quarta-feira, 26 de agosto de 2015

O PMDB carioca é fascista?

PREFEITURA DO RIO DE JANEIRO QUER "LIMPAR" A ZONA SUL DIFICULTANDO O ACESSO DAS POPULAÇÕES POBRES POR ÔNIBUS.

Qual a relação entre a repressão policial contra adolescentes pobres que vêm da Zona Norte do Rio de Janeiro e o plano do subsecretário de Planejamento, Alexandre Sansão, de reformular as linhas de ônibus para a área? Nenhuma, muitos devem pensar. Estão errados.

As duas medidas, por incrível que pareça, estão tão integradas quanto o sistema que está na mente de Alexandre Sansão, que decidiu reservar o "grosso" das linhas da Zona Norte para Zona Sul para o fim de linha da Candelária, sobrecarregando a já tumultuada estrutura de pontos de ônibus no entorno da famosa igreja, que nos horários de pico as filas, de tão grandes, se confundem.

Quem se dirige à Candelária no final da tarde para pegar um ônibus para outros municípios, como Niterói e os da Baixada Fluminense, sabe o drama. Na cidade dos ônibus com pintura padronizada que confundem os passageiros - a ameaça foi anunciada para as linhas intermunicipais para o Rio a partir do ano que vem - , tem que se perguntar a outrem para que destino é uma fila, para não embarcar no ônibus errado.

É na chamada mobilidade urbana que o PMDB carioca está causando muitos estragos. Se a filial do partido no Rio de Janeiro é conhecida nacionalmente pelo autoritarismo do presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha, prepotências à parte o deputado apenas segue a cartilha autoritária e antilegalista que o partido, na sua unidade estadual, determina.

No âmbito municipal e estadual, o grupo do prefeito Eduardo Paes não é muito diferente dos delírios mandões de seu xará na Câmara Federal. O próprio prefeito impôs a pintura padronizada nos ônibus (uma das piores medidas feitas para o setor no país) atropelando leis (a medida contraria a Lei de Licitações, o Código de Defesa do Consumidor e até a Constituição Federal) e promovendo uma "votação às escuras", sem consultar a sociedade, para aprovar a medida "na marra".

Hoje a realidade de diferentes empresas de ônibus ostentarem a mesma pintura facilita uma série de corrupções que ocorrem sem que os passageiros saibam ao certo. Eles, redobrando a atenção para tentar diferir uma empresa que vai para o Lins de outra que vai para a Pavuna, já que ambas têm o mesmo visual, mal sabem que, sob esse véu da pintura padronizada, empresas já mudaram de nome, de razão social, linhas trocaram de empresa e os passageiros são sempre os últimos a saber.

E se a pintura padronizada - herança do autoritário Jaime Lerner, tecnocrata paranaense surgido na ditadura militar através da ARENA e, como administrador, tão corrupto quanto Paulo Maluf - era tida como medida "disciplinadora" (a própria ditadura veio em 1964 usando essa desculpa), a verdade é que ela alimenta a corrupção.

Essa corrupção é evidente quando as empresas de ônibus não podem mais exibir suas respectivas identidades visuais. Há muitas desvantagens nessa restrição. As autoridades usam como desculpa que a identidade visual é propaganda, mas o que vemos é que a pintura padronizada não passa de um outdoor político que não traz qualquer funcionalidade para o transporte público, só complicando ainda mais as coisas. A propaganda é da prefeitura, vide o destaque para o logotipo da cidade.

CORRUPÇÃO PADRONIZADA - ÔNIBUS DA VIAÇÃO VERDUN CIRCULA COM PLACAS DE REGISTRO DIFERENTES.

Isso é tão verdadeiro que muitos dos ônibus que adotam esse visual "disciplinador" possuem irregularidades na documentação. Muitos desses carros são comprados de segunda mão de outras empresas ou, mesmo na mesma empresa, trocam o número da frota. Pior: um dos ônibus da Viação Verdun chegou a circular com duas chapas diferentes, só sendo apreendido depois de se envolver em um acidente.

Mas pintura padronizada é apenas uma das tragédias impostas pelo PMDB carioca. Outra tragédia é a redução de itinerários e a multiplicação de linhas "alimentadoras" e "troncais" feitas sem critério, apenas para seguir a "cartilha Lerner", implantando o padrão do arquiteto e político paranaense que está caduco até no seu Estado de origem.

Sob a desculpa inconvincente de evitar a sobreposição de itinerários, linhas com percurso exclusivo eram extintas, quando a desculpa do "percurso comum" se limita apenas ao meio do itinerário, já que em outros trechos dos percursos eram as linhas desativadas as únicas a atender determinados logradouros e a ligação de determinados bairros.

