e privatizar as universidades públicas.
Lerner foi lançado como prefeito "biônico" de Curitiba, e bolou seu plano de urbanismo e transporte coletivo quando o presidente da República era o general Emílio Garrastazu Médici. Para quem não associa o governador ao contexto político, é bom deixar claro que "biônico" era o termo usado para governantes nomeados pelos generais da ditadura militar e o período do plano de Lerner era feito durante o "milagre brasileiro".
O "milagre brasileiro" era uma ilusão de ufanismo que tentava camuflar as arbitrariedades estimuladas pelo AI-5. criando um "país da fantasia" que escondia censuras, prisões, repressões e assassinatos políticos. Enquanto "baixava o cacete" no país, a propaganda vendia uma imagem fantasiosa do "Brasil em desenvolvimento pleno".
Jaime Lerner foi lançado pela ARENA, o partido que comandava a ditadura militar - o MDB, embrião do hoje surpreendentemente autoritário PMDB, fazia "oposição moderada" ao regime - , e seu projeto urbanístico o fez um "santo" entre seus defensores. Praticamente um "Deus".
No entanto, como político, o "São Jaime Lerner" canonizado em vida era um privatista fanático, mau pagador de salários, político indiferente aos problemas da Educação e Saúde e tão corrupto quanto seu colega de partido, o paulista Paulo Maluf e outro "santo" divinizado em vida, o baiano Mário Kertèsz (dono e locutor da Rádio Metrópole, que tem programa com o anti-médium José Medrado).
Mas mesmo seu "santificado" projeto para o urbanismo e o transporte coletivo não são tão maravilhosos assim como se imagina. Ele desenha uma cidade para as elites, e só realiza "melhorias sociais" dentro dos limites que possam garantir a "igual desigualdade" ou "desigual igualdade" entre populações pobres e ricas nas cidades, sem que a verdadeira qualidade de vida fosse considerada.
No transporte coletivo, Lerner apela mais para o sensacionalismo dos ônibus articulados (BRTs) e suas pistas exclusivas do que para qualquer tipo de funcionalidade. Adota um padrão opressivo de trabalho dos rodoviários e várias medidas favorecem a corrupção político-empresarial e o enriquecimento ilícito dos empresários de ônibus.
Medidas como a dupla função do motorista-cobrador, responsáveis pela sobrecarga profissional que influi na ocorrência de acidentes, a pintura padronizada nos ônibus - que impede que o passageiro reconheça o ônibus pela identificação visual das empresas, que é proibida - e a redução de frotas de ônibus em circulação, são alguns dos ingredientes do amargo cardápio de Jaime Lerner.
Ele parece ser um dos poucos que acham ótimo que as pessoas esperem mais de uma hora pela chegada de um ônibus. Isso porque ele é incapaz de associar a redução de ônibus nas ruas com o aumento do trânsito de automóveis, realidade que há muito acontece até em Curitiba.
Isso porque a presença de ônibus nas ruas é diminuída sob o pretexto de "aliviar o trânsito" (?!) e "permitir maior rapidez" (?!?!), como se só existisse pistas de BRT e não houvesse carros nas ruas. No entanto, se os ônibus são diminuídos para "evitar sobreposição de trajetos", não se diminuem os comerciais de automóveis que se sobrepõem entre si nos intervalos de TV.
É um comercial atrás do outro. Comercial da Fiat atrás do comercial da Chevrolet, intercalado por comerciais de bateria Moura, pneus Firestone, postos de gasolina etc. Tudo ligado aos automóveis, criando um hipnotismo dos espectadores que já são induzidos a usar carros por convenções sociais das mais tolas, como mulheres valorizarem os homens só pelos carrões que eles têm.
E aí o que se observa? O "inferno" do trânsito nas ruas, que será agravado a partir de outubro e depois dezembro, quando será extinta a ligação direta Zona Norte-Zona Sul nas linhas municipais cariocas, e em 2016, com a drástica redução das linhas intermunicipais para o Rio de Janeiro, é algo que jogos de GTA e The Sims, ilustrações do Photoshop e gráficos do PowerPoint não conseguem prever.
Isso porque a "mobilidade urbana" de Jaime Lerner - que tem, no RJ, em Alexandre Sansão o seu discípulo maior e em Carlos Roberto Osório seu entusiasmado simpatizante - , que pouco tem de mobilidade, irá contaminar o Grande Rio de "alimentadoras", trajetos ceifados que complicarão o direito de ir e vir, porque os passageiros terão que pegar vários ônibus com pagamento de Bilhete Único, que se esgota em pouco tempo, e sob trânsito congestionado.
Daí que foi um grande erro transformar em "Deus" um prefeito da ditadura militar. Ele acabou produzindo um "inferno" sobre rodas. É bom as pessoas prepararem seus lanches e levarem seus travesseiros porque os congestionamentos ficarão ainda piores.
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