quinta-feira, 29 de janeiro de 2015

Chico Xavier e a mania de "divinizar a autoridade"

CHICO XAVIER E AS PERSONALIDADES E INSTITUIÇÕES DAS QUAIS SE ATRIBUEM "VALOR DIVINO".

Existem duas situações. Na primeira, uma personalidade se destaca na mídia e na opinião pública e se torna bastante popular não por ter qualidades que sejam realmente consideradas superiores ou ao menos relevantes, e cuja simpatia e carisma se justificam por si só, não havendo qualquer explicação para tal.

Já na segunda, as pessoas recebem a informação de que uma medida será adotada, sem consulta popular, e que traz muito malefícios à população. Apesar desse caráter nocivo, a medida é implantada. Apesar de sua impopularidade, ela é ampliada para outras cidades e até capitais. A alegação de tal medida é que ela foi decidida por pessoas dotadas de status tecnocrático.

O comportamento dos brasileiros tornou-se "bovino". Aceita-se qualquer barbariedade porque ela veio "de cima", da decisão ou mesmo em função da visibilidade de personalidades que no fundo não possuem qualquer mérito de superioridade, mas conseguiram alguma reputação através dos mecanismos da fama, do compadrio e de outros artifícios.

No "espiritismo" brasileiro, temos o problema sério, que podemos definir seguramente como gravíssimo, do endeusamento de Francisco Cândido Xavier, que causa problemas até para aqueles que querem buscar as bases kardecianas da Doutrina Espírita e não conseguem se desapegar do estereótipo confortável do "bom velhinho" e suas frases adocicadas.

Chico Xavier cometeu erros sérios e preocupantes demais para que ele merecesse qualquer consideração para quem quer recuperar o Espiritismo nas bases trazidas por Allan Kardec. Como um aluno do professor lionês, Chico, pelos seus erros, teria sido chamado pelo diretor da escola por causa de seu desempenho extremamente desastroso.

Mesmo assim, Chico torna-se um "quase deus", seus mais graves erros são minimizados ou sua responsabilidade é atribuída a outrem - como os dirigentes da FEB, por exemplo - , mesmo quando Chico claramente apoiou e contribuiu abertamente para os descaminhos e deturpações conhecidos.

Ficamos complacentes diante de abusos, erros graves e tantos equívocos preocupantes, grosseiros e vergonhosos cometidos por pessoas às quais se atribui superioridade por alguma coisa, ainda que seja um motivo do qual muitos não conseguem explicar. Em muitos casos, muitas pessoas acreditam que a pessoa é "superior" na sua especialidade porque... "porque sim"!

NEYMAR E LUCIANO HUCK - Jogador de futebol com QI de sub-celebridade e apresentador com manias de ser dublê de ativista social.

Se Chico Xavier é visto pelos seus seguidores como "divindade", essa é uma mania brasileira. De repente, o anti-médium mineiro passou a acumular, do nada, reputações discutíveis que o atribuem qualidades falsas de "filósofo", "psicólogo", "cientista", "profeta" e tudo o mais. Assim, do nada, tudo por questão de status.

Isso porque tornou-se uma mania, no Brasil, de aceitar as imposições por causa do status. Se vem "de cima", tudo bem. Se alguém impôs uma coisa ruim e essa pessoa tem muita visibilidade, prestígio ou algum atributo aparentemente técnico, essa coisa ruim pode até nos prejudicar que temos que aceitá-las porque nosso prejuízo é tido como um "mal necessário".

Ficamos assim. Aceitamos qualquer coisa vinda "de cima", por alguma alegação que varia da popularidade de alguém à sua formação técnica. "Divinizamos" a autoridade e a liderança, somos prejudicados por suas medidas ou expressões diversas e achamos que nossos piores prejuízos são "males necessários" e temos esperanças por benefícios que nunca virão.

O povo brasileiro ficou "bovino" e seu nível de conformismo e aceitação das coisas chega mesmo a ser pior do que o que o povo teve em abril de 1964, quando ocorreu o golpe militar que tirou o presidente João Goulart do poder. Registra a história que o Brasil só sucumbiu ao conformismo a partir do quinto ato institucional (AI-5), em dezembro de 1968.

JAIME LERNER, ALEXANDRE SANSÃO E CARLOS ROBERTO OSÓRIO - Protegidos pela reputação "técnica", causaram o maior desastre para o transporte coletivo do país.

