sábado, 30 de abril de 2016
Para que recorrer ao "espiritismo", se ele considera sofrer "algo tão bonito"?
O "espiritismo", a religião mais cheia de contradições entre todas no Brasil - nem as piores seitas neopentecostais chegam a se contradizer tanto - , tenta fazer assistência social dizendo que o sofrimento é "necessário" e que todas as angústias serão remediadas no além-túmulo, quando a "verdadeira vida" será contemplada pelas "bênçãos futuras".
A "verdadeira vida", que é o mundo espiritual, existe, mas se a gente resolveu ter uma encarnação que dura cerca de 80 anos, o ideal é aproveitá-la e viver de maneira mais satisfatória possível. A satisfação não é capricho da vaidade doentia, mas a forma de permitir que possamos desenvolver nossas qualidades nas melhores condições possíveis.
Mas o "espiritismo", que chega a fazer especulações sobre a vida espiritual que nenhum estudo científico sério conseguiu qualquer definição objetiva, pouco está ligando se a pessoa virou um brinquedo do Destino, se tudo ocorre errado em sua vida e se as coisas, quando lhe surgem são sempre de uma forma longe da desejada ou mesmo da necessária.
A verdade é que o "espiritismo" desvaloriza tanto a vida material quanto a vida espiritual, no sentido de que ignora que a vida material serve para o espírito intervir nela - e não aguentar qualquer cilada - e trabalhar os poucos anos de uma encarnação de maneira positiva e mais proveitosa e agradável possível.
Por isso, tanto faz para o "espiritismo" as pessoas desperdiçarem uma encarnação, para o bem e para o mal. Para quem comete crueldades, a vida se prolonga e o máximo que ela permite é que a presunção do corrupto ou do criminoso mais cruel se dissolva em pequenas e brandas provações, na tentativa apenas de salvar as condições materiais do seu nome e status social.
Quanto às pessoas de bem, elas são obrigadas a enfrentar infortúnios pesadíssimos, tais como muros escorregadios e grandes nos quais não dá para saltar, e encarar falsas oportunidades que escondem armadilhas ou revelam inconvenientes que não correspondem às necessidades pessoais do indivíduo.
ENCARNAÇÃO COMO UM DESPERDÍCIO
Tudo é feito para transformar a encarnação num desperdício. O desprezo à vida material pelos "espíritas" e sua noção errada de que toda encarnação é igual fazem com que as desgraças humanas sejam aceitas pela doutrina brasileira como se fossem um "benefício", com base na Teologia do Sofrimento católica tomada de empréstimo por Chico Xavier.
Se recorremos à assistência do "espiritismo", que se diz a "religião da bondade", buscando tratamento espiritual para resolver impasses difíceis de resolver e, como resultado, só temos mais e mais problemas, atraindo desgraças ainda piores, então por que precisar de uma doutrina dessas que no fundo acredita que o sofrimento é "tão bonito"?
É um grande desrespeito que se tem. Há pessoas que aderem ao "espiritismo" e só conseguem infortúnios gravíssimos, desses que provocam danos morais. E se os "espíritas" acham que isso é coisa pequena, porque na "verdadeira vida" é que virão os "verdadeiros benefícios", isso se torna ainda mais ultrajante e deplorável.
Temos um prazo pequeno para trabalharmos nossas qualidades, um processo necessário para nossa evolução espiritual. Dificilmente chegamos a completar um século de vida, não raro muitos nem chegam a completar a metade. Achar que nós só poderemos nos beneficiar na vida espiritual é um grande contrassenso e vale uma reflexão.
Afinal, se nós só podemos ter algum benefício na vida espiritual, então nem devemos perder tempo com a vida material por ela trazer só desgraça. Até porque, da forma como prega o sofrimento humano, os "espíritas" acabam defendendo, mesmo sem querer, que pessoas sofram demais até se tornarem perversas ou pensarem em atos como o suicídio.
MORALISMO ROUSTANGUISTA
Em muitos casos, a provação pesadíssima e difícil de suportar, a incapacidade de haver qualquer bonança ou as soluções de difícil execução ou as más oportunidades - como alguém trabalhar numa empresa corrupta para ter algum salário - revelam o sadismo do moralismo "espírita", que se desmascara diante de sua forma de ver o sofrimento, difundida por Chico Xavier.
Em primeiro lugar, é a desvalorização da vida material que é o princípio do "movimento espírita" brasileiro. A vida material só é boa para eles, dirigentes e palestrantes, que viajam pelo mundo inteiro, com o dinheiro da "caridade", para espalhar a "boa palavra" e bajular poderosos e aristocratas, muitos deles corruptos e gananciosos. Para a "plebe", o jeito é adotar a tal "reforma íntima", eufemismo para aceitação de tudo que é desgraça.
Em segundo lugar, revela um desrespeito humano, porque as pessoas pedem para extinguir as desgraças e ter alguma salvação, mas todo o tratamento espiritual que recebem e toda doutrinária que frequentam ou ouvem são insuficientes para tal finalidade e, o que é pior, trazem ainda novos infortúnios e desgraças ainda mais preocupantes e, não obstante, trágicas.
Em terceiro lugar, esse moralismo de encarar a encarnação como um "castigo" para a pessoa se "purificar" e buscar "o caminho dos céus" é uma herança de ninguém menos Jean-Baptiste Roustaing, cujo sobrenome virou um "palavrão" para os "espíritas". Essa visão moralista está toda escrita dentro dos volumes de Os Quatro Evangelhos, e a herança roustanguista, queiram ou não queiram os "espíritas", se manteve inteiramente preservada.
Isso é grave, muito grave, porque os "espíritas" de hoje alegam sentirem "fidelidade absoluta" e exercerem "respeito rigoroso" a Allan Kardec e seu legado. Na prática, porém, preferem Jean-Baptiste Roustaing e seu igrejismo fantasioso, meio conto-de-fadas, meio filme de terror.
Daí que é isso que o "espiritismo" faz e que o desqualifica totalmente como um movimento para melhorar a vida das pessoas e transformar o espírito encarnado em alguém melhor. Na medida em que defende o sofrimento como "necessário", dentro dos moldes da Teologia do Sofrimento, o "espíritismo" se desmoraliza em suas contradições, deixando claro que nunca abandonou Roustaing.
sexta-feira, 29 de abril de 2016
Dois feminicidas conjugais e a encarnação
Dois homens haviam matado, na década de 1980, suas respectivas esposas alegando "legítima defesa da honra". Nenhum deles se suicidou, achando que estavam cometendo um "mal necessário", porque alegavam terem sido "traídos", embora no fundo não tivessem gostado de suas mulheres terem pedido o divórcio e se enfureceram numa discussão na qual eles não conseguiram convencê-las de seus pontos de vista.
Consideramos que os dois tinham 40 anos na época em que cometeram os crimes, o ano de 1982. Seis anos depois, após um terceiro julgamento, o segundo do qual aguardavam em liberdade, porque depois de seis meses de prisão, eles haviam ganho a liberdade condicional, tiveram renovada essa sentença, praticamente dispensados de voltar para a cadeia.
Os dois eram profissionais liberais, e tinham uma formação ideológica machista. Um deles está vivo até hoje, com 74 anos de idade, já com a pena prescrita, mas tentando rearrumar a sua vida, já como aposentado.
Embora tenha se tornado um sujeito simpático e gentil, inofensivo e capaz de conversar alegremente com seus vizinhos, seu esforço de recuperação moral é muito difícil. Ele já está acostumado com o olhar agressivo das pessoas, e todo ano alguém o olha com um certo nojo ou ódio.
No começo de sua liberdade condicional, ele ainda conseguia conquistar novas namoradas e passou o resto da década de 1980 sentindo arrogância, achando que a vítima é que era culpada, que ela foi morta porque gritou com ele e por isso ele, que já estava estressado, pegou o revólver e atirou nela com toda a fúria.
Depois, ele viu que a arrogância lhe custou caro, com reações furiosas não só de mulheres, mas também dos homens. Com o passar dos anos, veio a depressão e o status quo não o impediu de estar desmoralizado, tentando, em vão, fazer das suas condições sociais materiais, como o valor simbólico de seu nome e sobrenome, parecerem "limpas" e "intatas".
Ele nunca poderia mais recuperar o prestígio de outrora, e mesmo sua prosperidade econômica é o que resta de seu cotidiano deprimente. Sente uma impotência moral, vendo a ruína pessoal, se contentando, de forma melancólica, em ver seu ilustre nome preservado por um inútil ostracismo que nunca recuperará a popularidade que havia tido antes. Vive sem altivez e sem muita alegria, sem se destacar por uma qualidade realmente admirável.
O outro feminicida, em algum dia de 1990, com 48 anos de idade, estava sentado diante da televisão, já na noite, procurando um filme para ver. De repente, com a zapeada do controle remoto, deu de cara com a propaganda de um documentário jornalístico que iria narrar o crime que o espectador cometeu, com detalhes e novas revelações dos parentes das vítimas.
Diante dessa propaganda, que o feminicida viu por curiosidade, até para saber do que iria falar dele, lhe provocou, todavia, um grave mal estar. Sentido fortes dores no peito, o homem, com o coração acelerando demais para depois parar, caiu do sofá,
Estava morto. Seu corpo só seria encontrado na manhã seguinte, quando a faxineira estranhava a ausência do homem nas descidas matinais, para comprar pão e jornal, e a casa dele começava a exalar um estranho fedor que lembrava um animal morto.
O feminicida falecido, no seu mundo espiritual, tomou consciência do erro grave que cometeu. Mas, livrando-se cedo do seu "manto material" e das ilusões materiais de seu nome e sobrenome e de seu status quo profissional, resolveu, pela sua consciência, reencarnar imediatamente e recomeçar uma vida do zero.
Reencarnou em 1992, e teve uma rotina bem diferente da encarnação anterior. Teve muitas dificuldades amorosas e também teve dificuldades para obter um status quo privilegiado. Em vez da profissão liberal, passou a ter ocupações mais modestas, e o salário, embora fosse impossível para grandes gastos, dava para sua sobrevivência.
Solitário, ele até se tornou infeliz no amor e, em certos momentos, chorava e ficava deprimido. Mas com o tempo sua força de vontade o fez buscar novos interesses e um novo ânimo lhe veio, com novos passatempos, novas habilidades e talentos que ele começou a desenvolver com gosto.
Através disso, virou um rapaz renovado que, com 24 anos em 2016, vive bem, dentro de suas necessidades. Mesmo solitário, consegue se divertir com seus amigos e, se não tem alto prestígio social, é sempre querido e admirado pelas pessoas em sua volta.
quinta-feira, 28 de abril de 2016
A "bondade" como armadilha do "espiritismo" para garantir a deturpação
Usar a "bondade" como finalidade, princípio e diferencial do "espiritismo" brasileiro pode parecer lindo, mas é um grande desvio de foco. É o bom-mocismo usado para camuflar a desonestidade doutrinária, usando a "caridade" como pretexto para continuarem valendo as deturpações e mistificações.
Há um ditado popular que, embora percorressse o terreno pantanoso das referências religiosas, diz com interessante metáfora: "quando a esmola é demais, o santo desconfia". Da mesma forma, quando o "espiritismo" fala demais em "bondade" e "caridade", é bom desconfiar.
Os brasileiros não seguem as recomendações do espírito Erasto, que no tempo de Allan Kardec advertiu para os inimigos internos da Doutrina Espírita. Em certo momento, Erasto fala que os espíritos levianos (entendemos eles tanto encarnados como desencarnados) podem às vezes mostrar coisas boas, mas é justamente aí que se deve tomar muita cautela.
Segundo Erasto, é a partir dessas "coisas boas" que há o aperitivo para a deturpação, as mistificações e a inserção de ideias contrárias à lógica e ao bom senso. O que significa que, dentro do "espiritismo" de moldes igrejeiros, a "bondade" é apenas um gancho para forçar o apoio à deturpação e à mistificação.
A ideia é, diante dos questionamentos feitos contra a deturpação da Doutrina Espírita, seus partidários espalharem por aí que "é verdade que Allan Kardec foi mal entendido e muito mal estudado", para depois dizer "mas temos que reconhecer que os 'espíritas' sempre agem por bondade e amor ao próximo".
Se uma instituição hospitalar presta um mau serviço, deixa pessoas prostradas e amontoadas no corredor, causa demora no atendimento e ainda assim atende mal, se esse hospital faz propaganda de bom-mocismo, dizendo que "não tem fins curativos" e prima pela "bondade" e pelo "amor", você acreditaria? Mas o "espiritismo" faz isso e as pessoas põem a mão no fogo pelos deturpadores.
Pronto. A estratégia do bom-mocismo está lançada. As pessoas vão dormir tranquilas porque, "pelo menos", os maus espíritas "são bondosos" e escrevem suas obras deturpadoras visando o "pão dos pobres". As pessoas não sabem as armadilhas em que estão caindo ao exaltar a "bondade" de Francisco Cândido Xavier e Divaldo Pereira Franco.
No primeiro momento, acredita-se que Chico Xavier e Divaldo Franco são "maiores símbolos de amor e bondade", com aquela concepção igrejista de "bondade" que muitos acreditam e não sabem que se trata de uma concepção domesticada, uma "bondade" que não mexe nas estruturas de poder e privilégio que promovem injustiças.
Felizes, os que acreditam nessa "bondade" que nada transforma de profundo - apenas "transforma" no sentido de criar cidadãos-carneirinhos para o "sistema" - vão dormir tranquilos. Dizem admitir que Chico Xavier e Divaldo Franco são deturpadores, mas "pelo menos fazem caridade". Parece lindo, mas é o ovo da serpente.
