sábado, 22 de novembro de 2014

O desvirtuamento de valores e de princípios morais

"DEITAÇO" FOI FEITO SEMANA PASSADA EM APOIO À EMBRIAGUEZ DA ATRIZ LETÍCIA SABATELLA.

Dois fatos chamaram a atenção pelos aspectos fúteis e pela adoração aos baixos níveis da moralidade humana, estarrecedores mas não surpreendentes num contexto em que se apoia o "funk carioca" como sinônimo de "alta cultura" e se cultuam pessoas que alcançam a fama por nada.

Um é a manifestação de uns jovens desocupados e gozadores, em defesa da embriaguez da atriz Letícia Sabatella, que arrogantemente reagiu às críticas recusando-se a sentir vergonha pelo seu ato. Diante de críticas, manifestação ocorrida em várias partes do país saiu para defender a atriz no seu erro,

Outro é o oba-oba midiático em torno do casamento do psicopata Charles Manson - chefe de uma seita alucinógena e reacionária, a Família Manson - com uma jovem de 26 anos, ironicamente a mesma idade de uma de suas vítimas mais famosas, a atriz Sharon Tate, naquele massacre de 09 de agosto de 1969.

Artista frustrado depois de ser rejeitado para integrar ninguém menos que os Monkees, além de ser desafeto do produtor Terry Meltcher (músico filho de Doris Day e produtor dos Byrds, Beach Boys e outras bandas psicodélicas dos anos 60), Manson havia promovido a carnificina para se vingar do produtor e tentar matá-lo e matar sua mãe, mas matou outras pessoas e atingiu a atriz Sharon, que era mulher do cineasta Roman Polanski.

Do grupo que participou do massacre de 1969 - que deu fim ao astral juvenil da Contracultura e "fechou" os anos 60 - , uma integrante já havia falecido de câncer, em 2009. Mas há quem garanta que Charles Manson não tem muito tempo de vida, já que ele conta com 80 anos de idade o que, para quem teve um pesado passado junkie, é como se estivesse a poucos passos do cemitério.

Manson é tratado como se fosse um ator de filmes-B, e, pasmem, possui uma excêntrica e barulhenta legião de fãs, como um efeito da cultura trash que varreu os EUA desde a "década perdida" da Era Reagan até a onda escatológica trazida pelo grunge no começo dos anos 90.

É uma crise de valores, vinda dos delírios yuppies e do revanchismo do nixonismo perdido - quando o caso Watergate expôs um esquema de corrupção nos bastidores do governo de Richard Nixon, por sinal o presidente dos EUA na época do massacre da seita Manson - e que fez os norte-americanos passarem a cultuar até psicopatas, em nome da catarse niilista de uma elite de jovens bem-nascidos.

No Brasil, isso se tornou mais sutil quando personagens como Guilherme de Pádua e Antônio Pimenta Neves, por seus crimes, receberam tratamento diferenciado da grande imprensa. De Pádua tornou-se um típico personagem de filme de Luís Buñuel, com manias de autoridade jurídica, demonstrando apetite voraz em processar qualquer um que contrariá-lo.

O ex-ator chegou mesmo a ameaçar processar a novelista Glória Perez por danos morais, não bastasse ser ela mãe da atriz Daniella Perez, assassinada por Guilherme, seu colega de elenco numa novela. Glória chamou o ex-ator de "psicopata" depois que ele, após o homicídio, se dirigiu aos familiares da vítima demonstrando "sentir pêsames" pelo ocorrido.

Pimenta Neves, como figurão de uma grande imprensa conservadora e reacionária, sediada em São Paulo, nunca aparecia nas retrancas criminais de seus veículos, mas tão somente na retranca "país", referida a fatos políticos ou ocorrências nacionais comuns. Arrogante, ele definiu o assassinato contra sua ex-namorada e colega Sandra Gomide, em 2000, como "uma besteira".

CRISE DE VALORES

A crise de valores e a combinação promíscua e desequilibrada de valores libertinos e outros moralistas, combinados a um sentimento de catarse que eventualmente serve uns e outros valores, ao mesmo tempo cultuando as frases dóceis de Chico Xavier e exaltando a bebedeira de Letícia Sabatella - fora outras coisas como a defesa do uso de drogas pela ex-estrela mirim Patrícia Marx - , revela o padrão de sociedade em que vivemos.

Claro que isso não ocorre somente no Brasil, os EUA são marcados pelo culto à sub-celebridades, à ação de uma imprensa sensacionalista virulenta, à ocorrência de chacinas, ao endeusamento de psicopatas, à valorização do trogloditismo esportivo - como as lutas de UFC - , o que indicam um retrocesso moral profundo, mesmo em pleno século XXI.

E isso torna seletivos até os méritos ou tragédias para quem cometeu erros vergonhosos ou crimes. Se, por exemplo, alguém diz que um roqueiro de 65 anos está com câncer terminal porque se drogou demais, há quem comemore, achando isso "bem feito" e até torcendo para que o sepultamento aconteça o mais rápido possível.

Mas se alguém disser que um empresário de 80 anos, que no passado fumou demais e que havia assassinado sua esposa,têm tumor maligno no pulmão, há quem diga que é invenção de gente rancorosa, mesmo quando a advertência parte dos mais dedicados amigos e tal constatação seja tão somente em função do natural desgaste do organismo.

A depender do status quo de alguém, a utopia da "autodestruição responsável", seja a pretexto da "defesa da honra", da "liberdade do corpo", do "direito à diversão", da "vontade de extravasar" e por aí vai, cria uma ilusão de que seus detentores são invulneráveis às consequências negativas de seus atos.

A "liberdade" humana passou a ser a de se embriagar, de se drogar, de se prostituir, portar uma arma, brigar no tatame ou, em certos casos, tirar a vida de alguém "incômodo", sem ter que arcar com as consequências de tudo isso, seja o desgaste do corpo físico ou os protestos do restante da sociedade, como se as pessoas que cometem tais desvios fossem "invulneráveis".

De repente, o mau-caratismo, a libertinagem, os erros graves, ou mesmo crimes, se tornaram um "diferencial" que faz com que determinadas pessoas de elite sejam endeusadas, queridas e poupadas de alguma consequência danosa. No caso de Letícia Sabatella, alguém seria capaz de fazer um "deitaço" se, em vez dela, a embriagada fosse uma figura controversa como Luana Piovani?

Os valores e princípios morais se desvirtuaram e a pós-modernidade, de repente, se viu tomada de forças retrógradas. O medieval Tea Party, as lutas de UFC, o culto aos psicopatas, a defesa da embriaguez e do vício de drogas, o mundo fica junkie, medieval, retrógrado, e seu reflexo no Brasil começa a se fortalecer.

Se isso já ocorre nos EUA, que cumprem um papel negativo como país comandante da ciranda das nações no planeta, um Brasil confuso e esquizofrênico não será diferente. Daí não se esperar que o "coração do mundo" se torne uma nação progressista e promotora da paz. Será mais um "império" a desnortear a humanidade.

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