domingo, 26 de janeiro de 2014

LBV: caridade exibicionista e Espiritolicismo

LBV E A CONCEPÇÃO "ITALIANIZADA" DE JESUS.

Uma das muitas religiões ditas "espiritualistas" é o chamado "ecumenismo", ou a "Religião de Deus", representado no Brasil pela Legião da Boa Vontade, que surgiu a partir de um programa de rádio de forte acento assistencialista.

Tudo começou quando Alziro Zarur, que costumava visitar cultos evangélicos e missas católicas, visitava também sessões "espíritas", participava de um evento da Federação "Espírita" Brasileira, e foi advertido pela médium Emília Ribeiro que lhe disse ter visto São Francisco de Assis ao seu lado durante a ocasião.

Emília então disse para Zarur que era "hora de começar", ou seja, de fazer pregações religiosas a partir da figura de São Francisco, e então ele decidiu lançar um programa de rádio, na Rádio Globo do Rio de Janeiro, chamado "Hora da Boa Vontade", em 1949.

Em 1950, ele funda a Legião da Boa Vontade, entidade de caráter filantrópico, animado com o sucesso do assistencialismo promovido pelo programa radiofônico. Depois ele arrenda horário na Rádio Mundial do Rio de Janeiro, para resolver a crise das Organizações Victor Costa, depois do falecimento do produtor que deu ao nome desta instituição.

A ascensão da Legião da Boa Vontade chegou-se ao ponto de ser criado o Partido da Boa Vontade, em 1964, que durou pouco tempo, uma vez que o partido, pouco representativo na prática política, foi cassado pela ditadura militar, através do Ato Institucional nº 2 (AI-2), que extingiu todos os partidos políticos, substituídos apenas por dois, ARENA e MDB (atual PMDB).

Zarur faleceu em 1979 e seu principal secretário, José de Paiva Netto, tornou-se seu presidente, cargo que exerce até hoje. Em 2000, a LBV buscava aumentar seu patrimônio midiático, esboçando uma rede de televisão, mas o projeto foi complicado por denúncias feitas pela Rede Globo e pelo jornal O Globo contra a instituição e sobretudo Paiva Netto.

As denúncias variam desde a exploração dos operadores de telemarketing até mesmo ao "culto da personalidade" de José de Paiva Netto, que teria usado os incentivos do Estado à instituição para comprar bens pessoais. Isso sem falar da caridade exibicionista que junta diversas celebridades para falar da LBV e, sobretudo, de seu astro-presidente.

Tal "caridade" contraria frontalmente a verdadeira orientação de Kardec, que recomenda que a caridade não seja exibicionista nem oculta, esclarecendo que os atos de caridade falam por si só, não havendo a necessidade de obter publicidade exagerada dos mesmos. A LBV carrega demais na publicidade de seus projetos filantrópicos, usando famosos para reforçar a propaganda.

Além disso, a pregação religiosa da LBV é muito confusa. Junta um catolicismo envelhecido de matizes medievais com elementos do reformismo evangélico já distorcidos por seitas "neo-pentecostais", e neles insere elementos de um caricato espiritismo da linha da FEB, que vê no "ecumenismo" da LBV uma forma "independente" de divulgar o "espiritismo".

A distorção religiosa é tal que a imagem de Jesus que simboliza a LBV é bastante distorcida, mais parecendo um jovem italiano (influência do Império Romano), de cabelos compridos e barba, com olhos verdes, contradizendo aos olhos azuis ou castanhos (mas em visual "eurocêntrico") que criam diversas "caras" do mestre judeu a partir do Catolicismo.

Um livro que supostamente sugere a "predestinação espírita" de Alziro Zarur é Atitude de Amor, de Wanderley S. de Oliveira, ditado pelos espíritos Cícero Pereira e Ermance Dufaux e pubicado pela Editora Dufaux, e que narra as "instruções" de Bezerra de Menezes e Eurípedes Barsanulfo que deram na realização do Pacto Áureo da FEB, em 1949.

Zarur teria participado do evento, que contou com "palestra espiritual" de Bezerra de Menezes, e a presença espiritual de Jean-Baptiste Roustaing, além de um ainda encarnado Edgard Armond, fundador da Federação Espírita do Estado de São Paulo (da qual veio o excêntrico Oswaldo Polidoro, que dizia ter sido, em outras vidas, Allan Kardec e uma série de personalidades ilustres).

No evento também estavam críticos severos da deturpação do Espiritismo, como José Herculano Pires (sobrinho do pioneiro da música caipira Cornélio Pires), Deolindo Amorim (pai do jornalista e blogueiro Paulo Henrique Amorim) e Carlos Imbassahy (pai), que estavam no Congresso da FEB até para verificar as distorções que as orientações de sua cúpula promovem à Doutrina Espírita.

O livro credita Alziro Zarur e Jean-Baptiste Roustaing em separado, mas há uma tese de que Zarur seria reencarnação de Roustaing, tamanha a semelhança doutrinária das ideias transmitidas por cada um.

Em Os Quatro Evangelhos, a partir de supostos espíritos de evangelistas, Roustaing já defendia o "ecumenismo" defendido por Zarur, acreditando que a Doutrina Espírita, ao unir as demais crenças religiosas, iria se constituir numa religião-síntese, cuja ênfase doutrinária se voltaria, pasmem, para a Igreja Católica e não para o Espiritismo codificado por Kardec.

Há também uma tese pouco difundida, mas acreditada por uma minoria de pessoas, de que Alziro Zarur teria sido Allan Kardec em outra vida - numa "competição" que incluiu o citado Oswaldo Polidoro e até Chico Xavier, este o mais "popular" do "concurso Quem Foi Kardec?" - e que Roustaing teria reencarnado em José de Paiva Netto, discípulo e herdeiro de Zarur.

Em todo caso, a Legião da Boa Vontade faz uma leitura ainda mais caricata do Espiritismo do que o próprio Espiritolicismo, já que este pelo menos, num momento ou em outro, precisa se apoiar em algumas ideias autênticas de Kardec, ainda que falsamente defendidas na teoria. Já a LBV só pega a parte "cruamente" espiritólica, carregando no moralismo místico-religioso desta doutrina.

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