sábado, 21 de junho de 2014
A pieguice "espírita"
A pieguice é um dos instrumentos mais utilizados pelo "espiritismo" brasileiro para seduzir adeptos e fiéis, sobretudo os mais idosos, considerados pessoas dotadas de maior sensibilidade emocional. Daí a maior presença dessas pessoas nesse sistema de crenças duvidoso.
Mas o que é mesmo a pieguice? Segundo vários dicionários, pieguice é um estado de sentimentalismo excessivo ou ridículo, de emotividade exagerada que, numa comparação metafórica, corresponde ao sentido poético do diabetes, por causa do excesso de açúcar, de doçura, só para dizer de maneira mais informal.
Isso é que anda atraindo muita gente, até com facilidade. Quem é que não se sente seduzido por tanta emotividade? Só aqueles que são capazes de ponderar as coisas com algum discernimento. Mas quem não chega a tanto se sente facilmente seduzido por esse astral piegas, de emotividade carregada que entorpece até mesmo a razão.
Mesmo as evocações tendenciosas de "nosso espiritismo" à ciência e seus valores são muito carregadas de pieguice. Os seminários "espíritas" cujos cartazes são ilustrados de desenhos geométricos da anatomia humana, ou de desenhos do universo com seus planetas, satélites e estrelas, também se inserem nesse contexto.
A evocação à Ciência é feita para disfarçar o tom de pieguice, mas a própria natureza do Espiritolicismo, que mistura moralismo religioso, misticismo e clichês da espiritualidade, não consegue exercer o raciocínio científico, expresso muitas vezes de forma pedante e superficial pelos seus pregadores, em apressadas pesquisas bibliográficas.
O desfile de cientistas e de ideias científicas que volta e meia "recheiam" os textos "espíritas", dessa forma, apenas dá um verniz racional a uma doutrina marcada pelo sentimentalismo extremo. E mostram o que é o discurso confuso, típico de sociedades marcadas pela mediocridade cultural, cheio de contradições e métodos tendenciosos.
O "espiritismo" brasileiro usa esse discurso confuso porque, como em toda armadilha discursiva, se serve de uma retórica inovadora para defender um conservadorismo ideológico. Sua finalidade é pregar o misticismo religioso até mais retrógrado que o do Catolicismo de hoje, mas disfarçado de vanguarda espiritualista de orientação racional e quase científica.
E essa pieguice também se carrega de clichês simbólicos, perfeitos para seduzir quem ainda não está preparado para desconfiar de certas coisas. Vários aspectos são bem conhecidos, e vale aqui mencioná-los como exemplos mais típicos.
É a figura de Chico Xavier, com aqueles elementos ideológicos do velhinho de aparência frágil, índole supostamente humilde e ingênua, associado a um espiritualismo pretensamente sábio. Na sua imagem ideológica, juntam-se elementos aparentemente opostos ligados a sabedoria, humildade, velhice, que se tornam elementos de propaganda para o dito "espiritismo" brasileiro.
Para "diversificar" as coisas, há a figura também idosa de Divaldo Franco, com roupas de professor à moda antiga, com um discurso verborrágico e prolixo que lembra os antigos catedráticos, e que também serve de propaganda ideológica, com ênfase nos estereótipos relacionados à sabedoria e à hierarquia educacional antiga.
Outros elementos ideológicos são as rodas musicais, com jovens dotados de alguma descontração e informalidade que interpretam canções espiritualistas, geralmente acompanhados de um violão ou teclado. Tentam reproduzir os ambientes de recreio universitário ou luaus juvenis nas praias, com músicas cantadas em coro dentro de um clima emotivo que busca tranquilizar os mais velhos.
Há também o tradicional misticismo religioso, além da "tranquilidade" paternalista dos passes, entre outras atividades em que todo o verniz ideológico de ideias como "amor, caridade, luz e fraternidade" se constitui num elemento apelativo para atrair cada vez mais fiéis para os "centros espíritas".
E tudo isso por conta de uma pieguice, de uma emotividade bastante carregada que acoberta até mesmo as inúmeras irregularidades cometidas pelo cotidiano "espírita" brasileiro, já que se trata da supremacia da emoção sobre a razão, por mais que se use a "ciência" como pretexto em muitos momentos.
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