sábado, 27 de dezembro de 2014

Caridade perigosa: quando se manipula ensinando

ILUSTRAÇÃO COM JESUS "EUROPEIZADO" PELA IGREJA CATÓLICA RECEBENDO CRIANÇAS HUMILDES.

A caridade, da forma como se conhece convencionalmente, pode ser perigosa? Sim, e muito. A questão de dominar através do relativo auxílio demonstra muito mais crueldade do que bondade, porque a ajuda é feita mediante uma troca.

Poucos compreendem o que realmente é caridade. Dar esmolas e oferecer cestas básicas, mas mantendo os miseráveis dentro de sua condição impotente de mudar suas vidas por si próprios, é, muitas vezes, tratá-los como animais domésticos quando recebem alimentos ou quando são convidados a brincar com o dono.

Nada se transforma, por mais que sejam difundidas "palavras de amor" e vídeos diversos apresentem tais "caridades" sob um fundo musical piegas, de alguma música orquestrada ou uma melodia piegas com tecladinho. Tudo serve apenas para alimentar a vaidade dos "caridosos" de ocasião.

E quando a educação é feita dentro dos limites ideológicos das religiões, o perigo se torna ainda mais ameaçador. É certo que crianças são retiradas das ruas ou dos cenários de abandono que as levariam a serem adotadas pela carreira criminosa, mas, por outro lado, a ação aparentemente filantrópica e educativa não consiste em algo realmente gratuito ou proveitoso.

Isso se justifica porque, por trás de projetos educacionais que, em tese, se confundem com as escolas públicas ou com projetos pedagógicos progressistas, existe a chamada "lavagem cerebral" ideológica, o preço caríssimo que se cobra diante de ajudas tão "sinceras" e "profundas".

CIDADE DA LUZ

Quando eu estava ainda iludido com a crença espiritólica, eu fui várias vezes à chamada Cidade da Luz (do "centro espírita" Cavaleiros da Luz), criada pelo anti-médium José Medrado, e, num evento comemorativo, provavelmente antecipando o feriado natalino, notei que as crianças mantidas na instituição pareciam isoladas, observando tudo de fora.

Uma voz na minha consciência me fez comparar os meninos humildes que lá viviam como animais em cativeiro. Rumores indicam que eles "trabalham" como flanelinhas no local. E, além do mais, eles é que são "aconselhados" a evitar o "bicho homem" que aparece afora, na plateia de cada espetáculo de doutrinária ou de suposta pintura mediúnica (falsificada) de José Medrado.

Muito estranho. E o que é que se ensina, junto ao beabá habitual, às contas aritméticas e os conceitos comezinhos de cidadania? Simples, aspectos ideológicos referentes às crenças determinadas, e, no caso do "espiritismo" brasileiro, como em outras religiões, nota-se o preço de aprender a ler acreditando em dogmas e fantasias.

E isso cria uma base de apoio perigosa para os jovens carentes, que poderão escrever, ler e fazer contas, mas obterão a cidadania de maneira torta e sem muita transformação. Eles acabarão apoiando os erros e equívocos de seus protetores e estarão a serviço de suas vaidades e privilégios.

Por isso a caridade pode ser um ato simples, mas tem sua complexidade na cautela que é necessária para evitar determinadas armadilhas. E a emotividade cega das pessoas não permite que se faça discernimento para a caridade espontânea e transformadora e a "caridade" manipuladora que desenvolve a cidadania pela metade.

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