Depois, as pessoas, acreditando na "bondade" e na "confiabilidade" deles, vão ser tentadas a ouvi-los. "Quem sabe eles trazem coisas boas, lindas lições de vida", dizem. E aí, pegam os vídeos ou livros de Chico Xavier e os de Divaldo Franco e vão ver as palestras e entrevistas deste.
Pronto. Acreditando que eles são "bondosos", acredita-se que eles são "confiáveis". Acreditando desta forma, surge a vontade de rever suas ideias. Com isso, é tentado a acreditar em ideias deturpadas, porque elas evocam a "esperança", a "superação" e a "fraternidade".
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Isso é o que Erasto estava tentando evitar, com seus avisos dados num tom desagradável para muitos. A "bondade" é um gancho para legitimar a deturpação e a "caridade" apenas um aparato para reforçar esse apelo.
E aí as pessoas não conseguem perceber o ditado da "esmola que é demais". Quando se fala demais em "bondade", como se fosse um mantra, é bom desconfiar, porque a verdadeira bondade não precisa de tanta ostentação nem de muito apelo discursivo.
O "espiritismo" apela demais pelo discurso e pelo aparato de "bondade", e isso não é bom, escondendo uma pretensão de dominação por trás de tão encantadora retórica. Além disso, a bondade autêntica nunca precisa do espetáculo festivo das palavras e dos atos de fachada.
quarta-feira, 27 de abril de 2016
Delirante aventura espacial com Adolfo Bezerra de Menezes
Faltam dados históricos objetivos sobre o médico Adolfo Bezerra de Menezes. Apesar de contemporâneo de Machado de Assis, Joaquim Nabuco, dos irmãos Aluísio e Artur de Azevedo e de Olavo Bilac, os quais contam de muitos dados biográficos, o parlamentar e dirigente "espírita" só tem uma biografia fantasiada, em que só aspectos agradáveis de sua vida são narrados, e isso quando não são inventados.
E se faltam dados históricos, sobram dados fantasiosos. Misto de Papai Noel com Super-Homem, Adolfo Bezerra de Menezes, o "dr. Bezerra", é personagem de narrativas fantásticas, puramente ficcionais, mas atribuídas à sua "vida espiritual".
Oficialmente, o "movimento espírita" alega que Bezerra não reencarnou, permanecendo, "espírito puro", como "protetor" do Brasil e "filantropo do além-túmulo". Mas a verdade é que, por sua natureza pessoal, Bezerra reencarnou, sim, e é bem provável que esteja na sua segunda encarnação pós-1900, talvez na forma de um rapaz de cerca de 25 anos.
Não conseguimos saber se Bezerra foi um político fisiológico, como um "peemedebista" de seu tempo, ou que parentesco ele exerceu, na árvore genealógica, com o conhecido jurista fluminense Geraldo Bezerra de Menezes. Sabe-se que, embora cearense, Adolfo viveu o resto de seus dias na então capital federal, o município do Rio de Janeiro, e nela exerceu suas atividades "espíritas".
No entanto, inventam-se coisas ao mesmo tempo fabulosas e encantadoras do dr. Bezerra, e uma das passagens é essa delirante aventura espacial, de conteúdo aberrantemente esotérico e pseudo-científico, na qual se atribui ao médico as mesmas previsões absurdas que se observa em Chico Xavier e Divaldo Franco.
São as tais "previsões" de mudanças planetárias similares às da "data-limite" de Chico, citando sobretudo o planeta Nibiru, que o cientista Neil deGrasse-Tyson, sabiamente, revela não passar de uma bem elaborada ficção.
O trecho, enorme e prolixo, foi lançado por André Luiz Ruiz, no livro Herdeiros do Novo Mundo, lançado em 2009 e atribuído ao espírito Lucius - curiosamente, é o mesmo nome do espírito a que se atribui boa parte das psicografias de Zíbia Gasparetto, considerado o "mentor" dela - , no qual se atribui a Adolfo Bezerra de Menezes supostas previsões sobre "mudanças na Terra".
É bom deixar claro que essas "previsões" são uma prática que havia sido reprovada severamente por Allan Kardec, que nunca recomendou que se fizessem "profecias" dessa espécie, pelo fato de prever o futuro a longo prazo ser uma tarefa impossível e por tais "profecias" indicarem sempre uma perigosa mistificação. Vamos ao texto:
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SUPOSTA PREVISÃO DE ADOLFO BEZERRA DE MENEZES
Por André Luiz Ruiz - Atribuído ao espírito Lucius - Livro Herdeiros do Novo Mundo, 30 de julho de 2009.
– Filhos, agora vocês entenderão o porquê das lágrimas da Mãezinha querida. Se as providências da Misericórdia já estão sendo atendidas com o afastamento dos Espíritos mais endurecidos do ambiente terreno, não imaginem que a Lua seja o porto definitivo, o destino final de tais entidades. Trata-se de medida preparatória de adestramento pela dor cuja finalidade é aparar o que precisa ser transferido para o alvo final. Observem ao longe, aquele ponto bem à nossa frente.
Apontou Bezerra na direção de peculiar corpo celeste que, de imensas dimensões, devorava distâncias na velocidade vertiginosa dos astros massivos, em obediência à órbitas desconhecidas dos mapas solares.
– Não é prudente que nos acerquemos muito mais porquanto já daqui de onde estamos, recebemos o impacto desagradável de suas emanações primitivas, carregadas de um magnetismo inferior.
Os dois companheiros de Bezerra estavam em mutismo insofreável.
– Trata-se de mundo conhecido das lendas antigas como o portador da destruição, causador de traumas geológicos e mudanças bruscas na estrutura magnética e elétrica da terra, isso sem falar no caos civilizatório que, em todas as suas aproximações, sua influência provocou. Apesar disso, a sua aproximação é vista como um grande benefício para o aceleramento das mudanças. Ainda que nesta distância da órbita terrena, suas magistrais dimensões e a grandeza de seu campo magnético-psíquico já se fazem sentir ao longo de sua trajetória, chegando aos homens bem antes de sua massa se faça visível aos olhares aterrados. Sua presença energética desperta nos que lhe são afins as emoções grotescas, as práticas mais vis pelos vícios que alimenta, das baixezas morais que estimula porque, primitivo, como disse, tal orbe emite esses sinais que se conectam com os que se lhe assemelhem em vibrações e desejos, alimentando-os com seu psiquismo, fortalecendo-os nos desejos e nas práticas inferiores. Precedendo-lhe a influência magnética e gravitacional que se avoluma, observa, há décadas, a piora dos padrões emocionais do planeta, o avolumar das crises sociais, dos crimes hediondos, das leviandades nos costumes, agora acrescidos das modificações climáticas, da surpreendente e inesperada variação do magnetismo planetário com modificação da posição dos pólos da Terra. Fenômenos inusitados confundem a mente dos homens de ciência, cheios de teorias e cegos para a verdade.
Várias instituições científicas estão informadas da aproximação desse corpo massivo, mas, por prudência ou por receio de se ridicularizarem, não se dispuseram ainda a reconhecer a emergência que se abate sobre toda a humanidade, preferindo adotar condutas contemporizadas ou, até mesmo, procurando preparar as pessoas empregando recursos subliminares como filmes, reportagens, documentários de desastres, tratando do assunto de maneira ficcional. Gradualmente, porém, a influência gravitacional desse corpo planetário vai apertar seus laços sobre os demais planetas do sistema solar, demarcando a sua trajetória com as naturais conseqüências de sua presença intrusa e gigantesca, aproximando-se do nosso Sol. Este é o corpo celeste que, como um ímã poderoso, separará a limalha de ferro pelo poder que já exerce, e exercerá, ainda mais, sobre tudo o que se sintonize com a sua vibração. Homens e Espíritos no mesmo padrão serão por ele reclamados como um patrimônio que lhe pertence, liberando a Terra para novas etapas de crescimento e evolução. Talvez venha a ser confundido por muitos com um cometa, com um astro que se chocará com nosso planeta, com um mensageiro do mal pelo medo e aflição que provocará. Outros se valerão dele para atormentar seus irmãos de humanidade, tentando arrancar-lhes os últimos bens materiais que possuam. Mal intencionados se valerão de tal presença no Céu para apregoar o fim do mundo, levando o caos aos mais ingênuos e despreparados. Marcada por eventos cataclísmicos datados de milênios, a humanidade sentirá a aproximação do novo ajuste de contas e cada qual saberá dizer se, no fundo de si mesmo, fez o que deveria ter feito para modificação de suas vibrações. Por fim, a aproximação maior provocará as alterações geológicas, climáticas e energéticas que promoverão a depuração das almas. Para ele serão levadas aquelas que já se encontram estagiando na superfície do satélite lunar. Batizado desde a antiguidade com diferentes nomes, tais como Nibiru, Marduk, Hercólubus, pela ciência chamado de planeta X, também apelidado de Astro Higienizador ou Chupão pelos espiritualistas de diversas vertentes, este é o Mundo Novo, mundo em formação dotado de uma humanidade primitiva que precisa de irmãos mais capacitados, treinados no aprendizado terreno que a ajudará, acelerando a sua evolução. E enquanto fazem isso, desbastam as próprias arestas ao conviver com as asperezas de um planeta primitivo e rústico que lhes fornecerá as oportunidades para lições novas de disciplina e transformação.
É por isso que Maria chorava como viram. Se o sofrimento da Lua é apenas expansão da maldade dos que nela foram congregados, nenhum deles imagina o que os espera em um mundo novo como esse, sofrimento que compunge o sentimento dessas Almas Superiores, que tudo fizeram para adiar o trágico encontro dos maus com seus próprios destinos. É da lei que a sementeira é livre, mas a colheita é obrigatória.
Os dois ouvintes estavam atônitos.
Ao longe divisavam um grande corpo celeste avermelhado pelos gases que o envolviam, com um tamanho imenso para os padrões terrenos e que, como Bezerra afirmava, era dotado de uma atmosfera fluídica primitiva, que já se podia sentir mesmo estando a milhões de quilômetros de distância. Como haveria de ser árdua a vida naquele corpo celeste! – pensavam em silêncio.
Interessado em maiores informações, Adelino perguntou:
– Poderíamos visitar a superfície desse orbe?
Sem perda de tempo, Bezerra respondeu:
– Os cuidados que precisaríamos adotar na realização de tal empreendimento exigiriam um esforço e um tempo de que não dispomos neste momento, sobretudo porque não é interessante perturbar nossos irmãos de humanidade com descrições deprimentes e chocantes acerca das condições evolutivas embrionárias que marcam a superfície de tal orbe primitivo. É suficiente para os nossos objetivos que nos conduzem informarmos aos nossos irmãos de humanidade de que esta é a hora definidora de suas vidas. Que a aproveitem da melhor forma para que não acabem mudando de casa. Que não percam tempo na transformação decisiva de suas tendências mais profundas porque, pelo tamanho do planeta que estão observando, não faltará espaço para boa parte dos trinta bilhões de espíritos que, encarnados ou desencarnados, estagiam na Terra ou em seus níveis vibratórios. No entanto, poderíamos nos aproximar, assimilando as energias densas que visam à plasmagem perispiritual indispensável, caso nos interessasse um aprofundamento na apreciação de suas peculiaridades para a descrição futura.
terça-feira, 26 de abril de 2016
Brasileiros raciocinam a realidade como se fosse peça publicitária
TRABALHADOR SENDO OBEDIENTE AO PATRÃO. ISSO É TRANSFORMADOR?
Tudo bem. O pessoal acredita que o "espiritismo" é a "religião da bondade", que aprecia de forma confusa e contraditória a doutrina de Allan Kardec mas tem a "vantagem" de "ajudar o próximo" com "ações concretas" e fiquemos nisso. É o Brasil, sempre ficamos nessas zonas de conforto, porque é o país da corrupção, mesmo!
O comodismo das pessoas em aceitar religiões malfeitas só por causa da aparente "filantropia" revelam a condescendência com o aparato de bondade que as religiões trazem, e o "espiritismo", com suas irregularidades vergonhosas, ainda tem a habilidade de se passar por "íntegra" pela aparência de falsa modéstia, pretensa superioridade moral e aparente filantropia.
Muitos não conseguem entender os questionamentos sobre a suposta bondade do "movimento espírita", e sobre os efeitos inócuos de sua aparente filantropia. Mesmo quando se diz que essa "caridade" não é transformadora, que beneficia poucas pessoas e, mesmo assim, de maneira medíocre, as pessoas não entendem.
Muita gente é tomada pelo fascínio religioso que a aparente filantropia "espírita" traz. Aquela bela propaganda com crianças pobres tomando sopa, com o suposto filantropo acolhendo um velhinho doente que mal consegue se levantar da cama e instalações aparentemente confortáveis dessas instituições de "caridade".
Só que as pessoas acabam raciocinando a realidade como se fosse uma peça publicitária. As pessoas teimam em dar argumentos técnicos para suas convicções pessoais, como se a vontade de seus umbigos tivesse algum fundamento científico, e chegam mesmo a forjar filosofia em suas opiniões meramente subjetivas e de validade duvidosa.
Mas a percepção demonstra que o raciocínio não corresponde à realidade concreta, mas a uma "realidade" mostrada pelos comerciais de TV. A sociedade anda muito mercantilizada, hipermidiatizada, em que o real e o imaginário são confundidos ou interligados como se fossem quase a mesma coisa.
