sexta-feira, 13 de dezembro de 2013

O mito do panfletarismo da arte espírita

ALGUÉM IMAGINARIA O ROQUEIRO RONNIE JAMES DIO (E) E O RAPPER ADAM YAUCH ESCREVENDO TEMAS PIEGAS SOBRE "VIDA DO OUTRO MUNDO"?

O "espiritismo" brasileiro tem desses absurdos. Quando é produzida a suposta arte psicografada, as mensagens que nos chegam se limitam a falar apenas de temas como amor, caridade e "vida do outro mundo", de uma forma piegas e bastante panfletária.

Podem ser nomes diversos como Olavo Bilac e Noel Rosa, que os temas parecem obrigatoriamente obedecer uma aparente lógica de um só tema, a "espiritualidade" da forma como é defendida pelo suposto Espiritismo adotado pela FEB e popularizado por Chico Xavier.

Como é que diferentes artistas orbitem, postumamente, sob o mesmo roteiro temático, independente do que foram em vida, é um grande mistério. Aqui na Terra, tais nomes escrevem sobre diversos temas, mas a impressão é que, se levarmos a sério essas psicografias, eles se tornaram limitados a uma mesma missão temática, como se fossem subordinados a ela.

Imagine se um roqueiro como Ronnie James Dio, que até começou fazendo um rock mais leve, mas depois se consagrou através do heavy metal, iria mandar para os médiuns letras piegas sobre fraternidade e vida eterna?

O que dizer do músico punk Joe Strummer, que havia sido líder do famoso The Clash, escrevendo temas do tipo "unimos, irmãos, no seio da vida eterna, viajores da nossa jornada que inspira tanto amor"? Um cara que compôs "Spanish Bombs", "Rock the Casbah" e "Clash City Rockers" iria vir com uma roubada dessas?

Joey Ramone até cantou uma música como "What a Wonderful World", sucesso na voz de Louis Armstrong, mas se este jazzista não iria mandar letras piegas sobre "viajores e caminheiros da vida após a vida", o cantor dos Ramones muito menos, por mais que o cara tenha sido uma simpatia e que, facialmente, era comparado por uns a Chico Xavier (protesto: prefiro mil vezes o Joey Ramone).

O cantor de música chilena Victor Jara era capaz de unir melodias doces com letras de protesto cortante. Jara, que foi assassinado pelas tropas do ditador Augusto Pinochet, não iria mandar para nós letras do tipo "danos nossas mãos para enchermos de bençãos nossas almas com a certeza da eternidade".

E Adam Yauch, um dos rappers e músicos dos Beastie Boys? Seria que ele escreveria temas açucarados sobre a "vida eterna"? De fato ele tornou-se espiritualista - da linha budista, não da linha espiritólica - , mas não a ponto de se vender, no além, para tais pieguices panfletárias.

Esses casos são estrangeiros e, felizmente, eles não tiveram mensagens aparentemente psicografadas atribuídas à sua autoria e dentro daquela limitação temática que mais parece vir das determinações dos barões da roustanguista Federação "Espírita" Brasileira.

Mas essa suposta psicografia - que, sabemos, não foi realmente feita pelos espíritos a que se atribui a autoria - já teve inúmeras aberrações, que observadores sérios não teriam dificuldade de verificar contradições em relação a o que os espíritos presumidos fizeram em vida.

Teve um "Olavo Bilac" se esquecendo das próprias habilidades de métrica poética que marcaram a vida do poeta parnasiano. Teve um "Raul Seixas" debiloide escrevendo um livrinho espiritualista. Teve um "Humberto de Campos" narrando a História do Brasil da mais ridícula forma. E um "Noel Rosa" mais parecendo um beato e com menos senso de humor que marcou o sambista carioca.

Certamente, dentro dessa "linha editorial do além", Vinícius de Moraes não poderia estar associado a poemas de romantismo sensualizado. Cazuza seria associado não a imagem do roqueiro boêmio, mas de um jovem piegas falando em fraternidade e otimismo de forma carolinha.

E Renato Russo? Ah, coitado! Para quem achou que Renato Russo mergulhou na pieguice gravando músicas italianas, não imagina o que seria a suposta psicografia atribuída ao cantor da Legião Urbana, de risíveis poemas "fraternais", surreais exaltações à "vida eterna" de pieguice muito estranha para quem terminou a vida compondo letras amargas como "Natália".

É certo que essas obras não seriam de fato da lavra dos espíritos atribuídos, até porque, em um momento ou em outro, a precariedade do talento da mensagem "espiritual" entra em contradição séria com o que os autores presumidos fizeram em vida.

O que pode haver é a imitação de estilo do suposto médium, capaz de copiar os estilos de vários artistas, mas sempre escapando alguma imperfeição, algum erro. O que mostra que não é o próprio espírito de alguém que se foi, porque ele nunca perderia seu talento no retorno à vida espiritual. Espírito não regride, ele progride, quanto mais fora da vida corpórea.

Se não é a imitação do suposto médium, pode ser a ação de algum espírito imitador, especialista em plagiar artistas falecidos. E esse panfletarismo temático soa de muito mau gosto, apesar das "mensagens de amor", tanto pela desonestidade dessas manifestações como do caráter monotemático que torna tais expressões enjoativas e constrangedoras.

Daí que não dá para se conformar com isso, só porque são "mensagens de amor". Como dissemos, "amor e caridade" não servem para acobertar os erros e equívocos, muitos deles gravíssimos, do Espiritolicismo. E, se tentam acobertar, tornam tais erros e equívocos mais graves ainda.

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