quarta-feira, 2 de julho de 2014
"Mediunidade" brasileira se nivelou às "mesas girantes" do pré-Espiritismo
A "mediunidade" realizada no Brasil, de tão irregular e cheia de fraudes dos mais diversos tipos, acontece de tal forma que ela se transformou num mero entretenimento que alimenta a vaidade de muitos palestrantes, escritores e outros ídolos do Espiritolicismo.
Tudo virou uma questão não de divulgar, em si, mensagens espirituais de gente já falecida, mas de produzir mensagens de pregação religiosa, atribuídas a celebridades que já morreram, cujos nomes são usados para fortalecer o sensacionalismo místico-religioso de tais mensagens.
Virou uma grande bagunça, para a qual as recomendações cautelosas de Allan Kardec, que se esforçou o máximo de seu raciocínio lógico para desenvolver ideias além dos limites de seu tempo, se tornaram algo no mínimo desprezível, já que hoje qualquer um se passa por um morto para mandar mensagens de "amor e caridade".
Tudo se nivelou ao espetáculo das mesas girantes, que Allan Kardec havia pesquisado antes de divulgar os livros conhecidos da Doutrina Espírita. As mesas girantes - ou "mesas falantes", como se conhece em Portugal - eram um fenômeno que apareceu na Europa do século XIX, sobretudo na França.
Eram mesas sobre as quais se colocavam objetos pesados que, aparentemente, se movimentavam sem esforço. Eventualmente, apareciam vozes de gente que não estava fisicamente presente no lugar. Pessoas se sentavam em volta, se concentravam e viam objetos se moverem e vozes "invisíveis" se manifestarem, tentando algum diálogo com elas.
O evento se popularizou, mas aí vieram denúncias de fraudes, enquanto Kardec, mesmo com ceticismo, procurasse estudar os fenômenos da espiritualidade, em seus livros e artigos. Com o tempo, as mesas girantes deixaram de ser moda na Europa.
Já no Brasil, a "mediunidade" se dá da mesma forma. Até mesmo pior. Afinal, se até mesmo um dos primeiros trabalhos tidos como mediúnicos, o livro de poemas Parnaso de Além-Túmulo, que Chico Xavier lançou em 1932, já se mostrou fraudulento, com a clara contradição em estilo entre os poemas espirituais atribuídos e o que os supostos autores fizeram em vida, imagine o que é feito hoje.
Isso alimentou muito o mito de Chico Xavier, que se tornou a mina de ouro da FEB, produzindo dinheiro e fama às custas da transformação da espiritualidade em mercadoria, por mais que se usem alegações filantrópicas aqui e ali. E, através dele, criou um padrão irregular de mediunidade, para o qual palavras de amor em si valem mais do que qualquer método transparente de expressão das mesmas.
É como lembrou o escritor Niccolo Macchiavelli, o Maquiavel, "os fins justificam os meios". Crítico da tirania política, ele criou essa frase não por defender esse processo, mas por descrever a ação da corrupção política que se vale de qualquer meio para obter uma finalidade.
E, nesse caso, a finalidade de "divulgar palavras de amor" é usada pela FEB de forma mais irresponsável, já que belas palavras valem mais até mesmo do que qualquer exigência de honestidade ou veracidade. Isso é que se valeu a "mediunidade" que conhecemos, cometida não só por "espíritas" febianos, mas até mesmo por dissidentes dessa instituição roustanguista.
Daí que, sob o pretexto da caridade, prevaleceu o mero entretenimento das mensagens adocicadas. O espetáculo se sobrepôs à ajuda ao próximo, e nomes de ilustres falecidos são usados para promoção do sensacionalismo, sem que isso signifique uma verdadeira expressão da espiritualidade. E assim o "espiritismo" brasileiro voltou ao estágio anterior ao da doutrina de Allan Kardec. Regrediu-se.
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