Diante disso, o discurso religioso conforta as pessoas, é o campo onde a fábula e o conto-de-fadas tentam impor seus padrões de percepção à realidade. E é isso que faz com que uma inócua "caridade" do "movimento espírita" seja vista como "transformadora", em detrimento de iniciativas realmente transformadoras, como o método educacional do pedagogo Paulo Freire.
Virou um paradoxo. A "caridade espírita" é mais "transformadora" porque "não incomoda". Ela promove cidadãos resignados, indivíduos insossos porém corretos, com relativa prosperidade, mas é vista como "transformadora" por quem espera uma "mudança sem incômodos", sem comprometer o sistema de hierarquias responsável pela desigualdade social que conhecemos.
Por outro lado, o projeto educacional de Paulo Freire, que mobiliza as pessoas, que as faz terem uma visão crítica do mundo e uma ação que compromete o sistema de privilégios vigente, não é vista como "transformadora" e, sim, "manipuladora". Daí o paradoxo ideológico entre "caridade transformadora" e "caridade manipuladora".
Parece uma visão surreal. A "caridade" só é considerada "transformadora" quando não interfere nos privilégios existentes, não trazendo "conflitos", por mais que seu nível de transformação nas vidas humanas seja inócuo e inexpressivo. E, apesar de ter como brinde o proselitismo religioso - que não é exceção em relação ao "movimento espírita", já que ensina a aceitar a deturpação doutrinária - , não é considerada manipuladora, embora assim seja.
"Manipulador" é considerado o projeto educacional de Paulo Freire que, sem se comprometer com pregações ideológicas e planejando um programa de ensino depois de pesquisar a realidade de cada comunidade, busca realmente transformar as pessoas, estimulando a solidariedade comunitária, a mobilização social e a busca por melhorias de vida, pondo em xeque os privilégios abusivos das elites.
Como o Método Paulo Freire possui o rótulo de "esquerdismo", que assusta a "sociedade do bem", cria "conflitos" e "incômodos" porque pode mexer no privilégio das classes dominantes, então ele é acusado de "manipulador", como se seu projeto de ensino não formasse cidadãos ativos, mas "guerrilheiros" e "terroristas".
Já o projeto educacional da Mansão do Caminho, que apenas cria cidadãos inócuos que apenas são ativos dentro dos limites da paz forçada de um sistema de privilégios, fazendo as pessoas terem alguma prosperidade sem no entanto romper com o sistema desigual em que vivemos, ele é tido como "transformador" por seus efeitos paliativos que são superestimados diante do sentido dado ao deslumbramento religioso.
Quer dizer, um cidadão dotado de "bons sentimentos religiosos" e é submisso ao patrão e vive uma vida medíocre tem uma situação mais "transformadora" do que pessoas que realmente transformam suas vidas lutando por melhorias e não apelando para resignadas preces "espíritas" para obtê-las sem mexer nos privilégios abusivos das elites. Que falta de coerência essa visão traz!
Essa inversão de valores se deve porque os brasileiros substituíram a realidade pela fantasia. Como a fantasia gera esperanças, ainda que falsas, ela se sobrepõe à realidade desagradável, daí os mitos e dogmas, sobretudo os mais absurdos, que prevalecem sobre as visões mais coerentes, porém nem sempre "positivas", da realidade.
Tudo bem. O pessoal acredita que o "espiritismo" é a "religião da bondade", que aprecia de forma confusa e contraditória a doutrina de Allan Kardec mas tem a "vantagem" de "ajudar o próximo" com "ações concretas" e fiquemos nisso. É o Brasil, sempre ficamos nessas zonas de conforto, porque é o país da corrupção, mesmo!
O comodismo das pessoas em aceitar religiões malfeitas só por causa da aparente "filantropia" revelam a condescendência com o aparato de bondade que as religiões trazem, e o "espiritismo", com suas irregularidades vergonhosas, ainda tem a habilidade de se passar por "íntegra" pela aparência de falsa modéstia, pretensa superioridade moral e aparente filantropia.
Muitos não conseguem entender os questionamentos sobre a suposta bondade do "movimento espírita", e sobre os efeitos inócuos de sua aparente filantropia. Mesmo quando se diz que essa "caridade" não é transformadora, que beneficia poucas pessoas e, mesmo assim, de maneira medíocre, as pessoas não entendem.
Muita gente é tomada pelo fascínio religioso que a aparente filantropia "espírita" traz. Aquela bela propaganda com crianças pobres tomando sopa, com o suposto filantropo acolhendo um velhinho doente que mal consegue se levantar da cama e instalações aparentemente confortáveis dessas instituições de "caridade".
Só que as pessoas acabam raciocinando a realidade como se fosse uma peça publicitária. As pessoas teimam em dar argumentos técnicos para suas convicções pessoais, como se a vontade de seus umbigos tivesse algum fundamento científico, e chegam mesmo a forjar filosofia em suas opiniões meramente subjetivas e de validade duvidosa.
Mas a percepção demonstra que o raciocínio não corresponde à realidade concreta, mas a uma "realidade" mostrada pelos comerciais de TV. A sociedade anda muito mercantilizada, hipermidiatizada, em que o real e o imaginário são confundidos ou interligados como se fossem quase a mesma coisa.
Diante disso, o discurso religioso conforta as pessoas, é o campo onde a fábula e o conto-de-fadas tentam impor seus padrões de percepção à realidade. E é isso que faz com que uma inócua "caridade" do "movimento espírita" seja vista como "transformadora", em detrimento de iniciativas realmente transformadoras, como o método educacional do pedagogo Paulo Freire.
Virou um paradoxo. A "caridade espírita" é mais "transformadora" porque "não incomoda". Ela promove cidadãos resignados, indivíduos insossos porém corretos, com relativa prosperidade, mas é vista como "transformadora" por quem espera uma "mudança sem incômodos", sem comprometer o sistema de hierarquias responsável pela desigualdade social que conhecemos.
Por outro lado, o projeto educacional de Paulo Freire, que mobiliza as pessoas, que as faz terem uma visão crítica do mundo e uma ação que compromete o sistema de privilégios vigente, não é vista como "transformadora" e, sim, "manipuladora". Daí o paradoxo ideológico entre "caridade transformadora" e "caridade manipuladora".
Parece uma visão surreal. A "caridade" só é considerada "transformadora" quando não interfere nos privilégios existentes, não trazendo "conflitos", por mais que seu nível de transformação nas vidas humanas seja inócuo e inexpressivo. E, apesar de ter como brinde o proselitismo religioso - que não é exceção em relação ao "movimento espírita", já que ensina a aceitar a deturpação doutrinária - , não é considerada manipuladora, embora assim seja.
"Manipulador" é considerado o projeto educacional de Paulo Freire que, sem se comprometer com pregações ideológicas e planejando um programa de ensino depois de pesquisar a realidade de cada comunidade, busca realmente transformar as pessoas, estimulando a solidariedade comunitária, a mobilização social e a busca por melhorias de vida, pondo em xeque os privilégios abusivos das elites.
Como o Método Paulo Freire possui o rótulo de "esquerdismo", que assusta a "sociedade do bem", cria "conflitos" e "incômodos" porque pode mexer no privilégio das classes dominantes, então ele é acusado de "manipulador", como se seu projeto de ensino não formasse cidadãos ativos, mas "guerrilheiros" e "terroristas".
Já o projeto educacional da Mansão do Caminho, que apenas cria cidadãos inócuos que apenas são ativos dentro dos limites da paz forçada de um sistema de privilégios, fazendo as pessoas terem alguma prosperidade sem no entanto romper com o sistema desigual em que vivemos, ele é tido como "transformador" por seus efeitos paliativos que são superestimados diante do sentido dado ao deslumbramento religioso.
Quer dizer, um cidadão dotado de "bons sentimentos religiosos" e é submisso ao patrão e vive uma vida medíocre tem uma situação mais "transformadora" do que pessoas que realmente transformam suas vidas lutando por melhorias e não apelando para resignadas preces "espíritas" para obtê-las sem mexer nos privilégios abusivos das elites. Que falta de coerência essa visão traz!
Essa inversão de valores se deve porque os brasileiros substituíram a realidade pela fantasia. Como a fantasia gera esperanças, ainda que falsas, ela se sobrepõe à realidade desagradável, daí os mitos e dogmas, sobretudo os mais absurdos, que prevalecem sobre as visões mais coerentes, porém nem sempre "positivas", da realidade.
segunda-feira, 25 de abril de 2016
Chico Xavier tentou fazer de Jair Presente uma "nova Meimei"
Francisco Cândido Xavier era de uma esperteza ímpar. E capaz de certas maluquices. Ele "transformou" sua mãe, Maria João de Deus, em "repórter" de Marte, e também "transformou" Humberto de Campos em um repórter do além-túmulo que escrevia como se fosse sacerdote católico.
Mas não são apenas familiares e amigos ou gente famosa que o anti-médium mineiro usurpava de maneira oportunista e sensacionalista para produzir livros, sob a ajuda de editores da FEB. De vez em quando ele também "promovia" certos mortos anônimos em "cronistas do além", da maneira mais leviana possível.
Irma de Castro, a Meimei, professora mineira prematuramente falecida, aos 24 anos em 1946, foi transformada em "pregadora" e, na prática, uma "porta-voz" da causa de Chico Xavier. Lançou livros moralistas que, embora Meimei tenha sido católica fervorosa, não teria sido capaz de escrever, pelo menos daquela maneira em que o estilo do "médium" se tornava mais explícito nos textos.
Chico repetiu a dose com Jair Presente, e esse livro, de 1985, é uma tentativa de fazer com Jair o mesmo que fez com Irma, convertendo a personalidade anônima em um "famoso pregador do além", de uma forma bastante perniciosa e sensacionalista.
O JOVEM JAIR PRESENTE.
Reproduzimos o conteúdo desse hilário livro, Agência de Notícias, que mostra uma tendência de Chico utilizar referências "jornalísticas" em seus títulos, para dar a falsa impressão de conteúdo informativo. No entanto, apesar do título, trata-se de um livro de poemas (!!!!!).
Jair Presente foi um jovem nascido em Campinas, em 10 de novembro de 1949, que foi estudante de Engenharia Mecânica e estava se divertindo com os amigos quando morreu afogado em uma praia, em fevereiro de 1974. Em março foi divulgada a primeira suposta psicografia que levava seu nome, de uma série de treze publicadas até 1979.
Acadêmicos da Universidade Federal de Juiz de Fora, usando de metodologia dotada de muitas falhas, atribuíram "veracidade" a todas as treze cartas, sob o pretexto de que elas apresentaram informações "complexas" e de "difícil acesso" até pelos familiares de Jair. Alegaram que Chico Xavier "não" teria chance de colher informações desse porte nem ter acesso a jornais paulistas.
No entanto, há possibilidade de Chico Xavier ter recebido informações pelas comunicações dos "espíritas" de Uberaba e Campinas e é provável que jornais locais lhe tenham chegado em mãos. A mãe de Jair passou a trabalhar no "centro" da senhora Wandir Dias, antes da primeira das treze cartas, e é muito provável que informações confidenciais pudessem ter sido transmitidas em várias conversas e Wandir ter enviado os dados para Uberaba, para Chico Xavier tomar conhecimento.
Os textos abaixo não fazem parte das treze cartas, tendo sido produzidos por volta de 1984 e 1985, já depois do controverso caso que causou até um momento de irritação em Chico Xavier, quando ele se revoltou com a desconfiança dos amigos de Jair, que nunca viram qualquer aspecto pessoal do falecido, nas cartas divulgadas. Ríspido, Chico chamou essa desconfiança de "bobagem da grossa".
Notem o conteúdo de apelo fortemente igrejista das mensagens. É a "escola Chico Xavier" em que supostas psicografias não refletem necessariamente os estilos pessoais dos autores alegados, mas sempre vêm com alguma propaganda religiosa, ainda que implícita. Os textos também mostram conteúdo que lembra o estilo das frases do "médium" de Pedro Leopoldo e Uberaba.
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TEXTOS DO LIVRO AGÊNCIA DE NOTÍCIAS, DE FRANCISCO CÂNDIDO XAVIER
ATRIBUÍDOS AO ESPÍRITO JAIR PRESENTE - EDITORA GEEM, 1985.
UM MÉDIUM
“O que vem a ser um médium?”
Esta pergunta travessa
Demonstra que você traz
Muitos grilos na cabeça.
O médium é uma pessoa
Que trabalha, luta e sente,
Alegra-se, sofre e chora
Qual acontece com a gente.
Costuma ter batedeira,
Desarranjos de bexiga,
Dor nos rins, urina solta,
Fraqueza e dor de barriga...
De estômago delicado,
Muitas vezes, sente azia,
Vesícula complicada,
Engulho e disenteria.
Sempre que coma demais
Dos pratos que tem à mão,
Aflige-se em mal-estar
Ou geme na indigestão.
Tem febre e dor-de-cabeça
Quando apanha resfriados,
Quase sempre, traz no corpo
Os nervos destrambelhados.
Em amor, tem simpatias
Como acontece a qualquer
Se é mulher, pensa no homem,
Se é homem, pensa em mulher.
Necessita, nesse assunto,
De instrução e de doutrina,
Porque amor, em qualquer tempo,
Não dispensa a disciplina.
Se você quer ser um médium,
Conserva a fé que não cai,
Agarra-te a Jesus Cristo,
Aprende a servir e vai...
