terça-feira, 4 de agosto de 2015

Kardecianos hesitantes não sabem o que aproveitar de Chico Xavier

LIVROS COMO CARTAS DE UMA MORTA AINDA SEDUZEM CERTOS ESPÍRITAS AUTÊNTICOS, MAS DE DISCERNIMENTO DÉBIL.

Sabe-se que Francisco Cândido Xavier não tem a menor utilidade para a Doutrina Espírita autêntica, originalmente sistematizada por Allan Kardec. Pelo contrário. Tudo que Chico Xavier defendeu contraria frontalmente o pensamento do pedagogo francês, já que o anti-médium mineiro nunca passou de um católico dotado de paranormalidade.

Mesmo assim, há correntes entre os espíritas autênticos, aqueles que até se esforçam para entender o pensamento original de Kardec, mas ficam cheios de dedos quando o caso é contestar as atividades de Xavier, Divaldo Franco e similares, se limitando apenas a questionar os pensamentos destes, quando explicitamente estão contrários às ideias kardecianas.

São os kardecianos hesitantes, que fixam suas sintonias em Lyon sem deixar as de Uberaba. Acreditam que Chico Xavier, pelos estereótipos de bondade e humildade, pode ser reaproveitado numa recuperação das bases originais de Kardec, apenas deixando de lado parte da bibliografia mais marcada de mistificações, como a chamada "série Emmanuel".

Esses espíritas são capazes de ler as traduções de José Herculano Pires - as que mais se aproximam da fidelidade dos originais kardecianos - ou mesmo as obras matrizes, no idioma francês, e até questionam algumas abordagens de Xavier e Franco, mas mesmo assim não os julgam descartáveis para a recuperação das bases kardecianas originais no "movimento espírita".

Quanto a Chico Xavier, essa hesitação chega a ser confusa, porque, embora essas pessoas acreditem que a "mediunidade" do mineiro é "100% confiável", eles não conseguem definir o que pode ser "aproveitado" dele no caso de uma recuperação das bases kardecianas originais.

O que aproveitar? Apenas as frases "carinhosas" que Chico Xavier divulgou nas suas entrevistas? Suas "obras de caridade"? E os livros, quais os livros que seriam "aceitáveis" se praticamente tudo da "série Emmanuel" e boa parte da "série André Luiz" são severamente descartados?

A princípio, observa-se, numa pesquisa em vários sítios de Internet, inclusive nas mídias sociais, que entre os kardecianos hesitantes a apreciação dos livros de Chico Xavier é muito tímida. Em princípio, eles preferem apreciar Chico Xavier nos depoimentos e ações associados à "fraternidade".

Os livros que, porém, seriam passíveis de apreciação, pelo menos ligeira, dos kardecianos autênticos se situam entre obras como Parnaso de Além-Túmulo, Cartas de uma Morta, e de obras atribuídas a Humberto de Campos, com a evidente exceção do negativamente marcado Brasil, Coração do Mundo, Pátria do Evangelho.

Eles não costumam contestar a suposta autoria de Humberto de Campos. Vindos de um tempo em que o hábito de leitura de livros, no Brasil, é bastante deficitário - a prática de ler livros até se recuperou, mas a custo de obras de gosto bastante duvidoso - , eles ainda são da época em que o autor maranhense caiu no esquecimento.

Por isso, para eles tanto faz se existem aberrantes diferenças entre o que Humberto de Campos escreveu em vida e o que atribui à sua suposta obra espiritual. Eles não leram o Humberto de Campos original, daí que eles nem sequer têm condições para fazer qualquer discernimento.

Os kardecianos hesitantes acabam também se confundindo quando tentam defender Chico Xavier de seus erros. Se contradizem quando alegam que Chico Xavier foi "usado" para certos erros - como o caso da farsante Otília Diogo e seu ilusionismo "mediúnico" - , mas atribuem a ele um status de líder e alegam que ele "tinha firmeza de caráter e decisão" em "muitos momentos".

Não conseguem se definir se Chico Xavier é um líder que "foi usado" ou um submisso que "se emancipou". O "líder" que foi "manipulado" pela Fedaração "Espírita" Brasileira, ao mesmo tempo firme e indeciso, que errou mas é sempre o certo.

Desse modo, os kardecianos hesitantes, que costumam acertar dizendo, por exemplo, que Nos Dominios da Mediunidade contraria O Livro dos Médiuns, não conseguem se decidir em admitir que Chico Xavier "sempre foi católico" e, mesmo assim, querer recuperar as bases de Kardec aproveitando alguma coisa, não se sabe bem qual, do anti-médium mineiro.

Dessa forma, os kardecianos hesitantes pouco contribuem para a defesa rigorosa das bases de Allan Kardec. Bem intencionados, no entanto não abrem mão de posturas incoerentes influenciadas ainda pelo chiquismo. Apenas realizam o trabalho de recuperação das bases kardecianas pela metade, mantendo ainda vícios originários das deturpações mistificadoras do "movimento espírita".

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