segunda-feira, 23 de junho de 2014

A Justiça não pode ser conivente com a fraude espiritólica


Escrevemos aqui que as "palavras de amor" não podem servir de pretexto para todo tipo de fraude usada sob o pretexto da "atividade espírita". A impunidade também torna-se injusta mesmo quando atos fraudulentos e mentirosos são utilizados em pretensa finalidade filantrópica, mesmo quando tudo parece cheio de "boas energias" e "muito amor".

A justiça dos homens pode ser cheia de falhas, e mesmo as leis encontram brechas que mais favorecem injustiças do que as eliminam. Mesmo assim, poderia haver um esforço para combater a fraude, mesmo usada sob o verniz da "fé religiosa", porque a liberdade religiosa é respeitável e digna, desde que ela não sirva de estímulo para fraudes que se protegem sob dogmas e outras alegações.

É verdade que o tema da espiritualidade é algo novo. Tão novo que, há exatos 70 anos atrás, a ação judicial que os herdeiros de Humberto de Campos moveram contra Chico Xavier, que havia usado o nome do falecido escritor como suposta autoria espiritual de seus livros terminou em empate.

Só que o empate acabou rendendo pontos ao anti-médium mineiro. O juiz na época do processo desconhecia a problemática dos direitos autorais em obras do além, elas só valiam em relação ao que eles produziram em vida. E mesmo as leis também não previam qualquer caso desse tipo.

Com isso, nada foi provado na época contra Chico Xavier e tudo ficou como se nada tivesse acontecido, embora os familiares tivessem recorrido algumas vezes, a ponto do suposto espírito de Humberto de Campos ter mudado seu nome para "Irmão X".

Só que isso não é desculpa para que usemos a caridade para justificar qualquer fraude, qualquer abuso cometido sob o manto do "espiritismo". Os advogados e juízes deveriam mesmo enfrentar a situação e se confrontar até mesmo com figurões "tarimbados" do dito "espiritismo" brasileiro, sem temer derrubar reputações ou mesmo comprometer ações filantrópicas.

Isso porque a desonestidade e a fraude não podem estar acima da caridade. Sacrificar a honestidade e a transparência em nome da "ajuda ao próximo" em nada contribui para a realização da verdadeira caridade, antes fosse um agravante em que a mentira se torna deplorável a cada tentativa de se passar por verdade tida como indiscutível.

Basta deixarmos isso para lá e "acreditarmos" na função "caridosa" de uma fraude "espírita"? De uma pintura, obra literária ou musical ou uma mensagem produzidas supostamente do além que destoam das caraterísticas pessoais do que os falecidos eram em vida? Usar como desculpas um suposto "nervosismo" ou outras alegações absurdas para dar veracidade a essas mentiras "astrais"?

Acreditar nessas manifestações duvidosas não é dar-lhes confiabilidade. Essas obras que destoam das caraterísticas pessoais dos falecidos, ainda que por meio de aspectos sutis, não se tornam mais confiáveis pelo consentimento. Se acreditamos nelas, não lhes damos confiabilidade, mas credulidade, por mais que muitos de nós aleguem veracidade e tantas outras desculpas "bonitas".

130 ANOS DE FRAUDES, MENTIRAS E DETURPAÇÕES

A Justiça, com "j" maiúsculo, como instituição para regular os desequilíbrios e conflitos na sociedade moderna, não deve ficar indiferente às fraudes que acontecem sob o rótulo de "espíritas", e que tantas mágoas causam, provavelmente, aos espíritos do além, que são impedidos de se comunicar conosco de uma forma ou de outra, porque outros se passam por eles e fica por isso mesmo.

O "espiritismo" brasileiro realizou 130 anos de fraudes, mentiras, deturpações sérias, a tal ponto que a mediunidade feita no Brasil é uma prática quase que totalmente desmoralizada, em que a irregularidade se tornou a regra.

Qualquer um que tenha popularidade num amplo círculo social pode usar o nome de um falecido, copiar superficialmente suas caraterísticas e informações e mandar uma mensagem de pregação religiosa, e, infelizmente, muitos acreditam e o farsante acaba ficando impune pelo resto da vida. Mesmo as piores mentiras, neste sentido, conseguem passar incólumes durante décadas.

Por isso, seria melhor avaliarmos as fraudes "espíritas" e buscarmos apoio da Justiça. A coisa está séria. Os falecidos são impedidos de se comunicar conosco, porque outros "o fazem por eles", e por isso se afastam, constrangidos e envergonhados diante de processos descontrolados aqui feitos.

Isso é tão ruim quanto o que se faz na Terra. Recentemente, quatro jovens em Niterói foram assaltados durante a noite e os ladrões, se passando pelas vítimas, mandaram mensagens ofensivas no Facebook através dos celulares roubados.

Mas mesmo as mensagens "espirituais" sendo "amorosas" e "cheias de caridade" não escapam desse processo mesquinho e traiçoeiro. É uma forma de enganação, tão ruim quanto despejar ofensas usando o nome de alguém, apenas se muda o método criminoso.

Há até um agravante óbvio. Se o ato dos assaltantes com os celulares das vítimas é uma maldade, pelo menos ela é fácil de se reconhecer. Mas a farsa que se apoia no pretexto da espiritualidade é mais grave no sentido de ser uma crueldade que se impõe como "caridade", como se fosse um "ato de amor", enquanto impostores se beneficiam diante dessa retórica "bondosa" e "dócil".

É preciso que se faça alguma coisa, porque não somente as lições de Allan Kardec foram seriamente prejudicadas com 130 anos de deturpações, mas é a verdadeira caridade com os espíritos do além que é ameaçada, com esse espetáculo da falsidade ideológica apoiado pela impunidade que é lamentavelmente um aspecto típico em nosso país.

Convém combater tudo isso, sem temer derrubar reputações, até porque não se deve zelar por prestígios conquistados às custas da mentira e da falsidade, mesmo usada "em favor do próximo".

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