segunda-feira, 29 de dezembro de 2014

Estudo da Universidade de Juiz de Fora sobre caso Jair Presente deu parecer errado

JAIR PRESENTE, FALECIDO POR AFOGAMENTO EM 1974, TEVE CARTAS SUPOSTAMENTE ATRIBUÍDAS A SEU ESPÍRITO.

Um estudo científico feito pela Universidade Federal de Juíz de Fora deu um parecer errado, favorável a Chico Xavier, depois da análise de cartas atribuídas ao espírito do jovem Jair Presente, morto por afogamento há 40 anos.

Nascido em 10 de novembro de 1949, em Campinas, interior paulista, era estudante de Engenharia e faleceu na mesma cidade, quando estava na praia com os amigos. Chico alegava ter recebido, a partir de março de 1974, treze cartas atribuídas ao espírito do jovem falecido. Jair era filho de José Presente e Josefina Basso Presente.

Conforme alegou o diretor do Núcleo de Pesquisas em Espiritualidade e Saúde da UFJF, psiquiatra Alexander Moreira Almeida, que coordenou o trabalho feito em parceria com o Departamento de Psiquiatria da Universidade de São Paulo, a partir do pós-doutorado dos pesquisadores Denise Paraná e Alexandre Caroli Rocha.

"A motivação foi a importância que as chamadas cartas psicografadas têm no Brasil e a falta de estudos acadêmicos a respeito delas. Sabe-se que pessoas enlutadas podem aceitar, como sendo reais e precisas, cartas que contêm apenas informações genéricas", disse Almeida, que alegou ter usado todo o rigor científico para o estudo das referidas cartas.

Almeida acrescentou que a metodologia usada foi colher depoimentos detalhados de familiares e amigos de Jair, pesquisa de escritos deixados por Jair em vida, verificação de documentos em cartórios relacionados e leitura de recortes de jornais, num estudo que seus responsáveis garantem ser "rigoroso" e "minucioso".

A tese de "veracidade", alcançada pelo estudo, no entanto, revela-se equivocada, mesmo com todo o cuidado da pesquisa. As alegações foram de que as treze cartas atribuídas a Jair Presente "não mostravam apenas informações genéricas" e supostamente apresentavam dados que seus familiares "não conheciam". Outras informações conhecidas seriam apenas do âmbito privativo das famílias.

Não há garantias se tais informações confidenciais comprovam a veracidade da autoria de Jair Presente. Consta-se que Chico Xavier tinha seguidores que conversavam com os visitantes com o intuito de colher informações. Mesmo conversas informais aqui e ali eram aproveitadas para colher dados sobre os familiares.

Moizés Montalvão, questionando o trabalho de Maria Júlia Peres e outros membros da Associação Médico-Espírita do Brasil (AME), deu o seguinte questionamento a ser reproduzido abaixo. Moizés é conhecido em vários fóruns e mídias sociais na Internet pelos questionamentos feitos aos deslizes do "espiritismo" brasileiro. Vamos lá:

"Aliás, é um dado que salta à vista de quem examina o conjunto dos escritos da espécie, produzidos pelo médium: as missivas são muito semelhantes, tanto em estilo, quanto nas palavras utilizadas pelos pretensos mortos. Maria Júlia e equipe parecem não ter percebido este importante tópico. Se perceberam não deram a devida atenção. Entretanto, o fato das múltiplas cartas, relativas a múltiplas pessoas, serem muito parecidas mostra claramente que a gênese das missivas provém de uma única fonte, que foi a criativa mente de Chico Xavier".

As mensagens têm a mesma caligrafia xavieriana e, na maioria das vezes, apresentam o mesmo apelo religioso. Mas o que surpreende, e iremos mostrar em outro texto, é a disparidade de uma carta atribuída a Jair Presente em 15 de março de 1974, com claro estilo xavieriano, e outra, de 25 de agosto de 1974, aparentemente com linguagem típica de um hippie, tipo muito comum de jovem naquela época.

Quanto à pesquisa da UFJF, ela teve resultado equivocado, ainda que admita que o estudo ainda é inconclusivo. A grande mídia e a Fedaração "Espírita" Brasileira estão esperançosos que o estilo se conclua favorável a Chico Xavier, e comemoraram a publicação da pesquisa na revista Explore, do portal Elsevier (editora holandesa cuja filial brasileira se dedica a publicar livros sobre concursos públicos).

Mas há muitas irregularidades que se deixam passar e que aspectos delicados como informações confidenciais ou desconhecidas dos familiares não garantem veracidade da autoria de Jair Presente, pois, não havendo segredos no mundo espiritual, eles podem ser transmitidos por algum espírito traiçoeiro.

Além disso, o problema não está nas semelhanças, mas nas diferenças e outros aspectos irregulares. Pouco importa se a mensagem apresenta muitas semelhanças, se há um único detalhe que destoe da personalidade original do falecido, ela derruba toda chance de veracidade.

Aspectos como a caligrafia - se ela se limita a ser idêntica a Chico Xavier, não há chance de veracidade - , o estilo do texto, o estilo artístico e linguístico e tudo o mais, deveriam ser considerados no estudo e feitos com a maior cautela possível. E todo o rigor investigativo foi traído pelo desconhecimento ou subestima a esses detalhes.

Não é preciso ser grafoscopista, por exemplo, para verificar que as assinaturas do suposto espírito se diferem das que ele teve em vida. Só isso já derruba qualquer coisa, qualquer semelhança, qualquer dado particular que "a família não saiba" e outros supostos atestados de veracidade. Detalhes pequenos podem dar o veredito final, relativos ao estilo de escrever e de pensar do falecido.

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