sexta-feira, 29 de maio de 2015

A mania dos brasileiros de "religiosizar" as coisas

O "DEUS" VINHO QUE DESLUMBRA MUITOS ADULTOS.

O Brasil, como um país religioso, acaba "exportando" a emoção de sua fé para coisas que vão fora do âmbito religioso. O ato de "religiosizar" as coisas se define quando a apreciação de algo vai além do simples gosto e investe numa adoração ao mesmo tempo fantasiosa, exagerada e surreal.

Não é de surpreender que o Espiritismo de Allan Kardec, movido pelo pensamento científico do professor lionês, originário de um país que vivia uma onda de movimentos filosóficos e outras tantas descobertas da área do conhecimento, reduziu-se, no Brasil, a um arremedo meramente religioso e moralista, em que a ciência é rebaixada a um sub-produto da fé religiosa.

O fato de ver certas coisas não como elas realmente são, mas como algo ao mesmo tempo "milagroso" ou "redentor" é o que se define como "religiosização", em que uma simples bebida como o vinho ou um esporte sem muito diferencial como o futebol tornam-se seus maiores exemplos.

O vinho, sabemos, é uma forma etílica do suco de uva e esta forma alcoólica é que se torna "divinizada" por seus bebedores. Já não é mais a valorização de uma bebida alcoólica, mas de uma série de simbologias místicas que acabam subestimando o fato de que o álcool engorda, causa diabetes e traz doenças graves se consumido em excesso.

O futebol é apenas um entretenimento que, como atividade esportiva, é dotada de um desempenho monocórdico do qual o momento máximo é quando o jogador chuta a bola para um espaço formado por rede e traves, que se denomina gol.

No entanto, a própria mídia esportiva acaba criando a "religião do futebol", em que o futebol deixa de ser um lazer para ser uma "doutrina de salvação", com suas partidas mais parecendo ritos religiosos e a finalidade de entretenimento corrompida com a desnecessária transformação de seus jogadores em "deuses" e do esporte em si em "batalha campal".

A "religiosização" do futebol agrada aos chefes da Federação "Espírita" Brasileira que chegaram a apostar na Copa do Brasil FIFA 2014 numa antecipação em cinco anos da "data-limite" de Chico Xavier (falecido no dia de uma das vitórias da Seleção Brasileira de Futebol neste torneio) para a transformação do Brasil em "pátria da fraternidade mundial".

Mas a Copa do Brasil gerou crise, a Seleção Brasileira sofreu uma derrota humilhante e o que se observa é um caos social que se reflete nas mídias sociais e nas ruas. Mesmo assim, a "religiosização" continua de pé, por causa da tradição conservadora que permite essa prática.

E aí temos outros exemplos de "religiosização", O BRT tornou-se a "religião da mobilidade urbana" que incluiu sobretudo as "vestes" da pintura padronizada nos ônibus, com a promessa de que um simples logotipo de prefeitura vá salvar o transporte coletivo e o suplício da confusão popular em ver diferentes empresas com a mesma pintura seja compensado por "milagres divinos" como ônibus articulados, uso de ar condicionado e veículos com chassis de indústrias suecas.

O rock também tem sua "religiosização", incluindo sua mitologia, sua falta de lógica, seu caráter piegas, pitoresco e oculto. O "mistério da fé" inclui até mesmo o desconhecimento do público brasileiro de bandas obscuras e do não-questionamento do sentido da "fé roqueira", como é, o que se trata ou qual é o seu sentido.

Essa "religiosização" se estende no plano midiático, em que uma Rádio Cidade, emissora FM do Rio de Janeiro, que nunca teve compromisso nem vocação para o rock, tem seu vínculo obsessivo ao gênero defendido por uma parcela de jovens, de maneira inexplicável, sem qualquer logica e sem qualquer tipo de coerência.

Que rock a Rádio Cidade toca? Que rock ela não toca? Seus "sacerdotes" não falam o léxico das vozes sóbrias dos radialistas roqueiros, mas o das vozes afetadas de locutores pop? Isso ocorre, mas ninguém assume nem questiona, todos aceitam como devotos hipnotizados nos ritos religiosos mais obscurantistas.

Mas o próprio Brasil tem seu patriotismo divinizado, até além da conta em relação ao famoso patriotismo religioso dos Estados Unidos da América. Isso porque o Brasil tem um tempero místico e mítico ainda maior, visto como "terra prometida" e superestimada pelo seu clima tropical considerado um dos mais agradáveis do mundo.

Afinal, não se trata apenas de ver a ideia de pátria como um ambiente social formado por um grande grupo de pessoas cuja afinidade maior é ter nascido dentro de sua extensão de terras. Trata-se de ver o Brasil como um "paraíso", além de atribuir a ele uma missão "condutora" da humanidade que a realidade revela não só exagerada mas impossível de se pôr em prática.

E aí voltamos para Chico Xavier e o "espiritismo", que manifestaram sua torcida de ver o Brasil como nação mais poderosa do mundo, simplesmente pela "arte" de tratar até mesmo as coisas e ideias laicas como se fossem religião.

A "religiosização", no entanto, promove o atraso preocupante que vive o Brasil, já que se trata de um sentimento que vai contra a razão e a coerência, dando margem a tantas injustiças e absurdos que causam tantos malefícios à sociedade.

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