terça-feira, 18 de novembro de 2014

O Espiritolicismo e a submissão do Brasil ao que vem "de cima"

EMPRESAS DE ÔNIBUS COM PINTURA PADRONIZADA, NO RIO DE JANEIRO - Medida impopular, nociva e ineficiente, mas que prevalece, por causa da "hierarquia".

Um dos piores cacoetes dos brasileiros, adquiridos desde os tempos do AI-5, é a submissão às autoridades ou a decisões que vem "de cima", ou seja, vem de pessoas que detém status, visibilidade e carisma, por mais erradas e antidemocráticas que sejam.

Isso favorece a prevalência do "espiritismo" brasileiro, com sua pretensa superioridade de julgar e prever as coisas, se utilizando de processos duvidosos e não raro fraudulentos de mediunidade, e servindo um conteúdo ideológico moralista, místico e mistificador, intimidando as pessoas pela "autoridade" que mesmo a pose de aparente humildade não consegue disfarçar.

Graças a esse apego à ideia de autoridade, em que decisões empresariais, políticas e religiosas, sem falar do exemplo nem sempre positivo de celebridades (para não dizer as sub-celebridades), as pessoas se acomodam e não contestam atitudes e procedimentos feitos ou ditados por pessoas dotadas de status ou algum tipo de prestígio social.

Pouco importam os interesses públicos, os princípios éticos, a transparência e nem sequer as vantagens. Às vezes uma medida só traz danos e desvantagens, mas ela prevalece e se amplia em várias partes do país porque interessa a um grupo privilegiado de homens, que jura de pés juntos que está agindo em benefício da sociedade, quando só serve a seus interesses traiçoeiros.

É o caso da pintura padronizada nos ônibus municipais ou intermunicipais, uma praga decadente que se espalha pelo país. Diferentes empresas de ônibus são obrigadas a adotar uma mesma pintura, confundindo os passageiros, favorecendo a corrupção político-empresarial e impedindo as empresas boas de oferecer um diferencial de serviço.

A medida nem de longe é benéfica, pelo contrário, ela traz prejuízos que dariam um longo livro de quatrocentas páginas só para enumerar todos eles. Mas a medida prevalece e não parece ter prazo final - a não ser que uma rebelião popular vire o quadro de cabeça para baixo - porque atende a interesses e vaidades de políticos, empresários mais poderosos e tecnocratas.

Esse é um exemplo de como uma medida autoritária, nociva e nada funcional prevalece. É porque muitos cidadãos ainda estão tementes, e veem tais medidas como se fossem "determinadas por Deus", achando até que os malefícios que sofrem, incluindo inúmeras tragédias, são "sacrifícios necessários" em prol de um "benefício futuro" que, na verdade, não existe nem jamais vai existir.

O "ESPIRITISMO" E SEUS ADEPTOS TEMENTES A DEUS... E A CHICO XAVIER

Há muitos outros exemplos, que mostram a má distribuição da representatividade no Brasil. Até segmentos culturais não são representados devidamente por celebridades ou veículos midiáticos, mas como tudo vem "de cima", de pessoas que conquistaram fama, votos ou diplomas, tudo é válido, por mais que a representatividade seja malfeita, equivocada, deficiente.

O Brasil tem essa mania, desde que o Exército brasileiro prometeu que iria resgatar a democracia no país em 1964, mas criou uma crise de valores sociais, culturais, políticos e econômicos, entre outras naturezas, que fez muita gente não saber mais o que quer e que aceita comodamente aquele que se impõe como seu representante.

Daí que, no Brasil da ditadura militar, cresceram mais e mais os anti-médiuns Chico Xavier e Divaldo Franco, antes considerados simpáticas mas excêntricas e pouco expressivas figuras religiosas, hoje promovidos a dublês de filósofos com suas supostas respostas para todos os problemas da humanidade.

Se, por exemplo, no âmbito midiático, vemos a aceitação dos jovens que curtem rock da representatividade de rádios como Cidade e 89 FM, incompetentes na divulgação do estilo musical que apreciam, ver Chico Xavier transformado numa quase divindade, como se fosse um vice-Deus no comando do Universo, isso mostra que o Brasil adotou a mania da subserviência.

Até na chamada "cultura popular" é assim, por conta dos executivos midiáticos. Se o nome popular se chama Calcinha Preta ou É O Tchan e está associado às baixarias pornográficas, tem que se aceitar. Se o caminho do folclore está no "funk carioca", por causa das alegações de intelectuais e acadêmicos badalados, tem que se aceitar como se fosse uma decisão de Deus.

Ninguém mais pergunta se tal imposição vale a pena, ou se ela é legítima. Às vezes reclama dos erros daquele que diz representar seus interesses e anseios, admite que este tem até defeitos, mas não faz o menor esforço em promover uma ruptura, em buscar algo melhor e mais autêntico para representá-lo.

A visão é temerosa, de perder a representação de autoridades, tecnocratas e outros profissionais que, com todos os seus defeitos, não obstante desastrosos e deploráveis, ainda têm uma reputação quase "divina". E haja masoquismo nas pessoas, em sofrer demais na esperança de um benefício que nunca virá.

No "espiritismo", a temeridade se manifesta quando as denúncias de erros cometidos por Chico Xavier, Divaldo Franco e similares começam a pôr em xeque suas reputações. Daí haver alguns "patrulheiros" a pedir "embasamento científico" pelo medo de ver seus ídolos expostos a críticas severas e cuja veracidade não depende necessariamente de "legistas" para se constatar.

Afinal, em muitos casos, os procedimentos desses anti-médiuns e outros astros do "espiritismo" são claramente fraudulentos. Não se pode justificá-los aceitando o sobrenatural e é muito fácil apontar fraudes na pintura de José Medrado pelo contraste que tem entre um pintor falecido atribuído a uma de suas pinturas "mediúnicas" e o que ele havia produzido em vida.

E o falsete de Divaldo Franco em suas pseudo-psicofonias? Pode ser Bezerra de Menezes, Marechal Deodoro, Dom Pedro II e outros, que é o mesmo texto, o mesmo modo de falar, se aproveitando da inexistência de registros sonoros originais dessas personalidades.

Quem carece de fundamento científico é a aceitação dessa suposta mediunidade, e não os questionamentos que chegam à tona, em muitos fáceis de reconhecer. Só vendo os quadros originais de Claude Monet e Pierre Auguste Renoir fica muito fácil apontar as fraudes cometidas pelas pinturas que José Medrado atribui a esses artistas, mas que destoa do estilo original deles.

No entanto, a temeridade se impõe a tudo. Temerosos a anti-médiuns, como a políticos, tecnocratas, executivos de mídia, empresários etc, as pessoas acabam se prejudicando seriamente e sem necessidade, pois o preço a se pagar por aceitar sempre as decisões vindas "de cima" é bem mais alto e não valem os benefícios prometidos, porque eles nunca virão ou, se vierem, serão poucos.

Daí o masoquismo existencial dos brasileiros, esse adormecimento de atitudes e procedimentos, Muitos aceitam coisas erradas, problemas, transtornos, misérias, tragédias, desastres, resignados por um benefício que não virá mas que a turma "de cima" - não a turma do além, mas a turma de cá que possui um bom status - garante que haverá.

Ninguém questiona com firmeza, ninguém combate, ninguém se encoraja a sair de sua zona de conforto e contestar arbitrariedades. Por isso, o Brasil se afunda no atraso, nos retrocessos, por causa da importância exagerada da hierarquia, cujos prejuízos não podem ser vistos como males necessários porque eles apenas prejudicam, sem trazer qualquer benefício real.

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