sexta-feira, 19 de junho de 2015

Fanatismo não é sinônimo de amor nem de conhecimento de causa

VITÓRIA DA SELEÇÃO FEMININA DE FUTEBOL BRASILEIRO NÃO EMPOLGOU TORCEDORES.

Fanatismo é amor à causa? É conhecimento de causa? Não. O fanatismo é uma exaltação cega a uma causa que, em si, é vista não na sua essência original, mas na sua construção ideológica que permite esse fanatismo.

O fanatismo ou fundamentalismo são ideias que abraçam uma causa em segunda mão, e deixam omissões e falhas até mesmo no modo com que essa causa é abraçada. E vemos no Brasil exemplos típicos disso.

No caso da Rádio Cidade e seu fanatismo "roqueiro", seus adeptos nem gostam muito dos clássicos do rock. Se contentam, por exemplo, em ouvir, de uma banda conceituada como a britânica The Cure, uma única música, "Boys Don't Cry", que nem de longe resume a trajetória do grupo, que alternava canções ironicamente otimistas com músicas sombrias (que a Cidade nunca iria tocar).

Neste caso, o fanatismo em torno da "causa do rock" não abrange todo o gênero, da mesma forma que é incapaz de definir as razões de tanto fanatismo pela "atitude rock", uma postura nunca devidamente explicada ou esclarecida, mas cujo questionamento irrita profundamente os fundamentalistas.

Daí que eles não conseguem explicar por que, por exemplo, eles querem que o nome "Rádio Cidade" esteja vinculado à cultura rock. É uma histeria irracional, temperamental, furiosa e irreal, já que, como música, o gosto "roqueiro" dos ouvintes da Cidade vai ao mais rasteiro superficialismo do hit-parade dos últimos 25 anos.

O fundamentalismo é uma paixão condicionada, dentro de uma construção terceirizada de crenças associadas virtualmente a uma causa abraçada. Em muitos aspectos, a causa original é deturpada, distorcida e reduzida aos clichês mais superficiais. Tudo sem razões nem motivos, mas também sem permitir que algum esclarecimento se fizesse a respeito.

No futebol brasileiro, o fundamentalismo que, no Rio de Janeiro, obriga que as pessoas gostem de futebol e torçam para um dos quatro times cariocas (Flamengo, Fluminense, Vasco e Botafogo) como forma de condicionamento da vida social, não se interessa em valorizar o futebol como um todo.

Isso é observado quando o fanatismo que envolve a Seleção Brasileira de Futebol em copas do mundo não se reflete quando a mesma seleção joga nas Olimpíadas. Não existe essa obsessão pela medalha de ouro como se tem a do "caneco", e o pior é que a Seleção Brasileira é um dos poucos times que botam a mesma escalação básica nos jogos olímpicos e nas copas, diferentes de outros países, que têm seus times olímpicos de futebol.

Recentemente, o time feminino da Seleção Brasileira de Futebol venceu, no seu Mundial, a Seleção da Costa Rica, por 1 a 0, mesmo sem a artilheira Marta, e com vantagens na pontuação. Ninguém comemorou, e os brasileiros foram dormir tristes porque, na Copa América (regional), o time masculino de Neymar perdeu por 1 a 0 para a Seleção da Colômbia.

Que fanatismo pelo futebol é esse, que, apesar de monopolizar os bate-papos cariocas e que, em Estados como a Bahia, empurram a sintonia forçada de estabelecimentos comerciais, mesmo em shopping centers, nas transmissões de rádio, irritando os fregueses que sabem muito bem que shoppings não são arquibancadas de estádio, não cobrem todos os eventos da modalidade?

Bom é irritar os fregueses com transmissão esportiva arranhando os ouvidos numa loja de departamentos. Mas é o mesmo pessoal que pouco se importa se a Seleção Brasileira de Futebol merece ganhar o ouro olímpico.

Da mesma forma, bom é o carioca, antes de perguntar o nome de um futuro amigo, ir direto interrogando se ele é flamenguista, tricolor, vascaíno ou botafoguense. No entanto, é o mesmo pessoal que pouco se importa se a seleção feminina tem patrocínio para jogar e participar de competições pelo mundo afora.

Na religião, o fundamentalismo também não abraça as causas originais. Mesmo as lições originais dos profetas não são levadas em conta. Pelo contrário, os fundamentalistas adotam uma prática paramilitar, com objetivos bélicos, e esquecem as essências originais.

O fundamentalismo não tem a ver com fundamentos, mas com formas "fundamentalizadas" de concepções deturpadas, que não raro desviam completamente da essência original, dos fundamentos originais. Daí que o fanatismo não se fica em bases originais, mas numa construção da causa que dissolve, quase que por completo, a causa original, da qual sobram apenas alguns clichês.

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