A HERANÇA
- “Quero fazer caridade” –
Dizia Júlio das Graças,
Estou cansado de ver
Tanta penúria nas praças;
Vejo mães abandonadas,
Cujo estômago jejua,
Crianças esfarrapadas
Em tristes bandos na rua...
Se Jesus me der recursos,
Farei com muita alegria
Um lar onde os pobres tenham
O pão para cada dia.
Tanto Júlio falou nisso
Que o difícil sucedeu:
Júlio ganhou grande herança
De um tio que faleceu.
Era um antigo solteirão
Que não mostrava riqueza
E o povo considerava
Sovina por natureza;
Ao morrer, viu-se-lhe a vida,
Revelou-se-lhe o caminho...
Tinha mais de dois bilhões
E deixou tudo ao sobrinho.
Após reter a fortuna,
Alguns irmãos da cidade
Vieram a ele indagando
Dos votos de caridade.
Que faria, enfim, agora?
Perguntou-lhe a comissão:
- “Um lar para os enjeitados
E velhos sem proteção?”
Respondeu Júlio, entretanto,
- “Meus amigos, o dinheiro
Que o tio me destinou
Não dá para um galinheiro.
Mais tarde, conversaremos,
Somos amigos leais...
Os dois bilhões de meu tio
Vêm a ser pouco demais.”
A EVOLUÇÃO DO AMOR
O Doutor Leonel de Souza
Dono de terra e dinheiro,
Trazia a cabeça em fogo,
Hora a hora, dia inteiro.
Tinha uma filha somente,
A jovem Ana Maria,
Que lhe dera ao coração
A presença da alegria.
Ela, porém, namorava
O jovem Joaquim Mutamba,
Sempre juntos, noite a noite,
Lembravam corda e caçamba.
Sabendo que os dois se amavam
Com manifesta loucura,
O pai ficou alarmado
E disse à filha, insegura:
- “Ana Maria, você
Não mais procure Joaquim,
Considere o seu romance
Um caso que chega ao fim.
Largue, filha, enquanto é tempo,
Esse Joaquim do pé torto,
Um varredor de cinema
Não tem onde cair morto...”
A filha pediu, no entanto:
- “Pai, rogo à sua bondade,
Quero casar com Joaquim,
Já temos intimidade!...”
O velho esmurrou a mesa,
Dando mostra de machão,
E asseverou, irritado:
- “Não aceito, não e não!...”
O pai buscou, no outro dia,
Um famoso pistoleiro...
Queria um tiro no moço,
Pagaria bom dinheiro.
O pistoleiro, maldoso,
Que era pobre, muito pobre,
Comunicou ao cliente:
- “Sinto fome do seu cobre...”
Semana passa semana,
E o pistoleiro com jeito,
Derrubou Joaquim, a tiros,
Num crime duro e perfeito.
Ninguém viu a cena triste...
No povo, apenas mumunhas.
Buscou a polícia, em vão,
Informes e testemunhas.
Ana Maria chorou
Por muitos e muitos dias,
Parecia torturada
Por íntimas agonias...
O pai cercou-a de mimos,
Sentindo arrependimento
E a moça continuava
Toda entregue ao sofrimento...
Notei com grande surpresa
Que ela trazia de lado,
Em todo passo do dia,
Mutamba desencarnado.
Quatro anos se passaram...
Veio o estouro de repente;
A jovem Ana Maria
Teve um novo pretendente.
Era um rapaz educado,
Um competente engenheiro...
O pai fez o casamento
Gastando muito dinheiro.
Morrer não fora vantagem,
De coração renovado,
A moça trouxera à luz
O primeiro namorado.
Decorridos onze meses
Surgiu a reviravolta...
Um pequenino nasceu...
Era Mutamba, de volta.
Tudo era festa em família,
Felicidade, alegria...
O genro e o sogro, contentes,
Beijavam Ana Maria.
O pequenino ante o seio
Sugava o leite com gana
E eu ficava refletindo
Nas tricas da vida humana.
O avô, vendo o neto ativo
Parecendo esfomeado,
Exclamava, todo dia:
- “Eta, menino danado!...”
TAREFA FRUSTRADA
Fora ele um grande herói
Na abastança de outros dias...
Agora, doente e velho,
Agonizava Matias.
Gemia, desamparado,
Quem tanto estendera o bem...
Febril, tinha sede e frio
Mas não surgia ninguém.
Orara e dizia, humilde:
- “Jesus é o refúgio meu!...”
E quem devia ampará-lo
Naquela hora era eu...
Abnegados mentores
Que lhe escutaram a prece,
Enviaram-me a servi-lo
Em tudo quanto eu pudesse.
Caia a noite. Cheguei
Ao pequeno pardieiro,
No intuito de auxiliar
Ao querido companheiro.
Depois de assustado, ao vê-lo
Exposto na tábua nua,
Dispus-me a buscar-lhe amparo,
Mesmo fosse, rua em rua...
Pedi, em prece, aos amigos
De minha pobre existência
Que me fizessem andar
Em minha antiga aparência;
Passados breves instantes,
Entrei na licença rara:
Achava-me, tal qual eu fora:
- Corpo igual ao que deixara.
Tentando obter apoio
Que reanimasse o velhinho,
Memorizando endereços,
Fui à casa de Antoninho.
Tinha nele um grande amigo,
Falei do velho doente,
Ele gritou, espantado:
- “Você é o Jair Presente?
Embora você me lembre
Um cara amigo já morto,
Não tenho qualquer auxílio
Para os pobres sem conforto...”
Corri procurando o Sérgio,
Ele exprimiu-se, zombando:
“Se eu pudesse dar esmolas
Não vivia trabalhando...”
Saí, apressadamente,
Para a casa do Dirceu,
Ele, porém, me falou:
- “Auxílio? Primeiro eu...”
Modificando o roteiro
Procurei por Dona Clara,
Ela me disse: “Não tenho!...
A vida está muito cara...”
Tudo em vão... Sempre pedindo,
Fui a vinte moradias...
Não encontrei um vintém
Para socorro ao Matias.
Regressei, desiludido,
Ao pardieiro isolado,
Para ver como estaria
Passando o pobre coitado...
Cheguei chamando o doente...
Tudo silêncio e vazio...
Matias, naquele instante,
Morrera aos golpes do frio.
domingo, 24 de abril de 2016
Estão cortando a conexão da Internet. Que tal sermos "médiuns"?
As empresas de telefonia anunciaram que estão limitando as conexões de banda larga na Internet, criando um retrocesso ao que já nem era tão perfeito assim: a conexão na rede mundial de computadores, que já era precária e, de vez em quando, caía para "manutenção".
A medida consiste no seguinte: limitar a transmissão de dados pela Internet. Ou seja, a conexão só permanece quando se consomem menos dados, como páginas de textos, de carregamento mais simples e com menos gasto de informação (no sentido dado pela Informática).
Em outras palavras, se alguém investir em transmissão pesada de dados, como ver vídeos e fazer upload (transmissão do computador para a rede, sobretudo quando se quer deixar pastas ZIP no Google Drive), a Internet se torna mais lenta, quando não é cortada. Em muitos casos, o internauta fica um dia inteiro sem conexão de Internet.
A desculpa utilizada pelas empresas era de que a Internet ficou "congestionada" por causa do uso intenso dos celulares, principalmente por meio de WhatsApp. Só que a restrição acaba prejudicando quem realmente precisa da Internet para transmitir conhecimentos, conhecer amigos, utilizar serviços e até mesmo se divertir de maneira saudável.
RICOS SÃO BENEFICIADOS
Os beneficiados serão os mais ricos, que podem pagar para ter uma Internet mais veloz e sem limites de transmissão de dados. Quem é pobre é que sairá em prejuízo. E quem vive no interior nem tem banda larga, depende de pequenos provedores que oferecem serviços de conexão por telefone ou por rádio, consideradas mais antiquadas e lentas.
Para ver um vídeo de um curso na Internet, a pessoa com menos poder aquisitivo não terá condições. Da mesma maneira, ela não pode guardar arquivos ZIP no Google Drive, para esvaziar seu computador para uma futura manutenção.
Mas o encrenqueiro que faz trolagem na Internet e sua "galera" (ou quadrilha?) de adeptos têm todo o dinheiro para ter uma Internet rápida para criar páginas ofensivas de quem discorda de seus pontos de vista reacionários - que vai desde modismos ditados pela mídia a valores de extrema-direita - e despejar desaforos e bobagens violentas sem o risco da conexão cair.
Pessoas que também fazem uso supérfluo de WhatsApp, vendo aquela enésima videocassetada, em que a sogra de alguém leva um tombo na borda de uma piscina, ou um bebê dublando um cantor veterano. Ou então pessoas fazendo playback de outros no SnapChat e fazendo alterações digitais de seu rosto, para ficar, por exemplo, com olhos esbugalhados.
O Brasil já está sucumbindo, aos poucos, à supremacia da chamada plutocracia, o poder feito pelos ricos e para eles. A verdade é que a decisão atende a interesses de lucros dos grandes empresários de telefonia, que haviam recebido, no distante governo de Fernando Henrique Cardoso, de presente a aquisição de antigas estatais da telefonia, de âmbito federal ou estadual.
Os telefones celulares também se restringiram. Uma recarga de R$ 10 só dura cinco dias. Mal dá para fazer um pequeno negócio e deixar o telefone para contato porque a pessoa pode até receber chamadas, mas não poderá fazê-las por muito tempo. Terá que pagar mais para continuar podendo ligar para outro para dar o "retorno".
CONTATOS COM O ALÉM-TÚMULO? DIFÍCIL...
Diante dessas limitações, a gente, aqui neste blogue que critica o Espiritismo, perguntamos se as pessoas se interessam a trocar a Internet pela paranormalidade, que muitos entendem, equivocadamente, como "mediunidade" (o sentido de mediunidade só se dá quando o contato com os mortos se resulta numa mensagem trazida aos vivos; o contato com o além, por si, não é mediúnico).
Será que teremos concentração para fechar os olhos e entrar em contato com as pessoas do além-túmulo, em busca de novidades e outros interesses? Será que temos condição de entrar em transe e permitir que almas usem nossos corpos para escrever suas mensagens?
Infelizmente, não. Se a conexão da Internet anda falha e lenta, a nossa "conexão" com o além-túmulo é praticamente inexistente. Se há esse dom, ele é muitíssimo raro. E não parte de figuras "conceituadas" como Divaldo Franco e Francisco Cândido Xavier.
Afinal, em que pese Divaldo e Chico Xavier serem considerados "grandiosos" na tarefa, descobriu-se que eles também praticaram o faz-de-conta, não correspondendo sua "mediunidade" em tarefas confiáveis. As mensagens trazidas por eles mostram os estilos pessoais dos "médiuns" e a mesma propaganda religiosa, independente do morto ter sido beato religioso ou ateu.
O Brasil sofre esses dois infortúnios porque sempre se comportou como uma eterna Ilha de Vera Cruz. Um país isolado que vê o mundo conforme seu umbigo, que tem medo de romper com velhos paradigmas e prefere dissolver novidades dentro do caldo amargo e podre de valores retrógrados.
Daí a supremacia de uns poucos ricos e poderosos que ditam tudo para o país: desde o que deve ser considerado uma visão política ideal até o que deve ser tido como "verdadeira cultura popular". A plutocracia define tudo, até que mulheres devem ser solteiras ou se a imprensa pode ou não noticiar os falecimentos de feminicidas ricos.
Diante disso, as pessoas são desestimuladas a querer a verdade dos fatos, a transparência das leis, o rigor da ciência, a interpretação lógica dos fenômenos, e em muitos momentos as convicções pessoais e as fantasias agradáveis que permitem que visões antipopulares ou anti-realistas prevaleçam até mesmo sob a coerência e a objetividade dos fatos.
Daí que o Brasil perdeu a conexão com o mundo, em termos de ideias, valores e práticas. E, com a complacência natural às elites e seus valores "estabelecidos", as pessoas agora têm limitação até para usar a Internet. Mas isso não influi a "boa sociedade" que sempre tem acesso para ver suas bobagens nas mídias sociais, pelo celular.
sábado, 23 de abril de 2016
O constrangimento familiar nas supostas mensagens espirituais
O "espiritismo" brasileiro é marcado por irregularidades. E elas são ou foram cometidas até por gente "gabaritada", o que faz dessa doutrina um movimento religioso pouco confiável. A mediunidade de faz-de-conta, que mais parece uma propaganda religiosa, chega mesmo a causar constrangimentos até mesmo na histeria de quem acredita nelas.
Imagine uma mãe de um jovem que morreu cedo por algum motivo e que recebe, num "centro espírita" considerado "conceituado", uma mensagem atribuída ao filho, que faz ela acreditar na sua veracidade, e depois se revela que essa suposta psicografia foi uma farsa, forjada pelo "médium" tido como de grande credibilidade, mas de práticas que, na verdade, são muito duvidosas.
Quanto constrangimento deve haver, quantas ilusões derrubadas.
Quanta vergonha e quanto remorso devem haver entre as famílias, prolongando suas dores e tragédias diante de um sentimento confuso de esperança e desespero, em que um simples recebimento de supostas mensagens espirituais é algo tão incerto e pouco confiável!
Mediunidade, no Brasil, tornou-se uma prática desmoralizada. Virou uma piada na qual qualquer um põe a mão na testa, fecha os olhos e rabisca qualquer coisa num papel. Como prática, virou uma mensagem qualquer nota em que o suposto espírito diz que sofreu, mas está bem, cita alguns familiares e depois faz propaganda religiosa.
