segunda-feira, 6 de outubro de 2014

"Movimento espírita" e a indústria dos livros proselitistas


O "movimento espírita" se aproveita de um dos hábitos pouco populares no Brasil, o de leitura de livros, para criar um mercado tendencioso de proselitismo religioso. Se poucas pessoas leem livros e precisam cultivar esse hábito, que ele então seja feito de forma mais interesseira possível, segundo a lógica de certas pessoas.

Portanto, o que se observa é um mercado de livros "espíritas" que não passam de obras supérfluas, em boa parte prolixas, mas em maioria meramente novelescas e de conteúdo igrejista, obras irregulares, maçantes, fantasiosas ou piegas, mas que se tornam bem-sucedidas nas vendas ou ganham algum destaque na mídia.

Essa indústria é puxada também pelo cinema, que realimenta também o mercado editorial, por parceria ou associação direta ou indireta. Foi dessa forma que, por exemplo, a biografia de Chico Xavier por Marcel Souto Maior e livros como Nosso Lar, que alimentam as vendas através de adaptações para o cinema.

Mesmo obras de influência indireta, como o livro de Geraldo Lemos Neto, Não Foi em 2012, sobre a suposta profecia de Chico Xavier, tema do documentário Data Limite, Segundo Chico Xavier, não são exceção a essa regra, em que filmes alimentam vendas de livros.

Há tantos livros irregulares, de moralismo religioso, com temáticas tristes e deprimentes que trazem "lições positivas", que não passam de um engodo que nada acrescenta para a vida das pessoas. Afinal, são apenas obras que tentam enrolar para dizer, tão somente: "Agora que você sofreu, não tem jeito, você aceite tudo isso com alegria e se vire na sua vida".

Enquanto isso, chegou-se até a haver um romance "espírita" em que um homem matou a mulher e é socorrido espiritualmente sem sofrer tantas provações, apenas atendido na sua "angústia" e ficando bonzinho no final. No Espiritolicismo, é estarrecedor que o homicídio é um ato atenuante diante do suicídio, em que pese o ato de tirar a vida de outrem ser o mais extremo ato de egoísmo humano.

Fora os livros de "embromação" divulgados por Divaldo Franco, Chico Xavier e outros, a maioria dos livros "espíritas" publicados no Brasil são meramente novelescos. Estes e aqueles, no entanto, desnorteiam a teoria espírita, seja pelo pedantismo pseudo-científico, seja pelo moralismo religioso, pelo misticismo surreal e pelas desnecessárias evocações à "família", de ranço bem católico.

Há também as "pseudo-grafias" que relatam falsas vidas espirituais de nomes diversos, de Getúlio Vargas a Cazuza, ou livros sensacionalistas criminosamente atribuídos a ilustres falecidos, como Humberto de Campos e Santos Dumont, acusando vítimas de tragédias de terem sido romanos sanguinários, talvez até para livrar os anti-médiuns de qualquer culpa, atribuindo esta ao "além".

O mercado editorial se serve também de outras obras "mediúnicas" dissidentes, não declaradamente "espíritas", mas que também surgem derivadas de todas essas manobras literárias. Em todo caso, essas obras também agravam toda a bagunça que é o mercado editorial "espírita".

ALLAN KARDEC DEIXADO NO CANTO

Enquanto se desperdiçam livros e livros supostamente "espíritas" ou "espiritualistas", desviando a atenção daqueles que estão em busca de respostas para a vida espiritual, mas que são frequentemente enganados por todo esse engodo moralista, mistificador e igrejista, o pioneiro das teorias espíritas, o professor Allan Kardec, é cruelmente desprezado.

Na melhor das hipóteses, a presença dos livros de Allan Kardec - e, mesmo assim, somente os cinco livros básicos e Obras Póstumas, pois quase não há sinal de O Que é o Espiritismo (a mais básica das obras básicas) nem da coleção Revista Espírita (que, por outro lado, aprofunda a teoria espírita) - aparece através de traduções pouco confiáveis, a partir do exemplo da FEB.

Se descontar as traduções "domesticadoras" dos livros de Allan Kardec, a situação piora e a única tradução confiável de suas obras, a de José Herculano Pires e, se for o caso, de seus colaboradores (como Wallace Leal Rodrigues, o melhor tradutor para O Que é o Espiritismo), nem sempre está disponível no mercado, apesar de ser relativamente acessível.

Isso é muito grave, porque as lições seguras e realistas do professor lionês, tidas preconceituosamente, no Brasil, como "ditadura da ciência" e "supremacia da razão", e erroneamente vistas como "complicadas" e "ultrapassadas", não encontram ampla receptividade pelos brasileiros.

Se o próprio "movimento espírita" da FEB, com toda sua grandiloquência e com toda a mistificação de seu astro maior, Chico Xavier - que foi manobrado no show business espiritualista tal qual Michael Jackson, por exemplo - , não consegue fazer com que o Brasil tenha mais de 2% dos ditos espiritas na sua população, o número de espíritas autênticos é ainda muitíssimo inferior.

Imaginemos, por exemplo, os espíritas autênticos serem 1% dos "2%". Uma demanda pequena, não por culpa da "ditadura da ciência", mas antes dos desvios que o sensacionalismo mistificador e mitificador do "espiritismo" igrejista fez para dificultar, aos simpatizantes do Espiritismo, a compreensão honesta das verdadeiras ideias trazidas pelo professor lionês.

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