quarta-feira, 7 de janeiro de 2015
Caso Amauri Xavier revela explosões de ódio no "movimento espírita"
Um dos casos mais chocantes do "movimento espírita" brasileiro envolve o sobrinho de Francisco Cândido Xavier, o jovem Amauri Xavier Pena, enigmática figura que se tornou vítima das piores demonstrações de rancor daqueles que justamente dizem pregar o "amor" e o "perdão".
A biografia de Amauri é confusa. Data de nascimento ignorada, limitada ao anos de 1933. Sobrenome trocado, às vezes creditado como Amauri Pena Xavier, contradizendo o fato de ser filho da irmã de Chico Xavier, Maria, o que indicaria que "Xavier" era o sobrenome que vinha antes, pois Pena era o sobrenome do pai, que aparece em último pelas normas familiares.
Até seu falecimento estranhamente prematuro tornou-se obscuro. Houve informações desencontradas dignas de rumores espalhados pelos delegados do DOI-CODI: Amauri teria morrido atropelado, ou por cirrose, sem falar do lugar, entre Espírito Santo do Pinhal, no interior de São Paulo, ou Sabará, no interior mineiro.
O que se sabe é que ele entrou num "centro espírita" por influência do pai, Jaci Pena, que, sabemos, era cunhado de Chico, e desenvolveu atividades supostamente mediúnicas. Iria escrever um livro, também de nome confuso, às vezes "Os Cruzílidas", noutras "Os Cruzíladas", que seria atribuído ao espírito de Luís de Camões, com narrativa similar ao de Brasil, Coração do Mundo, Pátria do Evangelho.
Amauri desenvolvia atividades supostamente mediúnicas e teria colaborado com a edição "definitiva" de Parnaso de Além-Túmulo, a sexta edição de 1955, Tudo corria bem até que Amauri procurou o jornal Diário de Minas para dizer que tudo que havia feito de supostamente mediúnico era, na verdade, fruto de sua imaginação.
Até aí, nada demais, mas o problema é que Amauri disse o mesmo em relação ao tio. Disse ele que respeitava Chico Xavier como homem e como seu tio, mas não como médium. Isso causou uma reação de ódio entre os lideres "espíritas" mineiros, com repercussão na FEB.
Amauri não foi sequer investigado. Em vez disso, foi vítima de inúmeras acusações, exageradas para um rapaz do tipo dele. Atribuiu-se a ele acusações de que teria sido ladrão, bebedor inveterado, invasor de residências, falsificador de dinheiro e arruaceiro. Só faltava dizer que ele havia matado alguém.
Um delegado, Agostinho Couto, de Sabará, depois que havia prendido Amauri, o expulsou da cidade, com acusações dignas de delegado truculento, como as que foram citadas no parágrafo acima. E mesmo Chico Xavier, aparentemente dotado de "muito amor e misericórdia" para o sobrinho, estava preocupado e até indignado com a situação.
QUEM DEVE, TEME
De repente, Amauri, em vez de ter suas denúncias investigadas, foi depreciado ao extremo, atacado como se tivesse sido um herege do Catolicismo medieval, atirado para a arena diante dos leões. E imaginar que os "leões" são os "espíritas" que se dizem dotados de "misericórdia infinita", é muito chocante, mas é a mais dolorosa verdade.
Quem deve, teme, e o "movimento espírita", uma vez que tomou conhecimento da denúncia de Amauri Xavier, foi logo desmoralizá-lo ao extremo. E sua decadência rápida demais também traz uma série de contradições que põem em xeque o "movimento espírita" brasileiro que se vangloria em ser "incorruptível".
Afinal, se ele foi internado num sanatório tido como "conceituado" pelos "espíritas", o Sanatório Bezerra de Menezes - na citada cidade de Espírito Santo dos Pinhais - , que existe até hoje, por que ele piorou de vez e passou a beber "todos os dias"?
Se ele era de uma família considerada "exemplar" - apesar dos relatos de "obsessão" por parte da irmã de Chico - , por que ele havia "sucumbido" tão cedo e tão rápido demais, morrendo até mais cedo do que se esperaria de alguém que só bebia muito álcool?
O que está por trás disso é que Amauri iria contar os "podres" do "movimento espírita", que já estava traumatizado com o caso Humberto de Campos que colocou o anti-médium de Pedro Leopoldo no banco dos réus. Temendo um outro processo judicial, os líderes "espíritas" de Minas Gerais e os nacionalmente ligados a FEB trataram de criar uma campanha violenta contra Amauri.
Por isso, em vez das denúncias de Amauri terem sido verificadas, mesmo quando se considera que elas estivessem realmente erradas, ele foi desmoralizado, e de repente morreu, num belo dia de 1961, sem sequer completar 28 anos de idade, quando se espera, num aparente ébrio que era, que Amauri morresse, pelo menos, dez anos depois.
Há uma suspeita de Amauri ter sido assassinado. Ele tinha falhas, defeitos morais e teria cometido erros. Mas não a ponto de ser falsificador de dinheiro ou coisa parecida. Não há provas de que ele teria sido um bandido perigoso, um delinquente incontrolável ou um bebum encrenqueiro. Mas tudo isso foi atribuído a Amauri de forma fútil, porém tida como "verídica".
Como o "dedicado" Sanatório Bezerra de Menezes - cujo nome se refere a uma figura "muito querida" e "de esforços bem-sucedidos" para o próximo, segundo o "espiritismo" brasileiro - teria deixado Amauri beber demais, é um mistério. Ou será que alguém do sanatório teria lhe dado a beber demais? Ou será que Amauri teria sido envenenado?
Amauri sucumbiu muito rápido, o que pode sugerir que ele tenha recebido maus tratos, sido envenenado ou coisa parecida. Ele não poderia ter sucumbido se a dedicação dos membros do sanatório tivesse sido eficaz, e se considerarmos o exemplo perseverante que, na hipótese do "espiritismo" ser realmente fraternal, teriam tido seus socorristas.
O caso Amauri Pena deveria ser investigado. O que pode ter ocorrido, provavelmente, é uma grave queima-de-arquivo, e o falecimento de Amauri lembra muito o de muitas vítimas da repressão militar cujo governo era defendido por Chico Xavier. Ele mesmo, que preferia a oração em silêncio ao protesto dos atos e palavras.
Toda a história de Amauri está muito mal contada e será preciso que se retome a investigação, independente de que ponto de vista seja, se ele favoreceria Amauri ou não, O que se quer é que a investigação não seja vinculada, direta ou indiretamente, aos interesses da FEB e de Chico Xavier. "Palavras de amor" e "olhos do coração" não podem servir de apologias à impunidade.
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