Como dizer que linhas como 465 Cascadura / Gávea (antiga 755), 676 Méier / Penha, 910 Bananal / Madureira e 952 Penha / Praça Seca correspondem a "itinerários sobrepostos"? A desculpa de Alexandre Sansão não só fracassou como essas mudanças, feitas para forçar o uso do Bilhete Único e promover o sensacionalismo do BRT Transcarioca (que hoje só roda lotado, havendo superlotação nos picos), como perdeu o cargo de secretário de Transportes com a má repercussão da medida.

Agora, como subsecretário de Planejamento, Sansão quer fazer o pior do que a tragédia que ele havia empurrado para o corredor Fundão-Madureira-Alvorada do BRT Transcarioca. Quer "limpar" a Zona Sul dificultando o acesso dos moradores da Zona Norte às praias da Zona Sul.

Mesmo a redução de algumas linhas de ônibus para a estação de Siqueira Campos - o máximo que podem chegar a Copacabana - , para trajetos que passam pelo Túnel Santa Bárbara, não deixa de representar um higienismo, porque esse afunilamento é gradual e nada impede que Sansão "replaneje" o sistema e bloqueie todo o acesso de linhas da Zona Norte para a Zona Sul.

A reserva dos pontos da Candelária e das paradas da Central - já que as linhas a terem percurso reduzido passam por toda a Av. Pres. Vargas - , além de sobrecarregar os pontos do Centro carioca, que já são superlotados e tumultuados hoje em dia, causará superlotação até fora dos horários de pico.

Além disso, é curioso que o plano de Alexandre Sansão venha junto com a notícia de que muitos adolescentes pobres foram detidos quando iam para as praias da Zona Sul só porque não tinham documentos. Quase todos negros e sem antecedentes criminais, apenas estudantes ou trabalhadores querendo se divertir, porque são cariocas e valorizam as praias do Rio de Janeiro. Todos eles maltratados "na pista" e condenados a fazer baldeação em BRTs superlotados.

Um deles disse à imprensa que vinha do bairro do Jacaré, atendido pela linha 474, uma das linhas a terem seu percurso esquartejado pela "cabeleira" do poderoso Sansão. Histórica, a 474 Jacaré / Jardim de Alah já tinha outros códigos numéricos e surgiu de um ramal que terminava no Aeroporto Santos Dumont.

O autoritarismo do PMDB carioca e sua pose de falsamente progressista, sua tecnocracia irresponsável, autoritária e caduca, que adota critérios "técnicos" do tempo do regime militar, é que está estragando com o Rio de Janeiro e está comprometendo o desenvolvimento do Brasil.

Com toda a ambição pessoal de poder, o deputado Eduardo Cunha no entanto está de acordo com o receituário de impor medidas à revelia da lei e do interesse público do PMDB carioca. Não é só Cunha que age assim. Numa greve de bombeiros para reivindicar melhorias nos salários e nas condições de trabalho, o então governador Sérgio Cabral Filho simplesmente mandou prendê-los, só soltando depois que sua decisão repercutiu mal na imprensa.

Eduardo Paes queria até mesmo atrapalhar a estrutura urbana do Rio de Janeiro. Ele queria transformar o trecho da Av. Rio Branco entre a Av. Pres. Vargas e o Aterro do Flamengo, num grande parque, proibindo seu acesso aos veículos e complicando o já turbulento e confuso trânsito do Rio de Janeiro.

Fica-se imaginando se o PMDB carioca é fascista. Que autoritarismo festivo é esse que toma conta de seus políticos, podendo ser um Eduardo Cunha que sonha ficar com o Executivo em suas mãos - e ele já é o segundo suplente para exercer a Presidência da República - , mas podendo ser um Eduardo Paes, ou um Carlos Roberto Osório que começa dando entrevistas como se fosse sargento da polícia e agora fala macio como se fosse quase paternal?

O PMDB já é o único remanescente dos dois partidos da ditadura militar - embora grupos de extrema-direita se esforcem em recriar a ARENA - e sua conduta parecia mais democrática, embora o partido nunca tivesse um perfil ideológico definido, tendo sido, como MDB, um balaio de gatos que envolveu de comunistas moderados a progressistas do antigo PSD dos tempos de Juscelino Kubitschek.

Mas hoje, através da sua unidade do Rio de Janeiro, o PMDB retoma o autoritarismo da ARENA e o discurso tímido dos generais do começo da ditadura militar, causando grande apreensão aos brasileiros, na medida em que seus políticos e tecnocratas, de Eduardo Cunha a Alexandre Sansão, de Carlos Roberto Osório a Sérgio Cabral Filho, contribuem para destruir o Rio de Janeiro e oferecer o Estado em frangalhos para ser "o modelo a ser seguido" pelo Brasil.

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