Só o direito de ir e vir dos brasileiros, através do transporte coletivo, sucumbiu a catástrofes e desastres de grandes proporções. a partir de medidas arbitrárias como a pintura padronizada que uniformiza empresas de ônibus com o visual imposto pelo Estado, a dupla função do motorista-cobrador, a redução de percursos de linhas para forçar a baldeação e a diminuição de ônibus em circulação que deixa o povo esperar muito tempo para a chegada de um ônibus.

Tudo isso é aceito por causa da roupagem tecnocrática de seus idealizadores, como Jaime Lerner, arquiteto paranaense que muitos esquecem ser ligado à ditadura militar. Ou seus discípulos cariocas, Alexandre Sansão e Carlos Roberto Osório, que transformam secretarias de transporte em verdadeiros laboratórios para a farra político-empresarial sobre o transporte coletivo.

MERITOCRACIA

Isso é que conhecemos como meritocracia. O "governo" do status, a supremacia daqueles que vêm com a reputação em alta, muitas vezes sem que alguém pergunte por quê, e que acaba influindo no quadro de violento retrocesso social sofrido nos últimos anos no Brasil.

O status é obtido pela rede de relações e pelos sistema de valores nem sempre justo nem edificante, mas que garante, através de uma série de artifícios, que pessoas medíocres ou incompetentes para alguma coisa se tornem seus supostos especialistas por uma questão de ascensão social. Meritocracia é o mérito como um fim em si mesmo.

Aceitamos tudo porque o fulano que impôs é especialista nisso ou naquilo, ou porque alguém faz sucesso, ou alguém é indicado por "forças superiores" como pretenso símbolo de "sabedoria" (como é o caso de Chico Xavier). Corrompemos nossos desejos e aceitamos bovinamente os piores absurdos, prejudicando nós mesmos por acreditarmos na pretensa superioridade de alguém.

Claro, é o Brasil de Neymar, um jogador de futebol que se comporta como se fosse uma sub-celebridade, se autopromovendo com uma média de dez factoides por cada gol que ele faz em campo. Ou então um Luciano Huck, apresentador de TV que usa seu carisma para se passar por "ativista social" em sê-lo de fato.

Há também nomes como Ivete Sangalo e Chitãozinho & Xororó, que alcançam altas reputações na música brasileira sem fazer algo de muito relevante. Ou então gente como o funqueiro DJ Marlboro, quase um "santo" nas páginas registradas na busca do Google.



Há também intelectuais que pregam a degradação cultural, como o historiador Paulo César de Araújo e o jornalista Pedro Alexandre Sanches, que no entanto gozam de status de "divindades" porque o primeiro tem formação acadêmica e o segundo, aparentemente, entrevistou um "who is who" da Música Popular Brasileira.

Institucionalmente, então, aceitamos que a Rede Globo imponha valores duvidosos, em suas novelas e programas de auditório, imponha gírias terríveis que todo mundo acaba falando no dia seguinte e massacra o vocabulário de tal forma que, em vez de falarmos "freguês", agora falamos "cliente" até mesmo para quem compra um pastelzinho na rua.

Há tantos exemplos. Para o público de rock, com tanta rádio que estaria melhor preparada para entender a realidade desse público, veio, no Rio de Janeiro, uma incompetente Rádio Cidade cujos donos, todavia, se entrosam melhor com uma elite de empresários, produtores e jornalistas influentes.

Ou então a supremacia da Coca-Cola, que, dizem, criou o famoso refrigerante de cor preta originalmente para ser usado como água sanitária, ou a McDonald's, rede de lanchonetes que, no Brasil, é denunciada por promover trabalho escravo e pagar mal seus funcionários.

Ou então, em caráter regional ou dependendo do grupo social, gozam de alta reputação figuras duvidosas como Eduardo Paes e Luiz Fernando Pezão, a promoverem o neo-coronelismo no Rio de Janeiro, ou o ex-presidente Fernando Collor, eleito senador em 2006 com um lobby que envolveu a revista Isto É e até uma intensa mobilização nas mídias sociais.