A coisa está tão ruim que não adianta o simples conhecimento teórico da teoria lançada por Allan Kardec. Há quem leia O Livro dos Médiuns, na tradução de Herculano Pires, entenda bem a teoria, é capaz de expô-la de maneira correta e exemplar e, mesmo assim, não conseguir praticar a mediunidade.
As pessoas são ludibriadas pelas figuras sensacionalistas e espetacularizadas de Francisco Cândido Xavier e Divaldo Franco, ídolos religiosos que inspiram nos seus seguidores um apego doentio, sobretudo quando eles se passam por pretensos filósofos (mesmo postumamente, no caso de Chico Xavier). A partir deles, a mediunidade acaba sendo muito mal ensinada e mal compreendida.
Tomadas pela emoção, as pessoas se deixam levar por muita confusão, e perdem a vigilância diante de mensagens duvidosas que, apenas por algumas semelhanças banais e, às vezes, algumas mais sutis, são tidas como verídicas,
quando nelas se ocultam diferenças que contradizem a natureza pessoal do falecido.
No caso de Ryan Brito, a justificativa dada pela mãe, a atriz Márcia Brito (a Flora Própolis da Escolinha do Professor Raimundo, versão anos 90), era de que o "médium", Fernando Ben, investia em "caridade". Virou lugar comum justificar o "espiritismo" irregular pelo bom-mocismo, pode-se até mentir visando o "pão dos carentes".
Tudo isso nem de longe segue as precauções dadas por Allan Kardec. Nenhum conselho dado por ele, para verificar, com muita cautela, a autenticidade ou não das mensagens ditas "espirituais". Em vez disso, a primeira mensagem que aparece e que traz "palavras de amor" é tida como autêntica, mesmo se apresentar irregularidades em relação aos aspectos pessoais do falecido.
Isso causa uma grande frustração, porque, no Brasil, o que se pratica é uma "mediunidade" de faz-de-conta, com o "médium" fingindo que recebe um morto e escrevendo uma mensagem qualquer, contanto que apareça sempre as tais "palavras de amor" e transmitam "mensagens positivas" e não raro de propaganda religiosa, que servem para dissimular a fraude e não despertar desconfianças.
Num dado momento, alguém aponta a irregularidade na mensagem "espiritual", comparando, sobretudo, com outras mensagens "psicográficas" transmitidas, refletindo não os diferentes estilos de personalidades dos finados, mas tão somente o estilo pessoal do suposto médium. Daí a frustração que não raro causa desentendimentos entre as famílias.
A péssima escola de Chico Xavier criou essa bagunça toda, reduzindo a mediunidade a uma atividade sem a menor confiabilidade. E, para piorar, da forma como ela é feita estimula o sensacionalismo, a ostentação das tragédias familiares e os desentendimentos entre crédulos e desconfiados numa mesma família. Com isso, a religião que diz unir, o "espiritismo", provoca, de propósito, a desunião.
Daí a ilusão que todo o verniz de "bondade" traz ao "espiritismo". Uma doutrina malfeita não vira boa por causa da "bondade". O bom-mocismo é o recurso dos calhordas para obter credibilidade. E os que não conseguem seguir com rigor, na prática - é inútil dizer e caprichar no discurso - , as lições de Kardec, usam dessa alegação de "bondade" para tentar convencer as pessoas e desviar o foco de uma finalidade nunca alcançada.
sexta-feira, 22 de abril de 2016
Rio de Janeiro e a decadência que não é sentida
QUEDA DE CICLOVIA E ESTOURO DE TUBULAÇÃO DA CEDAE, NO RIO - Probleminhas de cidade grande?
Praia de Copacabana. Jovens felizes contam piadas com jeito de quem não liga para os problemas do Rio de Janeiro. Veem no WhatsApp vídeos engraçados e diários de internautas alucinados, considerados "youtubers", falando de amenidades cotidianas. Parecem viver num paraíso, na contraditória busca de perfeição numa realidade imperfeita. Se alguém for furtado na esquina, pouco lhes importa.
Castelo. Pessoas vão animadamente ao McDonald's almoçar ou lanchar fast food de qualidade duvidosa, feito por trabalhadores degradados, que sofrem exploração e são muito mal remunerados, expostos a fornos e fogões calorentos à mercê de um acidente de trabalho, e sua rotina profissional não possui garantias de proteção dignas.
O Rio de Janeiro vive um cotidiano surreal. A cidade, assim como o resto do Estado do Rio de Janeiro, decai de forma vertiginosa e uma boa parcela da sociedade parece indiferente, achando que esses problemas são "naturais num contexto de cidade complexa e moderna".
O carioca parece estar disposto a desenvolver um estereótipo de insensível, uma imagem nacional pejorativa na qual o habitante de qualquer cidade do Estado do Rio de Janeiro é incapaz de sentir a gravidade de um problema e fica arrumando desculpas ou artifícios para acreditar que tudo está bem.
ANDANDO PARA TRÁS
Só que a decadência do Rio de Janeiro, Estado e capital, não é um acidente da pós-modernidade, um problema próprio de cidades complexamente modernas. Nada disso. O Rio de Janeiro se torna uma região provinciana, e os problemas indicam não uma normalidade da vida complexa das grandes metrópoles, mas um retrocesso que fez Estado e capital andarem para trás, até mesmo em relação ao antes atrasado Nordeste, que começa a reagir contra décadas de coronelismo.
O Rio de Janeiro decai em proporções trágicas. Até linchamento típico de cidade do interior das mais atrasadas houve na outrora cosmopolita Ipanema. A capital que trouxe a Bossa Nova insiste com o grotesco do "funk", que ainda por cima promoveu sua demagogia num evento anti-impeachment, em Copacabana, um prato cheio para os reaças da cidade quererem mesmo o impeachment da presidenta Dilma Rousseff.
O Rio de Janeiro passou a ser um antro de conformismo, alienação, reacionarismo e prepotência em diversos aspectos. Diante do risco da cidade do Rio de Janeiro se manter como referencial e modelo a ser seguido pelo resto do Brasil, o país pode caminhar para trás.
O Estado é o que deu, ao Congresso Nacional, parlamentares irresponsáveis e reacionários como os deputados federais Jair Bolsonaro e Eduardo Cunha, este presidente da Câmara dos Deputados e futuro vice-presidente de um provável governo Michel Temer, este oriundo de outro Estado do Sudeste marcado pela decadência vertiginosa, São Paulo.
Em muitos aspectos, o Rio de Janeiro tornou-se um Estado provinciano, deixando para trás anos de imponência cultural, modernidade social e relativas promessas de melhorias para a sociedade, dos quais só resta a sombra do que havia sido a Cidade Maravilhosa.
Culturalmente, a supremacia do "funk" que ameaça até mesmo o samba, como se já não bastasse o pastiche que os sambistas têm que encarar que é o "pagode romântico" - que ainda investe em pastiches de "samba de verdade" como Péricles e Grupo Revelação - , é um amontoado de referenciais sociais retrógrados embalado por uma mesmice sonora precária e grotesca.
Isso é um grande retrocesso diante da antiga imponência da Bossa Nova, que há cerca de 55 anos mostrava beleza artística, graciosidade poética e uma criatividade musical ímpar, como trilha sonora daquele Rio de Janeiro que não existe mais, e que todavia muitos insistem que continua existindo, mesmo com seus "probleminhas cotidianos".
MÍDIA
Mas até o rock sofre com a hegemonia mercadológica da canastrona Rádio Cidade, sem tradição nem competência e muito menos vocação para o rock, mas que se acha "dona do segmento", falando em "rock de verdade" tendo uma equipe sem qualquer envolvimento real no ramo.
Com uma programação extremamente ruim e repetitiva, a Rádio Cidade sofre o dado surreal da complacência dos roqueiros autênticos, que nos últimos tempos experimentaram as opções da Kiss FM (quando tentou uma afiliada no RJ) e a rádio digital Cult FM, indiferentes ao empastelamento da cultura rock que a Rádio Cidade e sua superestrutura empresarial e sua sintonia fácil e ampla faz contra a cultura rock local.
O Rio de Janeiro é a sede da Rede Globo de Televisão, mas curiosamente quatro nomes da mídia paulistana tornam-se influentes no gosto e no modo de falar, viver e pensar dos cariocas: Luciano Huck com suas gírias (como "balada") e seus valores juvenis, William Bonner com sua visão de mundo, Fausto Silva com valores da música e do comportamento geral, e Galvão Bueno (apesar de carioca, começou no rádio paulista) com o fanatismo pelo futebol.
O fanatismo pelo futebol, no Rio de Janeiro é tão grave que, quando é transmitida uma partida durante a noite, os torcedores, diante de um gol realizado pelo seu time, gritam como brutamontes perturbando as pessoas que dormem à noite para acordarem cedo no dia seguinte. E isso como se não bastasse o fato de que torcer por futebol ser obrigatório nas relações sociais, pois quem não gosta de futebol sofre discriminação social no Rio de Janeiro.
Com esse quadro midiático, juntamente com a imprensa popularesca como os tabloides Meia Hora e Expresso, a degradação cultural no Rio de Janeiro ganha um tempero especial, juntando populismo e uma falsa modernidade carioca, que é caricatura do que a outrora Cidade Maravilhosa foi um dia.
TRAGÉDIA
O Rio de Janeiro também tornou-se a cidade da exclusão social, com a expulsão de moradores de casas populares ou de tribos indígenas no antigo prédio que seria o Museu do Índio, para construção de prédios olímpicos ou de valor turístico-consumista, ou de pistas de BRT e outras obras faraônicas.
É também a cidade que impôs a pintura padronizada nos ônibus, a dupla função do motorista-cobrador e outras mazelas do transporte coletivo, obedecendo a uma lógica tida como "moderna", mas essencialmente ditatorial e nociva para a população.
Mas até os mercados também sucumbiram a esse contexto. Numa Economia que vê lojas fechando em grande quantidade, há também o pouco caso com a logística, já que muitas lojas e mercados mais parecem mercadinhos do interior, demorando duas semanas para repor estoques de produtos. E isso quando o Rio de Janeiro é sede ou filial de muitos distribuidores de produtos situados nos grandes centros.
O retrocesso atinge Niterói, que parece resignada com seu aspecto interiorano, sofrendo com mais lojas fechadas, e nem de longe lembrando a antiga capital do Estado do Rio de Janeiro. A situação surreal da cidade feliz em se tornar capacho da famosa cidade vizinha à frente da Baía da Guanabara é algo preocupante, porque Niterói quer ser uma cidade do interior que nem as cidades do interior têm coragem sequer em pensar ser.
A tragédia carioca também é outro reflexo desse retrocesso. Acidentes e incidentes violentos matam centenas de pessoas, incluindo incêndios, balas perdidas de tiroteios, desastres de ônibus, entre outros males. É até espantoso que muitos cariocas fiquem indiferentes à decadência do seu Estado, porque qualquer um é vulnerável nesse quadro todo.
Recentemente, uma tubulação da CEDAE, empresa de saneamento estadual, estourou no Maracanã. Um casal que passava numa moto caiu e teve que ser ajudado para sair da área alagada. Dias depois, uma parte de uma ciclovia em São Conrado despencou, deixando pelo menos dois mortos. Imagine se fosse a Auto-Estrada Lagoa-Barra, que apresentou rachaduras, caísse e centenas e centenas de pessoas morrendo sob os escombros ou jogadas ao mar.
A crise que passa o Estado do Rio de Janeiro não é uma mera crise econômica ou política. É uma crise de valores, uma acomodação que o Estado do Sudeste sofreu e os males acumulados sobretudo desde o período da ditadura militar, como a ascensão da contravenção e do crime organizado.
Os declínios graduais dos últimos 45 anos se acumularam em vícios e males que só se tornaram intensos na última década, e é assustador como muitas pessoas não sentem essa decadência ou tentam minimizar como se fossem "problemas comuns e esperados". Pois essa decadência acontece sem controle e de forma inesperada, e quem não sente isso é o que mais corre o risco de sofrer a tragédia diária que transforma o Rio de Janeiro no Estado mais decadente do Brasil.
Praia de Copacabana. Jovens felizes contam piadas com jeito de quem não liga para os problemas do Rio de Janeiro. Veem no WhatsApp vídeos engraçados e diários de internautas alucinados, considerados "youtubers", falando de amenidades cotidianas. Parecem viver num paraíso, na contraditória busca de perfeição numa realidade imperfeita. Se alguém for furtado na esquina, pouco lhes importa.
Castelo. Pessoas vão animadamente ao McDonald's almoçar ou lanchar fast food de qualidade duvidosa, feito por trabalhadores degradados, que sofrem exploração e são muito mal remunerados, expostos a fornos e fogões calorentos à mercê de um acidente de trabalho, e sua rotina profissional não possui garantias de proteção dignas.
O Rio de Janeiro vive um cotidiano surreal. A cidade, assim como o resto do Estado do Rio de Janeiro, decai de forma vertiginosa e uma boa parcela da sociedade parece indiferente, achando que esses problemas são "naturais num contexto de cidade complexa e moderna".
O carioca parece estar disposto a desenvolver um estereótipo de insensível, uma imagem nacional pejorativa na qual o habitante de qualquer cidade do Estado do Rio de Janeiro é incapaz de sentir a gravidade de um problema e fica arrumando desculpas ou artifícios para acreditar que tudo está bem.
