JOVEM PEDE VOLTA DA RÁDIO CIDADE "ROQUEIRA"; NO ALTO, O ATUAL LOGOTIPO DA RÁDIO.
Já falamos do fenômeno de emissoras de rádio comerciais e de perfil pop se aproveitarem da mística do rock para se autoproclamarem "rádios rock" e "reeducarem" a rebeldia juvenil para os parâmetros de um conformismo conservador e potencialmente reacionário.
Chico Xavier iria adorar o "saudável papel" das rádios 89 FM, em São Paulo, e da Rádio Cidade, no Rio de Janeiro, como "reguladoras" da rebeldia juvenil aos moldes que só mesmo o provincianismo brasileiro consegue aceitar.
Essa "rebeldia" se manifestaria por jovens que, por fora, são arrojados, desbocados, debochados, temperamentais e se revoltam e se irritam com muita facilidade. No entanto, são tão conservadores quanto, por exemplo, o "filósofo" Olavo de Carvalho e seus seguidores jornalistas Diogo Mainardi e Reinaldo Azevedo.
São jovens que querem a despolitização da juventude, o fechamento do Congresso Nacional e fim do Poder Legislativo, sob o pretexto de "combater a corrupção". Odeiam a leitura de livros e distorcem fatos históricos. Não se dispõem a desafiar o "sistema". Fingem que são contra o imperialismo dos EUA mas compartilham de seus valores. São geralmente homofóbicos e ridicularizam os movimentos sociais de operários e camponeses.
A 89 FM tem seus fanáticos, que se irritam ao menor espirro de outrem em cima deles, e tornou-se uma "instituição respeitada" graças a blindagem midiática que fez muita gente esquecer que o proprietário da rádio foi um deputado da ARENA, durante a ditadura militar, ligado a Paulo Maluf. No entanto, a Rádio Cidade possui uma horda de fanáticos maior e mais intensa.
Seus fanáticos, tomados de uma cegueira cultural na qual as únicas convicções e crenças que eles consideram válidas são as deles mesmos, chegam mesmo a desafiar o mundo com seu fundamentalismo de condomínio de luxo da Barra da Tijuca, provinciano, bairrista e mesquinho, mas que pode ser perigoso.
"DANE-SE O MUNDO!! O ROCK É MEU UMBIGO"
O próprio modo com que os fanáticos da Rádio Cidade encaram a "cultura rock" é surreal e tomado de um fanatismo que não valoriza o rock como uma cultura musical, mas como um suporte ideológico de uma rebeldia míope que, em muitos aspectos, vai até contra a cultura rock e a rebeldia juvenil como um todo.
Eles encaram o "rock" conforme suas convicções pessoais, e não raro chegam a repudiar nomes respeitáveis do rock, partindo para xingações e comentários depreciativos a nomes como Led Zeppelin, Jimi Hendrix, Smiths ou mesmo Renato Russo. Contraditórios, chegaram a chamar o falecido cantor da Legião Urbana de "ultrapassado", mas hoje querem se autopromover às custas do seu carisma.
Se "rock" é aquele sonzinho barulhento sem criatividade que ouvem, é esse que "deve ser o rock". Dane-se o mundo, danem-se os outros, danem-se os Beatles e os Rolling Stones, danem-se os Ramones e o Clash, dane-se a história do rock, o que eles querem é a apropriação do nome "rock" e de seus estereótipos de catarse emocional para criar uma ideologia fanática sem pé e nem cabeça. O som do rock, para um fanático da Cidade, é o de seu próprio umbigo.
Eles chegam a defender o futebol com o apetite voraz das torcidas organizadas. Acham que futebol é "esporte rock'n'roll" sem se darem conta que, no Brasil, o rock é o gênero menos curtido e mais repudiado pela quase totalidade dos jogadores de futebol brasileiros. Mas realidade não é o forte dos fanáticos da Cidade, a imaginação deles é que deve prevalecer sobre qualquer tipo de lógica.
Querem ouvir rádio mais para escutar piadas de locutores engraçadinhos, participar de promoções e algum som catártico do rock noventista, barulhento e pouco criativo. Preferem ouvir grunge, nu metal e poppy punk, sem se preocupar em saber a diferença entre os britânicos Muse e Travis e sem se importar se Paul McCartney está vivo ou não.
Reacionários, ridicularizam tudo que difere do "modelo de cultura rock" difundido pela Rádio Cidade. E, quando são chamados de reacionários, ainda caem na gargalhada, como se, num discurso sutil, quisessem dizer "E nós somos mesmo, seu idiota". Coisa não muito diferente que Reinaldo Azevedo faz na Veja: a extrema-direita confessa através de gracejos.
A Rádio Cidade virou um reduto eletrônico da juventude fluminense de extrema-direita, uma "religião" do qual uma pequena mas furiosa parcela de jovens cria um modelo de "cultura rock" que só eles acreditam, repudiando tudo que não rolar em sua pequena órbita de valores "pragmáticos" de catarse e rebeldia.
A campanha pela volta da rádio, depois de aventuras pop em 1998 e 2006, tem esse caráter de fanatismo fundamentalista. Sem terem uma compreensão real da natureza do rock, esses jovens apenas se fascinam pela fachada ideológica de vincular a Rádio Cidade ao termo rock, pouco importando que "rock" eles realmente querem e acreditam.
Em comportamento, os fanáticos da Rádio Cidade são um "meio-termo" entre os roqueiros "coloridos" conhecidos como "emos" e os punks fascistas conhecidos como "skinheads". Compartilham valores trazidos pelo poder midiático, e forjam um falso niilismo para tentar justificar seu pouco interesse em "combater o sistema".
Pode ser um exemplo "rasteiro", para os debates espíritas mais básicos, mas o fenômeno dos fanáticos da Rádio Cidade, que defendem a "cultura rock do próprio umbigo", nem que seja para combater 99% dos roqueiros no Brasil e no mundo que não compartilham de seus valores, revela um exemplo de ignorância, egoísmo e intolerância que movem grupos fundamentalistas em geral.
É através desses focos de fanatismo, desrespeito humano e desejo de supemacia - dizem que a Rádio Cidade está mexendo os pauzinhos nos bastidores para explorar sozinha o segmento rock, dificultando o caminho de uma concorrente - que podem surgir movimentos de jovens fascistas a provocar desordens no Brasil.
Os fanáticos da Rádio Cidade já estão associados a práticas de cyberbullying na Internet. Se organizam para ridicularizarem, unidos, qualquer um que questionar suas crenças e seus princípios, mesmo quando lançam argumentos consistentes. Eles são capazes até mesmo de criar páginas ofensivas contra desafetos, usando e abusando da apropriação de acervos pessoais.
Daí esse aspecto preocupante da "religião da Rádio Cidade". Convém a sociedade observar esse aspecto da parcela da mídia ultraconservadora (Rádio Cidade e 89 FM) de transformar a rebeldia juvenil num movimento reacionário, que pode gerar, no futuro, práticas criminosas de espancamento de nordestinos, homossexuais e mendigos, algo que já ocorre na São Paulo da rebeldia amestrada mas fundamentalista da 89 FM.
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