quinta-feira, 2 de outubro de 2014

Como o "espiritismo" tenta subestimar a razão questionadora em prol da fé mistificada


"Não critiquem, apenas orem e amem", diz o traiçoeiro Emmanuel sob a escrita feita por Chico Xavier. Essa frase dá o tom de como é o "espiritismo" brasileiro, que rejeita o debate e o questionamento, recursos fundamentais do raciocínio científico e próprias do pensamento humano.

O "espiritismo" brasileiro tenta, com isso, manter, à maneira que foi feito o Catolicismo medieval, uma reserva de "proteção" ao misticismo surreal, aquela em que o sentido de fatos estranhos ou surreais está na sua mitificação e mistificação a pretexto de serem "mistérios da fé e do amor".

Assim, qualquer fenômeno que escapar à lógica comum é aquele que, na retórica "espírita" brasileira, "escapa" às percepções da razão humana. Ou seja, são fenômenos tidos como "sobrenaturais" e por isso "desafiam" qualquer tipo de lógica do raciocínio humano, supostamente incapaz de conseguir explicar tais ocorrências.

Isso permite com que qualquer fraude feita em nome do "espiritismo" no Brasil, das falsas materializações da picareta Otília Diogo aos falsetes pseudo-psicofônicos de Divaldo Franco, passando pelas pseudo-psicografias risíveis e pelas falsificações de quadros de José Medrado, fossem consideradas em nome do "mistério da fé e do amor".

Acredita-se, ama-se, ora-se. Só isso. E olha que o "espiritismo" se gaba em defender o raciocínio lógico, a apreciação da ciência, as pesquisas de cunho científico e fazem até um desfile de ilustres cientistas em suas retóricas manifestas nos mais diversos textos de sua doutrina, de livros a artigos.

Como é que essa doutrina se gaba tanto em defender a ciência e diz valorizar as pesquisas científicas, se ela condena o raciocínio lógico quando ele penetra nas entranhas sombrias de seus processos e procedimentos?

Um cientista verdadeiro não teme ser questionado. E nem mesmo Allan Kardec temia o questionamento, admitindo até que, se fossem provados argumentos lógicos a respeito, abandonaria o Espiritismo para ficar com a ciência, tamanha é a sua humildade em relação ao raciocínio lógico.

Não que ele quisesse fazer isso, mas Kardec estava mexendo com um repertório de conhecimentos novos, ele mesmo procurando buscar teses plausíveis, sem se arrogar das certezas absolutas sobre as novidades lançadas. Ele mesmo tinha mais dúvidas que certezas, e se esforçou o máximo para expressar a maior coerência possível sobre as ideias lançadas.

Isso é muito diferente do que fizeram os espiritólicos a partir das deturpações lançadas por Jean-Baptiste Roustaing, o querido "João Batista Roustaing" citado no livro Brasil, Coração do Mundo, Pátria do Evangelho, que tomam o incerto como "certeza absoluta" e para o qual não cabem questionamentos investigativos, que "ofenderiam os princípios da fé e da caridade".

Assim, as mistificações religiosas, à maneira do Catolicismo medieval e a partir da primeira fraude ideológica conhecida, a da tese dos docetistas - dissidência do Cristianismo medieval radicalmente mística - de que Jesus nunca teve corpo físico, sendo tão somente um fluído "nascido" da Maria "virgem" em sintonia com o "espírito santo" (simbolizado por um pombo).

A partir dessa distorção, vieram os desvios de lógica do Catolicismo medieval: o mar se "rasgando" por iniciativa de Moisés, a exagerada "mundialização" das enchentes regionais do episódio da Arca de Noé, entre tantos outras interpretações surreais.

Já no "espiritismo", em que pesem permitir contestar os mitos surreais católicos, lança outros: supostos espíritos que se manifestam vestindo roupinha branca com fotos de mortos impressas sobre cabeças encobertas, mensagens e expressões artísticas duvidosas que valem apenas pelas "mensagens fraternais" etc etc.

Tudo é feito para manter um religiosismo viciado, não mais com os exageros do Catolicismo medieval mais antigo, mas adaptado aos contextos atuais e voltado ao pretexto da espiritualidade. Mas são apenas outros erros que substituem erros antigos, superados não porque eram erros, mas porque causaram efeitos de repercussão bastante danosos e explícitos.

Isso fora os erros históricos, as informações distorcidas, as pinturas grosseiramente falsificadas. Tudo isso vale "pelo amor", pela "caridade e fraternidade". Que engulamos sapos e aceitemos absurdos, bastando apenas "acreditar, amar e orar". São os "mistérios da fé e do amor", que transformam nossa grande dádiva de raciocinarmos as coisas num "pecado original" a ser extirpado pelo "movimento espírita" brasileiro.

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