segunda-feira, 5 de maio de 2014

Livro do fraudador Woyne Figner é relançado para o mercado laico


O suposto livro psicográfico de Woyne Figner Sacchetin, intitulado Caminhos do Brasil, é relançado pela mesma editora, Lachâtre, com nova capa e destinado ao mercado "laico", ou seja, não-religioso. Tido como "por inspiração de Juscelino Kubitschek", o livro tenta narrar a trajetória de supostos candangos que teriam vivido o cotidiano das construções de Brasília.

Embora o livro tenha uma narrativa verossímil, uma das falhas apontadas é que o "espírito" de Juscelino Kubitschek, diante da pergunta de Toniquinho da Farmácia, num comício em Jataí (GO), sobre o dispositivo da Constituição de 1946 que determinava a construção de Brasília, respondeu a questão sem hesitar.

Diz a história que Juscelino pensou um pouco antes de responder à questão, o que contradiz a mensagem do dito espírito e põe em xeque a narrativa habilidosa que chega mesmo a imitar o estilo de narrativa do ex-presidente. Pelo menos o dr. Woyne, médico de São José do Rio Preto, é um excelente leitor da revista Manchete.

Mesmo a minissérie JK, da Rede Globo, em que o ex-presidente foi interpretado pelo também saudoso José Wilker, a situação do hesitamento foi mencionada. Não que Juscelino fosse a princípio contra a construção da nova capital, ele até a considerava, como muitos dos mineiros desde os tempos da Inconfidência, mas não imaginava que ela seria uma das prioridades de campanha.

Woyne, aliás, se envolveu em situação pior, que foi o livro O Voo da Esperança, que o médico e anti-médium atribuiu ao espírito do engenheiro Alberto Santos Dumont. Destoando do espírito generoso do pioneiro da aviação brasileira, o suposto Santos Dumont acusava as 199 vítimas fatais do acidente da TAM em São Paulo, em 2007, de terem sido romanos sanguinários do ano 60 a.C..

O livro chegou a ter proibidas novas prensagens por ação movida por um juiz de São José do Rio Preto. Além disso, familiares das vítimas saíram ofendidos com o livro e também moveram processo. A obra também é um acinte à memória do engenheiro e inventor do avião e do relógio de pulso, por atribuir a ele tão violentas acusações.

Chico Xavier havia feito a mesma acusação no livro Cartas & Crônicas, de 1966, quando, atribuindo ao espírito Humberto de Campos, acusou as vítimas do incêndio do Gran Circo Norte-Americano, em Niterói, em 1961, de terem também sido romanos sanguinários, só que no ano 177 d.C..

Com o livro atribuído a JK, o fraudador Woyne tenta conquistar o público laico, uma vez que o livro atribuído ao espírito do ex-presidente teve mais sorte comercialmente no mercado dito "espírita". No entanto, será difícil que o livro tenha uma repercussão séria, uma vez que se trata de uma obra duvidosa e cujo autor já foi manchado por um sério incidente que revoltou muitas pessoas.

Depois dizem que esse "espiritismo" é caridade, com a ênfase em acusações passadas que causam tanto desconforto e angústia para os familiares das vítimas. As vítimas são sempre as "culpadas"?

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