Ou então uma figura corrupta e incompetente como Mário Kertèsz, na Bahia, prefeito de projetos mirabolantes que roubou Salvador e usou o dinheiro para comprar rádios e jornais (alguns desfeitos depois de graves denúncias na imprensa) e instaurou a Rádio Metrópole, gozando da falsa reputação de intelectual, comunicador e jornalista que ele nunca foi nem é, não sabendo sequer escrever uma crônica.

E Kertèsz, com tudo isso e ainda tendo tentado comprar para seu controle os movimentos sociais em atividade na Bahia, ainda virou "divindade" entre seus seguidores por ter contratado para um programa radiofônico o festivo líder "espírita" local, o anti-médium José Medrado!

SUPERIORIDADE MATERIALISTA

É por causa disso que o Brasil vê banalizar a corrupção, a violência e a degradação sócio-cultural. A cultura brasileira decaiu tanto que dois canastrões como Chitãozinho & Xororó são vistos como "gênios" por causa de um tributo oportunista e caça-níqueis ao maestro Tom Jobim.

Imagine se tivéssemos que ficar muitas horas sem comer, seguindo o conselho de um badalado médico, só porque ele tem diploma e goza de muita visibilidade e alega que precisamos "reeducar nossa fome"? Teríamos que nos sacrificar só porque a medida é aconselhada por alguém dotado de prestígio e "especialidade técnica"?

MULHER MELÃO E SOLANGE GOMES - Símbolos da vulgaridade feminina, elas são tidas como "feministas" por uma elite influente de antropólogos, ativistas e jornalistas dotados do privilégio da ampla visibilidade.

Vemos até mesmo "mulheres-objetos" se passarem por "feministas" através de uma mera superexposição de glúteos e bustos siliconados, porque uma elite, aparentemente muito respeitada, de antropólogos e jornalistas desejou e persuadiu a opinião pública para que assim fosse.

Por causa de tanta incompetência escondida pelo manto do sucesso popular, do prestígio religioso, dos diplomas acadêmicos, da visibilidade obtida do nada mas tornada inabalável, somos prejudicados, sem saber, por causa desse "olimpo" de pretensas "divindades", pessoas bem mais deficitárias do que muitos pensam mas que gozam de um prestígio inabalável.

São pessoas que parecem gozar de uma "superioridade" terrena e materialista, que as faz gozar de imunidade mesmo quando são envolvidas em escândalos sérios ou associadas a erros e equívocos graves, mesmo trágicos. Isso porque muitos acreditam que as pessoas serão "divinas" para sempre, dentro dessa visão um tanto torta de "divindade".

Mas essa "divindade" é apenas um status material, provisório, feito pelos limites da Terra e aceitos pela passividade bovina de muitas pessoas, que não perguntam sequer por que fulano está no poder, faz sucesso ou tem tanto carisma. Simplesmente aceitam. É o que se decidiu "de cima", então vale qualquer absurdo, como se muitos pudessem louvar até fezes de passarinhos.

Essa meritocracia demonstra tão somente a "superioridade" momentânea nos limites da Terra e da encarnação presente de cada envolvido. Após a morte física, essas pessoas desfazem completamente da "superioridade terrena" e, não raro, ficam horrorizadas diante do "nobre nome" que tiveram e que foi reduzido a pó sob cinzas ou no fundo do túmulo.

Isso faz com que as pessoas que aceitem qualquer arbitrariedade diminuam drasticamente sua auto-estima, deixem de usar sua capacidade de discernimento e questionar ou rejeitas as coisas e aceitem medidas e fenômenos que na verdade soam nocivos e degradantes. Essa passividade anda causando sérios malefícios, vários deles de consequências bastante trágicas.

Como é que esse quadro de conformismo e complacência social, a todo tipo de absurdo só porque "vem de cima", irá permitir que o Brasil seja a "vanguarda humanitária da Terra" é algo que não dá para entender. Mas essa fantasia se deu a partir de um sonho banal de Chico Xavier, que prometia que o Brasil seria potência do mundo num passe de mágica (ou no "silêncio da prece").

Com sub-celebridades, "mulheres-objetos", músicos canastrões, ônibus "padronizados", famosos errantes querendo dar "bom exemplo", e outras tantas coisas e pessoas lamentáveis em tantos aspectos, não há como fazer o Brasil virar "coração do mundo". Se o Brasil mal consegue resolver a si próprio, ele tem muito menos capacidade de liderar alguma coisa no mundo todo.

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