terça-feira, 31 de março de 2015

"Espiritismo" pegou carona na Ufologia para promover Chico Xavier

ROBERT SALAS E ROBERT JACOBS, MILITARES ESTADUNIDENSES.

Uma das maiores mentiras difundidas pelo "movimento espírita" no Brasil está sendo espalhada pela Internet e, principalmente, pelo YouTube. É a de que militares dos EUA estariam "confirmando" as supostas "profecias" que o anti-médium Francisco Cândido Xavier divulgou em 1969.

Essa "profecia" sabemos. Foi depois da chegada de um grupo de astronautas estadunidenses ao solo da Lua, em 20 de julho de 1969. Chico Xavier teve um sonho, que em narrativa surreal descreve uma reunião com supostos líderes do Sistema Solar, preocupados com a vocação bélica dos países mais poderosos do mundo.

Jesus Cristo, que os "espíritas" entendem como "governador da Terra" (sic), ao lado de figuras "tarimbadas" como Emmanuel, o "anjo" Ismael e Chico Xavier, o único então encarnado, estavam discutindo os meios do Brasil se tornar a nação mais poderosa do planeta e difundir uma "proposta de paz" para todo o planeta, dentro de uma moratória de 50 anos, a finalizar-se em 2019.

Muito se fala nessa "profecia" que, entre outras coisas, revela um desejo de Chico Xavier de ver o Brasil como "centro do mundo", devaneio que se originou já no livro Parnaso de Além-Túmulo, coleção de pastiches literários em que um dos poemas, "Brasil", falsamente atribuído a Olavo Bilac, descrevia o país como "Coração do Mundo e Pátria do Evangelho".

13 anos após o falecimento de Chico Xavier, o escritor Geraldo Lemos Neto, que tinha 19 anos quando foi comunicado pelo anti-médium a respeito do sonho, tornou-se propagandista da suposta "profecia", que tenta promover o ídolo "espírita" não só como um suposto profeta, mas também como um pretenso cientista e um igualmente pretenso analista político e estrategista social.

Muitos esforços tendenciosos são feitos dentro do "movimento espírita" para tentar elevar Chico Xavier ao âmbito dos altos ramos do conhecimento, mas as teses apresentadas demonstram haver contradições e falhas metodológicas profundas. A do "pioneirismo científico" na obra Missionários da Luz foi um deles, pois os acadêmicos não leram as publicações sobre glândula pineal publicadas na década de 1940.

Agora o tendenciosismo se expande numa interpretação rasteira de relatos de dois militares dos EUA, o tenente Robert Jacobs e o ex-capitão Robert Salas, que teriam visto discos voadores sobrevoando bases de mísseis nucleares nos EUA.

OS CASOS E A INTERPRETAÇÃO DOS "ESPÍRITAS"

Os dois militares, cada um em caso separado, descreveram seus respectivos episódios. Jacobs teria visto discos voadores na base de Vandenberg, na Califórnia, em 15 de setembro de 1964. Já Salas teria visto as naves extra-terrestres na base de Malmstrom, em Montana, no dia 15 de março de 1967.

Os relatos nada têm a ver com o "movimento espírita" e são apenas descrições feitas para o âmbito da Ufologia, área do conhecimento humano bastante controversa e considerada pseudo-ciência, mas com ideias e teses mais verossímeis e, por vezes, prováveis do que as da religião da Federação "Espírita" Brasileira.

No entanto, uma interpretação rasteira promovida por Geraldo Lemos Neto, interpretação esta meramente brasileira e local, supôs que os militares "confirmaram" as "profecias" de Chico Xavier, o que se trata de uma grande mentira engenhosamente construída.

A tese chiquista foi "plantada" remendando dados separados, com uma vaga relação entre os episódios ufólogos, o contexto geopolítico da época (Guerra Fria entre EUA e URSS) e a ameaça de guerra nuclear lançada em 1962 na crise dos mísseis de Cuba (anunciado comunista em 1961, sustentado pela URSS).

Junta-se a isso e aí é montada uma verdadeira lorota, que num discurso bastante persuasivo e confuso se inventou que os dois episódios, das bases de Vandenberg e de Malstrom, "confirmavam" o que Chico Xavier "previu" em seu sonho. Só que os episódios ocorreram em 1964 e 1967 e o sonho se deu em 1969.

As argumentações dos "espíritas" são bastante confusas, não havendo embasamento científico algum, e nem mesmo qualquer sustentação lógica. Não há um momento nos relatos dos militares que se fale sobre a "moratória de 2019" ou das tragédias humanas ou naturais causadas pelo mundo turbulento.

Os relatos de Geraldo Lemos Neto e do físico de inclinações místico-espiritualistas Laércio B. Fonseca, entre outros, nada esclarecem e apenas confundem, criando uma confusão organizada que se conhece como "fé espírita". E todo o discurso feito para sustentar a tese da "comprovação" mais parece um amontoado de meias-verdades sem pé nem cabeça.

Em nenhum momento os militares comprovaram o que Chico Xavier havia relatado. O que existe é o uso leviano de suas declarações para reforçar uma interpretação tendenciosa que os "espíritas" fazem sobre o sonho do anti-médium mineiro, a interpretação dos relatos dos militares estadunidenses é puramente local, brasileira, bastante mentirosa e sensacionalista.

Portanto, afirmamos que os dois militares não comprovaram a tese de Chico Xavier, e podemos até inferir que eles nem sequer conhecem ou conheceram ele. A tese da "comprovação" é muito falsa, hipócrita e oportunista, Só serve como propaganda do "movimento espírita" brasileiro e uma apelação para encher "centros espíritas" e vender mais livros e DVDs dessa seita religiosa.

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