ANDANDO PARA TRÁS
Só que a decadência do Rio de Janeiro, Estado e capital, não é um acidente da pós-modernidade, um problema próprio de cidades complexamente modernas. Nada disso. O Rio de Janeiro se torna uma região provinciana, e os problemas indicam não uma normalidade da vida complexa das grandes metrópoles, mas um retrocesso que fez Estado e capital andarem para trás, até mesmo em relação ao antes atrasado Nordeste, que começa a reagir contra décadas de coronelismo.
O Rio de Janeiro decai em proporções trágicas. Até linchamento típico de cidade do interior das mais atrasadas houve na outrora cosmopolita Ipanema. A capital que trouxe a Bossa Nova insiste com o grotesco do "funk", que ainda por cima promoveu sua demagogia num evento anti-impeachment, em Copacabana, um prato cheio para os reaças da cidade quererem mesmo o impeachment da presidenta Dilma Rousseff.
O Rio de Janeiro passou a ser um antro de conformismo, alienação, reacionarismo e prepotência em diversos aspectos. Diante do risco da cidade do Rio de Janeiro se manter como referencial e modelo a ser seguido pelo resto do Brasil, o país pode caminhar para trás.
O Estado é o que deu, ao Congresso Nacional, parlamentares irresponsáveis e reacionários como os deputados federais Jair Bolsonaro e Eduardo Cunha, este presidente da Câmara dos Deputados e futuro vice-presidente de um provável governo Michel Temer, este oriundo de outro Estado do Sudeste marcado pela decadência vertiginosa, São Paulo.
Em muitos aspectos, o Rio de Janeiro tornou-se um Estado provinciano, deixando para trás anos de imponência cultural, modernidade social e relativas promessas de melhorias para a sociedade, dos quais só resta a sombra do que havia sido a Cidade Maravilhosa.
Culturalmente, a supremacia do "funk" que ameaça até mesmo o samba, como se já não bastasse o pastiche que os sambistas têm que encarar que é o "pagode romântico" - que ainda investe em pastiches de "samba de verdade" como Péricles e Grupo Revelação - , é um amontoado de referenciais sociais retrógrados embalado por uma mesmice sonora precária e grotesca.
Isso é um grande retrocesso diante da antiga imponência da Bossa Nova, que há cerca de 55 anos mostrava beleza artística, graciosidade poética e uma criatividade musical ímpar, como trilha sonora daquele Rio de Janeiro que não existe mais, e que todavia muitos insistem que continua existindo, mesmo com seus "probleminhas cotidianos".
MÍDIA
Mas até o rock sofre com a hegemonia mercadológica da canastrona Rádio Cidade, sem tradição nem competência e muito menos vocação para o rock, mas que se acha "dona do segmento", falando em "rock de verdade" tendo uma equipe sem qualquer envolvimento real no ramo.
Com uma programação extremamente ruim e repetitiva, a Rádio Cidade sofre o dado surreal da complacência dos roqueiros autênticos, que nos últimos tempos experimentaram as opções da Kiss FM (quando tentou uma afiliada no RJ) e a rádio digital Cult FM, indiferentes ao empastelamento da cultura rock que a Rádio Cidade e sua superestrutura empresarial e sua sintonia fácil e ampla faz contra a cultura rock local.
O Rio de Janeiro é a sede da Rede Globo de Televisão, mas curiosamente quatro nomes da mídia paulistana tornam-se influentes no gosto e no modo de falar, viver e pensar dos cariocas: Luciano Huck com suas gírias (como "balada") e seus valores juvenis, William Bonner com sua visão de mundo, Fausto Silva com valores da música e do comportamento geral, e Galvão Bueno (apesar de carioca, começou no rádio paulista) com o fanatismo pelo futebol.
O fanatismo pelo futebol, no Rio de Janeiro é tão grave que, quando é transmitida uma partida durante a noite, os torcedores, diante de um gol realizado pelo seu time, gritam como brutamontes perturbando as pessoas que dormem à noite para acordarem cedo no dia seguinte. E isso como se não bastasse o fato de que torcer por futebol ser obrigatório nas relações sociais, pois quem não gosta de futebol sofre discriminação social no Rio de Janeiro.
Com esse quadro midiático, juntamente com a imprensa popularesca como os tabloides Meia Hora e Expresso, a degradação cultural no Rio de Janeiro ganha um tempero especial, juntando populismo e uma falsa modernidade carioca, que é caricatura do que a outrora Cidade Maravilhosa foi um dia.
TRAGÉDIA
O Rio de Janeiro também tornou-se a cidade da exclusão social, com a expulsão de moradores de casas populares ou de tribos indígenas no antigo prédio que seria o Museu do Índio, para construção de prédios olímpicos ou de valor turístico-consumista, ou de pistas de BRT e outras obras faraônicas.
É também a cidade que impôs a pintura padronizada nos ônibus, a dupla função do motorista-cobrador e outras mazelas do transporte coletivo, obedecendo a uma lógica tida como "moderna", mas essencialmente ditatorial e nociva para a população.
Mas até os mercados também sucumbiram a esse contexto. Numa Economia que vê lojas fechando em grande quantidade, há também o pouco caso com a logística, já que muitas lojas e mercados mais parecem mercadinhos do interior, demorando duas semanas para repor estoques de produtos. E isso quando o Rio de Janeiro é sede ou filial de muitos distribuidores de produtos situados nos grandes centros.
O retrocesso atinge Niterói, que parece resignada com seu aspecto interiorano, sofrendo com mais lojas fechadas, e nem de longe lembrando a antiga capital do Estado do Rio de Janeiro. A situação surreal da cidade feliz em se tornar capacho da famosa cidade vizinha à frente da Baía da Guanabara é algo preocupante, porque Niterói quer ser uma cidade do interior que nem as cidades do interior têm coragem sequer em pensar ser.
A tragédia carioca também é outro reflexo desse retrocesso. Acidentes e incidentes violentos matam centenas de pessoas, incluindo incêndios, balas perdidas de tiroteios, desastres de ônibus, entre outros males. É até espantoso que muitos cariocas fiquem indiferentes à decadência do seu Estado, porque qualquer um é vulnerável nesse quadro todo.
Recentemente, uma tubulação da CEDAE, empresa de saneamento estadual, estourou no Maracanã. Um casal que passava numa moto caiu e teve que ser ajudado para sair da área alagada. Dias depois, uma parte de uma ciclovia em São Conrado despencou, deixando pelo menos dois mortos. Imagine se fosse a Auto-Estrada Lagoa-Barra, que apresentou rachaduras, caísse e centenas e centenas de pessoas morrendo sob os escombros ou jogadas ao mar.
A crise que passa o Estado do Rio de Janeiro não é uma mera crise econômica ou política. É uma crise de valores, uma acomodação que o Estado do Sudeste sofreu e os males acumulados sobretudo desde o período da ditadura militar, como a ascensão da contravenção e do crime organizado.
Os declínios graduais dos últimos 45 anos se acumularam em vícios e males que só se tornaram intensos na última década, e é assustador como muitas pessoas não sentem essa decadência ou tentam minimizar como se fossem "problemas comuns e esperados". Pois essa decadência acontece sem controle e de forma inesperada, e quem não sente isso é o que mais corre o risco de sofrer a tragédia diária que transforma o Rio de Janeiro no Estado mais decadente do Brasil.
quinta-feira, 21 de abril de 2016
O discurso do "funk carioca" dialogando com o de Chico Xavier
País insólito o Brasil, que sempre tenta trabalhar o novo com bases velhas. O "espiritismo" brasileiro, tão tido como futurista, se fundamentou em bases velhas do Catolicismo português, que estabeleceu a formação religiosa brasileira e, em plena era da Revolução Industrial, mantinha valores medievais em seu conteúdo.
Ficamos analisando as supostas "profecias" de Francisco Candido Xavier sobre a tal "data limite", com seu pretenso futurismo, quando o "médium" praticamente é visto como "senhor do nosso destino", e que muitos querem que seja o "maior brasileiro de todos os tempos" na marra.
Plagiador e pastichador de livros, forjador de falsas psicografias, mistificador religioso dos mais retrógrados, moralista severo, defensor da ditadura militar quando até Carlos Lacerda havia passado a se opor ao regime, Chico Xavier no entanto é visto como se fosse o "dono do Brasil", quase um líder totalitário que exerce o poder simbolicamente post-mortem.
O caixeiro e escrevinhador de imitações de estilos alheios - mas não sem a colaboração de outros escritores da FEB e de consultores literários a seu serviço - tornou-se "dono do nosso futuro", como se não fosse suficiente ser o "dono dos mortos", mesmo quando a turma do além-túmulo se mantém incomunicável para os brasileiros vivos, já que o "médium" escreve tudo da própria imaginação.
Ficamos comparando o discurso de Chico Xavier com outro que mantém a mesma persistência de persuasão, o mesmo coitadismo, o mesmo falso futurismo, o conservadorismo travestido de falso prgressismo, o do "funk carioca", considerando seus derivados como o "funk ostentação" paulista.
Recentemente, o "ativista" do "funk", MC Leonardo, apadrinhado pelo cineasta José Padilha, do Instituto Millenium, tentou apelar para um pretenso esquerdismo progressista no artigo da Caros Amigos, "Tá tranquilo, tá favorável" (Chico Xavier adoraria esta frase), tentando empurrar a aceitação do "funk" pelos esquerdistas nos tempos em que a presidenta Dilma Rousseff sofre o risco de perder o mandato. Até a edição deste texto, a votação do impeachment ainda não ocorreu.
MC Leonardo, conhecido, com seu parceiro MC Júnior, pelo sucesso "Rap das Armas", tenta dissimular o vínculo do "funk" com a Rede Globo, que sempre existiu, dizendo que o ritmo se "fortaleceu" como a Internet. Mas se até Kim Kataguiri, Jair Bolsonaro e o Pato da FIESP se "fortaleceram" com a Internet...
DISCURSO ANÁLOGO
Aliás, tanto Chico Xavier e o "funk carioca" são "crias" da Rede Globo, tais como Fernando Collor e Sérgio Moro. Todos de alguma forma existiam e atuavam antes da "mão invisível" da "Vênus da Família Marinho", mas seus mitos foram trabalhados e fortalecidos pela famosa corporação da rede televisiva, as Organizações Globo.
A grande diferença é que, diferente de Sérgio Moro e, em parte, de Fernando Collor - que não conseguiu convencer se passando por "herói libertário" de um possível revival dos anos 90 (que nos traria, sob o rótulo de "grandes personalidades", nomes como Gugu Liberato, Solange Gomes e até Guilherme de Pádua) - , o "médium" e o ritmo carioca não têm seu vínculo com a Globo reconhecido por várias pessoas.
Pelo contrário, os dois mitos, com toda a sombra da Rede Globo que os protege, tentam sobreviver à revelia dessa associação, explícita e verídica, porém dificilmente assumida pela sociedade. Pessoas que se declaram opositoras do poder midiático tentam aceitar e apreciar tais mitos como se eles estivessem fora desse contexto, o que não é verdade.
Afinal, tanto Chico Xavier e o "funk carioca" evocam um discurso paternalista em relação às classes pobres. É um discurso positivista, diferente do rancor verbal de veículos como Jornal Nacional ou de gente como Merval Pereira e um Arnaldo Jabor nas histerias anti-petistas. Só que esse discurso positivista é confundido por muitos como esquerdismo, como se tratar o povo pobre com paternalismo soasse algo progressista. Mas não é.
Nota-se que, por trás desse discurso "generoso", que evoca uma aparente felicidade que faz as elites dormirem tranquilas - a classe média alta "progressista", de vez em quando, mostra seus preconceitos elitistas de classe média alta - , há um conteúdo bastante conservador, latente em suas palavras "positivas".
Aparentemente, Chico Xavier e o "funk carioca" trafegam em mãos opostas, o primeiro com sua religiosidade associada a "valores morais elevados", o segundo com sua licensiosidade associada à "liberdade dos instintos". No entanto, a essência dos dois discursos é rigorosamente a mesma.
Ambos sutilmente apelam para a Teologia do Sofrimento, da resignação da inferioridade social. Chico Xavier dizia para os sofredores não reclamarem e aceitarem suas desgraças sob o pretexto de que isso trará as "bênçãos" prometidas. É como se Chico Xavier desenhasse a sociedade medieval em solo brasileiro, e o "funk" ficasse com os festejos pagãos (o "carne-vale") dessa sociedade.
Já o "funk" faz apologia da ignorância, glamouriza a pobreza, e trata as favelas de maneira espetacularizada, algo que seria facilmente contestado por Guy Debord e Jean Baudrillard, se eles fossem vivos e conhecessem o gênero, mas aqui é aceito até de maneira ferrenha por uma considerável parcela de intelectuais.
A reboque do "funk", temos um suposto feminismo feito com bases machistas. O erotismo obsessivo da Mulher Melão (Renata Frisson) e Mulher Melancia (Andressa Soares), adotado também de forma politicamente correta por Valesca Popozuda, segue as bases ideológicas da "mulher-objeto", trabalhada como um suposto rito de "libertação" da mulher-coisa do "jugo masculino".
Só que esse discurso é falso. A mulher-objeto continua sendo mulher-objeto, embora queira ser "gente". E, fora desse âmbito, observa-se que o "funk" trabalha estereótipos racistas travestidos de anti-racismo, tratando o povo negro de maneira estereotipada e caricatural.
Chico Xavier e o "funk" pegam desprevenida uma opinião pública que não conhece a realidade do povo pobre. A opinião pública é enganada pelas retóricas em que pobres sofredores têm que viver "felizes" e a ascensão social tem que ser feita mantendo os paradigmas de dominação, que ambos os discursos expressam consentimento e conivência.
