quinta-feira, 2 de abril de 2015

"Espiritismo" e o maniqueísmo entre o "coração" e o "cérebro"


O "movimento espírita" promove um maniqueísmo, no qual o "coração" é o bem e o "cérebro" é o mal. Seu moralismo que superestima a família e as práticas irregulares e surreais ligadas à mediunidade e ao conhecimento dito "espírita" revelam essa realidade.

Em tese, o "espiritismo" brasileiro aprecia todo tipo de expressão do raciocínio humano, todo tipo de atividade científica e toda a trajetória de intelectuais que contribuíram para as descobertas, expansões e aprimoramentos no ramo do conhecimento humano. Mas isso apenas em tese.

Isso porque, na prática, o "espiritismo" brasileiro só aprecia o conhecimento lógico nos limites em que este não interfere na série de mistificações, mitificações ou mesmo fraudes que existem nesta doutrina religiosa, só apreciando a Ciência quando ela respeita tais restrições.

Se a Ciência é usada para corroborar, ainda que usando de metodologias insuficientes e duvidosas, as mistificações e atividades irregulares relacionadas ao "espiritismo" brasileiro, ela é exaltada e vista como "colaboradora da evolução espiritual e moral da humanidade".

Mas se a Ciência questiona vários desses procedimentos "espíritas", a visão torna-se outra: "expressão dos juízos terrenos movidos pelas paixões humanas", sendo a Ciência vista como "instrumento de perseguição e de calúnia contra os trabalhadores do bem e da fraternidade".

O que se nota, tanto no caso do processo judicial dos herdeiros de Humberto de Campos, em 1944, quanto no recente trabalho acadêmico sobre o livro Missionários da Luz, atribuído à autoria "espiritual" de André Luiz, nota-se esse maniqueísmo.

No caso do livro Missionários da Luz, de 1945, cientistas até cometeram o "lapso" de não terem consultado livros científicos da época de elaboração do livro - entre 1940 e 1944 - , supuseram, em uma monografia de 2013, a infundada tese de "pioneirisimo científico", de 13 a 63 anos, das ideias difundidas por "André Luiz" no referido livro.

Com esse episódio, os "espíritas" dizem exaltar a Ciência, evocando seu "papel" de "comprovar a seriedade" de "fenômenos espíritas" e de "obras que se dedicam a promover a fraternidade e o amor ao próximo, além de mostrar aspectos da vida no mundo espiritual".

Já no caso do processo da viúva e dos filhos de Humberto de Campos contra Francisco Cândido Xavier (que por sinal faria 105 anos hoje) e a FEB, a investigação científica e o raciocínio lógico foram maldosamente classificados pelos "espíritas" como fruto de "paixões terrenas" e impiedosos "juízos dos homens apegados às impressões da matéria".

Observando sobretudo casos como este, quando o raciocínio investigativo se volta a contestar atividades e ideias relacionadas ao "movimento espírita", este reage criminalizando o simples ato de raciocinar, que é perversamente definido como "expressão de paixões terrenas" e "instrumentos de maledicência e perseguição a homens de bem".

É como se os "espíritas" quisessem dizer: "Mente ativa é oficina do diabo", ou melhor, do "irmãozinho sofredor", como os "espíritas" dizem, em eufemismo, sobre o que acreditam ser os "espíritos obsessores" ou as "almas trevosas".

Os "olhos do coração"são a desculpa para que aspectos surreais ou irregulares do "espiritismo" sejam mantidos intocáveis. Seja a mediunidade irregular e duvidosa, na qual só aparece a caligrafia do suposto médium e a mensagem quase sempre tem um tom religioso,

O "espiritismo", dessa forma, adota a desculpa dos "olhos do coração" para que seus absurdos deixem de ser questionados. É como se o "movimento espírita" criasse uma ilha de surrealismo na qual ninguém deve interferir. Um mundo da fantasia, onde crenças contraditórias, absurdas, duvidosas terão que ser aceitas sob a desculpa do "espírito de tolerância e misericórdia".

Esta atitude é uma herança do Catolicismo medieval, com algumas adaptações. Os "espíritas" deixaram de acreditar em mares se partindo ao meio, mas acreditam que os espíritos do além-túmulo são necessariamente colaboradores da "igreja espírita" que creem existir por lá.

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