Por trás de ambos os discursos, há a imposição dos papéis que os pobres são obrigados a desempenhar, muitas vezes de forma restritiva e opressiva, embora as retóricas apelem para um pretenso ufanismo, do "orgulho de ser pobre" e do sofrimento como "presente de Deus".
Musicalmente, o "funk" é considerado por especialistas como de ferrenho rigor estético, apenas nivelado por baixo. Seu mercado musical é tão perverso quanto o McDonalds, por trás da imagem "disneyficada" dos fetiches funqueiros. Há uma hierarquização nunca assumida oficialmente, entre os DJs e também empresários, "líderes" do processo, e os MCs e dançarinas, os "porta-vozes" do espetáculo.
BLINDAGEM FERRENHA
Outro aspecto é o coitadismo. Chico Xavier, quando era criticado, fazia pose de vítima, reagia em "silêncio", fazia-se de "perseguido" resignado, como que num ataque às avessas, tentando vencer o adversário se passando por um derrotado. Até quando intelectuais e cientistas estão com a razão, Chico tentava vencê-los pelo coitadismo que seduz os seguidores do "médium".
O "funk" também apela para o coitadismo se dizendo "discriminado" pelas elites, enfatizando no discurso a falsa postura de "vítima de preconceito" por ser "a expressão das periferias", "som de preto e pobre". É uma retórica verossímil mas dotada de muita hipocrisia.
O que também chama a atenção também é a blindagem ferrenha, quase inabalável, dos dois discursos. Não há uma denúncia oficial de irregularidades envolvendo Chico Xavier, da mesma forma que ninguém tem coragem de contestar o "funk", a não ser os detratores de sempre, movidos apenas por aspectos emocionais.
Os funqueiros são considerados "santos" e aceitos, em muitos casos por boa-fé, por uma parcela de intelectuais progressistas que, com uma certa ingenuidade, acreditam que o "funk" expressa uma nova etnografia similar a dos antigos grupos indígenas e africanos, ignorando que o ritmo carioca esconde uma severa lógica de mercado e um apetite midiático que anula seu alegado valor artístico-cultural.
O rigor estético se refere ao fato de que as músicas do "funk" são quase sempre iguais umas às outras. Muda apenas o "vocalista", pois até as sampleagens são iguais. O MC não pode compor melodias nem tocar instrumentos, tem que cantar mal e se limita apenas a segurar o microfone.
Os DJs é que combinam mudanças, seja para agradar turistas e antropólogos, seja para dizer que "o ritmo evolui artisticamente", dentro de uma série de demagogias conhecidas mas não assumidas como tais. Mudanças feitas somente de acordo com as demandas de mercado.
Como Chico Xavier, o "funk" tenta se passar por "futurista". Assim como Chico Xavier é visto como "profeta do futuro", sendo visto por muitos como o "único guia viável do futuro do Brasil", o "funk" tenta se vincular ao contexto da música eletrônica e das manifestações modernistas, de forma oportunista, tendenciosa e falsa.
Afinal, muitos dos valores que o "funk carioca" e seus congêneres (como o "funk ostentação") difundem são retrógrados e impõem medidas consideradas paliativas e emergenciais como "permanentes", como a prostituição e a residência em favelas, transmitindo a ideia latente e perversa de que o "pobre tem que ficar como está, ou se evoluir nos limites de suas condições".
É mais ou menos que diz a "bondade" de Chico Xavier, pregando uma caridade paliativa que, quando traz alguma mudança, é sempre evitando mexer no sistema de classes e nas injustiças e desigualdades sociais existentes.
Desse modo, a opinião pública deveria prestar atenção nesses dois discursos, o da "filosofia" de Chico Xavier e da "etnografia" do "funk". Por trás do discurso "positivo", conceitos bastante conservadores e retrógrados são difundidos sob a máscara do "progressismo", transformando o país em refém de ideias antiquadas fantasiadas de "modernas".
quarta-feira, 20 de abril de 2016
Brasil desgovernado
DOIS DOS MAIORES BENEFICIADOS PELO IMPEACHMENT DE DILMA ROUSSEFF.
A votação da Câmara dos Deputados pela abertura do processo de impeachment da presidenta Dilma Rousseff pode ter sido, para muitos, um momento histórico da vitória da democracia sobre a "roubalheira" do Governo Federal.
No entanto, diante de investigações incompletas e precipitadas, em que as denúncias contra Dilma e o ex-presidente Luís Inácio Lula da Silva mais parecem fofocas de tão vagas e imprecisas, o que se viu foi a consagração da histeria anti-petista que tomou conta do país.
Tudo virou uma questão de ódio contra o PT. Não que fosse proibido fazer oposição ao Partido dos Trabalhadores e fazer duras críticas a Lula e Dilma, mas o que se viu foi um processo doentio de intolerância e rancor, em que o raciocínio objetivo era a última coisa a se cogitar fazer por parte desses anti-petistas doentios.
E isso é preocupante. Por coisas muito mais graves, Divaldo Franco e Francisco Cândido Xavier são aceitos com o mesmo fanatismo, mas por meio de uma outra emoção. Deturpadores da pior espécie da Doutrina Espírita, desonestos quando se autoproclamavam "fiéis" a Allan Kardec enquanto cometiam traições aberrantes ao seu pensamento, eles são protegidos pelos estereótipos.
Sim. É o mundo das aparências que tanto dispara rancor a Lula e Dilma e apela pela complacência mais absoluta a Divaldo e Chico Xavier. Estereótipos são feitos para criar um pretenso maniqueísmo, por conta da aparência física e de outros aparatos ideológicos envolvidos.
Lula tornou-se famoso pela sua figura aparentemente rude de um homem ao mesmo tempo roliço e robusto, com um rosto de feições supostamente duronas, um discurso enérgico e uma origem social precária. Dilma tem a aparência da senhora austera, lembrando a governanta de uma casa, com jeito de durona e voz grave.
Muito diferente das aparências de Chico Xavier e Divaldo Franco, que, por mais que personificassem tipos ainda mais antiquados do que os do "operário bronco" de Lula e da "governanta durona" de Dilma, ainda contam com o apoio, um tanto ingênuo e submisso, de uma boa parcela de brasileiros.
É o estereótipo de Chico Xavier como um caipira inocente, como era até certo tempo, e que foi somado ao de um velhinho frágil e doente. E Divaldo Franco, maquiado à maneira dos aristocratas dos anos 1930, personificando o "bom professor" nos moldes dos anos 1940, verborrágico e grandiloquente, que ainda causam muitas saudades nos brasileiros mais conservadores.
CONSERVADORISMO
Em ambos os lados, há um conservadorismo convicto que, no lado dos ídolos religiosos, está escondido sutilmente em mentes aparentemente progressistas, como a de pessoas que não imaginam que Chico Xavier havia defendido a ditadura militar no auge desta e o "bondoso médium" teria provavelmente defendido a saída de Dilma da presidência da República, por "falta de amor ao próximo".
A sociedade brasileira ainda é altamente conservadora. Mesmo quando, no âmbito político e econômico, ou mesmo em alguns valores morais, alega postura progressista, nos âmbitos cultural e religioso mostram um sutil conservadorismo, em muitos casos, disfarçado pela postura progressista em outras áreas.
Com isso, o Brasil não consegue sustentar governos progressistas e o de Dilma Rousseff tornou-se frágil pelo apego a projetos políticos e econômicos conservadores, sobretudo com a condescendência a uma mídia reacionária que, fortalecida com as verbas federais, desenvolveu munição pesada para desmoralizar a presidenta, que acabou sustentando os que depois decidiram derrubá-la.
Diante de uma campanha midiática atroz, o Congresso Nacional foi estimulado a votar pelo impedimento político, sendo 367 votos a favor da abertura do processo de impeachment e 137 contra, além de outros nove, entre abstenções e ausências.
Tudo isso movido pela mesma "paixão cega" que criminaliza Lula e Dilma mas permite que Divaldo Franco e Chico Xavier façam suas fraudes, invistam em falsidade ideológica, protegidos pela aparência de "divulgadores da mensagem cristã" e pretensos filantropos.
São apenas desvarios emocionais, devaneios moralistas que se julgam acima de qualquer objetividade, e que fazem o julgamento de valor mais pelo que as aparências inspiram de "simpático" ou de "antipático" na sociedade.
As pessoas foram dormir tranquilas e felizes, sem saber que o Brasil ficou desgovernado, com a aprovação do impeachment. É como um viajante que dorme feliz quando o ônibus, percorrendo uma rodovia escura, roda em altíssima velocidade e mal consegue enxergar o caminhão que lhe está na mão oposta, na curva.
O Brasil está desgovernado, porque os dois maiores beneficiados por esse golpe travestido de "processo jurídico-democrático", o vice-presidente Michel Temer e o presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha, possuem contra si acusações bem mais consistentes e precisas do que os rumores que aterrorizaram a presidenta.
Além disso, Temer e Cunha poderão implantar medidas de caráter econômico e social retrógradas, sobretudo Cunha, que presidirá a República quando Temer estiver viajando e, por isso, aproveitará esse poder para impor medidas que, simplesmente, desfazem as conquistas sociais obtidas com tanta dificuldade e luta no decorrer dos tempos.
Para os brasileiros explicitamente conservadores - como os reacionários que comemoraram a vitória de sua causa nas votações do último 17 de abril - e para outros sutilmente conservadores, "progressistas" que, entre outras coisas, acolhem um retrógrado Chico Xavier que defendia a ditadura e pregava a Teologia do Sofrimento, o Brasil parece poder resolver a crise conforme suas respectivas convicções pessoais.
Mas não. A verdade é que o Brasil ainda vai aprofundar a crise de 2013, e, perto de 2019, isso já derruba a "profecia" de Chico Xavier, de maneira definitiva. O Brasil, desgovernado e entregue a políticos corruptos (até Renan Calheiros é acusado pelo crime de corrupção), não resolverá a crise econômica de forma esperada e eficaz e ainda vai agravá-las, como agravará outros tipos de crise.
A ideia agora é esperar que contradições e dilemas novos venham, porque a sociedade mais reacionária lutou para ter Dilma Rousseff fora do poder e se empenhará para que o impedimento seja definitivo daqui a alguns meses, depois das atuações do Senado e do Supremo Tribunal Federal.
A prosperidade não veio com a vitória do impeachment na votação da Câmara dos Deputados. Pelo contrário, veio uma "solução" que era dominante mas nem por isso coerente, que só foi conveniente para uma parcela da sociedade que sente rancor pelo PT.
Mas novos problemas, novos dilemas e novos impasses virão, porque o confuso país que é o Brasil continua apegado a convicções pessoais e zonas de conforto, tentando proteger de privilégios econômicos de uns poucos à reputação de ídolos religiosos consagrados. Portanto, mais problemas virão, e é bom estarmos preparados.
A votação da Câmara dos Deputados pela abertura do processo de impeachment da presidenta Dilma Rousseff pode ter sido, para muitos, um momento histórico da vitória da democracia sobre a "roubalheira" do Governo Federal.
No entanto, diante de investigações incompletas e precipitadas, em que as denúncias contra Dilma e o ex-presidente Luís Inácio Lula da Silva mais parecem fofocas de tão vagas e imprecisas, o que se viu foi a consagração da histeria anti-petista que tomou conta do país.
Tudo virou uma questão de ódio contra o PT. Não que fosse proibido fazer oposição ao Partido dos Trabalhadores e fazer duras críticas a Lula e Dilma, mas o que se viu foi um processo doentio de intolerância e rancor, em que o raciocínio objetivo era a última coisa a se cogitar fazer por parte desses anti-petistas doentios.
E isso é preocupante. Por coisas muito mais graves, Divaldo Franco e Francisco Cândido Xavier são aceitos com o mesmo fanatismo, mas por meio de uma outra emoção. Deturpadores da pior espécie da Doutrina Espírita, desonestos quando se autoproclamavam "fiéis" a Allan Kardec enquanto cometiam traições aberrantes ao seu pensamento, eles são protegidos pelos estereótipos.
Sim. É o mundo das aparências que tanto dispara rancor a Lula e Dilma e apela pela complacência mais absoluta a Divaldo e Chico Xavier. Estereótipos são feitos para criar um pretenso maniqueísmo, por conta da aparência física e de outros aparatos ideológicos envolvidos.
Lula tornou-se famoso pela sua figura aparentemente rude de um homem ao mesmo tempo roliço e robusto, com um rosto de feições supostamente duronas, um discurso enérgico e uma origem social precária. Dilma tem a aparência da senhora austera, lembrando a governanta de uma casa, com jeito de durona e voz grave.
Muito diferente das aparências de Chico Xavier e Divaldo Franco, que, por mais que personificassem tipos ainda mais antiquados do que os do "operário bronco" de Lula e da "governanta durona" de Dilma, ainda contam com o apoio, um tanto ingênuo e submisso, de uma boa parcela de brasileiros.
É o estereótipo de Chico Xavier como um caipira inocente, como era até certo tempo, e que foi somado ao de um velhinho frágil e doente. E Divaldo Franco, maquiado à maneira dos aristocratas dos anos 1930, personificando o "bom professor" nos moldes dos anos 1940, verborrágico e grandiloquente, que ainda causam muitas saudades nos brasileiros mais conservadores.
CONSERVADORISMO
Em ambos os lados, há um conservadorismo convicto que, no lado dos ídolos religiosos, está escondido sutilmente em mentes aparentemente progressistas, como a de pessoas que não imaginam que Chico Xavier havia defendido a ditadura militar no auge desta e o "bondoso médium" teria provavelmente defendido a saída de Dilma da presidência da República, por "falta de amor ao próximo".
A sociedade brasileira ainda é altamente conservadora. Mesmo quando, no âmbito político e econômico, ou mesmo em alguns valores morais, alega postura progressista, nos âmbitos cultural e religioso mostram um sutil conservadorismo, em muitos casos, disfarçado pela postura progressista em outras áreas.
Com isso, o Brasil não consegue sustentar governos progressistas e o de Dilma Rousseff tornou-se frágil pelo apego a projetos políticos e econômicos conservadores, sobretudo com a condescendência a uma mídia reacionária que, fortalecida com as verbas federais, desenvolveu munição pesada para desmoralizar a presidenta, que acabou sustentando os que depois decidiram derrubá-la.
Diante de uma campanha midiática atroz, o Congresso Nacional foi estimulado a votar pelo impedimento político, sendo 367 votos a favor da abertura do processo de impeachment e 137 contra, além de outros nove, entre abstenções e ausências.
Tudo isso movido pela mesma "paixão cega" que criminaliza Lula e Dilma mas permite que Divaldo Franco e Chico Xavier façam suas fraudes, invistam em falsidade ideológica, protegidos pela aparência de "divulgadores da mensagem cristã" e pretensos filantropos.
São apenas desvarios emocionais, devaneios moralistas que se julgam acima de qualquer objetividade, e que fazem o julgamento de valor mais pelo que as aparências inspiram de "simpático" ou de "antipático" na sociedade.
As pessoas foram dormir tranquilas e felizes, sem saber que o Brasil ficou desgovernado, com a aprovação do impeachment. É como um viajante que dorme feliz quando o ônibus, percorrendo uma rodovia escura, roda em altíssima velocidade e mal consegue enxergar o caminhão que lhe está na mão oposta, na curva.
O Brasil está desgovernado, porque os dois maiores beneficiados por esse golpe travestido de "processo jurídico-democrático", o vice-presidente Michel Temer e o presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha, possuem contra si acusações bem mais consistentes e precisas do que os rumores que aterrorizaram a presidenta.
Além disso, Temer e Cunha poderão implantar medidas de caráter econômico e social retrógradas, sobretudo Cunha, que presidirá a República quando Temer estiver viajando e, por isso, aproveitará esse poder para impor medidas que, simplesmente, desfazem as conquistas sociais obtidas com tanta dificuldade e luta no decorrer dos tempos.
Para os brasileiros explicitamente conservadores - como os reacionários que comemoraram a vitória de sua causa nas votações do último 17 de abril - e para outros sutilmente conservadores, "progressistas" que, entre outras coisas, acolhem um retrógrado Chico Xavier que defendia a ditadura e pregava a Teologia do Sofrimento, o Brasil parece poder resolver a crise conforme suas respectivas convicções pessoais.
Mas não. A verdade é que o Brasil ainda vai aprofundar a crise de 2013, e, perto de 2019, isso já derruba a "profecia" de Chico Xavier, de maneira definitiva. O Brasil, desgovernado e entregue a políticos corruptos (até Renan Calheiros é acusado pelo crime de corrupção), não resolverá a crise econômica de forma esperada e eficaz e ainda vai agravá-las, como agravará outros tipos de crise.
A ideia agora é esperar que contradições e dilemas novos venham, porque a sociedade mais reacionária lutou para ter Dilma Rousseff fora do poder e se empenhará para que o impedimento seja definitivo daqui a alguns meses, depois das atuações do Senado e do Supremo Tribunal Federal.
A prosperidade não veio com a vitória do impeachment na votação da Câmara dos Deputados. Pelo contrário, veio uma "solução" que era dominante mas nem por isso coerente, que só foi conveniente para uma parcela da sociedade que sente rancor pelo PT.
Mas novos problemas, novos dilemas e novos impasses virão, porque o confuso país que é o Brasil continua apegado a convicções pessoais e zonas de conforto, tentando proteger de privilégios econômicos de uns poucos à reputação de ídolos religiosos consagrados. Portanto, mais problemas virão, e é bom estarmos preparados.
terça-feira, 19 de abril de 2016
Quem está "embaixo" tem que mudar os pensamentos. E quem está "em cima"?
No moralismo "espírita", recomenda-se ao sofredor aguentar todo tipo de desgraça, aceitando ser "capacho do Destino" e até mesmo servir de "brinquedo" de espíritos levianos, que fazem serem roubadas do distinto indivíduo as melhores oportunidades de crescimento e apresentam-lhe as piores oportunidades.
Confundindo desgraça com desafio, o "espiritismo" desvaloriza a vida material, acha que toda encarnação é igual e por isso imagina que a encarnação, esse espaço limitadíssimo da vida material, só serve para resolver conflitos e evitar tensões.
A ideia simplória de "fraternidade" em que o sofredor tem que aceitar os abusos do algoz, mostra o caráter desigual de um "perdão" que sempre é visto como a obrigação do sofredor, mas torna-se facultativo para o algoz, que permanece quase sempre imune nos seus abusos.
A encarnação acaba sendo um jogo em que o sofredor têm que aguentar as desgraças, mudar seus projetos e interesses de vida conforme as circunstâncias infelizes que comprometem seus mais preciosos e cuidadosos planos. E tem que mudar os interesses conforme cada infortúnio, às vezes um oposto ao outro, como se o encarnado fosse um boneco do Destino.
Por exemplo. Se um homem deixa de gostar de orgias e do mais grosseiro sensualismo feminino e passa a valorizar a mulher pelo caráter, pela delicadeza e pelo intelecto, por conta de desilusões antigas, ele vê o seu tipo ideal de mulher lhe ser inacessível e passa a atrair justamente aquelas mulheres que simbolizam as aventuras sexuais que não lhe interessam mais.
Fica muito fácil os ideólogos "espíritas", no conforto de suas instalações, na comodidade de seu prestígio religioso, dizerem para os sofredores aguentarem as desgraças, enfrentarem oportunidades erradas, encararem armadilhas e emboscadas.
"Mude o pensamento, veja no sofrimento e nos infortúnios um valioso aprendizado na vida", dizem os "espíritas" com seu ar pretensamente paternal, mas também como quem acha que pimenta nos olhos dos outros é refresco. Alguém tem coragem de argumentar que jogar pimenta ou café quente nos olhos dos outros faz bem à visão?
Enquanto o sofredor vê sua vida desandar em doses surreais - na vida amorosa, por exemplo, ele não pode conquistar a antiga colega de escola, mas pode atrair para si uma "mulher-fruta" que foi casada com um chefe de milícias assassino e muito ciumento - e os "espíritas" lhe aconselham ver nas desgraças uma "nova esperança", o privilegiado fica na sua, sem mudar.
Pior, são as pessoas dotadas de alguma situação remediada que mantém preconceitos, sentimentos equivocados, critérios injustos para qualquer coisa na vida. No mercado de trabalho, por exemplo, os empregadores têm muito medo de contratar profissionais de perfil diferenciado, de excelente talento para a função desejada, se iludindo pela aparência "pouco atrativa" e pelo perfil "introspectivo".
Diante desses preconceitos, os empregadores, salvo honrosas exceções, contratam pessoas sem talento, apenas levando em conta o perfil atrativo, o jogo de cintura, o senso de humor e o jeito festivo. No Estado do Rio de Janeiro, então, os fanáticos por futebol acabam tendo preferência, como se torcer por um dos quatro times cariocas fosse melhorar a rotina de trabalho.
O homem de personalidade medíocre que chefia uma empresa e que é casado com uma mulher inteligentíssima e de personalidade diferenciada pouco importa se o perfil dela é diferenciado ou não. Ele nem se pergunta se necessita dela ou não, se ela é o amor de sua vida ou se o casamento é proveitoso para a vida dele. Mesmo assim, ele permanece como marido dela, numa rotina considerada "sem sal".
Não se mudam os pensamentos de quem "está em cima". Eles perdem a consciência de seus benefícios, que, de tão rotineiros, lhes são monótonos. Quem tem dinheiro demais, por exemplo, perde a consciência do que realmente deve gastar ou não.
O empregador acaba tendo dificuldades para escolher o profissional ideal, com seus critérios inflexíveis. No caso típico de exigir pessoas com pouca idade e muita experiência, torna-se difícil combinar juventude e anos de trabalho, o que torna a oferta de emprego não somente injusta, mas também fracassada.
Isso os "espíritas" não percebem. Eles acham que os miseráveis, os infelizes e os infortunados em geral é que têm que mudar o pensamento, achando que o sofrimento é uma "faculdade da vida" e que os acontecimentos insólitos e surreais são uma forma de "regular desejos", num caminho de suposto aprimoramento espiritual a partir de um simplório resolver de conflitos e atritos diversos.
E logo o "espiritismo" que se contradiz quando alega "fidelidade absoluta" a Allan Kardec mas trai seu legado o tempo todo, preferindo um igrejismo severo e antiquado, que é a raiz desse moralismo retrógrado que transforma a religião supostamente futurista em uma herdeira potencial do Catolicismo medieval que os próprios católicos já descartaram.
segunda-feira, 18 de abril de 2016
Descobridor de Chico Xavier não é considerado "santo"
O endeusamento de Francisco Cândido Xavier tem seus aspectos insólitos que mostram o quanto o deslumbramento religioso tem suas omissões. Estranha-se, por exemplo, que seu descobridor, o ex-presidente da Federação "Espírita" Brasileira, Antônio Wantuil de Freitas, não tem a mesma adoração.
Descobridor de Chico Xavier, Wantuil, como era conhecido, presidiu a FEB durante quase trinta anos. Foi o "mentor" terreno de Chico Xavier, e trabalhou para promover a fama e o prestígio do "médium" mineiro.
Se Chico Xavier tornou-se o ídolo adorado pelos brasileiros, numa pretensa unanimidade que constrangeria o dramaturgo Nelson Rodrigues, uma boa parcela de responsabilidade se deve a Wantuil, da mesma forma que Roberto Marinho, das Organizações Globo e Malcolm Muggeridge, jornalista da BBC.
Todos eles seriam também "santos", se Chico Xavier o é. Seriam igualmente "espíritos puros", Wantuil, Marinho e Muggeridge, e deveriam ser adorados porque eles contribuíram para a consagração definitiva do "médium" de Pedro Leopoldo e Uberaba.
Wantuil, porque lançou e conduziu o mito de Chico Xavier, antes um mero funcionário público que era católico e paranormal, e depois foi promovido a um suposto porta-voz de personalidades do além-túmulo e de anônimos cidadãos brasileiros.
Marinho, porque as Organizações Globo, com seu poder de persuasão que atinge, dependendo do caso, até parte dos detratores dessa corporação midiática, difundiu e ampliou o mito de Chico Xavier através de uma propaganda religiosa dissimulada de documentário jornalístico.
Muggeridge, de forma indireta, porque o jornalista britânico, católico fervoroso, criou os ingredientes da mitificação filantrópica e messiânica que desenvolveu para Madre Teresa de Calcutá e que foram usados no Brasil para relançar o mito de Chico Xavier.
Se Chico Xavier é considerado um "espírito puro", seria esperado que, pelo menos, Wantuil, que o descobriu, recebesse a mesma adoração. Afinal, ele foi presidente da FEB, cargo que outro dirigente "santificado", o médico Adolfo Bezerra de Menezes, também exerceu.
E vemos em Bezerra de Menezes a personificação ideológica do "Papai Noel brasileiro", em que o mito se sobrepôs ao homem, em que fantasias ligadas ao médico "espírita" impedem a compreensão exata do político, já que o trabalho de parlamentar do dr. Bezerra só é vagamente mencionado, ele, que foi contemporâneo de Joaquim Nabuco, de fartos dados biográficos.
E por que Wantuil não pôde ser considerado "santo", nesse contexto de tanto deslumbramento religioso? Ele, em quase três décadas de atividade, lançou livros, deu depoimentos e lançou frases, se considerava um "intelectual espírita", poderia muito bem ser um ídolo religioso tal qual seu pupilo mais famoso.
E se Chico Xavier e Bezerra de Menezes ganharam narrativas fantasiosas, em detrimento de biografias mais realistas que faltam ser lançadas ou relançadas, Wantuil poderia muito bem ter ganho narrativas fantasiosas, deslumbradas, com estórias fascinantes, relatos de "amor" e "caridade".
Talvez Wantuil não tivesse o carisma necessário para tanto. Era o "chefão" da FEB, nem sempre querido por seus pares. Parecia mais um técnico que agia nos bastidores do que alguém que pudesse ser um mito religioso. E tinha um poder concentrado que discriminava as atuações das federações regionais.
No entanto, acredita-se que, no vale-tudo "espírita", capaz de transformar falecidos autores ateus em supostos pregadores religiosos, o mito de Wantuil poderia muito bem ser retrabalhado para que ele seja também considerado um "ícone da fraternidade", o "grande líder espírita", o "apóstolo brasileiro de Jesus", o "legislador do amor" ou coisa parecida.
O fato de Wantuil, com toda a responsabilidade de ser o "mentor" e "protetor" terreno de Chico Xavier e o idealizador de seu mito, não ter recebido a mesma adoração mostra o quanto o "espiritismo" apresenta também suas omissões, não fossem as contradições infinitas de seu conteúdo doutrinário. O deslumbramento religioso também é "seletivo".